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Diferentes tipos de abordagens na identificação e avaliação de risco na MMC

II.4. A AVALIAÇÃO DO RISCO DE LMERT NA MMC

II.4.1. Diferentes tipos de abordagens na identificação e avaliação de risco na MMC

Como já referido, a grande diversidade de métodos para avaliação do risco associado a tarefas de MMC tem sido, muito provavelmente, um entrave importante na aplicação dos mesmos.

Para além das abordagens distintas, considerando diferentes tipos de factores de risco e diferentes níveis de detalhes na avaliação, também a qualidade do feedback, ou resultado da aplicação, é por vezes um factor de diferenciação entre os vários métodos.

A referência à qualidade do resultado é, genericamente, interpretado como o valor que o utilizador da metodologia dá ao resultado obtido na aplicação deste e não ao rigor ou à fiabilidade da técnica aplicada. Aliás, num estudo efectuado por Marras et al. (2000), estes autores referem que a análise de várias ferramentas utilizadas para avaliar o risco em tarefas de MMC parece indicar que nenhuma delas demonstra capacidade de prever com fiabilidade o nível de risco em estudos prospectivos.

Existe, por isso, alguma incerteza e insegurança na utilização dos vários métodos utilizados com o propósito de avaliar o risco de LMERT nas tarefas de MMC. Foi, muito provavelmente, esta constatação que fez com que, em 2004, no encontro do Senior Labour Inspectors Committee - SLIC (SLIC., 2008b) subordinado à problemática da MMC, que decorreu no mês de Novembro em Maastricht, na Holanda, fosse criado um grupo para desenvolver uma campanha de informação e inspecção a nível internacional orientada pela Directiva Europeia 90/269/CEE.

Esta campanha (SLIC., 2008b) teve como principais alvos os sectores de transporte e de cuidados de saúde, pois é nestes sectores que na maioria dos estados membros da União Europeia se

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registam um número significativo de lesões derivadas da MMC. Por conseguinte, os principais objectivos daquele projecto foram, e continuam a ser:

- Ampliar na União Europeia a concordância com a Directiva Europeia 90/269/EEC – Manual Handling of Loads, de forma a reduzir as lesões músculo-esqueléticas;

- Aperfeiçoar a inspecção e os métodos de comunicação dos serviços inspectivos de cada país através do conhecimento e aprendizagem dos métodos existentes;

- Alcançar a implementação da Directiva Europeia sobre MMC de uma forma uniforme e transparente na totalidade dos estados membros.

Desta campanha, resultou uma classificação para os métodos de identificação e de avaliação do risco de LMERT inerente às tarefas de MMC, segundo o nível de intervenção dos mesmos. Assim, os vários métodos podem-se agrupar em três diferentes níveis de intervenção:

- Nível I, métodos que permitem a identificação do risco; - Nível II, métodos validados para avaliação do risco;

- Nível III, métodos de avaliação mais detalhada para problemas complexos e/ou específicos (ver exemplos de métodos de cada um dos níveis na Figura II.3).

35 Os métodos de nível I consistem na aplicação de listas de verificação (checklists) para identificação de situações potencialmente de risco. Estes também garantem a descrição da tarefa em estudo, bem como das condições e exigências físicas do trabalho.

Os métodos deste nível de intervenção não requerem qualquer tipo de medições, sendo de fácil e rápida aplicação. As características e os problemas identificados são classificados segundo a experiência dos avaliadores. Por isso, é muito importante utilizar o bom senso, cooperar com os trabalhadores e comparar os resultados com situações semelhantes.

Neste nível não são focados aspectos relacionados com as características individuais dos operadores, nomeadamente:

- a fragilidade, ou robustez, física;

- o vestuário, calçado ou outros equipamentos desfavoráveis ao desempenho das tarefas; - a falta de conhecimento e formação apropriados.

Uma checklist pode ajudar na identificação de tarefas ou condições problemáticas, que em muitos casos podem ser solucionados de uma forma rápida (por exemplo, remoção de um obstáculo que pode levar à adopção, por parte dos operadores, de posturas incorrectas aquando da MMC) (Cohen et al., 1997). Todavia, quando o problema de MMC não é assim simples de se resolver ou haja alguma indefinição, depois de aplicada a checklist, deve-se recorrer a métodos do nível II de avaliação de risco.

Quanto aos métodos de nível II, estes permitem a avaliação do risco de ocorrência de LMERT. A sua aplicação requer a obtenção de dados da actividade em estudo, como por exemplo, a frequência, a duração das tarefas e a distância percorrida com a carga. Para tal, é obrigatório um conhecimento detalhado dos postos de trabalho a analisar. O avaliador não necessita de ter uma formação aprofundada em ergonomia, apenas conhecimentos genéricos e experiência na área de SHT. Neste nível de intervenção a avaliação de risco abrange a descrição detalhada da tarefa e das condições de trabalho, assim como a quantificação do nível de risco da tarefa em causa, geralmente, através de uma pontuação. Assim, essa pontuação reflecte o grau de probabilidade de

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surgimento de LMERT, ou seja, quanto maior a pontuação, maior é o risco. Contudo, é necessário alguma prudência na interpretação dessa pontuação, pois, quando é realizada a avaliação de risco com métodos de nível II, existe a possibilidade da ocorrência de erros, como por exemplo, conhecimento insuficiente da tarefa em análise, dados obtidos incorrectamente ou simples erros de cálculo. Por isso, os resultados assim obtidos devem ser comparados com outras situações semelhantes (analisadas anteriormente pelo avaliador), com o stress e outros indicadores subjectivos reportados pelos operadores, bem como com informações de queixas ou absentismo por parte dos mesmos.

Contudo, se for necessário uma maior precisão e avaliação de risco detalhada, deve-se recorrer a métodos de avaliação de nível III. Estes garantem uma avaliação de risco para problemas específicos que não podem ser avaliados recorrendo ao nível II de intervenção, tais como tarefas complexas e constantemente em mudança e/ou tarefas de elevada exigência física e formação especial.

A avaliação de risco de nível III também deve ser aplicada quando ocorram problemas associados à carga de trabalho, por exemplo:

- Uma diminuição significativa da qualidade no produto;

- Na concepção de um posto de trabalho para tarefas com elevada exigência física;

- Quando exista um número elevado de queixas, problemas de saúde, doenças e absentismo. Porém, na utilização de métodos do nível III é necessário que o avaliador tenha, para além de um conhecimento pormenorizado da actividade a avaliar, uma formação especializada em domínios como a ergonomia, a fisiologia, a biomecânica e saúde ocupacional. Este necessita de efectuar diversas operações, tais como:

- Análise da tarefa;

- Estudo dos tempos e dos movimentos efectuados;

- Estimativa de parâmetros fisiológicos, tais como, ritmo cardíaco, actividade bioeléctrica muscular, consumo de oxigénio;

37 - Estimativas das forças efectuadas;

- Medição de dados ambientais; - Análise biomecânica;

- Realização de inquéritos aos operadores.

Por isso, a aplicação de métodos deste nível tem uma maior complexidade, dependendo a sua duração da natureza do problema e das consequências para a segurança e saúde no trabalho, bem como para a economia. Note-se também que para efectuar uma avaliação deste tipo, é necessário o apoio de instituições com actividade particular na área de SHT, de universidades ou de institutos de investigação científica (SLIC, 2008b). Pois, normalmente, são estas instituições que possuem os recursos, tanto materiais, como humanos necessários para esse tipo de avaliação. Tal facto, compromete a acessibilidade a estes métodos, bem como a facilidade da sua aplicação.