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8.2 Caracterização das Variáveis

No documento Modelo de rating interno. (páginas 96-99)

Laffarga & Mora (1998) afirmam que, independentemente da amostra, do modelo ou das metodologias utilizadas, todas concluem que são os rácios de rentabilidade e os de liquidez os melhores indicadores para discriminar entre empresas não fracassadas e fracassadas. Estes tipos de rácios foram especialmente privilegiados no modelo proposto.

Os rácios apresentam como principais vantagens a facilidade tanto de cálculo como de comparabilidade. No entanto, como refere Laffarga (1999) convém ter presente os inconvenientes que os mesmos podem apresentar: a ausência de uma teoria que ajude na seleção das variáveis, os problemas relacionados com a distribuição dos rácios bem como as diferenças sectoriais e de tamanho entre as empresas.

As variáveis independentes dos modelos de previsão não são formadas apenas pelos rácios financeiros. Existem diversos estudos que consideram também outro tipo de variáveis distintas dos rácios financeiros, como sejam as variáveis qualitativas e/ou variáveis externas. Keasey & Watson (1987) afirmam que não está claro que um adequado modelo de previsão se possa basear unicamente em rácios financeiros, tendo demonstrado que os modelos que continham variáveis qualitativas apresentavam uma capacidade de previsão superior ao modelo que continha unicamente rácios financeiros. Outro autor que utilizou este tipo de variáveis foi Somoza (2002) onde analisa as hipóteses se a inclusão de variáveis qualitativas e de variáveis externas permite aumentar a capacidade preditiva dos modelos baseados em rácios. Os resultados obtidos com a inclusão de variáveis qualitativas indicaram um incremento da capacidade preditiva dos modelos. Com a utilização de variáveis externas, macroeconómicas e sectoriais, os resultados não foram tão animadores. De salientar que a única variável externa/sectorial (considerada como qualitativa) encarada no modelo foi o nível de insolvências por setor económico. Variáveis de natureza macroeconómica – taxas juros de mercado, inflação, crescimento económico, taxas de desemprego, taxas cambiais, défices, etc – não foram consideradas no modelo.

Os índices económico-financeiros utilizados neste trabalho compreendem indicadores financeiros, de liquidez, de rentabilidade, de atividade, de estrutura, de análise dinâmica e de fluxo de caixa. Informações detalhadas sobre índices económicos - financeiros podem ser obtidas

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em várias publicações e manuais – Nabais (1994), Neto (2002) e Silva (2003). A expressão “económica e financeira” designa todo o tipo de indicadores baseados em dados económicos e financeiros de determinada entidade e podem ser expressos em valores monetários absolutos, valores relativos ou taxas de variação, tempo, entre outros. Embora todos os indicadores devam ser olhados de forma integrada, é habitual separá-los em económicos e financeiros. No caso dos indicadores económicos, estes procuram avaliar a capacidade da empresa em gerar valor de forma a remunerar adequadamente todos quantos nela participam, nomeadamente os seus acionistas, trabalhadores, entre outros. Alguns exemplos de indicadores económicos são os diversos indicadores de rendibilidade, eficiência e produtividade. Quanto aos indicadores financeiros, estes procuram avaliar a capacidade da empresa em honrar atempadamente os seus compromissos financeiros para com terceiros e incluem, numa perspetiva de longo prazo, os indicadores de estrutura financeira e solvabilidade e, numa perspetiva de curto prazo, os indicadores de liquidez.

A construção deste modelo de rating assentou, conforme já referido, em variáveis quantitativas e qualitativas, as primeiras naturalmente assentes em vários indicadores económico-financeiros, indicadores esses que se integram em diversos tipos de rácios – de rendibilidade ou económicos, financeiros e de estrutura, critérios que são normalmente comuns a todas as instituições, enquanto o segundo grupo de variáveis – as qualitativas – assentaram em dados subjetivos, inquestionavelmente mais discutíveis e cuja classificação depende exclusivamente da forma como o comercial / técnico / analista de risco vê a entidade em questão. Sendo qualitativos estes critérios, naturalmente encerram em si um elevado grau de confidencialidade, facto que dificulta por isso a hipótese de um estudo com a qualidade necessária e resultados significativos sobre os mesmos. Tentou-se ultrapassar essa restrição com a utilização de uma amostra de empresas que foram qualitativamente classificadas pelos gestores /analistas que acompanham quotidianamente essas sociedades. Contudo há que referir que os critérios qualitativos evidenciam sinais de grande volatilidade, quer em termos de definição como em termos de grau de importância e consequente ponderação para o rating a calcular. Em bom rigor, a parte qualitativa de um modelo de rating interno, dentro de qualquer instituição financeira, só poderá ser valorada pelo gestor / responsável pelo acompanhamento da empresa que se pretende classificar, opinião essa

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que deverá ser misturada com informações externas obtidas em outras instituições financeiras e em empresas certificadas de informação. Neste contexto, poderemos resumir os principais itens (quantitativos e qualitativos) que são fundamentais na classificação de um devedor:

-Situação económica e financeira -Grau de endividamento

-Capacidade de geração de resultado -Fluxo de caixa

-Administração e qualidade dos controles -Pontualidade e atrasos de pagamentos -Contingências

-Setor de atividade económica -Reputação e experiência -Incidentes no sistema

As variáveis qualitativas do modelo tiveram origem no trabalho de mestrado intitulado “Critérios Qualitativos na Atribuição de Rating: Importância dada pelos bancos e impacto nas PME” (Silva, 2011), cujo objetivo foi determinar junto de várias instituições financeiras qual a importância dos critérios qualitativos na construção dos modelos de rating interno, nomeadamente quais as variáveis nucleares e que peso ou ponderação teriam nos modelos. O resultado, ou seja, os critérios elegidos pelos bancos consultados e pesos considerados foram assim utilizados neste trabalho. As 13 variáveis qualitativas utilizadas no modelo e o peso atribuído de 30% (70% para as 17 variáveis quantitativas) resultaram desse trabalho, tendo o autor realizado um inquérito junto de vários bancos do nosso sistema financeiro para chegar às conclusões atrás referidas. De referir que a resposta dos vários bancos quanto ao peso a atribuir às variáveis qualitativas variou entre os 20 e os 40%, razão pela foi entendido fixar a média aritmética desses valores (30%) para ponderar os critérios subjetivos no modelo que é defendido neste trabalho.

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Importa desde já revelar o critério utilizado para a valorização de todas as variáveis independentes inscritas, quantitativas e qualitativas. Assim, para as primeiras, levamos em consideração a distribuição estatística de cada rácio utilizando-se para o efeito os percentis, nomeadamente os percentis 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90, valorizando cada variável de 1 a 9 pontos consoante a colocação do respetivo valor na curva da distribuição, sendo 1 a pior classificação e 9 a melhor possível de obter. Relativamente aos critérios subjetivos, a matriz de pontuação contempla uma pontuação que se situa de 1 a 5 pontos consoante a qualidade atribuída pelo gestor / analista a cada uma das variáveis, sendo 1 a pior classificação e 5 a melhor classificação possível de obter. No que respeita às classes / graus de risco do modelo (variável dependente ou explicada), a sua definição assentou igualmente na sua distribuição estatística utilizando-se mais uma vez os percentis das variáveis dependentes, estando os 12 graus de risco (de 1 a 12) localizados nos percentis 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 95. O objetivo final desta dissertação é precisamente demonstrar a fiabilidade do modelo construído na base desta matriz, utilizando-se para o efeito as várias técnicas estatísticas já referenciadas.

Contudo, será de salientar que o critério utilizado para a classificação dos intervalos na escala de pontuação aplicada a cada variável quantitativa e também igualmente no que respeita aos critérios classificativos das variáveis qualitativas, encerram si um grau de subjetividade que importa desde já admitir. Aliás, qualquer outro critério que fosse utilizado para classificar os parâmetros envolveria sempre um maior ou menor grau de subjetividade.

De seguida e de uma forma relativamente sucinta, passamos a definir as 30 variáveis que compõem o modelo;

No documento Modelo de rating interno. (páginas 96-99)