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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Estudo de adsorção de etambutol em paligorsquita e caracterização do híbrido

5.3.2. Caracterização do compósito paligorsquita-quitosana

A partir da condição na qual foi alcançada a capacidade máxima de adsorção (C0 quitosana = 5 mg.mL-1), o compósito correspondente CP foi caracterizado.

Conforme relatos anteriores de outros autores, a interação de quitosana com filossilicatos fibrosos envolve tanto ligações de hidrogênio, quanto interações eletrostáticas devido às cargas opostas das espécies (DARDER et al., 2006; RUSMIN et al., 2015; SUN et al., 2017). A Figura 32 representa um esquema da adsorção do polímero à paligorsquita.

Figura 32. Representação esquemática da interação paligorsquita-quitosana.

Fonte: Autoria própria.

As mudanças das propriedades de superfície da paligorsquita antes e após a adsorção de quitosana estão dispostas na Tabela 16. A inversão da carga moderamente negativa da paligorsquita (-11,1 mV) após a obtenção do compósito (+12,6 mV) pode ser atribuída à adsorção superficial da cadeia policatiônica. Em pH 5, a quitosana está parcialmente protonada, e seus grupos NH3+ são responsáveis

pelo caráter positivo assumido pelo compósito.

Tabela 16. Propriedades de superfície de Paly e do compósito paligorsquita- quitosana CP.

AMOSTRA POTENCIAL ZETA (MV) ÁREA ESPECÍFICA BET (m2/g)

Paly - 11,1 122

CP + 12,6 53

A área específica da paligorsquita sofreu uma redução de aproximadamente 56% após a floculação da quitosana na superfície do filossilicato. Por tratar-se de um filossilicato fibroso, a paligorsquita apresenta inversão periódica da camada tetraédrica, com formação de túneis e canais que resultam na sua elevada área específica. O recobrimento destes pelas macromoléculas de quitosana provocou tal alteração, embora Darder et al. (2006) tenham determinado que as cadeias estavam estericamente impedidas de inserir-se nos poros da sepiolita, um argilomineral pertencente ao mesmo grupo da paligorsquita. Esta tendência à minimização da área específica está de acordo com dados relatados por outros autores em relação a compósitos semelhantes (PENG et al., 2013; SANTANA et al., 2017a; SUN et al., 2017).

Os perfis difratométricos dos insumos e do compósito CP estão representados na Figura 33.

Figura 33. Difratograma de raios-X de quitosana (CTS), paligorsquita (Paly) e do compósito (CP). 2In te n s id a d e r e la ti v a ( u .a .) 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 P P P Q D C P P a l y C T S

Legenda: P – paligorsquita; Q – quartzo; D – dolomita. Fonte: Autoria própria.

Na amostra de paligorsquita foram observados picos intensos característicos em 2θ = 8,4°, 19,8° e 20,8°, que se reproduziram no difratograma do compósito, indicando que a estrutura do filossilicato é preservada. A quitosana, por sua vez, é um polímero semi-cristalino, com pico característico em 20,3°, dadas as interações de hidrogênio intramoleculares (O-O) e intermoleculares (N-O) (KUMIRSKA et al., 2010).

Em CP, observou-se que não houve deslocamento dos picos de paligorsquita, indicando que a macromolécula foi adsorvida predominantemente na superfície da argila, como evidenciado na análise de área específica. Concomitantemente, os picos sofreram alargamento e redução na sua intensidade, demonstrando que a perda de cristalinidade está relacionada à interação polímero-argila, em acordo com relato de Rusmin et al. (2015) que obtiveram maior amorfização à medida que a proporção de quitosana no compósito era aumentada. Da mesma forma, Darder et al. (2006) e Santana et al. (2017) também obtiveram compósitos menos cristalinos sem, no entanto, sofrer alteração no espaço basal do adsorvente. O pico de dolomita (D) foi suprimido no difratograma do compósito, decorrente da dissolução do carbonato na solução polimérica ácida.

A análise termogravimétrica demonstrou a estabilidade térmica do compósito frente à quitosana (Figura 34). A quitosana exibiu duas etapas principais de perda de massa, a primeira, entre 30 e 132°C, foi relacionada à perda de água adsorvida (8,9%), e a segunda etapa, a partir 243°C, referiu-se à despolimerização e decomposição do biopolímero (LERTSUTTHIWONG et al., 2012).

Paligorsquita apresentou quatro etapas de perda de massa, em conformidade com relatos da literatura (BLANCO; GONZÁLEZ; PESQUERA, 1989; GONZÁLEZ et al., 1990). A perda da água adsorvida à superfície ocorre em temperaturas inferiores a 100°C (5,9%), seguida pela perda de água contida nos canais de 100°C a 204°C (3,5%). Em um intervalo entre 204°C e 504°C, a água estrutural foi removida (7,6%) e, por fim, ocorreram a desidroxilação da camada octaédrica e a decomposição de carbonatos em temperaturas superiores a 550°C (8,9%). A massa residual foi de 74,1%.

Figura 34. Curvas TG de paligorsquita (Paly), quitosana (CTS) e do compósito (CP). T e m p e r a t u r a ( ° C ) M a s s a ( % ) 2 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 P a l y C P C T S 8 , 6 % 1 0 , 6 %

Fonte: Autoria própria.

O compósito CP demonstrou apenas três eventos térmicos principais. O primeiro referiu-se à perda de água fisiossorvida entre 30 e 87°C (5,3%), o segundo, à perda de água inserida nos canais do filossilicado de 100 a 250°C (6,7%) e o terceiro, à decomposição do polímero e perda de água coordenada entre 250°C e 600°C (19,2%). É notável que a massa residual de CP (66,6%) foi inferior à da paligorsquita, confirmando a adsorção de quitosana à argila.

Analisando-se comparativamente as perdas de massa da paligorsquita e do híbrido entre 250 e 600°C, determinou-se a quantidade aproximada de quitosana adsorvida à argila em CP, a qual foi de 10,6%, valor semelhante àquele obtido por análise elementar da amostra correspondente durante a construção da isoterma (9,9%).

A interação entre quitosana e paligorsquita foi demonstrada através de mudanças espectrais observadas na região do infravermelho (Figura 35).

Quitosana apresentou uma banda larga entre 3.000 e 3.500 cm-1, a qual se

refere à sobreposição de vibrações de estiramento N-H e O-H do polissacarídeo, enquanto em CP esta banda apresentou-se bastante discreta em 3.400 cm-1. De

acordo com Rusmin et al. (2015), em biocompósitos baseados em quitosana, esta banda pode ser observada e sua intensidade é modulada pela razão mássica de quitosana no sistema. Paralelamente, observou-se que as bandas de paligorsquita

associadas às vibrações de estiramento de hidroxilas estruturais em 3.614 cm-1 (Al 2-

OH e Mg-OH) e 3.539 cm-1 (Fe-Mg-OH ou Fe

2-OH) se reproduzem no compósito em

menor intensidade e com pequenos deslocamentos para 3.612 e 3.543 cm-1,

respectivamente (BLANCO; GONZÁLEZ; PESQUERA, 1989).

Figura 35. Espectros FTIR do compósito CP e seus respectivos componentes, Paly e CTS. N ú m e r o d e o n d a ( c m- 1) In te n s id a d e r e la ti v a ( T % ) 1 0 0 0 1 5 0 0 2 0 0 0 2 5 0 0 3 0 0 0 3 5 0 0 4 0 0 0 C T S P a l y C P 3 6 1 4 3 5 3 9 3 4 0 0 2 9 1 8 2 8 5 0 1 5 5 6 1 1 9 4 9 7 6 9 1 2 2 9 1 6 1 5 8 9 1 4 1 5 1 6 5 8 3 6 1 2 3 5 4 3 1 6 4 9 3 7 2 2 1 1 5 1 1 0 5 5

Fonte: Autoria própria.

A banda em 3.722 cm-1 relacionada aos grupos Si-OH dispostos na superfície

externa da paligorsquita praticamente desapareceu no compósito. Estas alterações sugerem a interação do polissacarídeo com paligorsquita através de ligações de hidrogênio, o que já havia sido relatado por Rusmin et al. (2015). Vibrações de estiramento de carbono alifático C-H foram identificadas em 2.850 e 2.916 cm-1,

além de vibrações de deformação de C-H em 1.375 e 1.425 cm-1, as quais são

observadas no compósito em menor intensidade, confirmando a presença do polímero na amostra (DENG et al., 2012).

Os grupos amina e amida de quitosana são representados, respectivamente, pelas bandas de vibração de deformação em 1.589 e 1.649 cm-1, as quais se

canais do filossilicato no espectro de CP. No compósito, a protonação de -NH3+ da

quitosana ocasiona o deslocamento da banda de vibração de deformação para 1.556 cm-1, confirmando a presença de interações eletrostáticas entre o biopolímero

e a superfície da argila. Trabalhos anteriores reportam que a formação de compósitos baseados em quitosana e argilas fibrosas é resultante de ligações de hidrogênio e, em menor extensão, de interações eletrostáticas, uma vez que a carga superficial negativa das fibras é compensada pelo policátion protonado em meio ácido (DARDER et al., 2006; RUIZ-HITZKY et al., 2013a).

Bandas referentes ao estiramento C-O de quitosana são observadas em 1.055 e 1.151 cm-1, as quais se sobrepõem às bandas de paligorsquita relacionadas

às vibrações da camada tetraédrica em 1.194 (Si-O-Si), 976 (Si-O) e 912 cm-1 (Al-Al-

OH) no compósito (SUÁREZ; GARCÍA-ROMERO, 2006). Estes sinais característicos de filossilicatos fibrosos estão presentes no espectro de CP em intensidades reduzidas, refletindo a presença de quitosana no compósito.

5.3.3. Adsorção do fármaco etambutol ao compósito

A capacidade de adsorção de etambutol aos substratos paligorsquita, quitosana e seu produto de interação CP foi demonstrada na Figura 36. Analisando- se estatisticamente, observou-se que o compósito e a quitosana apresentaram uma menor retenção do fármaco frente à paligorsquita. Tal achado está relacionado principalmente às interações eletrostáticas envolvidas na adsorção do fármaco aos suportes avaliados. No pH 6,8 empregado no experimento, o etambutol encontra-se parcialmente ionizado (pKa1 = 6,35) e carregado positivamente (BEGGS;

ANDREWS, 1974). A paligorsquita, por sua vez, torna-se mais eletronegativa à medida em que o meio se torna mais básico, devido à menor disponibilidade de H+

capazes de protonar os grupos Si-OH. Portanto, neste meio a interação com o argilomineral mediante interações eletrostáticas é favorecido.

Em contraste, o polímero encontra-se moderadamente protonado no pH 6,8 (pKa = 6,5), o que provoca algum grau de repulsão do fármaco catiônico, prevalecendo as interações do tipo ligação de hidrogênio e o efeito hidrofóbico. Esse comportamento justifica a redução significativa de etambutol adsorvido ao polímero (7,3%) quando comparado à paligorsquita (15,8%). Após adsorção da quitosana à

superfície do argilomineral, o compósito demonstrou um caráter predominantemente eletropositivo, de acordo com a análise do potencial zeta. Esta alteração nas propriedades de superfície resultou em uma capacidade de retenção de etambutol estatisticamente semelhante àquela observada para o polímero (8,8%).

Figura 36. Capacidade de retenção de ETB em paligorsquita, quitosana e no compósito CP. E T B a d s o r v id o ( % ) Pa ly CT S CP 0 5 1 0 1 5 2 0 *** **

Legenda: Paly: paligorsquita; CTS: quitosana; CP: compósito paligorsquita- quitosana. Análise estatística: ANOVA one-way e pós-teste de Tukey. Os dados são representados como a média ± desvio padrão (n= 3). p < 0,01 (**); p < 0,001 (***) em

relação à Paly. Fonte: Autoria própria.

A adsorção do fármaco após a obtenção do compósito não apresentou incremento na capacidade adsortiva do novo material frente aos materiais de partida, além de não promover a retenção do fármaco de modo suficiente, o que indicou a necessidade de preparar o compósito carregado através de outra técnica.

5.4. Preparo e caracterização dos biocompósitos baseados em paligorsquita- quitosana

5.4.1. Caracterização físico-química dos biocompósitos

Antes de delinear o compósito a ser desenvolvido nesta tese, realizou-se algumas provas empregando distintas metodologias de preparo, como coacervação, emulsificação e secagem por aspersão. As duas primeiras não resultaram em materiais adequados para a continuidade dos experimentos, principalmente no que se refere à dificuldade de retenção do fármaco nos sistemas e de remoção dos solventes orgânicos, respectivamente. Portanto, a escolha do método de secagem por aspersão para o preparo dos compósitos foi baseada na sua robustez, simplicidade, bem como na adequação dos materiais às condições de processamento e homogeneidade do material obtido (SOSNIK; SEREMETA, 2015).

A técnica de secagem por aspersão, também denominada spray drying, consiste em atomizar um líquido em pequenas gotículas dentro de uma câmara de secagem, na qual o solvente é evaporado rapidamente pelo fluxo de ar aquecido circulante, convertendo o material de partida em um pó. Alguns dos parâmetros que exercem influência sobre o processo de secagem por aspersão são: a concentração do polímero, o fluxo de alimentação e a temperatura de entrada (SANTOS; MOURA; RAFFIN, 2003).

As proporções de polímero e filossilicato foram determinadas a partir dos dados do estudo de adsorção. A partir deste ensaio verificou-se que a monocamada do polímero era formada quando a massa dos dois insumos era equivalente. No entanto, com o objetivo de avaliar a influência do filossilicato no sistema, preparou- se micropartículas constituídas exclusivamente por quitosana, além de uma variante do sistema, no qual o filossilicato foi adicionado em concentração equivalente à metade do polímero.

O sistema com o dobro de paligorsquita em relação à quitosana foi descartado considerando-se os resultados obtidos por Khlibsuwan et al. (2017). Em sua publicação, o autor demonstrou que, elevando demasiadamente a concentração do filossilicato em relação à quitosana, as partículas apresentavam-se

completamente deformadas, pois a morfologia esférica é atribuída à plasticidade do polímero após secagem da gotícula atomizada.

Para a seleção da concentração de sólidos na amostra, considerou-se o reduzido diâmetro do bico de aspersão do equipamento, o qual sofreu sucessivos entupimentos durante testes iniciais com concentrações superiores a 1%. A temperatura de secagem mais comumente adotada no preparo de micropartículas de quitosana através desta técnica abrange a faixa de 140-180°C (JAYASURIYA, 2017). As partículas resultantes da exposição a temperaturas mais elevadas apresentam maior deformação da esfericidade, devido à rápida evaporação do solvente, ao passo que temperaturas inferiores podem ser insuficientes para alcançar uma secagem completa (AHMAD; UNGPHAIBOON; SRICHANA, 2015).

Os materiais preparados atingiram rendimentos entre 50-60%, o que é considerado aceitável, mediante outros relatos da literatura referentes à produção de micropartículas de quitosana em pequena escala (SANTOS; MOURA; RAFFIN, 2003; ALHALAWEH; ANDERSSON; VELAGA, 2009; JIANG; CAI; LI, 2017; KATSAROV et al., 2017). A perda durante a secagem pode estar relacionada à exaustão de uma fração das partículas com tamanho bastante reduzido, consequência direta da baixa concentração de quitosana empregada neste trabalho, além da adesão do material às paredes da câmara de secagem do equipamento.

Os compósitos apresentaram menor adesão ao ciclone e, por conseguinte, rendimento um pouco superior, quando comparado à amostra isenta de paligorsquita. Os filossilicatos são materiais reconhecidos por suas propriedades dessecantes, apresentando-se estáveis frente à umidade relativa e proporcionando boa característica de fluxo aos materiais que compõem (ÁLVAREZ et al., 2011). Estas características justificam o rendimento diferenciado dos compósitos frente às micropartículas de quitosana.

Na Tabela 17 estão dispostos os resultados relacionados às propriedades das partículas obtidas. O diâmetro médio das partículas manteve-se na escala micrométrica, entre 3 - 5 µm. O aumento da massa de paligorsquita na composição do material ocasionou um pequeno aumento no diâmetro médio do produto obtido, uma vez que a concentração total de sólidos dispersos no meio foi crescente de CE a C1P1E. A presença de paligorsquita possivelmente ocasionou uma maior aglomeração das cadeias de quitosana, enovelando-as ao redor da estrutura fibrosa irregular do filossilicato.

Alguns dos fatores mais determinantes no preparo de micropartículas por spray drying são: o diâmetro do bico aspersor, a concentração e a viscosidade do material de partida, temperatura de secagem, pressão e fluxo do ar na secagem e o fluxo de alimentação. Micropartículas de quitosana/paligorsquita carregadas com

Tabela 17 Propriedades físico-químicas dos compósitos baseados em paligorsquita e quitosana (média ± DP, n = 3). AMOSTRA DIÂMETRO MÉDIO (µM) CAPACIDADE DE LIGAÇÃO (%) EFICIÊNCIA DE LIGAÇÃO (%) POTENCIAL ZETA (mV) CE 3,17 ± 0,46 12,34 ± 0,04 94,59 ± 0,34 + 34,93 ± 0,99 C2P1E 3,36 ± 0,22 11,69 ± 0,18 99,39 ± 1,56 + 26,53 ± 3,65 C1P1E 4,29 ± 0,16 7,66 ± 0,07 84,30 ± 0,79 + 23,27 ± 2,87

Fonte: Autoria própria.

diclofenaco de sódio e preparadas pela mesma técnica apresentaram diâmetro médio ligeiramente semelhante, embora tenha sido empregado um bico de maior diâmetro e uma maior concentração de polímero (WANG et al., 2011). É possível que o tamanho médio equiparado das micropartículas de diclofenaco esteja associado à adição do reticulante covalente glutaraldeído, que provocou a formação de um aglomerado mais denso da matriz polimérica. A influência deste reticulante covalente sobre a redução do tamanho de micropartículas de quitosana já foi evidenciada anteriormente (HE; DAVIS; ILLUM, 1999).

As micropartículas preparadas neste trabalho não tiveram nenhum reticulante adicionado além da paligorsquita, nos compósitos C2P1E e C1P1E. Esta característica do filossilicato formar pontos de interação entre as cadeias poliméricas hidrofílicas foi demonstrada em trabalhos anteriores (ZHANG; WANG; WANG, 2007; RUSMIN et al., 2015).

A capacidade de ligação exposta na Tabela 17 foi ligeiramente superior aos valores obtidos por Khlibsuwan e colaboradores (2017) ao prepararem micropartículas híbridas de quitosana e montmorilonita carregadas com cloridrato de propranolol através da mesma técnica. A quantidade de etambutol nos compósitos apresentou-se reduzida à medida que o conteúdo de paligorsquita foi aumentado. A adição de paligorsquita exerceu um efeito negativo sob este aspecto, embora a carga superficial moderadamente negativa do carreador inorgânico seja capaz de reter o fármaco, conforme demonstrado anteriormente.

Aparentemente, etambutol e o filossilicato competem pelos mesmos sítios de ligação de hidrogênio com o polímero, uma vez que a concentração de quitosana e do fármaco mantêm a proporcionalidade. Ademais, a adição de quantidades superiores do fármaco não resultou em maior eficiência de ligação, conforme testes preliminares realizados.

A interação da paligorsquita com a quitosana é possível através de ligações de hidrogênio e eletrostáticas entre as espécies químicas, mediante um envolvimento da cadeia polimérica em torno da superfície do filossilicato (RUIZ- HITZKY et al., 2013b). Desta forma, a paligorsquita atua como um agente reticulante, neutralizando os grupos amino carregados positivamente do polímero, minimizando a repulsão eletrostática da cadeia macromolecular e tornando-a menos distendida. Essa alteração provavelmente implica em uma menor interação da quitosana com o fármaco dissolvido no meio. Gan e Wang (2007) verificaram a influência da distensão da cadeia e dos grupos aminos livres sobre a eficiência de encapsulação de proteínas em nanopartículas de quitosana, confirmando o que foi anteriormente afirmado.

As micropartículas obtidas apresentaram valores de potencial zeta positivo, dado o caráter catiônico do polímero que compõe a matriz do sistema e do fármaco carreado (Tabela 17). A superfície eletropositiva de compósitos baseados em quitosana e paligorsquita confirma a cobertura das partículas inorgânicas pela cadeia ionizada do polímero.

Os compósitos C2P1E e C1P1E, por sua vez, apresentaram uma redução da carga superficial em relação às micropartículas de quitosana. Este resultado é justificado pela interação eletrostática entre o argilomineral negativamente carregado e o polieletrólito catiônico, a qual ocasionou uma neutralização parcial dos grupos amino da quitosana. No entanto, o aumento da concentração de paligorsquita não provocou mudança significativa na carga superficial dos compósitos. Atribui-se esse resultado ao fato de que no pH da água, empregada como meio dispersante, há uma maior ionização das cadeias de quitosana (pKa 6,5), enquanto o argilomineral terá o potencial zeta reduzido pela presença de H+ em excesso adsorvido à sua superfície,

exercendo assim menor influência sobre a carga do compósito (KHUNAWATTANAKUL et al., 2008).

As micrografias representadas na Figura 37 demonstram a morfologia das micropartículas. É possível observar que, sob as condições empregadas, as partículas apresentaram forma arredondada com a superfície côncava.

A depressão em uma das faces das micropartículas pode estar relacionada à reduzida viscosidade da quitosana empregada (HE; DAVIS; ILLUM, 1999). Portanto, ao expor a gotícula formada pelo bico aspersor a uma temperatura elevada, a rápida evaporação do solvente provoca uma deformação na partícula pela incapacidade do polímero manter a estrutura inicialmente formada. Santos et al. (2003) e Ahmad et al. (2015) obtiveram partículas de quitosana, a partir da mesma técnica, com morfologia semelhante.

Figura 37. Eletromicrografia dos compósitos quitosana-etambutol CE (a) e quitosana-paligorsquita-etambutol C2P1E (b) e C1P1E (c).

À medida que a proporção de paligorsquita na formulação foi aumentada, observou-se uma tendência do sistema a tornar-se menos esférico. Este resultado está em acordo com o relato de Khlibsuwan et al. (2017), cujo trabalho demonstrou que a adição crescente do argilomineral montmorilonita ao compósito preparado em matriz polimérica de quitosana pela técnica de spray drying ocasionou um maior grau de deformação das partículas preparadas. Portanto, a esfericidade do material é predominantemente controlada pelo polímero, uma vez que a paligorsquita possui morfologia fibrosa.

Analisando-se os difratogramas dos insumos de partida (Figura 38a), é possível observar a cristalinidade do fármaco (2θ = 7,6°; 14,0°; 15,2°; 20,4° e 21,9°) e do argilomineral (2θ = 8,3°; 19,7°; 20,8°) (BEGGS; ANDREWS, 1974; LÓPEZ- GALINDO; RUIZ; LÓPEZ, 1996). Por outro lado, a quitosana (CTS) é um polissacarídeo semicristalino que apresentou um pico largo em torno de 2θ = 20°, o qual corresponde à forma cristalina 2 do polímero, conforme Ogawa et al. (1992). Esta característica está relacionada ao grau de desacetilação e ao tratamento ao qual o material foi submetido (JAWORSKA et al., 2003).

Após a secagem por aspersão, o perfil cristalográfico dos materiais obtidos indicou o caráter amorfo das micropartículas (Figura 38b). Este achado era esperado, pois é sabido que a técnica de secagem empregada no processamento das amostras provoca perda de cristalinidade (SOSNIK; SEREMETA, 2015). O mecanismo que desencadeia esta transição baseia-se no fornecimento externo de energia, através da rápida evaporação do solvente no qual o fármaco estava dissolvido (SINGH; VAN DEN MOOTER, 2016).

Muitos trabalhos avaliaram o preparo de micro e nanopartículas de quitosana a partir do polímero quitosana (CORRIGAN; HEALY; CORRIGAN, 2006; CERVERA et al., 2011; DO NASCIMENTO et al., 2017). Estas partículas apresentam perda ou redução do pico 2θ = 20°, com supressão das reflexões cristalinas dos fármacos adicionados, na maioria das vezes. O estado amorfo observado sugere uma distribuição homogênea do fármaco no sistema, o que influencia o seu perfil de liberação e é refletido através das novas interações demonstradas no espectro FTIR. A partir dos difratogramas obtidos, observou-se que o sinal referente ao etambutol foi sobreposto pelo ruído da matriz polimérica, bem como está disperso a nível molecular no compósito, adquirindo a forma amorfa ao interagir com os carreadores. A depender do tipo de argilomineral adicionado à matriz polimérica, da

sua composição e do método de preparo da amostra, os compósitos preparados podem apresentar distintos perfis de difração. Wu et al. (2014) prepararam microesferas de quitosana/paligorsquita carregadas com diclofenaco de sódio por emulsificação e os resultados encontrados na análise de DRX não evidenciavam os picos do fármaco. Ao passo em que micropartículas reticuladas baseadas em quitosana e paligorsquita preparadas por Wang et al. (2011) ainda mantiveram um sinal reduzido da principal reflexão do argilomineral, embora o fármaco tenha sido

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