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5 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 Caracterização do consórcio

Foram utilizados cinco aspectos considerados essenciais para a caracterização do consórcio, sendo que as fontes de evidência para este destaque foram: (a) as declarações do gerente geral do consórcio e do gerente de planejamento do organismo fiscalizador do consórcio pesquisado e a (b) documentação relacionada à formação e gestão do consórcio. Esta caracterização tem como finalidade apresentar maior compreensão às análises que serão realizadas para o alcance dos objetivos específicos desta dissertação.

5.1.1 A estrutura organizacional do consórcio

De acordo com o gerente geral do consórcio, existem basicamente duas formas de se conduzir um consórcio na construção civil. Na primeira, as empresas dividem o montante licitado e/ou contratado de forma igualitária e atuam nas obras com administrações independentes (segundo seu relato muitos consórcios do próprio Projeto Alvorada seguem este modelo) e a segunda, é mediante uma administração unificada e integrada pelas empresas construtoras consorciadas (o caso do consórcio pesquisado).

No caso específico do consórcio investigado, em função das características do empreendimento e das empresas consorciadas (as peculiaridades são abordadas, em profundidade, na análise dos dados), não se optou pela divisão das obras. As empresas decidiram trabalhar em conjunto, porém mediante uma estrutura organizacional independente dos níveis operacionais e táticos das empresas consorciadas, com diversas divisões funcionais de uma empresa convencional (por exemplo: setor de compras, setor de recursos humanos, setor de planejamento, dentre outros), apesar de ela não possuir personalidade jurídica.

As empresas parceiras decidiram pela seguinte configuração do nível institucional do consórcio: um conselho diretor formado por 4 (quatro) representantes das empresas consorciadas e 1 (um) gerente geral do consórcio, sendo que cada empresa possuiria 1 (um) representante no conselho e o gerente geral seria um executivo externo às empresas consorciadas, contratado exclusivamente para gerenciar o consórcio. A figura 5.1 mostra esta configuração do nível institucional da aliança em questão.

Este conselho se reúne ordinariamente com uma periodicidade semanal e extraordinariamente quando necessário. Nas reuniões são estabelecidos os objetivos e metas estratégicas para o consórcio, são realizadas as prestações de contas (cobranças) das metas e objetivos estabelecidos e são discutidos assuntos relativos a tomadas de decisão para a gestão do consórcio.

Figura 5.1 – Configuração do conselho diretor da aliança Fonte: Dados da pesquisa

5.1.2 Os contratos do consórcio

O gerente geral do consórcio relatou que existiram basicamente dois contratos. O primeiro apenas para a composição e participação das empresas no processo licitatório, para atender às condições do edital; o segundo, após as empresas terem vencido a licitação, para elaborar um acordo formal mais detalhado denominado “Instrumento Particular de Constituição do Consórcio”, com registro na JUCEPA, que regulamenta a gestão do consórcio, isto é, define a estrutura organizacional do consórcio, como as empresas irão cooperar, quais os direitos e deveres, além de mecanismos para dirimir impasses nas deliberações pertinentes à condução do consórcio.

5.1.3 As deliberações do consórcio

Segundo o instrumento particular de constituição, “Por seu turno, todas as deliberações pertinentes à condução do consórcio serão tomadas por maioria, cabendo a cada consorciada o direito a um voto”. Este instrumento prevê que “Em caso de empate, a deliberação será resolvida por voto do gerente do contrato, a quem cabe zelar, em última análise, pela qualidade técnica do serviço contratado”.

Este contrato explicita que “havendo, no momento da deliberação, apenas 3 (três) das 4 (quatro) consorciadas, prevalece a regra da decisão aceita pela maioria”. E que “não poderá haver qualquer deliberação pertinente ao presente consórcio havendo quorum de apenas duas consorciadas”.

Empresa

Alfa Consórcio Empresa Beta

Conselho Diretor Empresa Delta Empresa Gama 1 representante (Gerente geral) 1 representante (Sócio-diretor) 1 representante (Sócio-diretor) 1 representante (Sócio-diretor) 1 representante (Sócio-diretor)

De acordo com o gerente geral do consórcio, uma atividade crítica dos representantes das consorciadas no conselho diretor é o constante acompanhamento do andamento das obras e do comportamento da questão financeira do empreendimento. Cita, como exemplo, a possibilidade de existirem os problemas de fluxo de caixa.

“(...) então eles precisam estar a par da programação financeira do consórcio para saber o que vai acontecer em termos de despesa e faturamento e verificar que em determinado momento pode ser que eu não tenha dinheiro para pagar as contas do consórcio, e ai eles teriam que aportar o recurso para fazer frente a esta despesa. Então, esta é uma atividade crítica”.

Expõe que outras atividades críticas para as deliberações são o trato político das questões do consórcio relativas ao contexto do Estado e a forma harmônica das tomadas de decisão nas reuniões do conselho.

5.1.4 Responsabilidades, movimentações financeiras e participações

Segundo o instrumento particular de constituição, “as empresas consorciadas assumem total responsabilidade individual e solidária, pelos atos praticados pelo consórcio e pela execução dos serviços de acordo com os termos contratuais”, sendo designada a empresa Delta como a líder do consórcio que o representa perante a SEDURB, estando pelo instrumento autorizada a todos os atos legais para responder pelo consórcio.

O documento torna explicito que “a movimentação financeira do consórcio será administrada através de pelo menos dois de seus consorciados, sendo que um deles terá de ser necessariamente o representante da empresa líder”. Cada empresa consorciada possui uma participação igual a 25% (vinte e cinco por cento). Portanto, a participação é igualitária.

5.1.5 A gerência integrada do consórcio

Segundo o gerente geral do consórcio, ele é o único consórcio do Projeto Alvorada, em relação ao Estado do Pará, que está sendo gerido de forma integrada. Nos demais consórcios, o que existe é a separação física do contrato entre as empresas, ou seja, cada empresa consorciada executa de forma separada a sua parte, não interagindo com as demais consorciadas do seu grupo.

Segundo o declarante, uma atividade crítica do gerente geral é o relacionamento do consórcio com os organismos governamentais e com a entidade que gerencia e fiscaliza4, de forma geral, os empreendimentos do Projeto Alvorada no Estado do Pará. O consórcio possui ligação com diversas entidades que precisam ser atendidas ou contactadas como, por exemplo, FUNASA, SEDURB, COSANPA, prefeituras municipais, o órgão fiscalizador, dentre outros. Segundo o informante, “transitar neste imbróglio toma muito tempo”.