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Capítulo V Metodologia do Estudo

3. Caracterização do contexto de investigação

O trabalho de investigação foi inicialmente planificado para ser realizado em três conce- lhos da ilha de Santiago, em Cabo-Verde (Praia, Santa Catarina e Tarrafal). Contudo, constrangi-

mentos de vária ordem, nomeadamente o factor tempo, condicionou a abrangência do estudo.

Neste sentido, o trabalho de investigação centrou-se apenas em escolas localizadas no concelho da Praia, sobretudo por razões de acessibilidade e proximidade, visto ser o nosso concelho de trabalho e de residência, o que permitiu a concretização da parte empírica do trabalho num es- paço de tempo razoável.

Localizado na ilha de Santiago, o concelho da Praia assume-se como o mais importante do País, não só por ser o mais populoso mas também porque alberga a cidade capital. Segundo dados do censo 2010, cerca de um quarto da população total de Cabo Verde (26,9%) vive neste concelho, apresentando uma taxa de crescimento médio de 3% ao ano. A mesma fonte permite- nos constatar que a cidade da Praia possui cerca de 132.317 habitantes, concentrados maiori- tariamente nas zonas urbanas (90%). Caracteriza-se, ainda, por uma forte migração interna da população, proveniente não só do meio rural dos outros concelhos da ilha de Santiago, como também das restantes ilhas do arquipélago. No que diz respeito às principais actividades econó- micas, a população insere-se predominantemente nos sectores do comércio e de serviços.

No sector educativo verifica-se uma larga representação de todos os níveis de educação escolar, isto é, o ensino básico, o ensino secundário e o ensino superior. Relativamente ao ensi- no não superior, o concelho apresenta contextos educativos diversificados – mais ou menos populosos, rurais, urbanos e suburbanos).

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Apresentaremos de seguida alguns indicadores relativos apenas ao ensino público. No ano

lectivo 2007/081, o número de alunos no ensino básico foi de 17425 sendo 8491 do sexo femi-

nino (49%). Os discentes distribuíram-se por 578 turmas, integradas em 27 escolas pólos e 14 escolas satélite. Regista-se a existência de 7 turmas compostas, resultantes do decréscimo da população discente em algumas zonas rurais do concelho. O número de alunos aprovados no mesmo ano lectivo foi de 15814 (91%) e reprovados 1329 (8%) com uma taxa de abandono de cerca de 1%. Dos 578 professores que leccionam no ensino básico cerca de 78% é do sexo fe- minino. Deste total, cerca de 25% dos docentes só tem as habilitações mínimas exigidas para leccionar apenas nas duas primeiras fases (1º ao 4º anos) e 0,8% não possui formação suficiente para a docência neste nível.

As escolas do ensino básico localizam-se maioritariamente nas proximidades das zonas habitacionais, tanto no meio urbano, como no meio rural, sendo que 73% das escolas se situam a menos de 1 km da habitação do aluno e cerca de 25% situam-se entre 1 a 3 km de distância. Em termos arquitectónicos, as escolas-pólo do ensino básico apresentam, quase todas, o mes- mo estilo. Regra geral possuem as salas de aula, o gabinete do gestor, a sala de professores, a cantina, uma placa desportiva e instalações sanitárias. Relativamente às escolas satélite, muitas tem entre uma a duas salas de aula com as instalações sanitárias e situam-se sobretudo no meio rural, em zonas de fraca densidade populacional.

No que se refere ao ensino secundário, no ano lectivo 2007/08, no concelho da Praia, o número de alunos rondava os 14802, sendo 7870 (53%) do sexo feminino. Cerca de 10583 (71,5%) fi-caram aprovados e 3182 (21,5%) reprovaram, o que fez a taxa de abandono rondar os 7%. O to-tal de professores foi de 767, dos quais 368 (48%) é do sexo feminino, 2,3% possui o grau de mestre, 44,2% tem uma licenciatura, 30,5% possui o grau de bacharel e 23% não possui as habi-litações mínimas exigidas para a docência neste nível de ensino (destes 15% tem frequência de um curso superior).

Existem cerca de nove escolas secundárias da via geral no concelho da Praia, estando to- das localizadas no espaço urbano. A maioria situa-se nos principais bairros residenciais, existin- do algumas situadas em bairros mais periféricos, onde o nível sócio-económico das populações é mais baixo e onde os contextos sociais são bastante mais problemáticos.

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Quanto às instalações, não existe um modelo arquitectónico típico de escola secundária. As escolas diferem umas das outras, embora as que foram construídas na mesma época mante- nham alguma semelhança. Em todas escolas secundárias do concelho, para além das salas de aula, da sala de professores e de uma área administrativa (secretaria, gabinetes dos membros do conselho directivo e reprografia/papelaria), encontramos uma biblioteca, laboratórios (Fis./ Quim. e C. Nat./Biologia), sala de informática, placa desportiva, cantina, instalações sanitárias e sala de apoio aos professores para reuniões dos grupos de disciplina. Dependendo do espaço disponível, algumas escolas possuem gabinete de orientação escolar e vocacional e outras salas específicas de apoio aos professores de línguas e de desenho/educação visual e tecnológica, e uma sala de apoio à associação de estudantes.

Normalmente, as escolas secundárias recebem alunos finalistas do ensino básico de acor- do com a proximidade dos bairros residenciais, mas também acolhem alunos oriundos das zo- nas rurais circundantes. Assim, em termos de ambientes educativos de origem, é notória a dife- rença entre os alunos que transitam para o secundário. Há alunos provenientes de escolas bási- cas situadas no centro dos principais bairros e localizadas próximas das escolas secundárias. Estes alunos normalmente revelam-se mais à vontade e com mais habilidades para enfrentar os desafios da transição, enquanto os alunos provenientes do meio rural se mostram mais acanha- dos. A transição exige mais deles, uma vez que provêm de ambientes educativos mais pequenos e mais fechados. Os próprios responsáveis das escolas secundárias, entrevistados no âmbito deste estudo, reconhecem que os alunos que enfrentam mais dificuldades são os provenientes do meio rural e das localidades urbanas com condições económicas mais desfavorecidas.