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Capítulo IV Caracterização do sistema educativo cabo-verdiano

4. A nova Lei de Bases do Sistema Educativo

A nova Lei de Bases do Sistema Educativo aprovada pelo Decreto-Legislativo nº 2/2010,

de 7 de Maio apresenta um quadro de medidas políticas para orientar a reestruturaçãodo siste-

ma educativo e, em particular, a revisão curricular. Como se explicita no preâmbulo da referida lei, pretende-se:

“ Introduzir um novo quadro de reforma no sistema educativo, tendo em vista dar respostas adequadas aos desafios globais da sociedade cabo-verdiana, traduzidas em ganhos substanciais para o funcionamento e a modernização do Sistema Educativo a nível nacional, com necessária adaptação estrutural qualificativa em todos os subsistemas e níveis de ensino e de formação profissional. (…) destaca-se, como se prevê no pre- sente diploma, a necessidade da revisão curricular, o incremento da introdução de tecnologias de informa- ção e comunicação, a qualificação do corpo docente, uma maior intervenção dos agentes locais no âmbito do alargamento da descentralização de poderes.”

No que concerne à organização do Sistema Educativo, mantém-se uma estrutura organiza- ção tripartida: a educação Pré-Escolar, a educação Escolar e a educação Extra-Escolar (nº1, Art.12º). Pela análise da referida Lei, verificamos que as principais mudanças se centram na educação escolar, especificamente no ensino não superior, mudanças essas que, naturalmente,

36Os custos onerosos em termos orçamentais têm condicionado o cabal desempenho destas competências, de modo que o ME só consegue

produzir manuais até o 8º ano de escolaridade (1º ciclo do ES) com excepção da disciplina de língua portuguesa que tem manual até o 9º ano. A partir do 2º ciclo do secundário o ME utiliza a estratégia de aprovar anualmente uma lista de manuais importados e produzidos por editoras estrangeiras que estejam em conformidade com os programas das diferentes disciplinas. A importação e a comercialização ficam a cargo da sociedade civil.

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conduzirão a uma nova configuração do organigrama do sistema educativo como se pode

constatar pela análise da figura1.

Figura 1 – Proposta do novo organigrama do sistema educativo

Assim, no quadro da nova LBSE, a educação Pré-Escolar mantém o carácter facultativo, organiza-se essencialmente com base nas iniciativas das autarquias, instituições oficiais e enti- dades de direito privado. No entanto, o Estado assume pela primeira vez a responsabilidade de suportar o funcionamento de jardins-de-infância em zonas onde se verifica uma ausência da ini- ciativa privada (nº 1 do Art.º. 18º). No que se refere aos objectivos, a única mudança que se pre- coniza é o enunciado da promoção do ensino das línguas oficiais (a língua cabo-verdiana e a lín- gua portuguesa), conforme consta da alínea e) do Art.º. 17ºda referida Lei.

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No que respeita à educação Extra-Escolar, esta desenvolve em dois níveis distintos: a edu- cação básica de adultos, que inclui actividades de alfabetização e educação de adultos, e a aprendizagem profissional, que incluí actividades de aprendizagem e formação profissional numa perspectiva de capacitação para o exercício de uma profissão (Art.º. 54º).

A educação Escolar abrange os ensinos Básico, Secundário e Superior, bem como algu- mas modalidades especiais de ensino.

Foi a nível do ensino Básico que se operaram mudanças mais substanciais quanto à sua concepção e estrutura. Assim, a nova LBSE determina o alargamento do ensino básico de 6 para 8 anos de escolaridade, continuando a ser obrigatório, universal e gratuito (Artº.14º). Procede, si-

multaneamente, ao alargamento da escolaridade obrigatória que passa de 6 para 10 anosdei-

xando em aberto a possibilidade de, paulatinamente, a escolaridade obrigatória ser alargada até ao 12º ano (Art.º. 13º), sem estender a gratuidade do ensino que se mantém até o 8º ano de escolaridade.

Nos termos da LBSE, os aspectos mais significativos que caracterizam o novo ensino Bá- sico resumem-se no seguinte:

A unidade global do ensino básico que se organiza em três ciclos sequenciais. O 1º ciclo

de quatro anos e os 2º e 3º ciclos de dois anos cada.

A observância do princípio da articulação entre os ciclos assente numa sequencialidade

progressiva, conferindo a cada ciclo a função de completar, aprofundar e alargar o anterior.

Dependência (subordinação) dos objectivos específicos de ciclo aos objectivos gerais do

ensino Básico.

A organização curricular apresenta-se estruturada por áreas interdisciplinares no 1º e 2º

ciclos e por disciplinas no 3º ciclo.

Os planos curriculares integram áreas disciplinares e não disciplinares.

O regime de docência passa gradualmente de professor único (1º ciclo), para professor por

área (2º ciclo) e professor por disciplina e/ ou conjunto de disciplinas (3º ciclo).

Relativamente ao ensino Secundário, este nível não sofreu alterações de fundo.Com a aplicação da nova LBSE, passa a ter a duração de quatro anos, organizados em dois ciclos de dois anos cada. O último ciclo do secundário continua a ser desenvolvido em duas vias de ensi-

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no distintas - a via geral e a via técnica. Das características mais significativas destacam-se as seguintes:

O carácter de orientação vocacional que assume o 1º ciclo.

A possibilidade de se ingressar num curso de formação profissional no final de cada ciclo.

A possibilidade de aceder ao ano complementar profissionalizante após a conclusão do

12º ano em qualquer uma das vis de ensino.

Reportando-nos de novo ao novo ensino Básico podemos concluir que, nos termos da actual LBSE, houve uma preocupação de conferir um sentido de unidade que se consubstancia na articulação e sequencialidade entre os ciclos. Se tivermos também em conta o regime de do- cência, tudo leva a crer que estaremos perante um ensino básico onde a transição de um ciclo de escolaridade para outro tem condições para se operar de forma suave.

No entanto, algumas questões se nos colocam desde já: (i) Na nova configuração do sistema educativo, o futuro 3º ciclo do ensino básico constitui um segmento de ensino que até a actualidade integrou o ensino secundário. Quanto à finalidade, o mesmo ciclo passa de ciclo inicial/propedêutico para ciclo terminal da educação básica necessária a qualquer cidadão cabo-verdiano para a sua inserção social na sociedade. Significa pois que o alargamento da escolaridade não poderá ser vista como uma mera “colagem” do antigo 1º ciclo do secundário ao antigo ensino básico. Daí se deduz que deverá haver mudanças na definição e organização do plano curricular deste ciclo, de modo a que o mesmo se adeqúe aos objecti- vos que lhe consignados como ciclo terminal da escolaridade obrigatória. (ii) De igual forma, questionamos qual será o perfil do professor que leccionará nos 2º e o 3º ciclos do ensino Básico. Estamos convictos de que seria mais vantajoso para o processo de ensino-aprendi- zagem se não houvesse diferenciação no perfil de professores nestes dois ciclos. Importa pois algum cuidado em não transferir a lógica de organização do antigo 1º ciclo do secun- dário para que se possa salvaguardar melhor a unidade e articulação entre os ciclos. (iii) Um último comentário que nos apraz fazer de carácter mais geral, acerca da forma como o cur- rículo irá ser percepcionado, uma vez que a Lei é omissa neste sentido. Continuará o cur- rículo a ser desenvolvido numa lógica de “prescrição total” ou será o momento de esse desenvolvimento de facto, o princípio da flexibilidade curricular, criando as condições para desenvolvimento do currículo flexível dando às escolas a possibilidade de em articulação com a comunidade contextualizar e diferenciar o currículo respondendo assim às expectativas locais e regionais sem descurar o nacional.