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Caracterização do contexto local

2. DISPOSITIVO METODOLÓGICO

2.5. Desenho da investigação

2.5.1. Caracterização do contexto local

Graue e Walsh (2003, p.31) atestam que «as descrições ricas de pormenores que são apanágio de uma boa investigação interpretativa devem ser ligadas aos contextos em que estão inseridas». Por conseguinte, importa reflectir um pouco acerca da escola EB1/J.I. D. Paulo José Tavares, sendo este o contexto da investigação. A escolha desta escola para a aplicação do projecto deveu-se ao facto de a investigadora leccionar neste estabelecimento de ensino e, deste modo, poder optimizar o tempo para aplicação do estudo, bem como o livre acesso ao local da investigação. No entender de Burgess (1997), as questões de acessibilidade, de permissividade e de participação são fundamentais para o sucesso da investigação. É fundamental que o investigador não seja considerado um intruso, que lhe seja permitida a entrada livre no terreno e que possa participar nas actividades em curso.

Preliminarmente à realização deste estudo, foi pedida autorização às instâncias implicadas, nomeadamente aos pais e encarregados de educação (cf. anexo 1) e ao Conselho Executivo da escola envolvida neste processo (cf. Anexo 2), tendo esta autorização sido concedida sem qualquer problema. Ao coordenador

da escola e aos professores titulares das turmas em estudo também foi lhes pedida a autorização, numa conversa informal, uma vez que o estudo implicaria a disponibilização do tempo de aula. A prontidão e motivação para colaborar no estudo foram imediatas. Assim, foram respeitados os princípios relativos ao acesso da investigação. «Em primeiro lugar, o acesso não deve ser apenas negociado com aqueles que ocupam as posições cimeiras na situação social em causa, mas com pessoas situadas a vários níveis por forma a evitar mal- -entendidos» (Burgess, 1997, p.54).

Note-se que a escola constitui uma das esferas do mundo da criança, sendo ela também uma instância de socialização primária, tal como a família, na formação da criança. Deste modo, o ambiente escolar é eleito como um local privilegiado para o desenvolvimento de um trabalho de campo (Saramago, 2001). A escola em estudo está situada na Vila de Rabo de Peixe, na costa norte da ilha de S. Miguel, e tem uma população de cerca de 8000 habitantes, sendo constituída por duas zonas social e economicamente diferenciadas, uma ligada ao mar e outra ligada à terra. Tal como define Acker (1999, p.161), «Rabo de Peixe é uma povoação pobre e rica».

A população activa é formada, na sua maioria, por pescadores, camponeses e lavradores, no entanto, também se pode encontrar funcionários públicos, operários, entre outros. Assim, verifica-se uma predominância no sector primário e secundário, embora, actualmente, também se constate um elevado número de pessoas a exercer profissão no sector terciário. Todavia, «há ainda aqueles que não têm simplesmente a menor vontade de trabalhar no que quer que seja» (Acker, 1999, p.159).

No que concerne às entidades de carácter social, saliente-se a existência de diversas associações e instituições que têm por intuito não só ocupar os jovens e crianças da Vila, como formar e educar toda a população, através de acções de formação e sua integração no mercado de trabalho. Assim, destaca-se o Projecto ―Rabo de Peixe Sabe Sonhar‖, do Centro Comunitário de Juventude e da AJURPE – Associação Juvenil de Rabo de Peixe e, ainda, a Associação de Mães Crescer com Confiança.

A Vila de Rabo de Peixe beneficia de vários estabelecimentos comerciais e de outros serviços que conferem autonomia à freguesia, podendo os seus

habitantes satisfazer as suas necessidades quotidianas sem terem de se deslocar, com frequência, a localidades vizinhas.

O projecto estatal EFTA, iniciado em 2005 e cuja vigência expirou em 2008, promoveu o bem-estar dos rabo-peixenses quer ao nível da aquisição de competências, quer ao nível de realojamento habitacional. Este projecto também pretendeu promover a Educação Ambiental. Assim, foram colocados vários ecopontos, foram feitas diversas campanhas de limpeza e campanhas de sensibilização para a reciclagem e, ainda, foram colocados contentores para a recolha de óleos usados no porto de Pesca. 4

Os alunos desta freguesia encontram-se distribuídos em cinco núcleos escolares, dos quais se destacam uma escola de 2º e 3º Ciclos e uma escola profissional. Contudo, segundo Acker (1999), muitos destes alunos são alunos a caminho da Assistência Social, pois, tal como os seus pais, acomodaram-se à pobreza e esperam que os sustentem.

As famílias, de um modo geral, vivem numa acomodação quase completa, têm poucos ou nenhuns projectos de vida e não sentem que a frequência escolar possa ter importância para o futuro das crianças. Os pais, normalmente ausentes do agregado familiar, são pouco intervenientes na vida dos filhos, excepto quando se trata de castigos. As mães mais sobrecarregadas com as numerosas gravidezes demitem-se das suas tarefas, normalmente mais a cargo dos avós e das filhas mais velhas.

Para além disso, o alcoolismo, a violência familiar e a delinquência juvenil são fenómenos que atingem elevadas taxas em Rabo de Peixe.

Na verdade, pode-se dizer que a população de Rabo de Peixe, além de ser discriminada pelos outros, «é uma população que se discrimina igualmente a si própria». Esta forma de discriminação baseia-se na heterogeneidade económica e cultural da sociedade rabopeixense. Por outro lado, «a religião é o que existe em comum entre os agrupamentos, mas não é, simultaneamente, o que os une» (Acker 1999, p.155).

A Escola EB1/JI D. Paulo José Tavares localiza-se numa das zonas mais frustres da Vila. Deste modo, as famílias são muito numerosas e é frequente a

4 http://www.correiodosacores.net, 28 de Fevereiro de 2008, Reportagem- Piedade Lalanda,

ocorrência de casamentos precoces. O trabalho infantil é uma realidade, mesmo no seio da própria família. Em termos de instalações, a escola foi recentemente inaugurada (Dezembro de 2008) sendo considerada como uma das melhores escolas do arquipélago em termos de infra-estruturas. Para além disso, a escola conta com uma quinta pedagógica, sendo este um projecto que conta a parceria da Secretaria Regional de Agricultura e Florestas – Serviço de Desenvolvimento Agrário. Este projecto ambiciona a formação integral do ser humano, numa perspectiva de desenvolvimento, pela amplitude e riqueza de suas experiências. O objectivo primordial prende-se com a divulgação e a sensibilização junto das crianças e adultos para a prática da agricultura biológica, promovendo-se a produção de produtos isentos de químicos, visando a protecção do ambiente e de saudáveis práticas agrícolas. Por outro lado, procura-se também imprimir a este trabalho uma dimensão pedagógica e social. A quinta encontra-se dividida em diversos áreas – fruticultura, horticultura, compostagem, estufa e uma zona para animais. Note-se que esta quinta recebe também alunos, em regime de rotatividade, de outros estabelecimentos de ensino da localidade, sobretudo alunos abrangidos por Programas de Recuperação de Escolaridade. Note-se ainda que no presente ano lectivo (2009/2010) a escola se candidatou pela primeira vez ao Programa Eco-escolas.