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Entrevista semi-estruturada

2. DISPOSITIVO METODOLÓGICO

2.6. Técnicas de Produção de dados

2.6.3. Entrevista semi-estruturada

A escolha deste método, no âmbito da presente investigação, justifica-se pela preocupação de possibilitar aos entrevistados liberdade para que pudessem partilhar as suas ideias, vivências e emoções em relação ao objecto de estudo e ao desenvolvimento da investigação. Além disso, este método de recolha de dados, devido aos seus processos fundamentais de comunicação e de interacção humana, concede ao investigador um contacto directo com o entrevistado, permitindo-lhe captar as percepções acerca de um determinado acontecimento ou situação, as interpretações subjectivas e experiências, valorizando os seus quadros de referência e linguagem. Este tipo de entrevista possibilita ao entrevistado estruturar o seu próprio discurso de forma livre e pessoal, tendo em conta um determinado tema, ou um conjunto de perguntas precisas. Assim, estamos perante uma situação intermediária, isto é, não há uma abolição total de controlo, como também não há uma directividade absoluta (Quivy & Campenhoudt, 1998).

A razão pela qual se optou por este tipo de entrevista prende-se, exactamente, com o facto de não ser totalmente controlada, nem completamente livre. Na verdade, estamos perante um controlo mínimo do processo que permite a livre expressão por parte dos entrevistados. Pertencendo os entrevistados a um grupo de indivíduos de um nível etário baixo, este tipo de entrevistas tornou-se o mais adequado, pois as crianças necessitam de algumas orientações para estruturar os seus pensamentos, em situações pouco habituais.

Ressalve-se que a sua construção obedeceu ao breve quadro teórico já apresentado e aos objectivos deste estudo. Na formulação das questões, foi utilizada uma linguagem ―simples‖ e acessível aos entrevistados.

Para além do referido, as entrevistas assumem especial importância pois implicam uma presença conjunta de entrevistador e entrevistado. Deste modo, as mensagens não verbais confirmam ou infirmam os enunciados orais (Marques, 1986).

Outro aspecto a ser considerado é a abordagem psicossociológica da entrevista, em particular a postura do investigador. Scott (2002) alude a este aspecto, referindo-se à motivação do entrevistado. A este respeito, é fundamental estabelecer um bom relacionamento com as crianças, para que estas forneçam respostas cuidadas e verdadeiras Em relação a este estudo, atendeu-se a estes requisitos, tendo sido uma preocupação constante desinibir algumas crianças e desmitificar a actividade que estavam a realizar, dado que esta era a primeira vez que participavam numa intervenção deste tipo. De forma a colocar as crianças mais confortáveis, antes de iniciarmos as entrevistas, os alunos tiveram a possibilidade de explorar os recursos materiais para a entrevista. Assim, fizeram gravações testes, de forma livre e pessoal, e ouviram o registo magnético das suas vozes, logo de seguida. A utilização deste equipamento numa fase inicial, contribui, tal como alega Saramago (2001, p.16), para atribuir «uma importância especial à conversa no contexto da qual a criança tende a sentir-se gratificada pelo facto de naquele momento a pessoa com quem está a interagir estar francamente interessada em tudo aquilo que a criança possa dizer». Por serem crianças, elas próprias estabeleceram um ambiente alegre e descontraído, sem perder o interesse e a seriedade que marcaram as suas intervenções. Acrescente-se que foi referido, várias vezes, às crianças que não havia respostas correctas ou erradas.

Em relação ao tipo de questões colocadas, optou-se por recorrer à tipologia de perguntas fechadas e abertas, tendo estas últimas a finalidade de obter informação para cruzar com dados anteriormente recolhidos. Assim, apesar de assumir uma estrutura flexível, incitando as crianças e explorando as suas ideias, foi necessário ter o cuidado de conduzir as entrevistas para os objectivos pressupostos, respeitando o guião de perguntas-tipo (cf. anexo 9). Também houve a preocupação de não conduzir as crianças a um determinado tipo de resposta. As perguntas do tipo «indutor» veiculam, por parte do entrevistador, uma intenção de sugestão. Uma vez que, com este tipo de questões, o entrevistado responde o que lhe foi induzido, por meio da orientação da pergunta, as questões deste tipo devem ser evitadas (Marques, 1986). Assim, nos casos em que as crianças necessitavam de uma maior orientação, o investigador parafraseava a questão, tentado explicar de outra forma. Além disso, em alguns casos, foi necessário recorrer a ajudas de memória, relembrando às crianças as actividades realizadas (Scott, 2002).

Com o intuito de obter dados úteis, as questões pretenderam ser «pertinentes e relevantes para a própria experiência ou conhecimento da criança». (Scott, 2002, p.107). Assim, basearam-se nas actividades realizadas pelas crianças, tendo sido interrogadas sobre as aprendizagens realizadas e ao agrado com que tinham ouvido e lido o conto e o poema. Outras questões mais específicas reportaram-se ao poema e ao conto que serviram de corpus deste estudo, tendo sido relevante a exploração dos aspectos mais e menos significativos apontados pelas crianças.

Entre outros procedimentos, a escolha do local para a realização das entrevistas foi uma preocupação. Inicialmente, considerou-se a hipótese de as realizar num dos pátios da escola, de forma a proporcionar um ambiente agradável. Contudo, após ter sido realizado esta experiência, verificou-se que este local não era o mais adequado, pois embora não estivessem ali outras crianças, havia outros motivos de distracção, como, por exemplo, os baloiços e outros equipamentos lúdicos do local. Assim, optou-se por realizar as entrevistas na sala de aula do entrevistador, pois as crianças estavam num contexto familiar que lhes exigia atenção: «O contexto é especialmente importante para a entrevista com as crianças, já que a expressão da personalidade da criança, em termos comportamentais e de atitudes, depende tão frequentemente dele.» (Scott, 2002, p.102). Assim, o local onde decorrem as entrevistas, vai provavelmente influenciar as respostas das crianças.

Saliente-se que, inicialmente, as entrevistas foram efectuadas individualmente, porém após terem sido realizadas algumas entrevistas individuais optou-se por modificar a estratégia e fazê-las em pequenos grupos de três crianças. Ora, este facto justifica-se, por um lado, porque as crianças se sentiam mais confortáveis quando estavam em situação de grupo. Por outro lado, as entrevistas foram realizadas após o horário lectivo dos alunos, tendo a estratégia utilizada sido benéfica em termos de gestão do tempo. Note-se que os grupos foram constituídos com o auxílio dos professores, de forma a os equilibrar, quer em termos cognitivos, quer em termos afectivos.

O tempo utilizado para a execução das entrevistas variou entre os dez e os vinte minutos, de acordo com as características de cada grupo. A este respeito Saramago (2002) destaca como as crianças facilmente se sentem cansadas em situação de entrevista, não devendo esta exceder os trinta minutos. É necessário

também o investigador estar atento aos sinais de cansaço que possam ser evidenciados pelas crianças.

Para o registo de som, instalou-se no portátil o programa Audacity, que com o auxílio de um microfone simples indicado para o uso em computadores, permitiu obter gravações com boa qualidade, convertendo a gravação em formato de mp3.