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Contributos da Literatura Infantil

No documento O ambiente no mundo das letras para crianças. (páginas 138-141)

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONIDERAÇÕES FINAIS

4.3. Contributos da Literatura Infantil

Não se esperava com este estudo exploratório verificar grandes mudanças nas concepções das crianças, devido ao seu contacto com a literatura infantil. Contudo, foi possível estabelecer algumas relações que poderão servir de contributo para futuras investigações, uma vez que se constatou, com o presente estudo, que as crianças gostam de poesia e de prosa narrativa, desde que esteja presente o ludismo e o mundo imaginário. Deste modo, não se questiona o papel

fundamental que poderá ter a literatura infantil de boa qualidade, enquanto promotora de valores, atitudes e crenças ambientais. É de todo pertinente explorar as potencialidades deste recurso, principalmente numa altura em que se vê crescer literatura adequada a crianças que aborda estas temáticas. Do mesmo modo, considera-se relevante promover prémios de literatura sobre estas temáticas, tal como já aconteceu em Portugal com o Prémio «O Ambiente na Literatura Infantil».

Tendo a maioria dos alunos feito uma boa interpretação do poema e do conto, poderemos assumir que as mensagens ambientais foram compreendidas, contudo a criança precisa não só de tempo para as assimilar, como também necessita de consolidar as aprendizagens efectuadas, quer pelo recurso a estratégias semelhantes, quer através de estratégias diferentes. Para além disso, importa referir que não existiu exploração oral do poema e do conto, para que não existisse influência por parte da investigadora nas concepções das crianças. Por este motivo, tudo o que a criança conseguiu apreender foi apenas fruto do seu próprio desempenho. Obviamente, numa situação diferente, a mensagem veiculada pelo poema e pelo conto, poderá estar maximizada com o auxílio de um agente de educação, quer seja este um professor, quer um familiar.

Voltando às relações estabelecidas, constatou-se que todos os aspectos mais específicos como a poluição atmosférica revelaram uma expressividade ligeiramente maior aquando da realização do inquérito do conto. Tal como foi referido no capítulo anterior, tanto o poema como o conto, alertavam para o fenómeno da poluição; todavia, o conto abordava esta temática de forma mais específica e restritiva, fazendo apenas referência à poluição atmosférica e à poluição sonora. Assim, constata-se que a medida mais sugerida neste momento é o Não poluir, havendo também maior número de referências ao Ar, enquanto alvo da medida proposta. O Ambiente em geral foi outro alvo de acção que cresceu ligeiramente, verificando-se que os alunos reflectiram no seu discurso a dicotomia cidade/campo presente no conto. Na verdade, este binómio também estava presente no poema, contudo de forma menos explícita. No conto esta distinção entre cidade e campo era bem evidente, uma vez que as peripécias da história se desenrolavam justamente por existir uma clivagem entre estes dois mundos, uma vez que a Bruxa, habituada ao sossego da floresta, não conseguia viver sem sobressaltos na cidade. Efectivamente, uma das concepções de ambiente mais

expressivas no momento do conto foi o Ambiente como fonte de oxigénio, verificando-se, mais uma vez a preponderância do recurso Ar.

Em relação à personagem principal, a bruxa, importa referir que as crianças, para além de a caracterizarem como muito divertida, também a consideraram como «boa». Assim, esta bruxa boa, que fazia mil e um feitiços e travessuras apenas tentava dar um pouco de tranquilidade à floresta de pedra (cidade) e minimizar a poluição existente. Importa referir que na maioria dos contos infantis a bruxa, geralmente, representa uma personagem má. O bruxedo ou feitiço pretende sempre transformar a própria natureza. A árvore em pedra, as pessoas em sapos, as lianas em cobras. Neste conto a bruxa foi julgada pelas suas acções, consideradas boas, com o mesmo comportamento e recursos que têm nas outras histórias infantis. Como foi possível constatar através das entrevistas, as crianças entenderam que os feitiços da bruxa não eram mais que medidas para resolver os problemas ambientais, daí a considerarem-na como «boa». Através deste papel, a bruxa assume uma postura activa e participativa na defesa do ambiente. Este activismo acaba por contagiar as restantes personagens do conto, que, na parte final, colaboram com a bruxa, de forma a que ela possa acabar com a poluição atmosférica. Pelo exposto, verifica-se que existe a tentativa de incentivar o leitor a participar também na defesa do ambiente, e para que não haja dúvidas sobre este assunto, outra personagem (o responsável pelo aeroporto) intervém neste sentido, explicando à bruxa e aos leitores que: «com boa vontade, a participação de todos, haveria mais ar puro, melhor futuro.» (Honrado, 1990, p.45)

Este apelo à participação também é reflectido no poema, tendo-se constatado que em ambos os momentos, poema e conto, o envolvimento dos alunos cresceu ligeiramente de moderado para elevado. As medidas sugeridas pelas crianças ganharam outra tonalidade, destacando-se ligeiramente a persuasão e a solicitação e, por conseguinte, o alvo destas medidas também sofreu uma pequena alteração na categoria cidadãos, aumentando ligeiramente.

No questionário do poema, a categoria Proteger/Conservar assume-se como a medida mais representativa, havendo, de facto, um forte apelo por parte da autora para a protecção do ambiente, tal como foi referido na análise dos dados. À semelhança do conto, o poema de Luísa Ducla Soares também foca a poluição, sem, todavia se centrar num tipo específico, falando ainda da desflorestação. Não obstante, através das entrevistas verificou-se que a quadra preferida dos alunos se

referia à poluição do mar, e observou-se uma ligeira predominância do recurso Água, relativamente ao alvo das medidas propostas. Paralelamente à poluição, a autora descreve o ambiente de forma melódica e mágica. Ressaltam no poema as cores da natureza, os animais, as árvores e até mesmo o Sol e a Lua, estes últimos sempre elementos míticos. Desta descrição resulta a preponderância da concepção do Ambiente como Natureza Idílica, destacando-se, neste momento, de forma significativa de todas as outras concepções.

Nem o poema, nem o conto enfatizavam a temática dos resíduos sólidos; no entanto, tal como já foi referido, este tema manteve-se ao longo da investigação sem que as estratégias utilizadas tivessem exercido qualquer influência neste sentido.

Em suma, neste estudo demonstrou-se que a literatura infantil poderá ser uma estratégia de criação e recriação de concepções, preocupações e, quem sabe, de sentimentos. Porque apelam ao uso da fantasia e do faz-de-conta, a poesia e o conto oferecem à criança um espaço de interpretação de conceitos, conhecimentos, vivências e emoções.

No documento O ambiente no mundo das letras para crianças. (páginas 138-141)