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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS LAUDOS DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

Os laudos de avaliação de empresas utilizados nas OPAs são classificados de acordo com a Instrução CVM 487/10 em seis ocorrências: cancelamento de registro, aumento de participação, alienação de controle, avaliação voluntária, aquisição de controle e concorrente (Tabela 2). As três primeiras ocorrências, respectivamente, são de caráter obrigatório, e as três últimas são caracterizadas como não obrigatórios (Figura 4).

Figura 4: Tipos de processo de OPA

Um único processo de OPA pode abranger mais de um evento, sendo denominado de OPA unificada, tendo em seu registro o nome da OPA obrigatória, como OPA principal. Há casos de processos de OPA que não possuem laudos de avaliação, alguns tendo sido até finalizados, e outros que receberam procedimento diferenciado.

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Tabela 2: Classificação das OPAs registradas pela CVM no período de 2002 a 2018

I - Cancela mento de registro II - Aumento de participa ção III - Alienação de controle IV - Volunt ária V - Aquisição de controle VI - Concorren te TOTAL (%) 2002 16 1 4 2 0 0 23 9% 2003 15 1 4 2 0 1 23 9% 2004 15 1 2 1 0 0 19 7,4% 2005 13 1 3 0 0 0 17 6,6% 2006 9 2 8 1 0 0 20 7,8% 2007 7 0 9 0 0 0 16 6,3% 2008 10 2 8 1 0 0 21 8,2% 2009 5 0 11 1 0 0 17 6,6% 2010 2 0 6 1 0 0 9 3,5% 2011 9 0 5 1 0 0 15 5,9% 2012 10 2 1 1 0 0 14 5,5% 2013 5 0 4 1 0 0 10 3,9% 2014 5 0 2 1 0 0 8 3,1% 2015 7 0 3 0 0 0 10 3,9% 2016 13 0 1 0 0 0 14 5,5% 2017 6 1 2 0 0 0 9 3,5% 2018 3 1 7 0 0 0 11 4,3% TOTAL 150 12 80 13 0 1 256 - % 58,6% 4,7% 31,3% 5,1% 0% 0,4% - 100%

Fonte:Laudos de Avaliação de Empresa CVM (2002 a 2018).

Os valores relativos anuais das OPAs registradas na CVM durante o período de 2002 a 2018, são apresentados no Gráfico 1, onde é possível analisar quais anos tiveram maior crescimento e declínio de Ofertas Públicas de Aquisição de Ações. A categorização das OPAs registradas apresenta os seus respectivos valores absolutos e relativos para cada uma das categorias estudadas. Contabilizou-se 256 registros de processo de OPA disponíveis na CVM durante esse período, onde 58,6% são OPAs obrigatórias realizadas para o evento de cancelamento de registro para negociação de companhia aberta; 31,3% são OPAs obrigatórias realizadas com o objetivo de alienação de controle de companhia aberta e 4,7% são OPAs obrigatórias elaboradas objetivando o aumento de participação do acionista controlador no capital social da companhia aberta. Do total de 256 registros de OPAs, 5,1% correspondem a OPA não obrigatória voluntária, e apenas 0,4% correspondente a OPA não obrigatório concorrente, e não houve nenhum registro de OPA com a intenção de aquisição de controle, dentro do período analisado (Gráfico 1).

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Gráfico 1: OPAs por evento registradas na CVM para o período de 2002 a 2018

Fonte: Laudos de Avaliação de Empresa CVM (2002 a 2018).

O evento de OPA para cancelamento de registro de companhia aberta, também denominado como fechamento de capital, caracteriza-se como o evento de maior frequência dentre os outros. As motivações que levam uma organização a fechar seu capital são de diversos aspectos, como por exemplo a vertente financeira, ou seja, quando o acionista controlador decide adquirir todas as ações que estão sendo oferecidas a um baixo preço. Destaca-se também o enfoque estratégico, quando os administradores, visando uma maior mobilidade, fecham o capital para que os acionistas minoritários se tornem menos expressivos e exerçam menor pressão na tomada de decisões. Uma pesquisa brasileira analisou as causas que levam as empresas a se desligarem da Bolsa, investigando 119 companhias no período de 1999 a 2013. Em seus resultados, destacaram-se como alguns dos principais fatores que influenciam as empresas a fechar capital: problemas de agência, alta concentração de participação acionária dos sócios controladores, baixa rentabilidade (ROA), menor nível de pagamento de dividendos associados ao evento de fechamento de capital, o problema de fluxo de caixa livre (SAITO; PADILHA, 2015).

Surge então o desalinhamento de interesses que uma empresa de capital fechado pode causar aos acionistas minoritários. A legislação societária brasileira estabeleceu a condição obrigatória da realização de uma OPA para aquisição da totalidade das ações em circulação no mercado, dessa forma, os acionistas não interessados em permanecer com ações em uma companhia de capital fechado, tem a chance de realizar o evento de alienação de controle das suas ações previamente ao fechamento de capital.

0 5 10 15 20 25 20022003200420052006200720082009201020112012201320142015201620172018 I - Cancelamento de registro II - Aumento de participação

III - Alienação de controle IV - Voluntária V - Aquisição de controle VI - Concorrente TOTAL

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Nesse sentido, investiga-se os motivos os quais explicam a demanda por OPAs em determinados momentos. Portanto, em 2002, primeiro ano do período abordado na pesquisa, tornou-se público a Instrução CVM nº 361/02 que regula o procedimento aplicável a quaisquer ofertas públicas de aquisição de ações de companhias abertas. Esse fato ocorreu após o lançamento do Novo Mercado, no ano 2000, onde a Governança Corporativa começa a tomar formato mais institucional. Nessa perspectiva, explica-se o motivo pelo o qual o ano de 2002 e 2003 tiveram maiores quantitativos de processos de OPAs registrados, somando-se um total de 23 registros em cada ano. De acordo com Alves e Parra-Bernal (2014), nos anos de 2003 a 2007 houve um “boom”, e após esse evento, a bolsa nacional indicou os efeitos relativos a crise financeira internacional e do baixo crescimento da economia doméstica, que influenciaram na frustração dos investidores e desestimularam as companhias a se listarem no pregão.

O crescimento em 2008, elevando-se de 16 registros para 21, pode estar relacionado a um equilíbrio temporário no mercado brasileiro. Neste mesmo período houve a fusão da Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA e a Bolsa de Mercadorias & Futuros – BM&F, originando a BM&FBOVESPA, em maio de 2008. Ainda neste ano, mais precisamente no segundo semestre, aconteceu uma redução no volume internacional de comércio e no preço das commodities, e também destaca-se a crise mundial financeira, denominada como Subprime, em que se manifesta no próximos anos, como é observado o declínio de registros em 2009 e 2010, neste último, chegando a somente 9 registros.

Os efeitos na economia decorrentes da crise Subprime são discutidos em diversos estudos presentes na literatura (DANIEL COVITZ; LIANG; SUAREZ, 2013; MAKAROV; PLANTIN, 2013; SANDERS, 2008; YE; LIU; MIAO, 2012). A crise ocorreu em 2008, quando houve a desvalorização no mercado imobiliário americano e a queda dos ativos financeiros relacionados às hipotecas de alto risco dos EUA. A economia brasileira foi afetada pela crise

Subprime, entretanto em uma menor escala, tendo em vista que o Brasil é um país alto

suficiente, possuindo um crescimento econômico interligado a fatores internos.

O mercado começa a reagir nos anos 2011 e 2012, manifestando uma elevação 15 e 14 registros de OPAs, respectivamente. Posteriormente, observa-se uma queda, chegando ao número mínimo de 8 registros, em 2014. Este fato que representa a inibição dos investidores (nacionais e estrangeiros) a dar entrada na bolsa local, está possivelmente atrelado à alguns motivos como, as eleições presidenciais do ano, os feriados correlacionados à Copa do Mundo e também aos desarranjos ligados a diminuição dos incentivos monetários nos Estados Unidos

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Nos anos posteriores, 2015 e 2016, houve uma elevação no número de registros de OPAs, chegando a 10 e 14 registros, respectivamente. No ano de 2015, houve a reeleição de Dilma Rousseff, que teve o Ministério da Fazenda sob o comando de Joaquim Levy, que alterou a condução econômica para políticas mais rígidas. Em 2016, dos 14 registros de ocasião de OPA, 13 foram para cancelamento de registro de companhia aberta. Esse crescimento de registros em 2016 pode ser explicado por alguns fatores que ocorreram nessa época e que afetaram o mercado de ações na Bolsa. Horta e Giambiagi (2018), destacam alguns pontos a serem considerados sobre as crises da história econômica brasileira. A economia se desacelerou desde o ano de 2011, esse fato causado, em parte, por uma piora na economia global, e outra, causada pelo esgotamento do ciclo de crescimento. As contas públicas agravaram o período, implicando no aumento da dívida pública. Em 2015, houve a elevação das taxas de juros, influenciando negativamente a atividade e o investimento. Dessa maneira, a incerteza sobre o processo político brasileiro nessa época, prejudicou o ambiente econômico.

Posteriormente, em 2017, o histórico de registros sofreu uma queda e passou de 14 para 9 registros no ano. Houve um pequeno aumento nos registros de OPA em 2018, chegando a 11. No relatório publicado em janeiro de 2018 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), apresenta-se projeções para o crescimento global, onde destaca-se um crescimento de 3,7% para 3,9% correspondentes aos anos de 2018 e 2019, caracterizando-se como um cenário de favorecimento do fluxo de capital para países emergentes, fato que pode atrair mais investidores em ações brasileiras.

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