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CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 COMPOSIÇÃO CORPORAL

2.3.4 CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DA CONDIÇÃO MUSCULAR

O declínio da massa muscular ocorre por volta da quinta década de vida, sendo esse decréscimo por década de cerca de 1,9 kg para homens e de 1,1 kg para mulheres (Janssen, Heymsfield, Wang, & Ross, 2000). Também Netto & Filho (2006) acrescentam que a massa muscular diminui cerca de 30% a 40 % em pessoas com 80 anos de idade, quando comparadas com as de 30 anos.

No que respeita à força muscular, esta diminui gradualmente a partir dos 30 anos de idade até aos 50. Por sua vez aos 60 anos verifica-se uma diminuição acelerada e não linear na ordem dos 15%, sendo aos 80 anos a percentagem dessa diminuição de 30% (Mayer et al., 2011). Segundo Netto & Filho (2006), a diminuição da força muscular é de cerca de 40% nos membros inferiores e 30% nos membros superiores.

As alterações da massa muscular explicam apenas em 5 % da variação da força muscular (Hughes et al., 2001), sendo a redução desta última mais acentuada em indivíduos sedentários e duas vezes mais elevada nos homens em relação às mulheres (Rolland et al., 2009). Por volta dos 60 anos verifica-se uma diminuição da força máxima muscular que ronda em torno de 30 a 40%, e tende a reduzir-se 10% por década (Wilmore & Costill, 2006).

O declínio da massa muscular associada à perda de força que se manifesta com o aumento da idade é vulgarmente designado por sarcopenia. Atualmente, esta é uma condição muito comum em idosos e contribui para a diminuição da aptidão física funcional (Doherty, 2003). Também representa um potencial problema de saúde pública, particularmente nas mulheres (Roubenoff & Hughes, 2000), derivado da presença de uma menor massa muscular e da maior esperança média de vida, comparativamente ao género masculino (Janssen, Shepard, Katzmarzyk, & Roubenoff, 2004).

16 Além disso, a sarcopenia constitui a principal componente da síndrome de fragilidade (Rolland et al., 2009), aumenta a morbilidade e a institucionalização, limitando os níveis de atividade física habitual do indivíduo, com o aumento do risco de queda e de fraturas associadas (Boirie, 2009) e grande comprometimento da qualidade de vida. Sendo que, alguns autores sugerem que estes efeitos adversos estão sobretudo relacionados com a diminuição da força muscular (Clark & Manini, 2008).

Sabendo que uma limitada condição muscular prejudica a relação das tarefas diárias e aumenta o risco de queda (Al-Yahya et al., 2011), atuar no sentido de prevenir a perda de massa muscular deve constituir a principal preocupação dos profissionais de saúde e de desporto, uma vez que é muito difícil recuperar o tecido muscular na mesma proporção em que este é perdido (Pereira et al., 2013).

2.3.5 AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR ESQUELÉTICA NO IDOSO E SUA APLICAÇÃO NA CLASSIFICAÇÃO DA CONDIÇÃO MUSCULAR

Na literatura encontra-se um leque variado de metodologias destinadas a avaliar a massa muscular esquelética (MME), expondo distintos valores de corte para os dois géneros. Os métodos mais utilizados são a densitometria radiológica de dupla energia (DXA), a bioimpedância (BIS) e a antropometria, sendo a ressonância magnética, a tomografia computorizada e a excreção de creatina os métodos encarados como os mais rigorosos na apreciação da massa muscular (Pahor, Manini, & Cesari, 2009).

A DXA estima a massa magra, a gordura e a massa óssea (Thomas, 2010), no entanto não permite apreciar algumas características do tecido muscular, como é o caso da infiltração de gordura e a retenção de água, não possibilitando um exame de funcionalidade muscular. Na opinião de Pahor, Manini, & Cesari (2009) em situações de maior acumulação de água extracelular, como acontece nos idosos e em situações de obesidade, esta metodologia pode gerar uma sobrestimação da massa muscular. Por sua vez, a bioimpedância trata-se de um método não invasivo de avaliação da composição corporal, sendo de baixo custo e de fácil aplicação em comparação com a DXA. Com o objetivo de obter uma maior precisão de resultados, a sua avaliação deve comtemplar as normas de preparação referenciadas na literatura (Heyward & Wagner, 2004).

A ressonância magnética e a tomografia computadorizada constituem técnicas de diagnóstico rigorosas, que estimam a quantidade de massa gorda e de massa magra em zonas específicas do corpo, avaliando a massa e a qualidade muscular, permitindo a análise de cortes transversais ou tridimensionais de estruturas do interior do corpo (Pahor et al., 2009). A massa muscular também pode ser obtida a partir dos valores de

17 creatinina obtida pela excreção de urina, já que esta é originada quase que exclusivamente pelo músculo. Como dificuldade para realização desse método estão a necessidade de manter uma dieta livre de carne por vários dias e uma coleta prolongada da urina (Thomas, 2010).

A antropometria trata-se de um método simples e economicamente acessível, porém apresenta uma menor fiabilidade em relação aos métodos anteriores. No entanto, Lee et al. (2000) identificaram uma elevada correlação deste método, com a ressonância magnética, considerada uma gold standard na predição da massa muscular esquelética. Num estudo semelhante foram identificadas correlações entre a equação preditiva de massa muscular esquelética, baseada em medidas antropométricas, e a densitometria radiológica de dupla energia (Rech, Dellagrana, Marucci, & Petroski, 2012).

Baumgartner et al. (1998) desenvolveram e validaram uma equação preditiva da massa muscular apendicular (MMA), envolvendo a mesma parâmetros antropométricos (peso, altura, perímetro da anca), o género e a força de preensão manual. O valor da MMA é depois relativizado à altura, sendo a sarcopenia classificada de acordo com os valores de corte definidos no Roseta Study (Figura 2.1). Os métodos antropométricos são muito sensíveis em termos de custo e operacionalização, contudo revelam uma limitada precisão e validade, não nos conferindo informação relacionada com a qualidade muscular (Pahor et al., 2009).

Figura 2.1. Equações preditivas da massa muscular apendicular e do índice de massa muscular apendicular

(Baumgartner et al., 1998)

A sarcopenia está presente quando o valor obtido deste índice é inferior a -2DP dos valores médios de referência estabelecidos no Roseta Study, isto é quando o IMMA é inferior a 5,45 kg/m2 na mulher e inferior a 7,26 kg/m2 no homem (Taaffe, 2006). O European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) divide ainda a sarcopenia em duas categorias: primária e secundária. Onde a primeira está relacionada somente com o fator idade, enquanto que a sarcopenia considerada como secundária está associada ao nível de atividade física, a patologias e a fatores nutricionais. Em MASSA MUSCULAR APENDICULAR (MMA, KG) = 0,2487×Peso (kg) + 0,0483×Altura (cm) - 0,1584× Perímetro da Anca (cm) + 0,0732× Preensão Manual (kg) +2,5843 × Género (género=0 em mulheres; género=1 em homens) + 5,8828

18 muitos idosos, a etiologia da sarcopenia é multifatorial, por isso pode não ser possível caracterizar cada indivíduo como tendo exclusivamente sarcopenia primária ou secundária (Cruz-Jentoft & Landi, 2014).

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