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CAPÍTULO 2 – INFLUÊNCIA DA REGIÃO GEOGRÁFICA BRASILEIRA E DO CULTIVO

2.4 Resultados e Discussões

2.4.1 Caracterização física das amêndoas de cacau

Na Tabela 2.2 são apresentados os valores de densidade aparente, massa média de amêndoas e número de amêndoas em 100 g das amostras avaliadas.

Tabela 2.2 Caracterização física das amêndoas fermentadas e secas dos cacaus de diferentes origens e manejo

Amostra Densidade aparente (g/mL)* Massa média/ amêndoa (g) Nº de amêndoas / 100g AMO 0,62 ± 0,01 0,85 ± 0,04 117 ± 3,00 BAO 0,59 A ± 0,01 1,25 A ± 0,04 80 A ± 2,32 BAC 0,56 B ± 0,00 1,21 A ± 0,04 83 A ± 2,48 ESO 0,56 A ± 0,00 1,04 A ± 0,02 96 A ± 1,93 ESC 0,55 A ± 0,01 1,16 A ± 0,07 87 A ± 4,84 MTC 0,59 ± 0,01 1,16 ± 0,01 87 ± 0,89 PAO 0,56 B ± 0,04 1,28 A ± 0,01 78 B ± 0,52 PAC 0,57 A ± 0,00 1,12 B ± 0,02 89 A ± 1,77 ROO 0,58 A ± 0,01 1,20 A ± 0,01 89 A ± 0,71 ROC 0,58 A ± 0,01 1,12 B ± 0,01 83 B ± 0,71

*Média dos valores ± desvio padrão. Valores de uma mesma coluna, com a mesma letra, não diferem significativamente entre si (Teste de Tukey a 5 % de significância). Letras maiúsculas subescritas referem-se a análise estatística entre as amostras de um mesmo estado (diferindo-se o método de manejo agrícola).

A densidade aparente das amêndoas de cacau variou entre 0,55 g/mL (ESC) a 0,62 g/mL (AMO), a massa média das amêndoas de 0,85 (AMO) a 1,28 (PAO) e o número de amêndoas em 100 g entre 83 (BAC e ROC) a 117 (AMO). A amostra AMO apresentou maiores valores para a densidade relativa e número de amêndoas em 100 g e menor massa média por amêndoa. Esse resultado é coerente em relação à prova de corte na qual observou-se que as amêndoas desta origem eram menores que as demais. Em contraposição, as amostras PAO, BAO, BAC e ROO apresentaram os maiores valores para a massa média por amêndoa. Com relação às amostras de um mesmo estado, diferindo-se no método de manejo, observaram-se diferenças estatísticas na densidade aparente entre BAO e BAC e entre as amostras PAO e PAC (M.D.S. igual a 0,0045 e 0,0014, respectivamente). A massa média das amêndoas e número de amêndoas em 100 g diferiram entre PAO e PAC (M.D.S. igual a 0,05

para massa média e 2,87 para o número de amêndoas) e ROO e ROC (M.D.S. igual a 0,01 para massa média e 1,43 para o número de amêndoas).

Alguns estudos conduzidos com frutos produzidos por diferentes métodos de cultivo e avaliação do rendimento da produção entre o sistema orgânico versus convencional mostraram uma tendência de que o sistema orgânico produz frutos com menores massas (Vieira et al., 2014) e que em geral os rendimentos orgânicos são tipicamente mais baixos do que os rendimentos convencionais (Seufert et al., 2012). No presente estudo, com exceção da amostra AMO, as amêndoas orgânicas apresentaram maiores massas (PAO e ROO) ou não apresentaram diferenças significativas entre si.

Estudo de Stertz et al. (2005) com amostras de tomates obtidas pelo sistema de cultivo orgânico apresentaram maiores massa, diâmetro, volume e densidade aparente. A justificativa segundo os autores se deve provavelmente a vários fatores, como riqueza do solo, em substâncias orgânicas, maior capacidade de retenção de água, fósforo e potássio.

Para Silva e Giordano (2000) o tamanho ou a massa do fruto estão relacionados, entre outros fatores, à quantidade de água utilizada na rega ou ao índice pluviométrico da região produtora, que determinarão a maior ou menor concentração de componentes solúveis e o sabor dos frutos. A pluviosidade média anual da região de cultivo de fato provoca alterações no rendimento dos cacaueiros, sendo este fator climático um dos mais importantes para o rendimento. A média anual considerada um bom índice pluviométrico deve estar entre 1500 a 2000 mm e temperaturas médias de 24 °C (Maricato, 1966; ICCO, 2014). Pela Tabela 2.1 podemos observar entre os diferentes estados avaliados que a média anual de precipitação é boa na maioria dos estados, apenas apresentando uma tendência ao excesso para os estados do AM e MT. Pode-se observar também que o estado brasileiro que apresenta a temperatura média anual que se aproxima do ótimo de temperatura para o cultivo do cacau é a Bahia.

As diferenças encontradas nas características físicas das amêndoas de cacau entre os diferentes estados e manejo podem estar relacionadas as características dos locais de produção (Tabela 2.1), as práticas adotadas no sistema agrícola, as características intrínsecas de solo e fatores externos e diferenças das variedades utilizadas no estudo. Embora os aspectos físicos e rendimentos sejam apenas uma parte de uma série de benefícios ecológicos, sociais e econômicos entregues pelos sistemas agrícolas, é amplamente aceito que altos rendimentos são fundamentais para a segurança alimentar sustentável em uma terra finita (Seufert et al., 2012). Partindo-se deste pressuposto observa- se no presente estudo que as amêndoas oriundas de sistema orgânico são competitivas e

compatíveis às amêndoas do sistema convencional quando avaliada a massa média das amêndoas com exceção da amostra orgânica do Amazonas.

A prova de corte ou cut test fornece uma avaliação das amêndoas de cacau a partir da qual pode-se inferir algumas características do cacau, o que dá uma indicação da qualidade. A Tabela 2.3 apresenta os resultados obtidos na prova de corte das amêndoas fermentadas e secas de diferentes origens.

A qualidade da amêndoa de cacau, segundo a Instrução Normativa n° 38, de 23 de junho de 2008 que estabelece o Regulamento Técnico para amêndoas de cacau (MAPA, 2008), será classificada em Tipos de acordo com os percentuais de tolerância de defeitos previstos, podendo ainda ser enquadrada como fora de tipo ou desclassificada. Segundo a tabela de defeitos (mofadas, fumaça, danificadas por insetos, ardósias, germinadas e achatadas) do regulamento técnico as amostras avaliadas (Tabela 2.3) podem ser consideradas como Tipo 1, com exceção da amostra ESC que se enquadra como Tipo 2 por apresentar 8 % de amêndoas com coloração ardósia. O lote da amostra orgânica desse mesmo estado (ESO), apesar de ser classificada como Tipo 1, caso fosse comercializada deveria ser rebeneficiada, desdobrada, recomposta ou mesclada, pois apresenta mais de 5 % de amêndoas quebradas. A análise dos resultados de coloração e compartimentação permite a avaliação da fermentação das amêndoas pela presença de compostos fenólicos presentes nas diferentes amostras e pelas transformações químicas e bioquímicas ocorridas durante o processo de fermentação. Segundo Efraim et al. (2010) e Ziegleder (2009) as amêndoas de cacau do grupo

Forastero, antes da etapa de fermentação, apresentam coloração do cotilédone violácea

intenso devido a maior quantidade de antocianinas presentes. Durante a fermentação a concentração destes polifenóis tende a diminuir devido à oxidação e condensação destes compostos e as amêndoas passam a apresentar coloração marrom após esta etapa (Nazaruddin et al., 2006).

Nota-se pela Tabela 2.3 que as amostras apresentaram diferenças tanto na coloração quanto na compartimentação, sendo essas duas avaliações complementares. Quanto maior o número de amêndoas com coloração marrom, tanto maior o número de amêndoas com boa compartimentação. As amostras do estado do Pará (PAO e PAC) apresentaram coloração marrom e marrom/violáceo mais intensa e significativamente maior que as demais amostras, enquanto a amostra AMO apresentou coloração violácea mais intensa e maior quantidade de amêndoas com compartimentação ruim ou sem compartimentação.

Tabela 2.3 Resultado da prova de corte efetuada nas amêndoas de cacau fermentadas e secas provenientes de diferentes estados brasileiros

produtores de cacau utilizando manejo convencional e orgânico

AMO* BAO BAC MTC ESO ESC PAO PAC ROO ROC M.D.S.**

COLORAÇÃO Marrom 31 ± 3 f 60 A ± 3 b, c 53 A ± 1 b, c, d 66 ± 5 b 48 A ± 10 c, d, e 42 A ± 1 d, e, f 82 A ± 5 a 39 B ± 5 e, f 50 A ± 5 c, d, e 38 B ± 2 e, f 13 Marrom/ Violáceo 13 ± 3 c 29 A ± 3 b 26 A ± 1 b, c 23 ± 1 b, c 21 A ± 7 b, c 20 A ± 2 b, c 14 B ± 4 c 48 A ± 9 a 31 A ± 8 b 29 A ± 3 b 14 Branco/ Violáceo 0 ± 0 b 2 A ± 1 a, b 5 A ± 2 a 5 ± 2 a 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 3 Violáceo 52 ± 4 a 7 A ± 4 c, d 9 A ± 3 c, d 2 ± 2 d 13 A ± 2 b, c 8 A ± 2 c 2 B ± 1 d 7 A ± 2 c, d 14 A ± 5 b, c 20 A ± 8 b 11 Branco 0 ± 0 c 1 B ± 1 b, c 2 A ± 1 b, c 0 ± 0 c 4 B ± 2 b 14 A ± 2 a 0 A ± 1 b, c 0 A ± 0 c 1 A ± 1 b, c 4 A ± 3 b 4 Ardósia 2 ± 1 b, c 0 A ± 0 c 0 A ± 0 c 0 ± 0 c 3 A ± 2 a, b 8 A ± 4 a 0 A ± 0 c 0 A ± 0 c 0 A ± 0 c 5 A ± 2 a, b 4 COMPARTI- MENTAÇÃO Boa 0 ± 0 e 44 A ± 2 a, b 38 A ± 3 a, b 17 ± 4 c 8 A ± 2 d 8 A ± 2 d 50 A ± 3 a 41 A ± 10a, b 35 A ± 5 b 13 B ± 2 c, d 16 Parcial 55 ± 3 a, b, c, d 40 A ± 1 d, e 47 A ± 3 c, d, e 63 ± 5 a, b 72 A ± 5 a 71 A ± 4 a 38 A ± 3 e 50A ±10c, d, e 52 B ± 5 b, c, d, e 67 A ± 10 a, b 18 Ruim ou sem 43 ± 2 a 15 A ± 2 b 10 A ± 3 b, c 16 ± 6 b 9 A ± 2 b, c 13 A ± 4 b 10A ± 2 b, c 3 B ± 2 c 9 A ± 1 b, c 16 A ± 7 b 14 DEFEITOS Mofo interno 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Achatada 1 A ± 2 a 1 A ± 0 a 4 A ± 6 a 2 A ± 1 a 2 A ± 1 a 2 A ± 2 a 0 A ± 1 a 1 A ± 1 a 1 A ± 1 a 0 A ± 1 a 6 Germinada 1 A ± 1 a, b 0 A ± 1 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 1 A ± 2 a, b 2 A ± 1 a 0 A ± 0 b 0 A ± 1 b 0 A ± 0 b 0 A ± 0 b 2 Fumaça 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Quebrada 0 A ± 0 a 0 A ± 1 b 1 A ± 0 b 1 A ± 1 b 6 A ± 3 a 3 A ± 1 a, b 1 A ± 1 b 2 A ± 2 a, b 1 A ± 1 b 2 A ± 1 b 4 Presença de inseto 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Dupla 0 A ± 0 a 0 A ± 0 a 0 A ± 1 a 1 A ± 2 a 2 A ± 1 a 1 A ± 1 a 1 A ± 2 a 3 A ± 2 a 2 A ± 1 a 2 A ± 1 a 3

*Média dos valores ± desvio padrão. Valores de uma mesma linha, com a mesma letra, não diferem significativamente entre si (Teste de Tukey a 5 % de significância). Letras minúsculas sobrescritas referem-se a análise estatística entre todos os dados dos diferentes estados. Letras maiúsculas subscritas referem-se a análise estatística entre as amostras de um mesmo estado (diferindo-se o método de manejo agrícola). M.D.S**: Mínima diferença significativa (obtida da análise estatística entre todas as amostras).

O elevado número de amêndoas com coloração violácea verificado nas amêndoas AMO é um indicativo de que algumas reações podem não ter ocorrido satisfatoriamente no processo de fermentação por um possível curto período desta operação.

As amostras não apresentaram odores estranhos, mofo e/ou com presença de insetos; defeitos estes considerados graves pela normativa brasileira (MAPA, 2008). Outro defeito considerado grave é a presença de amêndoas germinadas, que foram encontradas em pequenas quantidades (≤ 2 %) nas amostras AMO, ESO e ESC.

Em relação ao desenvolvimento de aroma as amêndoas analisadas apresentaram característica de produtos bem fermentados com exceção das amostras AMO e ESC, que apresentaram pouco desenvolvimento de aroma. As amêndoas AMO apresentaram-se visualmente menores e com coloração da casca mais clara que as demais amostras. Segundo o produtor a fermentação destas amostras foi realizada em poucas horas, não sendo realizada de maneira adequada para se obter amêndoas de alta qualidade, como pode ser constatado na visualização da coloração e compartimentação dos cotilédones das amêndoas desta origem.

Para a fabricação de chocolate, o rendimento de nibs (fragmentos quebrados de cotilédone do cacau) a partir de um lote de cacau é muito importante, tal como a quantidade de manteiga de cacau contida nos nibs (Fowler, 2009). Na Tabela 2.4 encontram-se os valores médios percentuais de massa de cotilédone, casca e gérmen, partes que compõe a amêndoa de cacau.

Os resultados da análise de composição em frações mostraram-se característicos quando comparados com estudos preliminares de outros autores (Soares, 2001; Efraim, 2004; Silva 2013, Afoakwa et al., 2013).

Tabela 2.4 Composição em frações das amêndoas de cacau fermentadas e secas

provenientes de diferentes estados brasileiros produtores de cacau utilizando manejo convencional e orgânico

Amostra Cotilédone (%)* Casca (%) Gérmen (%) AMO 85,53 ± 0,85 13,34 ± 0,86 1,13 ± 0,06 BAO 84,01 A ± 0,32 15,29 A ± 0,29 0,70 A ± 0,04 BAC 82,86 A ± 0,36 16,43 A ± 0,42 0,71 A ± 0,06 ESO 82,97 A ± 0,51 16,13 B ± 0,55 0,89 A ± 0,04 ESC 81,36 B ± 0,14 17,74 A ± 0,20 0,89 A ± 0,08 MTC 82,13 ± 0,65 17,04 ± 0,71 0,84 ± 0,09 PAO 81,75 B ± 0,68 17,26 A ± 0,67 0,99 A ± 0,02 PAC 85,75 A ± 0,23 13,25 B ± 0,22 1,00 A ± 0,02 ROO 82,84 A ± 0,35 16,25 A ± 0,38 0,91 A ± 0,05 ROC 82,25 A ± 0,08 16,81 A ± 0,05 0,95 A ± 0,09

*Média dos valores ± desvio padrão. Valores de uma mesma coluna, com a mesma letra, não diferem significativamente entre si (Teste de Tukey a 5 % de significância). Letras maiúsculas subscritas referem-se a análise estatística entre as amostras de um mesmo estado (diferindo-se o método de manejo).

A porcentagem de cotilédones variou entre 81,36 (ESC) e 85,75 % (PAO). As amostras AMO e PAC apresentaram as maiores porcentagens de cotilédone na análise da composição em frações (85,53 e 85,75 % respectivamente). A amostra AMO apesar de apresentar menor massa de amêndoas inteiras (Tabela 2.2) com relação às demais amostras, apresentou maior porcentagem de cotilédone e menor quantidade de casca, provavelmente por essa ser mais fina e leve, em conjunto com a amostra PAC.

Apesar de a casca propiciar adequada proteção ao cotilédone contra mofos e infestações de insetos, a porcentagem de casca deve ser a mais baixa possível já que esta é removida durante o processo de obtenção dos nibs e possui baixo valor comercial (Dand, 2007; Afoakwa, 2013). A porcentagem de casca das amostras avaliadas variou entre 13,34 (AMO) e 17,74 % (ESC).

Não houve diferença significativa entre as amostras de um mesmo estado, com exceção das amostras do Pará e Espírito Santo que diferiram nas porcentagens de cotilédone e casca. Foram encontradas maiores porcentagens de cotilédone para as amostras PAC (85,75 % e M.D.S. igual a 1,87) e ESO (82,97 e M.D.S. igual a 1,10).