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CAPÍTULO 1 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.3 Tendências do Mercado de Cacau e Chocolate

A busca por chocolates de qualidade aliada ao conhecimento dos ingredientes empregados e características de saudabilidade dos produtos oferecidos pelos produtores vem crescendo entre os consumidores. Estes vêm se tornando mais exigentes e atentos a novidades diferenciadas do mercado. Desta forma é fundamental a obtenção de amêndoas de cacau de qualidade controlada sendo isso um pré-requisito de grande importância para a produção e comercialização desses novos tipos de chocolate com atributos diferenciados.

Dentre as novas tendências do mercado podem-se citar os chocolates com alto teor de cacau e com apelo saudável, chocolates de origem e varietais, chocolates premium ou gourmet e os chocolates orgânicos (Efraim, 2009).

Os chocolates com alto teor de cacau (chocolate amargo) possuem o apelo saudável por apresentar grandes quantidades de compostos polifenólicos em sua composição. Quanto maior o teor de cacau na formulação maior será a quantidade de polifenólicos presentes. Esses compostos são responsáveis por diversos efeitos benéficos à saúde como uma potente atividade antioxidante na prevenção de reações oxidativas e de formação de radicais livres, bem como na proteção contra danos ao DNA das células (Efraim et al., 2011). Outros efeitos

positivos para a saúde são as propriedades anti-inflamatórias, anticarcinogênicas, antiterogênica, antitrombótica, antimicrobiana, analgésica e vasodilatadora, comprovadas em estudos científicos (Wollgast e Anklan, 2000 a e b; Gotti et al.,2006). Além dos fatores associados a saúde os chocolates com alto teor de cacau possuem sabores intensos, frutados e bem particulares que estão cada vez mais ganhando a atenção dos consumidores brasileiros (Guittard, 2005).

Os chocolates de origem são aqueles produzidos com sementes de cacau cultivadas em uma região especifica: um país ou uma região do país e chocolate varietal aqueles produzidos com amêndoas provenientes de regiões geográficas e populações varietais determinadas. Chocolates produzidos a partir de determinada origem apresentam sabores diferenciados, conservando características particulares de determinadas regiões de produção sendo que o clima, forma de cultivo, solo, beneficiamento refletem nas características finais dos produtos (Efraim, 2009; Barry Callebaut, 2015). Dessa forma o consumidor pode encontrar no mercado, chocolate de diversas origens (Madagascar, Equador, Peru, Vietnam, Brasil), que proporcionam variedades de sabores e aromas (florais, frutais, arbóreos, mais ou menos intensos, notas mais adocicadas etc.) ao produto.

Seguindo a mesma tendência de outros produtos como vinhos, café e cerveja, que acumulam consumidores exigentes em busca de produtos de qualidade, o chocolate gourmet ou

premium é aquele em que a qualidade superior é prioridade em todas as etapas de produção

do chocolate, desde o cultivo do cacau até a comercialização do produto final. Para que o chocolate seja considerado gourmet ou premium é essencial a utilização de ingredientes de melhor qualidade e que contenha pelo menos 40 % de cacau na composição. Além disso, as características do solo e clima do local em que o cacau foi cultivado, ou seja, o terroir do produto, também é bastante importante (Estadão, 2013).

Atualmente uma grande questão discutida no comércio dos chocolates é o fair trade ou troca justa. Fair trade certified producer é uma organização de produtores certificados que devem cumprir uma série de requisitos, relacionados com desenvolvimento social, econômico e ambiental. Além disso, as condições de trabalho nestas organizações devem seguir certos padrões (ICCO, 2015).

Diversos problemas relacionados à produção de cacau em diversos países permeiam a história do cacau no mundo. Dentre esses problemas podemos destacar os baixos preços oferecidos a produtores de cacau de qualidade, fermentado e seco corretamente e/ou produzido pelo método orgânico, o qual muitas vezes recebe o mesmo valor/preço que amêndoas de baixa ou pouca qualidade. Outro problema grave é o impacto ao meio ambiente

provocado pelo desmatamento de plantas e árvores nativas para o plantio de cacaueiros, que no Brasil na década de 60 e 70 teve grande impacto sobre a Mata Atlântica nativa na costa bahiana (Uzêda, 2004). Além dos problemas econômicos e ambientais outro problema social bastante grave também tem atingido o tema chocolate: a mão de obra escrava e infantil nas lavouras de cacau. Documentários denunciando este problema e envolvimento de grandes empresas de chocolates financiadoras deste crime e algumas delas em busca de soluções para o problema têm sido observados nos últimos anos (Mistrati, 2010; Kahns, 2014).

1.3.1 Cacau e Chocolate Orgânico

Agricultura orgânica e agricultura biológica são expressões frequentemente utilizadas para designar sistemas sustentáveis de agricultura, que na realidade nada mais são do que a forma primordial do uso da terra pelos povos ancestrais, não permitindo o uso de produtos químicos sintéticos prejudiciais para a saúde humana e para o meio ambiente, tais como fertilizantes químicos e agrotóxicos, nem de organismos geneticamente modificados (Brasil, 2015). Segundo Brasil (2015), para ser considerado orgânico, o produto tem que ser produzido em um ambiente de produção orgânica, onde se utiliza como base do processo produtivo os princípios agroecológicos que contemplam o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais.

Os princípios da agricultura orgânica foram introduzidos no Brasil no início da década de 1970. Estimativas indicam que no Brasil o crescimento do mercado orgânico - que vinha aumentando, no início da década de 1990, cerca de 10 % ao ano - chegou próximo a 50 % durante o período entre 2009 e 2011. Portanto, superior aos países da União Europeia e Estados Unidos, onde o mercado cresce em média 20 a 30 % ao ano (Darolt, 2011). A cultura e comercialização dos produtos orgânicos no Brasil foram aprovadas pela Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Sua regulamentação, no entanto, ocorreu apenas em 27 de dezembro de 2007 com a publicação do Decreto nº 6.323 (Brasil, 2015).

O Brasil é forte na produção orgânica de açúcar, soja, café, óleos, amêndoas, mel e frutas. Estima-se que o mercado de orgânicos no mundo supere 40 bilhões de dólares por ano. Entretanto os dados de produtores orgânicos no país e os valores exatos de produção, comercialização e consumo são bastante precários. Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), responsável por certificações no país, é possível que o Brasil já tenha quase 1 milhão de hectares em produção orgânica. Destes, 95 % são produtores de pequeno e médio porte, exceto o açúcar, que é fabricado apenas por usinas (Brasil, 2015). O Brasil é considerado

pelos principais importadores de orgânicos – EUA, União Europeia e Japão – como o país de maior potencial de produção orgânica para exportação: cerca de 60 % da produção orgânica brasileira vai para fora do país. Outros 30 % dos orgânicos são vendidos no mercado brasileiro e o restante segue para consumo próprio. As commodities (como açúcar, soja, café) são quase que totalmente exportadas e quase todas as frutas, verduras e legumes são vendidos aqui. Além disso, o Brasil tem o maior mercado consumidor de orgânicos da América do Sul e este mercado está em crescimento (G1, 2014).

O mercado de cacau orgânico no mundo representa uma parcela muito pequena do mercado total de cacau, estimado em menos de 0,5 % da produção total. A ICCO (2015) estima a produção de cacau orgânico com certificação em torno de 15.500 toneladas, provenientes dos seguintes países: Madagascar, Tanzânia, Uganda, Belize, Bolívia, Brasil, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Venezuela, Fiji, Índia, Sri Lanka e Vanuatu.

Segundo a ICCO (2015) a demanda por produtos derivados de cacau orgânico está crescendo em um ritmo muito forte, já que os consumidores estão cada vez mais preocupados com a segurança dos alimentos que consomem, juntamente com as questões ambientais e sociais envolvidas. De acordo com a Euromonitor International (2013) as vendas globais de chocolate orgânico foram estimadas em US$ 171 milhões em 2002 e US$ 304 milhões em 2005, representando um aumento de 78 % em 3 anos.

O cacau da Bahia está entre as principais frutas orgânicas produzidas e exportadas pelo Brasil. Observa-se que a exportação de produtos não processados, como o cacau, configura os mesmos moldes das exportações brasileiras agrícolas convencionais, caracterizando a imaturidade da cadeia de produção brasileira (Terrazan e Tallarini, 2009).