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Caracterização fundiária e dos produtores de Acácia-negra na região

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 Caracterização fundiária e dos produtores de Acácia-negra na região

A caracterização dos produtores de Acácia-negra bem como a caracterização fundiária foram avaliadas e analisadas conforme dados provenientes dos questionários. Foram realizadas 54 entrevistas durante as visitas de campo. No entanto, na análise dos dados, desconsiderou-se 10 questionários, visto que os mesmos não apresentavam informações e respostas completas, necessárias para a validação da entrevista.

Foi identificado que 31,81% (Figura 12) das propriedades são arrendadas e 92,86% dos arrendatários não residem na propriedade. O tamanho das propriedades arrendadas é de, em média, 536 ha, variando de 67 a 2.500 ha, sendo que a média da área plantada é de 147,86 ha. Francisco et al., (2004) afirmam que as áreas reflorestadas no Estado de São Paulo concentraram-se em propriedades rurais de tamanho superior a 500 hectares. A maior parte das áreas arrendadas correspondem a investidores privados, grupos de investidores e empresas do setor de base florestal da região.

Do total das áreas arrendadas, 21,42% correspondem a empreendimentos realizados por empresas de base florestal, 21,42% por grupos de investidores e 57,14 % correspondem a investidores privados, ou seja, pessoas físicas que investiram no setor florestal na região. Da mesma forma, Binkowski (2014) comenta sobre a inserção de profissionais autônomos na “nova ruralidade” em Encruzilhada do Sul, que geralmente são de fora do município e que investiram na compra ou arrendamento de terras para os reflorestamentos como forma de geração de renda. Constatou-se que estes não vivem no local, e acabam contratando empresas terceirizadas para realizarem seus negócios florestais, fazendo visitas às propriedades nos finais de semana.

Ao contrário das áreas arrendadas, as áreas próprias reflorestadas com Acácia-negra correspondem a 68,19% (Figura 12) da amostragem e possuem características de pequenas propriedades rurais. Dados similares foram encontrados por Silva (2014) na região do Vale do Cai e Taquari, onde 42,7% dos produtores de Acácia possuem áreas próprias para

reflorestamento. Dos proprietários, 53,33% residem na área com a família, 30% não residem na propriedade e 16,66% dos entrevistados comentam que apenas o casal reside na área. Informações semelhantes foram encontrados por Mendes (2005), em estudo realizado no Planalto Catarinense. O autor comenta que 81% dos produtores reflorestadores residem nas propriedades rurais, devido principalmente ao fato da maioria dos proprietários estar com idade superior a 50 anos, sem pretensão de aventurar-se por emprego na zona urbana.

As áreas próprias dos reflorestadores possuem em média 183,29 ha, variando de 15 a 569 ha, excetuando-se uma única propriedade amostrada com 1500 ha. A média da área plantada encontrada foi de 67,32 ha e Silva (2014) evidencia áreas ainda menores reflorestadas com Acácia na região do Vale do Cai e Taquari, variando entre 5 e 10 hectares, com mão de obra familiar em mais de 90% das propriedades.

Figura 12:Gráfico evidenciando a porcentagem das áreas próprias e arrendadas

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação às áreas próprias, 3,33% correspondem a produtores que utilizam e possuem a atividade florestal como única fonte de renda. Já 30,0% dos proprietários correspondem a empreendedores que viram no reflorestamento de Acácia-negra uma alternativa de investimento, sendo a renda vinda do setor florestal juntamente com outras atividades. Esses produtores foram realizando a compra de áreas de outros produtores rurais locais e investindo no plantio da espécie.

Área arrendada 31,81%

Área própria 68,19%

Dentre as principais vantagens que os empreendedores viram no plantio de Acácia- negra, inicialmente, foi a alta repercussão econômica dos investimentos florestais. A expectativa era de que a cultura traria um bom retorno com baixo manejo e pouca mão de obra. Porém, em contrapartida, 66,66 % dos entrevistados não consideram a atividade florestal como incremento de renda.

Em relação às maiores áreas reflorestadas, os produtores (principalmente empresas de base florestal e grupos de investidores), comentam da necessidade de obter uma economia de escala, maximizando o processo produtivo, procurando como resultado baixos custos de produção e máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo. Dessa forma, o reflorestamento em grandes áreas viabiliza esse processo. Sendo assim, os investidores podem obter melhor preço e melhores condições no momento de vender o produto, visto que possuem a grande parte da produção. Azeredo (2011) justifica tal processo devido ao aumento do preço do insumo florestal, que obrigou as empresas compradoras desse insumo a fortalecer a prática, já adotada em menor escala, de aquisição ou arrendamento de terras e plantação de floresta própria. O mesmo autor ainda comenta que a sensível alta dos valores de mercados dos produtos florestais, madeira e casca, no período compreendido entre 2002 e 2011 está muito além dos valores acumulados de inflação e encarecimento de mão de obra, que oneram o produto florestal.

Ao contrário dos grandes investidores, os pequenos produtores rurais que investem no reflorestamento não são capazes de competir no mercado, isoladamente. Segundo eles, não conseguem maximizar a receita e minimizar os custos, principalmente aqueles que não possuem qualquer tipo de parceria com as empresas florestais. Diante disso, acabam coagidos a vender a produção ao preço que o comprador oferece. A essa vista, Binkowski (2014) também comenta sobre o grande desconforto no que concerne à adoção/expansão dos cultivos de eucalipto e acácia, como atividade econômica geradora de renda em pequenas propriedades, pois vem ocorrendo problemas de comercialização dos reflorestamentos.

Esse fato, comum na ruralidade da região, acaba por inviabilizar a implantação de novos povoamentos de Acácia-negra, porém, as ações de cooperativismo podem surgir como forma de fortalecer esses produtores. Segundo Bonacolsi (2016) as cooperativas surgiram a partir do aperto econômico provocado pela economia, fazendo com que os produtores sentissem a necessidade de buscar alternativas para sua sobrevivência. Segundo o autor, apesar das dificuldades encontradas atualmente no setor rural, é uma estratégia que pode apresentar boas perspectivas de crescimento.

Outra circunstância evidenciada, está relacionada ao grande número de produtores que possuem reflorestamentos antigos, superando a idade de corte. Conforme Klein et al., (1992), a Acácia é cultivada em rotações de 7 anos. Passado o ciclo de corte, a árvore apresenta sintomas de senescência, com maior incidência de fungos, bactérias e presença do cascudo serrador, que causam danos à casca e à madeira da Acácia.

Nessa linha, os produtores comentam que um dos fatores para a realização do corte tardio das florestas é o baixo preço pago pela Acácia-negra e a falta de empresas que compram a matéria-prima, seja como lenha ou como reflorestamento em pé. Sotta et al., (1994) avaliaram plantios comerciais, com 8 anos de idade e encontraram 23% das árvores atacadas, podendo chegar a 48% conforme Santos et al., (2007). Essa perda corresponde de 10% a 15% do volume de madeira que deixa de ser contabilizada como produto de primeira linha e passa a ser comercializada com valores menores. Sendo assim, o material é vendido como madeira de segunda, de menor preço, prejudicando ainda mais o reflorestador.

Em tratando-se de mercado, é possível observar que o setor da Acácia é liderado por duas grandes empresas no Rio Grande do Sul (SETA e TANAC), compradoras de Acácia- negra, as quais atuam no mercado relacionado, principalmente, a extração e venda do tanino.

Sendo assim, evidencia-se uma situação de mercado monopsônio, que abrange todo o Estado do RS. Mesmo “mono” exprimindo a noção de “um só” ou “unidade”, a definição em linhas gerais, descrita por Carlton e Perloff (1999) do poder de monopsônio, condiz com a habilidade das empresas em pagar, por um insumo, preços menores do que o preço que seria pago num mercado competitivo, mantendo lucros econômicos no longo prazo.

Dessa forma, devido ao restrito leque de compradores de Acácia-negra para extração de tanino, muitos dos pequenos produtores optam pela venda da madeira para fins energéticos, fato este também enfatizado por Lisboa (2013) que salienta sobre a produção de carvão como uma das alternativas encontrada pelos pequenos produtores florestais de Acácia, na região de Montenegro, para incrementar a renda.

Para poder obter um valor maior no reflorestamento, o próprio produtor efetua o corte da floresta, utilizando da mão de obra familiar ou por meio da contratação de terceiros diretos, e a venda é realizada diretamente para outros produtores rurais, que utilizam a madeira na cura do tabaco, para pequenas empresas como olarias e carvoarias ou cooperativas, que utilizam a lenha para a secagem de grãos. Evidencia-se que esse processo é realizado quase que inteiramente por pequenos produtores rurais com pequenas áreas reflorestadas.

Em outros casos, o produtor vende a lenha para atravessadores, que a revendem, diminuindo cada vez mais o valor pago aos produtores pela matéria-prima. Para os

investidores no setor florestal da Acácia, a venda em pequena quantidade e a um preço menor do que o esperado se torna insustentável, levando em consideração o investimento a longo prazo e os custos com plantio e mão de obra.

Dessa forma, pode-se afirmar que o poder da empresa nos ambientes de monopsônio é potencializado e utilizam desse poder para controlar as transações e agir de forma a obter mais lucros. Nesses mercados, a incerteza de venda para os produtores é grande e o ativo (neste caso a Acácia-negra) possui maior especificidade para os produtores que possui uma opção de venda restrita, aumentando o comportamento oportunista das empresas.

Entretanto, quando questionado aos reflorestadores sobre a número de compradores de Acácia-negra (Figura 15), 43,18% consideram a quantidade como boa, 34,09% consideram a compra ruim, 11,36% regular e 11,36% não sabem ou não responderam. Já Mendes (2005), em estudo realizado no Planalto Serrano Catarinense, salienta que a opinião dos proprietários sobre o mercado florestal apresenta como resultado que 73% consideram muito bom ou bom o número de compradores para produtos florestais; 3% acham ruim e, 24% não sabem.

Porém é importante frisar que, 63,16% dos produtores que consideram a quantidade de compradores de Acácia-negra boa, possuem parceria com empresas florestais. Fica evidenciado a importância da união entre produtor e empresa quando se realiza o investimento. A empresa pode oferecer a garantia de compra da matéria-prima e auxílio desde a implantação do empreendimento. Conforme relatos dos produtores, nos últimos anos apenas quem fez parcerias com empresas no momento do plantio está conseguindo vender as áreas reflorestadas com melhor preço (ou a um preço razoável), devido aos contratos anteriormente assinados entre produtor e empresa.

Fonte: Elaborado pela autora.

A pesquisa demonstrou que, do total de entrevistados, apenas 9,09% vivem exclusivamente da atividade florestal (Figura 13) e esse percentual corresponde a 75% de investimento em áreas arrendadas e 25% em área própria (Figura 14). Já 40,09 % dos produtores têm a atividade florestal como parte da renda, aliado a atividade agrícola, pecuária, arrendamentos, salários, aposentadorias, entre outros. O restante dos entrevistados (50,0%) não relaciona a atividade florestal como acréscimo de renda, devido principalmente a pequena área plantada. Alguns salientaram também que ainda não realizaram a venda do reflorestamento, não obtendo qualquer tipo de lucro.

Dados similares foram obtidos por Lima (2014) em estudo realizado sobre os plantios florestais de Eucalipto e Acácia-negra em Arroio dos Ratos-RS, onde salientou que todos os pecuaristas e produtores entrevistados, sejam eles arrendatários e/ou proprietários, não dependiam dos lucros obtidos da Silvicultura para sobreviver ou para a manutenção das atividades tradicionais exercidas. Também não intencionam abandonar suas atividades para dedicar-se única e exclusivamente à Silvicultura.

Figura 14: Gráficos demonstrando a principal renda das propriedades rurais

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 43,18% 34,09% 11,36% 11,36% Nú m er o d e en tr ev is tad o s Porcentagem Boa Ruim

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 15: Renda em relação a atividade florestal

Fonte: Elaborado pela autora.

9,09%

40,91% 50,00%

Renda das propriedades rurais

Renda da Atividade Florestal Renda da Atividade florestal e outras Sem renda na Atividade Florestal

75% 25%

Atividade Florestal

Conjuntamente, foi questionado aos reflorestadores sobre o abandono da área rural, no entanto, 99% dos entrevistados evidenciaram que não tem a intenção de abandonar a propriedade. Entre os fatores citados têm-se a falta de oportunidade de trabalho na área urbana, faixa de escolaridade baixa e consequentemente salários menores. Ademais, evidenciaram que a Acácia-negra pode ser substituída por outra espécie como Eucalipto e Pinus, culturas anuais e pecuária. Outros produtores comentaram sobre a possibilidade de arrendamento das áreas para terceiros.

Já a maior parte dos arrendatários comentam sobre a dificuldade em pagar os custos do arrendamento da terra, plantio e mão de obra, levando em consideração o preço pago pelos reflorestamentos de Acácia-negra. Mesmo assim, é cada vez mais crescente o abandono das áreas por pequenos produtores privados, ocorrendo consequentemente maiores índices de áreas arrendadas ou vendidas para outros investidores e empresas que podem obter lucro na economia de escala com os reflorestamentos.

Os reflorestamentos de Acácia-negra em larga escala, segundo Binkowski (2014), abriram alternativas de venda das pequenas propriedades rurais e caminho para determinadas famílias deixarem o campo. Segundo a autora, para os que plantaram em pequenas áreas, ficou a dificuldade de comercialização, já que as empresas florestais ou empreiteiras não adquirem matéria-prima de áreas pequenas ou de difícil acesso.

Em relação aos plantios, 40,9% contam com algum tipo de assistência técnica e desse total, 83,4% possuem parcerias com empresas florestais. Do total de entrevistados, 43,18% possuem algum tipo de parceria com algum segmento do setor florestal. Da mesma maneira, Mendes (2005) salienta que 44% dos reflorestadores no Planalto Serrano Catarinense recebem algum tipo de assistência técnica para o manejo florestal. No entanto, percebe-se que os produtores possuem ainda resistência em relação a essa parceria, pois salientam que a mesma não se tem mostrado eficiente nos últimos anos, devido principalmente ao valor pago pelos reflorestamentos, abaixo do esperado pelos produtores.

Do total de entrevistados, 54,54% dos produtores comentam que não conhecem técnicas de manejo florestal de Acácia, sendo a maioria desses produtores assistidos por empresas florestais.

Ao questionar sobre a continuidade dos plantios de Acácia, 43,18% dos produtores/empreendedores não pretendem dar seguimento aos plantios (Figura 16), sendo 47,36% devido ao baixo preço pago pela matéria-prima; 36,84% comentam que o empreendimento é pouco rentável; 10,52% não pretendem continuar plantando devido à falta

de comprador e por ser um investimento a longo prazo, e por fim 5,26% pretendem substituir os plantios de Acácia-negra por Eucalipto (Figura 17).

Já 56,81% correspondem aos produtores que querem continuar no setor e reflorestando (Figura 16), por mais que, conforme eles, o setor esteja pagando um preço abaixo do esperado. Lima (2014) salienta que o preço da Acácia-negra decaiu nos últimos anos devido a ocorrência de muitos plantios, ou seja, a oferta é maior do que a procura. Dentre os fatores para tal resultado (Figura 18) foi citada a caracterização da espécie como de ciclo curto (36%), disponibilidade de área para plantio nas propriedades (28%), manejo fácil e rápido, não havendo necessidade de manutenção periódica intensa (26%) e mercado favorável (8%).

Figura 16: Porcentagem dos entrevistados que continuarão ou não reflorestando com Acácia negra

Fonte: Elaborado pela autora

Não reflorestar 43,18% Reflorestar

56,82%

Figura 17: Causas de não continuar reflorestando

Fonte: Elaborado pela autora

Figura 18: Fatores apontado pelos reflorestadores para continuar no setor florestal da Acácia- negra

Fonte: Elaborado pela autora.

Substituir cultura; 5,26% Investimento a longo prazo; 10,52% Falta de comprador; 10,52% Empreendimento pouco rentável ; 36,84% Baixo preço; 47,36% Espécie de ciclo curto; 36,0% Área disponível; 29,0% Manejo; 27,0% Mercado favorável ; 8,0%

Em relação ao uso de financiamento e utilização de programas de fomento, 77,27% dos entrevistados comentam que já ouviram falar ou conhecem programas de incentivo ao reflorestamento, e desse total, 38,23% utilizam algum tipo de financiamento privado, incluindo nesse item os financiamentos de empresas florestais; 41,17% fazem uso de financiamentos públicos e 20,6% não fazem uso de nenhum tipo de financiamento para realizar os plantios de Acácia-negra. Valores similares foram encontrados por Mendes (2005) onde 41% dos reflorestadores plantam por meio de fomento; 16%, através de arrendamento, e 43% com recursos próprios.

Quando perguntado aos produtores, que utilizaram financiamento em seus plantios, se tinham interesse em continuar utilizando a mesma linha de financiamento, 50% dos entrevistados salientaram que não há pretensão em renovar ou adquirir novas linhas de crédito, visto que, mesmo com uma taxa de juros acessível, variando de 2,5 a 6,75 % a.a., a remuneração pelo plantio de Acácia-negra não traz o retorno esperado pelo longo tempo de investimento e consequentemente pela insegurança no investimento.

Dentre os financiamentos mais utilizados pelo entrevistado tem-se o Pronaf Florestal, utilizado pelos pequenos produtores e o Propflora, financiado pelo BNDS a produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, associações de produtores rurais e cooperativas de produtores rurais.

Ao perguntar se o investimento em reflorestamento com Acácia-negra aumentou a renda do produtor/empreendedor, 34,09% relataram que o reflorestamento aumentou a renda na propriedade e 25,0 % mencionam que não obtiveram retorno financeiro com o investimento. Já 22,72% salientaram que ainda não conseguiram realizar o corte da floresta, dessa forma não conseguem afirmar se o investimento terá um retorno positivo ou negativo na renda. Por fim, 18,18% dos entrevistados relataram que os plantios complementaram a renda na propriedade.

No entanto, 100% dos produtores afirmaram que houve redução no preço pago pelos reflorestamentos de Acácia-negra, por mais que 63,64% dos reflorestadores presumem que houve redução na produção nos últimos anos e na quantidade de área plantada na região e 72,73% julgam que ocorreu diminuição na venda da matéria-prima.