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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 O mercado da Acácia-negra no Eixo Encruzilhada do Sul – Rio Grande

No sentido geral, conforme Lisboa (2013), mercado corresponde a um grupo de compradores ou vendedores que estão em contato suficientemente próximo para que as trocas entre eles possam afetar as condições de compra e venda dos demais. Nesse sentido, apesar dos pontos negativos encontrados durante o levantamento nos municípios em estudo, pode-se perceber que 65,9% dos produtores acreditam que o mercado florestal da Acácia esteja entrando novamente em expansão. No entanto, acreditam que esse crescimento, por menor que seja, não está sendo repassado aos produtores.

A acacicultura teve ligação direta com o setor coureiro calçadista e a casca foi seu principal produto, porém com o passar dos anos, novos produtos foram sendo criados utilizando o tanino e a acácia como um todo, visto que o tanino, atualmente, não se dedica apenas ao tratamento de couro e é utilizado no tratamento de águas e efluentes e na produção de adesivos de madeira ( LISBOA, 2013)

Nessa pesquisa, foi possível identificar que a maior parte dos reflorestamentos da região eram destinados ao comércio de extração de tanino ou energia.

Salienta-se que até os anos 90 os plantios de Acácia-negra no RS foram realizados com o objetivo principal de fornecer casca às empresas extratoras de tanino e Lima (2014), destaca que analisando os dados de produção de casca de Acácia-negra no estado do RS, percebeu valores em ascensão de 1990 até 2005 e que, após esse período, ocorreu uma redução constante. A mesma autora, baseada em indícios de explicações e observações feitas por meio de pesquisa de campo, comenta que a redução produtiva pode estar relacionada: a) à preferência do mercado consumidor pelo Eucalipto; b) vantagem econômica pelo valor pago ao produtor pelos plantios de Eucalipto em relação aos valores pagos pela produção de Acácia; c) reflexo da crise econômica mundial de 2008 que abalou a economia em vários países, inclusive o Brasil, com a retração do mercado e redução das exportações.

Azeredo (2011) relata também sobre a ascensão do preço da madeira e da casca de Acácia-negra no ano de 2004, devido à alta do dólar. Segundo o autor, com o aumento no preço do dólar, a exportação dos produtos florestais compensava o produtor de modo muito superior do que o mercado interno. Já por meio da análise dos dados compilados pela FEE foi possível verificar que dos anos 2000 a 2007 a produção de casca de Acácia-negra obteve uma média de 19.738,71 ton/ano-1, com valores de faturamento variando de R$ 514.000 à R$ 1.176.000 por/ano. A partir de 2007, a produção e consequentemente o faturamento com a Acácia começou a decair, chegando nos níveis mais baixos em 2009, com produção de 10.609 mil toneladas de casca.

No entanto, conforme a AGEFLOR (2017), a produção de casca de Acácia-negra vem apresentando pequenos incrementos anuais desde 2013 e apresentou crescimento de 15 % no ano de 2016 em relação a 2015, sendo produzida em torno de 230 mil toneladas de casca. Valores apresentados pela FEE verificam uma produção de 18.116 toneladas de casca de Acácia-negra no ano de 2012 nos municípios em estudo.

A maior redução nos investimentos relacionados a Acácia-negra aconteceu durante a Crise Mundial de 2008. A partir dessa data, ocorreu uma redução no valor pago pelo reflorestamento aos produtores, devido à diminuição do consumo pelas empresas compradoras que diminuíram a quantidade de produto exportado.

Em entrevista ao Globo Rural no ano de 2009, Otávio Guimarães Decusatti, diretor superintendente da TANAC (empresa de extração de tanino) na época, comentou que os principais fatores para a redução do valor pago pela Acácia aos produtores foram a queda nos preços internacionais, que, segundo ele, caíram 13,5% no ano de 2008. Comentou também sobre a redução de volumes exportados em função da crise internacional, e a própria valorização do real em relação ao dólar que afetou demais as receitas da empresa, visto que,

conforme Lisboa (2013), mais 80% do que é produzido a partir da casca da acácia é exportado.

Aliado ao reflexo da Crise Mundial de 2008, a desvalorização da Acácia-negra está diretamente vinculada à super oferta existente de Acácia atualmente. Os plantios realizados antes da crise mundial de 2008 encontram-se hoje em idade de corte ou superior, visto que após a crise ocorreu redução na intensidade de colheita. Da mesma forma, Binkowski (2014) comenta que, com o boom dos plantios, entre os anos de 2004 e 2005, ocorreu um aumento considerável da área plantada, devido a visão de investimento dos produtores. No entanto, passado os anos, existe muita oferta de madeira na região, fazendo com que haja dificuldade de comercialização, só se conseguindo negociar a um preço abaixo do que o esperado inicialmente.

Observa-se que o aumento na produção de casca pode estar relacionado ao aumento da intensidade de colheita dos reflorestamentos atualmente, uma vez que se encontram em fase já avançada e obrigatoriamente há necessidade de realizar o corte. O aumento na produção não satisfaz, neste caso, a condição de aumento de área plantada e nem ao aumento da procura pela matéria-prima.

Evidencia-se dessa forma que, com a grande disponibilidade de matéria-prima disponível para corte, o preço pago pelas empresas aos produtores pelo reflorestamento é baixo.

Segundo os entrevistados, atualmente o preço pago por hectare de área reflorestada com Acácia-negra está em torno de R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00, dependendo da idade do plantio e das condições fitossanitárias em que se encontram.

Os entrevistados relatam que em anos anteriores à crise mundial de 2008 o preço pago por hectare de área reflorestada variava de R$ 5.000,00 a R$ 8.000,00. Por meio da pesquisa realizada por Mochiutti (2007) foi possível verificar que o custo médio de implantação de 1 hectare de Acácia-negra variava em torno de R$ 797,52 a R$ 830,83, dependendo do tipo de muda adquirida e a intensidade de mão de obra. O Valor Presente Líquido (VPL) para uma rotação de 7 anos, na data da pesquisa, estava entre R$ 1.949,00 e R$ 2.883,00 a uma taxa de 8,75 % a.a. Percebe-se dessa forma, que era possível obter um lucro considerável com o plantio da Acácia-negra na época.

No entanto, os custos de produção e mão de obra aumentaram e a receita, que deveria acompanhar a inflação do mercado, acabou retraindo em maior porcentagem. Silva e Farias (2014) enfatizam que o plantio de Acácia-negra, consorciada com milho, possui um custo de implantação nos anos 0 e 1 de R$ 1.954,20, sendo que desse total R$ 1.230,80 correspondem

aos custos apenas com a implantação da Acácia-negra, desconsiderando o custo da terra (arrendamento). Já os custos de colheita podem chegar a R$ 5.264,70 com produção de 250,70 m³/ha. Os autores calculam VPL de R$ 2.529,22 ha, VET de 384,91 ha, VPL infinito de 506,37 ha, TIR de 18,91% e CMPr de R$ 36,44 a uma taxa de atratividade de 6,8% a.a. Evidencia-se dessa forma, que a venda do hectare reflorestado com Acácia pago atualmente (R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00) não corresponde ao capital empregado, devido, principalmente, por ser um investimento de longo prazo.

Dessa forma, outro segmento do setor de base florestal da Acácia entrou de forma mais importante no mercado: produção de lenha e carvão vegetal. Esse setor pode ser considerado compositor da renda de pequenos produtores florestais, especialmente àqueles envolvidos com a Acácia-negra.

A lenha tornou-se uma forma de agregar valor à Acácia, porém não é realizada por todos os produtores devido principalmente à falta de mercado consumidor e à mão de obra, que se torna o insumo de maior custo na colheita. O corte da madeira para energia é realizado por quase que exclusivamente por pequenos produtores que possuem pequenas áreas reflorestadas. Os grandes produtores que possuem plantios comerciais, não utilizam dessa estratégia para agregar valor a matéria-prima, pois trata-se de grandes extensões reflorestadas, plantadas para extração de tanino e colhidas utilizando técnicas mecanizadas.

Silva e Farias (2014) relatam que o preço pago pela madeira de Acácia-negra cortada e empilhada na Região do Vale do Caí e Taquari é de R$ 58,00 m³ e o custo de colheita empilhada de R$ 21,00 m³. Dessa forma, se considerar a produção de 250,70 m³/ha, conforme descrito pelos autores, o produtor pode obter até R$ 14.540,60 de receita bruta por ha. No entanto, não há uma demanda constante de lenha que seja capaz de comportar toda a oferta dos reflorestamentos, sendo esse uma saída esporádica aos pequenos produtores.