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Caracterização Geral da Associação Empresarial de Portugal – AEP

CAPÍTULO II ESTUDO DE TRAJECTÓRIAS DE CARREIRA DE ADULTOS EM RVCC

5. Caracterização Geral da Associação Empresarial de Portugal – AEP

O nosso objecto de investigação empírica é a Associação Empresarial de Portugal – AEP que é uma associação empresarial, de âmbito nacional e multi-sectorial, fundada em 1849, com sede no Porto, cuja Missão consiste na promoção, desenvolvimento e defesa dos interesses e das actividades empresarial e associativa. A pesquisa empírica foi realizada no Centro RVCC que está integrado na AEP.

De seguida, faremos uma breve caracterização da AEP e do Centro RVCC, por forma, a contribuir para a compreensão e enquadramento teórico conceptual do estudo.

5.1. Educação e Formação de Adultos na AEP

De modo introdutório, consideramos importante atender, brevemente, à história da educação e formação de adultos da AEP.

A AEP desde 1995 tem dedicado uma particular atenção à questão (RVCC), constituindo, por sua iniciativa uma equipa de trabalho informal, que reúne representantes de empresas (de diversos sectores de actividade) e de vários organismos públicos e privados, ligados quer às questões do emprego, quer às do ensino e da formação. Participou em 1997 num projecto europeu com parceiros Franceses, Espanhóis e Ingleses, intitulado VAP - Validation das Acquis Professionnels - onde se promoveu a troca de experiências e de expectativas neste domínio específico.

A AEP foi pioneira em 1996, no desenvolvimento de um projecto de consultoria de formação junto de muito pequenas e pequenas empresas, no qual proporcionou a formação de milhares de trabalhadores, em Oficinas de Projecto. Estas Oficinas de Projecto, depois retomadas por uma Associação, a ANOP, tiveram grande sucesso na qualificação e no reconhecimento das qualificações de trabalhadores pouco escolarizados.

Dentro destas Oficinas de Projecto, a AEP criou e desenvolveu novas metodologias de formação (e.g. Balanço de competências), bem como novos conteúdos (e.g. Matemática para a Vida, Expressão/Comunicação, Desenvolvimento Pessoal e Social, Cultura Profissional e Organizacional).

A AEP criou, em 1999, a Caderneta Profissional Individual, um portfólium de habilitações formais e de competências adquiridas ao longo da vida, seja na formação como na qualificação.

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A AEP, na sequência de um outro Projecto, designado ARCA-Avaliação Reconhecimento de Competências Adquiridas, tem tido a oportunidade de percorrer alguns passos metodológicos, entre os quais:

- Estudar com maior cuidado a pertinência e a exequibilidade dos dispositivos de reconhecimento de competências adquiridas pela via formal e informal;

- Efectuar um levantamento de intenções e de práticas relacionadas com esta temática do RVCC adquiridas, em diversos contextos nacionais, quer de natureza pública, quer de natureza empresarial;

- Lançar uma experiência piloto de construção de um referencial de competências (Modelo que respeita a sequência “Referencial de Emprego – Referencial de Competências – Referencial de Formação) junto da realidade empresarial.

5.2. O Centro de RVCC da AEP

Tendo-se constatado uma miríade de competências não certificadas, adquiridas nos sistemas informais e não formais por grande parte dos portugueses, nomeadamente em contexto de trabalho, justifica-se um esforço nacional no sentido da validação e certificação dessas competências.

Neste âmbito, foi oficialmente inaugurado, a 26 de Novembro de 2001, o Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências da AEP. Este espaço faculta a oportunidade aos adultos activos, empregados e desempregados, pouco escolarizados, de verem Reconhecidas, Validadas e Certificadas as competências e conhecimentos adquiridos em diversos contextos ao longo do seu percurso de vida. Simultaneamente, visa proporcionar-lhes a aquisição de novos saberes com o objectivo de lhes atribuir uma certificação, com equivalência escolar ao nível do 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico, respectivamente 4º, 6º e 9º ano de escolaridade.

A aposta educativa e formativa deste projecto, baseia-se nos conhecimentos básicos essenciais para a pessoa/cidadão no mundo actual, integrando quatro áreas de competências-chave: Linguagem e Comunicação, Matemática para a Vida, Tecnologias de Informação e Comunicação e no desenvolvimento de competências transversais - a Cidadania e Empregabilidade.

Consolidar a educação/formação de adultos, enquanto sistema integrador do acesso generalizado dos adultos à progressão educativa e profissional, é uma prioridade nacional com a qual a AEP se compromete. Com efeito, o mister de permanente adaptação das

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competências dos trabalhadores às exigências de terciarização e do desenvolvimento tecnológico reclama uma aprendizagem flexível e modular, projectada de acordo com as necessidades pessoais e profissionais.

O processo RVCC, enquadrado na premissa de Aprendizagem ao Longo da Vida, tem-se constituído como um catalisador das experiências de vida dos adultos, um processo activo, personalizado e multidimensional de reflexão-acção, indispensável à construção de novos projectos pessoais e profissionais. Com efeito, trajectórias de diferentes naturezas têm sido adoptadas pelos adultos do CRVCC, a saber, prosseguimento de estudos, participação em acções de formação, criação do próprio emprego, reforço da empregabilidade e aumento da mobilidade. Radicados no reforço da auto-estima, da capacidade de iniciativa, empreendimento e autonomia, o desenvolvimento das competências individuais e profissionais associadas a estes planos de acção revela profundas mudanças no indivíduo, mobilizando-o para a formação contínua. Tem pois, como objectivo crucial o empowerment dos adultos, sendo o seu papel central ao longo de todo o processo.

Assente na metodologia do Balanço de Competências realizado com cada adulto no projecto RVCC, é construído um dossier pessoal (portfolium) que permite orientar e conceber formações ou respostas à medida de cada um. Ainda que relativamente recente em Portugal, esta praxis encontra-se já amplamente difundida e institucionalizada noutros países da União Europeia, como a França e a Inglaterra, sendo inclusive utilizada na elaboração dos planos de formação das empresas.

5.2.1 Descrição do processo RVCC do Centro da AEP

O processo RVCC organiza-se em torno de duas etapas distintas: a exploração do perfil do candidato e o Reconhecimento, a Validação e Certificação de Competências.

Na primeira etapa pretende-se recolher informação sobre o candidato, por forma a elaborar o seu perfil e consequentemente a elaboração do plano de intervenção individual (PII). Esta etapa desenvolve-se ao longo de duas sessões colectivas em que se apresenta detalhadamente o processo RVCC, analisa-se o referencial de competências-chave e realizam-se actividades de exploração que permitem fazer uma identificação pessoal e profissional do adulto, percepcionar o modo como se relaciona com os outros e analisar as suas potencialidades. No final, realiza-se uma entrevista individual para complementar a

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informação recolhida ao longo do processo, e assim, definir melhor o perfil do candidato que irá possibilitar a identificação o trajecto a seguir, construindo com ele um plano de intervenção individual.

Os Adultos que demonstram lacunas demasiado evidentes ao nível das suas competências, é efectuado um levantamento das ofertas formativas existentes (de curta duração, acções S@ber+, cursos EFA ou até Ensino Recorrente) na área de residência dos adultos ou de implantação da empresa.1

O Reconhecimento de Competências desenvolve-se no contexto de uma relação profissional, proporcionando ao adulto momentos de reflexão e avaliação das competências adquiridas ao longo da sua vida, através do desenvolvimento de actividades, a partir da utilização de metodologias de Balanço de Competências.

É a partir desta metodologia, realizada com cada Adulto e da análise do seu Dossier pessoal (portfolium) que é possível orientar e indicar qual a resposta mais adequada para cada caso particular.

Desta forma, surgem 2 situações distintas:

(1) Adultos que transitam directamente para o momento de Validação de Competências, efectuado em sede de júri;

(2) Adultos a encaminhar para Formações Complementares RVCC, ou outras (cursos desenvolvidos pelos parceiros de desenvolvimento) que possibilitem a conclusão de percursos certificáveis;

Assim, como resultado do Reconhecimento de Competências, os adultos podem ser orientados para o júri de Validação com o objectivo de validar total ou parcialmente as competências-chave, proporcionando a atribuição de um Certificado de Educação e Formação de Adultos (ver fig. 7).

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- Para além da divulgação que é conduzida na comunidade, o CRVCC da AEP tem-se orientado predominantemente para contextos empresariais.

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Figura 7 - Esquema do processo RVCC

Emissão da carteira de competências chave Emissão de certificado Realização de formação Júri de Validação Preenchimento da ficha de inscrição Exploração do perfil do candidato Provedoria Balanço de competências

5.2.2 Perfil dos participantes no processo RVCC da AEP

O sistema RVCC da AEP dirige-se a todos os adultos activos desempregados e empregados (com uma maior incidência nestes últimos), maiores de 18 anos, com baixos níveis de qualificação profissional e que não possuam a escolaridade básica de 4, 6 ou 9 anos.

O perfil do “adulto-tipo” que procura o CRVCC da AEP, ao longo dos quatro anos de actividade, tem sofrido uma evolução que não é despicienda. A partir do momento em que medidas concretas, que afectam o quotidiano dos cidadãos, são implementadas, tais como: o alargamento da idade da reforma, a reestruturação e reorganização empresarial, o “boom” das novas tecnologias e a concorrência feroz de outras economias, a transformação de mentalidades passa a ser imperiosa. Assim sendo, tem-se verificado que, quer por constatação de uma necessidade ou por alteração nas mentalidades, o “regresso à escola” é visto maioritariamente de forma muito positiva por parte dos adultos do CRVCC da AEP. Algo que, no início da actividade do Centro era encarado com maior resistência, até desconfiança em alguns casos, noutros uma mera curiosidade. Verifica-se actualmente, que os adultos procuram o Centro não só com o objectivo único de certificação escolar mas, igualmente, de procura de serviços de informação e aconselhamento de qualidade sobre variadas ofertas e oportunidades de aprendizagem. Além disso, o investimento que os adultos estão dispostos a fazer, é progressivamente maior, e a taxa de abandono do processo menor. O Centro tem-se vindo a deparar com uma renovada forma de estar, encontram-se agora, em variadíssimos casos, atitudes de perseverança, de apoio e de

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encorajamento. Esta prática disseminada de certificação escolar das competências e conhecimentos adquiridos ao longo da vida de forma informal ou não-formal atribui à educação/formação um carácter de não-elitismo. Com efeito, está acessível a todos a obtenção de um certificado escolar e por vias bem diferentes das tradicionais, valorizam-se as aprendizagens no contexto das actividades diárias da vida, relacionadas com o trabalho, família ou lazer e, por vezes obtidas de forma não intencional. Também a estrutura modular de acesso a essa certificação, permite que a pequenas partes do conhecimento se efectue uma validação parcial. Pelas suas particularidades, este sistemas de certificação poderá contribuir para uma mudança de mentalidades das pessoas e da sociedade em geral.