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CAPÍTULO I O DESENVOLVIMENTO DA CARREIRA NA VIDA ADULTA

1. Conceptualização teórica do desenvolvimento da carreira

1.3 O modelo de Tiedman e O’Hara

Outro dos modelos desenvolvimentistas que mais inspirou o estudo e a intervenção vocacional com adultos foi o modelo de identidade e desenvolvimento da carreira de Tiedman & O’Hara (1963) relativo ao processo de escolha e ajustamento vocacional. De uma forma bastante original estes autores descreveram um modelo direccional (mas não irreversível) e desenvolvimentista, com base nos pressupostos de Erick Erison, e de algum modo, também, de Donald Super (Tiedman & Tiedman, 1990; Minors, 1992), tendo sido adicionados determinados elementos às premissas deste último (Herr e Cramer, 1996).

Figura 1 - O modelo de escolha e ajustamento vocacional de Tiedman e O’Hara (1963)

Fonte: Tiedman & Tiedman (1990 p.315)

Neste quadro teórico, o desenvolvimento da carreira é definido como um processo contínuo de construção da identidade vocacional através da diferenciação e integração em

Implementação ou acomodação Integração Reformulação Clarificação Escolha Tempo Exploração Indução Antecipação e preocupação Cristalização

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relação à vida profissional (Tolbert, 1974). Nesta perspectiva, a novidade da experiência vocacional exige que uma nova identidade seja formada (Tiedman & O’Hara, 1968 in Tolbert, 1974). O objectivo central é a formulação de uma identidade do ego para o trabalho.

O processo de desenvolvimento da tomada de decisão através da diferenciação e da integração é realizado a partir de uma série de passos ou estádios, que podem ser repetidos ao longo da vida. Na figura 1 apresenta-se o paradigma do processo de diferenciação e integração da decisão seguindo Tiedman & O’Hara. O processo de tomada de decisão ocorre quando se enfrenta um problema ou se experiência uma necessidade, é neste ponto que o indivíduo se dá conta que tem de tomar uma decisão (Tolbert, 1974).

No modelo de Tiedman e O’Hara (1963) existem duas fases distintas que envolvem todo este processo, referentes à antecipação (ou também designada por preocupação) e à implementação. A fase da antecipação é constituída por quatro sub-estádios que antecedem o ingresso numa actividade profissional, designadamente:

A exploração (consciencialização) - É um período caracterizado por um comportamento aleatório, em que o indivíduo interage com o meio ambiente e recebe

feedback (Minor, 1992). Vários objectivos são considerados, o sujeito pode querer rever as

suas experiências passadas, considerar as suas capacidades, a desejabilidade dos seus objectivos, predizer os resultados das suas acções e, na sua imaginação, experienciar vários papeis. O indivíduo diferencia o rumo ou direcção de acção e analisa a desejabilidade e a praticabilidade de cada papel (Tolbert, 1974). Deste modo, a informação é recolhida (diferenciação) e, posteriormente, é incorporada, interiorizada na identidade do “Eu” (integração) (Minor, 1992).

A Cristalização - Inicia-se quando as observações realizadas no estádio anterior formam padrões (Minor, 1992). Por exemplo, quando a pessoa conclui “eu gosto de falar com as pessoas” ou “eu tenho um sentido estético elevado”, pode preparar-se para tomar uma direcção específica, baseada num processo de diferenciação, que permite clarificar tornou claro o potencial do indivíduo nas várias alternativas (Tolbert, 1974).

A Decisão - Ocorre quando o indivíduo actua sobre as observações cristalizadas (Minor, 1992). O indivíduo afirma o que quer fazer ou ser, o objectivo pode variar entre um período de tentativa e um objectivo bastante firme, tudo depende da qualidade do processo de cristalização que levou à decisão (Tolbert, 1974).

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A Clarificação - Este período conclui a fase de diferenciação da tomada de decisão (Tolbert, 1974). Trata-se de uma preparação para o ingresso numa actividade profissional, neste estádio, pode haver uma reavaliação da decisão tomada e considerar a realização de especializações (Minor, 1992).

No primeiro estádio da fase de antecipação, o indivíduo desenvolve a sua identidade através de dois processos justapostos: a diferenciação e a integração. A diferenciação caracteriza-se por uma consciencialização do indivíduo acerca das diferenças entre ele e o meio que o envolve, através da comparação do seu comportamento e o dos outros. O indivíduo interage com o ambiente e observa as suas consequências (Minor, 1992). É um processo de avaliação do “Self” através da identificação e estudo dos vários aspectos das diferentes ocupações. Este processo é complexo e único para cada indivíduo, dependendo do potencial biológico e da estrutura social de cada indivíduo (Zunker, 1997). Na integração, a informação é interiorizada, interferindo na estruturação da personalidade e na formação da identidade (o Ego) (Minor, 1992).

Após a conclusão da fase de antecipação, o indivíduo está preparado para implementar a sua escolha, evoluindo para as fases de implementação e de ajustamento. Os seus planos são então colocados em prática. Esta fase é composta por três sub-estádios, nomeadamente:

A Indução - é a primeira entrada do indivíduo no mercado de trabalho, num emprego relacionado com a sua área de escolha vocacional. Neste período o indivíduo procura ajustar-se à organização por forma a ser bem sucedido (Minor, 1992). O sujeito procura aprovação e reconhecimento, estando receptivo às exigências da nova situação (Tolbert, 1974).

A Reformação – estádio que ocorre após o indivíduo ganhar credibilidade na organização. O indivíduo está apto para influenciar a organização e até encetar mudanças, consideradas necessárias, como por exemplo, convencer os outros a partilhar os seus pontos de vista (Minor, 1992).

A Integração – define um estádio em que é alcançado um equilíbrio entre as exigências da organização e as necessidades do indivíduo (Tolbert, 1974). Este é um período de relativa satisfação que dura até que alguma coisa aconteça (um incidente) que mude a situação de equilíbrio (Minor, 1992). Nessa altura, o indivíduo pode ter que reiniciar todo o ciclo do processo de ajustamento e escolha vocacional ou regressar a

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qualquer um dos estádios anteriores (esta situação está ilustrada pelas setas bi-direccionais apresentadas na figura 1).

O processo descrito, torna-se mais efectivo quando é levado a cabo de forma racional e cuidadosa. Há que considerar ainda que a decisão numa área de vida afecta o processo de decisão em outra área, sendo portanto importante adoptar uma visão integrada do desenvolvimento da carreira, (por exemplo: a decisão de mudar de país afecta a vida familiar). Ademais cada decisão pode levar a uma nova sequência de diferenciação e integração (Tolbert, 1974; Tiedman & Tiedman, 1990).

Tiedman e O’Hara (1963) asseguraram que o objectivo da orientação vocacional é ajudar as pessoas a compreender melhor a dinâmica do processo de desenvolvimento da carreira. Este processo ajuda a pessoa a tomar decisões e a pô-las em prática, assim como a antecipar para outras possíveis decisões (Tiedman & Tiedman, 1990). Este modelo fornece uma visão mais objectiva do desenvolvimento vocacional e enfatiza a importância das variáveis contextuais e organizacionais na construção da identidade do “Eu”. Por conseguinte, fala-se de uma construção teórica que, tal como a de Super, ajuda investigadores a avaliar e a definir a direcção da carreira das pessoas e a compreender os seus fundamentos.