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No trajeto metodológico, entramos em contato com oito psicólogas atuando no judiciário. Destas, apenas uma não participou desta pesquisa devido à sobrecarga de trabalho. Outras duas não foram convidadas a participar, dada a proximidade acadêmica com a pesquisadora, pois partilham anseios e inquietações a respeito de pontos da temática trabalhada neste estudo (eram passíveis encontros entre as mesmas em reuniões acadêmicas para discussão de assuntos de interesse mútuo o que, inviabilizaria a participação como interlocutoras).

Assim participaram desta pesquisa sete psicólogas: Ísis, Olga, Regina, Normandí, Natalícia, Silvia e Carmem. Todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice- B), havendo por parte de uma delas a concessão da entrevista apenas após a autorização por parte do juiz. Quanto às outras interlocutoras, as entrevistas ocorreram simultaneamente à tramitação da documentação entregue aos magistrados.

De partida, sublinha-se que estes nomes são fictícios e algumas das informações disponibilizadas pelas mesmas foram excluídas deste trabalho, com a finalidade de atender ao anonimato e preservar o sigilo27. Também, que o perfil delas será apresentado obedecendo à ordem dos conteúdos apreciados na primeira e na segunda parte do roteiro de entrevista (dados de identificação e trajetória profissional), para que o leitor possa localizar marcadores sociais que possibilitem uma clareza na leitura das discussões propostas no capítulo sobre a análise e discussão dos resultados.

Podemos relatar que a idade das interlocutoras se encontrava na faixa etária dos 28 aos 55 anos de vida. O discurso do transcorrer das entrevistas não verificou influencia explícita referente à idade das interlocutoras.

Das razões que impulsionaram as questões impetradas no roteiro de entrevista, presumimos que dados como a religião28 a qual a profissional se orientava, poderia influenciar na prática laboral, uma vez que a religião (principalmente a Cristã, em nossa sociedade),

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Para assegurar o anonimato, quando referimos os dados pessoais das interlocutoras, achamos pertinente não ligar o nome das profissionais às características apresentadas. Assim, optamos por generalizar esses dados trazendo a quantidade de interlocutoras a que dizia respeito àquelas informações ao invés de citar o nome das mesmas, quando percebemos que uma declaração poderia sinalizar ou mesmo identificar a profissional.

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Quando questionadas, as informantes disseram que a religião não influenciava em suas práticas, inclusive relatando que era preciso manter uma neutralidade sobre esse aspecto. Podemos mesmo pensar que as informantes estão seguindo a orientação de não envolver questões religiosas no ambiente de trabalho, atendendo a uma questão de ética profissional.

exerce forte influência na tomada de decisões de seus seguidores e também as máximas religiosas da união entre um homem e uma mulher, sacramentada pelo matrimônio vem levantando reflexões sobre a legitimação dos casais homossexuais e sobre a capacidade destes em criar e educar crianças, além dos possíveis danos causados às crianças que convivem nesta configuração familiar. Não foram percebidas diferenças significativas quanto à orientação religiosa das colaboradoras e os posicionamentos tomados nas entrevistas. Quanto à religião, apenas Natalícia se disse agnóstica, as demais afirmaram ser católicas ou espíritas.

Em relação à Universidade em que se graduaram apenas Natalícia e Regina se

formaram em instituições particulares. Já quanto ao tempo de formação em Psicologia (TF) e o tempo de experiência profissional no setor (TS), nós expressamos ambos em intervalos de anos, de modo a assegurar o anonimato das interlocutoras.

Em relação a já terem atuado frente a pleiteantes homoafetivos, vale dizer que, duas entrevistadas relataram ter atendido apenas um casal de homens, declaradamente homossexuais, pleiteantes à adoção; outras duas informantes falaram sobre casos gerais que ocorreram no setor, não destacando a participação nos atendimentos.

Em relação à abordagem que ancoravam a prática de cada uma delas, obtivemos que a maioria delas se orientavam pela Psicanálise: Olga, Normandí e Carmen. Isis pauta sua atuação na teoria cognitiva-comportamental (TCC), Regina é orientada pela abordagem centrada na pessoa (ACP) e Natalícia se apóia na Gestalt-terapia. Apenas Silvia diz não seguir uma linha específica, apesar de sua formação ser analítica.

Daquelas que realizaram quaisquer cursos de aprimoramento (cinco interlocutoras), apenas uma focou para a área de atuação no judiciário, as realizações das outras interlocutoras se referem a um aprofundamento na abordagem seguida (duas interlocutoras) ou na área de atuação do outro emprego que exercem concomitantemente ao serviço no tribunal de justiça (duas interlocutoras). Registramos que três profissionais trabalhavam em outras instituições: hospitais e faculdades.

Importa destacar que a proposta deste trabalho não foi montar um estudo de casos, mas sim apreender o posicionamento geral dos profissionais de psicologia jurídica a respeito da homoparentalidade adotiva. Assim, apresentamos abaixo o perfil geral das interlocutoras trazendo dados característicos das mesmas.

Interlocutoras Universidade Tempo de Formação

(TF)

Abordagem Religião Tempo no setor (TS)

Isis Pública TF < 10a* TCC Católica TS≤ 01a

Olga Pública 10a ≤ TF ≤20a Psicanálise Espírita TS ≥ 03a Regina Privada TF < 10a ACP Espírita 01a < TS < 03a

Normandí Pública TF < 10a Psicanálise Espírita 01a < TS < 03a

Natalícia Privada 10a ≤ TF ≤20a Gestalt Agnóstica 01a < TS < 03a Silvia Pública TF > 20a Eclética Espírita 01a < TS < 03a

Carmen Pública TF > 20a Psicanálise Católica TS ≥ 03a

TABELA 01 – Perfil das Psicólogas entrevistadas. * „a‟ refere-se a ano (s).

Em seguida, apresentaremos o material de apoio utilizado na coleta das informações, com vistas a atender o objetivo já referido deste estudo. Detalharemos o procedimento da confecção do roteiro de entrevista e das histórias fictícias, bem como a intencionalidade de ambos serão tratados no próximo subtópico deste capítulo.