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Na fabricação do calçado, os insumos passam por transformações em fases bem definidas até que se transformem efetivamente em sapatos, sandálias, tênis e entre outros. As etapas são determinadas pelo tipo de calçado e em função do material de confecção do cabedal, que pode estar em quatro categorias básicas: injetados, sintéticos, couro e têxtil (CUNHA, 2008; GUIDOLIN et al., 2010; TOMASSINI, 2012). O processo de produção de calçados do tipo injetados, como as sandálias de praia, apresenta uma reduzida complexidade de manufatura, o que exige o emprego de um volume também reduzido de utilização de mão-de-obra direta, uma vez que, o processo utiliza máquinas automáticas na maioria das operações necessárias. Os calçados sintéticos, de couro e têxteis, exigem outros tipos de operações como, por exemplo, a junção de cabedal e solado. Esses tipos de calçados tem uma elevada utilização de mão-de-obra direta com operações predominantemente manuais (TOMASSINI, 2012).

As unidades estudadas não produzem calçados do tipo injetado. O enfoque está em calçados com predominância em materiais de couro devido a especialização da mão-de-obra e o know-how pelo qual a organização é reconhecida. Entretanto,

pode se observar uma transição na substituição do couro, como matéria-prima principal, para materiais sintéticos e têxteis, principalmente nos calçados esportivos (ABICALÇADOS, 2019). Para estes tipos de calçados o processo produtivo da empresa é dividido entre: i) corte; ii) pré-costura; iii) costura; iv) pré-fabricado; v) montagem, e; vi) acabamento (COLAÇO, 2013; CUNHA, 2008; JUNIOR; XIMENES, 2018; SILVA, 2016).

Cunha (2008) afirma que essa divisão da fabricação do calçado em etapas claras e distintas facilita o deslocamento geográfico da produção, à medida que viabiliza a execução externa de um grupo determinado de operações. Guidolin, Costa e Rocha (2010) reforçam que essa fragmentação contribui para organização da produção em redes, em especial em clusters e outros aglomerados produtivos, como no caso dos atelieres (CUNHA, 2008; GUIDOLIN et al., 2010; SILVA, 2016; TOMASSINI, 2012).

O modelo esquemático do processo de manufatura realizado pela empresa estudada é apresentado na Figura 23. As etapas do processo de produção do calçado são detalhadas em seguida.

Figura 23: Processo de produção do calçado

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

A empresa estudada divide o processo de manufatura do calçado em três macroprocessos a iniciar pelo i) corte, passando pela etapa de ii) costura, e, por fim, a iii) montagem. Cada macroprocesso tem o lead time médio de uma semana.

O setor de corte inicia o processo produtivo do calçado. O corte tem início com o recebimento da matéria-prima e a separação do material. O corte da matéria-prima, principalmente o couro, é feito de acordo com as dimensões e disposições definidas

na etapa de desenvolvimento técnico. Esta etapa pode ser manual (artesanal), com a utilização de “facas” e moldes de cartolina reforçados nas bordas com filetes de metal. Também são usadas prensas hidráulicas denominadas balancim na qual é afixada, no cabeçote, uma navalha de fita de aço, que também atende às determinações do molde. A empresa também dispõe de máquinas de corte automáticas para o corte das matérias-primas. O processo de corte com essas máquinas apresenta vantagens em relação ao corte manual devido ao melhor aproveitamento do material, pois a área de corte é definida com o auxílio de um software que projeta os desenhos das peças sobre o material com o objetivo de maximizar o aproveitamento do mesmo.

Após o corte do material principal e a confecção de seus detalhes, as peças que fazem parte do cabedal são agrupadas em lotes e encaminhadas ao processo de pré-costura, onde são preparadas, chanfradas, dobradas, picotadas e coladas para em seguida serem costuradas. Esse trabalho de preparação, na maior parte das empresas, é realizado manualmente e, em algumas outras poucas, feito em máquinas eletrônicas simples. Todas as peças, antes de serem pré-costuradas, recebem marcações e apontamentos que são a referência guia da costura, além disso, são fundamentais para que os calçados sejam produzidos sempre seguindo o padrão pré- determinado. Na empresa estudada, dependendo da necessidade e complexidade do processo, esta etapa pode ser realizada internamente ou externamente com auxílio de atelieres que são contratados por períodos determinados levando-se em conta a demanda.

O processo de costura tem início com as peças do cabedal preparadas, marcadas e apontadas. O setor de costura é considerado um dos pontos críticos do processo de fabricação, uma vez que há grande variação de operações de um modelo para outro. Esta etapa tem se mostrado razoavelmente automatizada, com o uso de máquinas de bordar programáveis inteligentes, que facilitam a execução de tarefas mais minuciosas, embora a maioria das atividades ainda sejam operadas manualmente. Para cada tipo de costura, é utilizado o equipamento adequado, pois a diversidade de modelos para fins específicos, como o caso do calçado de couro feminino e calçado em sintético esportivo, são quem determinam o material e a forma de costura que oferece uma maior resistência, segurança e firmeza ao calçado.

Entre os métodos que utilizam a costura, estão o blaqueado (para a fabricação de tênis e mocassins), o goodyear (observado principalmente em calçados de montanhismo, em botas militares e em alguns modelos mais pesados) e o ponteado

(atualmente utilizado apenas em alguns calçados de estilo jovem e confortável), cabendo ressaltar que se trata de um processo misto, pois o cabedal é fixado à palmilha mediante costura, mas a sola é colada.

O processo de pré-fabricado ocorre paralelamente ao corte e costura do cabedal. O setor de pré-fabricado é responsável pela fabricação da construção inferior do calçado em que ocorre a preparação das palmilhas e solados, que podem ser produzidos dentro da empresa, mas via de regra são adquiridos de fornecedores externos, como componentes semiacabados. Nesta etapa, os materiais que compõem o solado (salto e sola), bem como a palmilha, são cortados, lixados, conformados, limpos e colados.

No processo de montagem são unidos os componentes previamente confeccionados nos setores anteriores (corte, costura e pré-fabricado) como cabedal, palmilha de montagem e a sola, onde são transformados em um calçado completo. No setor de montagem são selecionadas as fôrmas conforme o plano de produção e são conferidos os lotes para início da conformação do cabedal no molde. O cabedal é então montado e moldado sobre uma fôrma, onde, posteriormente, faz-se a colagem da sola. Através do processo de choque térmico e montagem da base do adesivo termo reativado, o calçado começa a ganhar forma, iniciando pelo bico e terminando no salto, onde todo o cabedal moldado ganha forma de calçado. Depois da conformação, o cabedal é lixado em toda superfície de colagem, para garantir maior homogeneidade no processo. As máquinas de “montar bico” são os principais equipamentos do setor e que normalmente delimitam a capacidade de produção deste.

Uma vez concluída a operação de fixação da sola ao cabedal no processo de montagem, o calçado está praticamente pronto, devendo passar ainda por operações específicas de acabamento. Essas operações consistem em limpeza, retoque de pequenos defeitos e controle de qualidade final. Após a revisão final o calçado é encaixotado e enviado à expedição da fábrica para aguardar a consolidação e transporte para o cliente. Na próxima seção é apresentada a contextualização dos casos analisados.