• Nenhum resultado encontrado

Caracterização Produtiva

No documento Estudo demográfico da raça equina Garrana (páginas 44-48)

I. Raça Autóctone Equina Garrana

8. Caracterização Produtiva

O maneio da maior parte do efetivo da raça Garrana é em regime de pastoreio livre (sistema extensivo), em que os animais pastoreiam todo o ano nos baldios e serras da sua zona de dispersão. Uma vez por ano os criadores juntam os animais por zonas para marcação dos poldros a fogo, provas morfo-funcionais dos adultos que vão entrar no Livro Genealógico (LG) ou Registo Zootécnico (RZ), retirar os animais que estão fora do padrão da raça para evitar cruzamentos indesejados, vender os animais com pouco interesse reprodutivo e fazer o controlo higio-sanitário (Leite, 2012).

A produtividade desta raça resume-se a uma parição anual com uma gestação de 11 meses (Leite, 2012). A época reprodutiva da população de Garranos ocorre preferencialmente entre março e julho e tem a duração de 3 a 7 meses, uma vez que podem ocorrer partos em agosto e setembro. Normalmente os partos ocorrem na área de maior atividade da população (Couto, 2014). Uma vez que a recria é feita num regime livre os animais estão sujeitos a vários fatores inerentes ao sistema de exploração como a predação, acidentes e condições climatéricas adversas, estes fatores impedem a obtenção de níveis produtivos elevados uma vez que mais de metade dos poldros são predados pelo lobo não chegando a atingir a idade adulta. Invernos rigorosos e secas prolongadas também são fatores de perda de produtividade, aliados ao aumento da temperatura que multiplicou o número de ectoparasitas provocando a morte de animais mais debilitados (Leite, 2012).

As fêmeas e machos que se destacam pelas suas excecionais qualidades destinam-se à recria, sendo utilizados para substituição ou aumento do efetivo. Os restantes animais são vendidos ao desmame (aproximadamente aos 6 meses) para outras explorações e, de forma cada vez mais residual, para produção de carne. Ultimamente têm tido sucesso desportivo (atrelagem, corridas, horseball, iniciação à

Revisão bibliográfica

21

equitação, etc.) e turístico (turismo de montanha e agro-turismo) (Leite, 2012), e é nestas aptidões e potencialidades que se pode basear a valorização da raça.

8.1. Funcionalidades, aptidões e potencialidades

Ao longo dos tempos, o homem tem utilizado o Garrano consoante a região de criação, deste modo, podemos analisar essa utilização sob três pontos distintos mas que se encontram interligados: o trabalho, a produção de carne e a utilização desportiva e turística.

8.1.1. O trabalho

Até à primeira metade do século XX, o Garrano foi um importante auxiliar nas atividades agrícolas, sendo utilizado como trator de alfaias agrícolas, carroças, carretas de minério e carregando a dorso as mais variadas cargas por caminhos inacessíveis onde dificilmente seria utilizado outro transporte, deste modo o Garrano prestou um serviço de valor inestimável às populações rurais do norte de Portugal. Com o desenvolvimento dos meios de transporte e com a mecanização da agricultura, a importância do Garrano diminuiu bastante, contudo, o seu emprego na agricultura nunca foi completamente desprezado pelos pequenos agricultores da sua região de origem (Serôdio, 1992).

Mais tarde, com o agravamento dos custos da mecanização agrícola, com o declive acentuado, parcelas de pequena dimensão e falta de bons caminhos rurais, a tração animal voltou a crescer. Por outro lado, o sistema de incentivos à atividade agrícola nas regiões mais desfavorecidas do interior montanhoso funcionou como um estímulo na produção animal em geral, neste caso concreto, resultou no aumento do efetivo de Garranos (Serôdio, 1992).

No que respeita à utilização do Garrano sob a forma de trabalho, esta volta a representar alguma importância nas pequenas explorações agrícolas da região de origem do Garrano devido às excecionais características de adaptação destes animais, bem como pelos seus reduzidos custos de manutenção.

8.1.2. A produção de carne

A produção de animais para abate é um importante complemento na criação de Garranos, destinando-se ao abate animais velhos e uma parte de jovens e adultos sem

Revisão bibliográfica

22

interesse para reprodução, esta é uma de forma de fazer melhoramento genético nesta raça, selecionando os animais deixados nos grupos para reprodutores. O número de animais destinados ao abate é de grande importância pois constitui grande parte da fonte de receita da criação de Garranos, os poldros são vendidos a intermediários que os negoceiam fora da região de criação, ficando com os melhores para recria e destinando grande parte ao abate (Serôdio, 1992).

O rendimento desta componente produtiva geralmente é baixo devido à baixa produtividade da criação, ao baixo rendimento das carcaças e ao baixo preço pago ao produtor em consequência da baixa procura deste produto em Portugal (Serôdio, 1992).

8.1.3. A utilização desportiva e turística

A utilização turística e desportiva tem algumas tradições na região de criação do Garrano sob a forma das tradicionais corridas de andadura ou passo travado que têm bastante popularidade apesar da rudimentar organização. Estas corridas realizam-se na altura das feiras e romarias um pouco por todo o norte do país. Nas várias feiras anuais destas regiões (bastante importantes para a comercialização de gado) as corridas manifestam maior afluência de participantes, apresentam um grau de organização superior e prémios aliciantes. Estas feiras são também os principais mercados de comercialização de Garranos (Couto, 2014).

Em termos turísticos, o Garrano tem uma utilização menos divulgada mas com um futuro bastante promissor, os passeios turísticos a cavalo. Estes passeios são praticados com intuitos comerciais nomeadamente no Parque Nacional da Peneda- Gerês e em algumas unidades de turismo rural, contudo não são utilizados exclusivamente equinos de raça Garrana. Esta atividade tem vindo a crescer e poderá ser a futura utilização principal do Garrano, desde que devidamente acompanhada pelos produtores e criadores com animais adequados a este objetivo (Serôdio, 1992).

Em termos de utilização desportiva o Garrano pode ser caracterizado como um animal por excelência para atrelagem e percursos equestres, contudo cada vez mais começam a ser abertas outras portas como a sua utilização em escolas de equitação, equitação terapêutica e vertentes mais desportivas como os saltos de obstáculos. Nos percursos equestres têm-se evidenciando devido à sua docilidade, temperamento calmo e facilidade de maneio, o que permite aos utilizadores menos experientes ter confiança e segurança para disfrutar do passeio.

Revisão bibliográfica

23

A constituição forte e rústica dos Garranos que lhes permitia levar cargas a dorso, puxar carros de cavalos e transportar pessoas, fez com que chegasse aos dias de hoje com excecional aptidão para a modalidade de atrelagem (Figura 11), devido à sua resistência e velocidade. Para além da atrelagem desportiva o Garrano pode também destacar-se na atrelagem de tradição (a dar os primeiros passos em Portugal) pois no Minho existem muitos solares e quintas com carros de cavalos antigos e que os podem utilizar para esta modalidade. A procura destes animais para desporto tem vindo a aumentar devido à sua participação em provas de atrelagem (Ribeiro e Lima Reis, 2011).

Figura 11-Garranos em provas de atrelagem (fonte própria)

Os Garranos destacam-se também nas corridas (de andadura e galope). Nas corridas de andadura, as suas qualidades e aptidões são conhecidas desde a antiguidade, apesar da concorrência dos trotadores que quase acabou com a participação dos Garranos. Os animais que fazem este andamento atingem preços muito elevados, pois no Minho todas as festas e romarias têm esta atração e ainda hoje estas corridas são muito disputadas originando grandes negócios com cavalos que se destaquem (Ribeiro e Lima Reis, 2011). Atualmente, apenas podem participar nestas corridas animais inscritos no LG, o que levou a um aumento do número de Garranos a participar nestas corridas, aumento para o qual também contribuíram os incentivos monetários à criação da raça (Couto, 2014).

No galope, apesar de não serem tão rápidos como os cavalos grandes, é empolgante observá-los nas disputas de corridas devido ao seu pequeno porte e à entrega incondicional (Ribeiro e Lima Reis, 2011).

Revisão bibliográfica

24

A utilização de Garranos em escolas de equitação baseia-se essencialmente na iniciação à equitação para os mais jovens. Estes animais têm-se revelado excelentes para a iniciação à equitação dos mais novos por vários fatores, a sua docilidade, a altura que facilita o maneio e dá confiança a quem inicia e o carácter de fácil aprendizagem (Couto, 2014). O Garrano pode substituir perfeitamente póneis de raça estrangeira utilizados normalmente em escolas de equitação (Serôdio, 1992).

Nos saltos de obstáculos a sua atuação ainda é muito reduzida, essencialmente pelo preconceito que existe em utilizar estes animais devido ao seu pequeno porte, no entanto demonstram habilidade para a modalidade (Ribeiro e Lima Reis, 2011), existindo animais a concorrer com bons resultados e dando provas da sua resistência, entrega e vontade de vencer (Couto, 2014).

A equitação terapêutica, que recentemente se tem difundido muito, será talvez a principal potencialidade a nível desportivo da raça Garrana. Devido à sua pequena estatura que facilita o maneio, conformação física, docilidade e resistência, estes animais estão em vantagem neste tipo de terapia perante outras raças (Couto, 2014).

Pode-se então concluir que o Garrano tem condições para figurar a par com outras raças, exprimindo o seu potencial hípico em diversas modalidades.

No documento Estudo demográfico da raça equina Garrana (páginas 44-48)

Documentos relacionados