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Estado da Raça/Perspetivas

No documento Estudo demográfico da raça equina Garrana (páginas 40-43)

I. Raça Autóctone Equina Garrana

6. Estado da Raça/Perspetivas

Em 1870, no Recenseamento Geral dos Gados, Silvestre Bernardo Lima calculou em 65000 o total nacional de equinos com altura ao garrote abaixo de 1,48 m. Em 1940 o efetivo Garrano contava cerca de 40000 equinos, distribuídos pelo Norte e Centro do país. Desde então o efetivo e a área de dispersão reduziram-se drasticamente. Para o declínio quantitativo e qualitativo da população contribuíram um conjunto de fatores, quer extrínsecos (influências humanas diretas como a mecanização da agricultura, interações com outros organismos como predadores naturais e raças exóticas, influências ambientais aleatórias, entre outras), quer intrínsecos (influências aleatórias demográficas e genéticas) (Leite, 2012).

Em 1994, Portugal viu a raça Garrana ser classificada pela União Europeia como “ameaçada” (C.E.R.E.O.P.A. - Centre d’Etudes et de Recherches pour l’Economie et l’Organistion des Productions Animales), visto a população de fêmeas reprodutoras no país de origem ser inferior a 3000 cabeças. Em 2011 o efetivo era composto por 1526 animais (Leite, 2012). Atualmente são 5395 os animais registados vivos em criadores ativos (Ruralbit, 2015).

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Considera-se que a estabilidade qualitativa e quantitativa da raça depende dos trabalhos contínuos do Livro Genealógico, dos predadores (lobo) e, essencialmente, do estabelecimento de alternativas à sua tradicional utilização (Leite, 2012).

6.1. Ameaças e Conservação

A raça Garrana, considerada “ameaçada” em 1994 pela C.E.R.E.O.P.A., vive lado a lado com o seu principal predador, o lobo (Canis lupus), contudo a sua coexistência é possível. A predação pelo lobo pode, no entanto, ser vista como um fator de seleção natural exercido sobre os Garranos, e deste modo, os Garranos que vivem em comunidade com os lobos darão origem a descendentes mais aptos. Na verdade, em grupos coesos onde a liderança do grupo é exercida pela fêmea líder, o lobo representa uma ameaça reduzida (Caetano e Ferreira, 2003).

Os Garranos não são completamente indefesos perante o lobo, os indivíduos da manada formam um círculo com as cabeças voltadas para o interior (onde estão as crias) e os membros posteriores voltados para o exterior de modo a defenderem-se. Isto porque as alcateias devoram quase todos os poldros das manadas em liberdade, contribuindo para o envelhecimento da população (Caetano e Ferreira, 2003).

No Norte de Portugal, onde estão enraizados os Garranos pela sua utilidade turística e desportiva, tem-se vindo a observar um desinteresse significativo pela capacidade de trabalho e resistência destes animais, sendo atualmente encarados como animais explorados meramente com interesse económico, essencialmente centrado na obtenção de fundos comunitários disponíveis para a proteção das raças autóctones bem como na comercialização de carne para consumo (Caetano e Ferreira, 2003).

Uma grande ameaça à conservação da raça advém dos seus criadores, que com o objetivo de aumentar o tamanho e peso dos animais fazem cruzamentos com outras raças de equinos de maior porte, tornando-os mais rentáveis na venda para carne. Por questões de identificação, selecionam positivamente a ocorrência de manchas brancas e pelagens atípicas, características indesejáveis nesta raça.

A conservação de raças locais tem grande importância por diferentes razões. Razões económicas, uma vez que estas raças adaptadas ao seu meio natural sobrevivem com forragens grosseiras que não são aproveitadas por outros animais, contribuindo desta forma para a manutenção das pastagens de montanha, são também

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capazes de sobreviver em épocas de grande penúria alimentar, suportam bem os rigores do clima e resistem em zonas agrestes devido à sua resistência física, são boas mães e com um período reprodutivo grande (Silva, 2004). Por outro lado têm importância económica uma vez que exploram nichos não convencionais e que atraem a nível turístico com a sua existência, sendo marca de uma região (Couto, 2014). Razões genéticas, pois são essenciais na manutenção de um fundo genético variável, sobre o qual o homem possa atuar através de programas de melhoramento genético, podendo eventualmente criar novas raças. E por último, por razões sociológicas, a criação de raças autóctones é de vital importância para uma economia pastoril e favorece o equilíbrio demográfico em zonas isoladas, evitando o êxodo rural, também não devem ser esquecidos fatores de caráter ético e moral (pelo direito que qualquer raça tem de existir), estético, cultural e de investigação (Couto, 2014).

6.2. Estratégias de Preservação e Melhoramento da Raça

Preservar, melhorar e divulgar, são os pilares fundamentais para a qualificação da raça Garrana. A salvaguarda do património genético e cultural nos seus ecossistemas de montanha consegue-se através de projetos de desenvolvimento rural integrado, particularmente com base em estratégias ambientais e turísticas de elevada qualidade e diferenciadoras (Brito et al., 2011).

Neste sentido, um conjunto de entidades do foro académico, científico, técnico, de administração local e regional, bem como organizações e individualidades de reconhecido mérito, entenderam promover uma candidatura do Garrano a Património Nacional, que viria a ser coordenada pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

Esta candidatura visou contribuir para a manutenção de um recurso biológico insubstituível, integrando, num conceito holístico, perspetivas produtivas, genéticas, ambientais, sociais e culturais, evitando a tendência regressiva de uma raça autóctone e reforçando o orgulho e a identidade de uma região, de um povo e de uma nação. Segundo João Costa Ferreira (antigo diretor do SNC), “A salvaguarda do património genético que a população do Garrano constitui e é mais do que um imperativo nacional e/ou comunitário, é um imperativo civilizacional.” (Brito et al., 2011).

Foram então definidas algumas estratégias de preservação e melhoramento para a raça Garrana pelas quais se regia a candidatura a Património Nacional, entre as quais: estudo e caracterização da população Garrana e sua envolvência social, ambiental, cultural, desportiva e turística; promoção e divulgação da raça, para tal,

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constituindo uma marca, um museu virtual, promovendo as “Rotas do Garrano”, internacionalizando a Rede de Equinos do “Tronco Celta” e prosseguindo com o objetivo do reconhecimento do Garrano como Património; valorização da envolvência ambiental e social do Garrano, permitindo a sua manutenção e utilização de novas perspetivas funcionais para a raça; intervenção científica para produzir e divulgar trabalhos realizados ao longo do projeto de candidatura (Brito et al., 2011).

Para além das medidas referidas anteriormente, a ACERG elaborou alguns projetos no âmbito do Programa de Apoio à Modernização Agrícola e Florestal (PAMAF), um de investigação, experimentação e demonstração (IED) – Preservação e Melhoramento da Raça Garrana, Um Plano Nacional – que, sendo o primeiro, deu origem ao início dos trabalhos visando o estudo socioeconómico, estudo genético e valorização e demonstração. Outro no Plano de Melhoramento Animal (PMA) cuja ação foi a organização e divulgação, com o objetivo principal do funcionamento do Registo Zootécnico/Livro Genealógico, possibilitando a aquisição de serviços para a sua elaboração de modo a conseguir abranger o maior número de animais com características definidas no padrão da raça e toda a região que vai desde o Alto Minho até Trás-os-Montes e alguns criadores localizados mais a sul (Silva, 2004).

No documento Estudo demográfico da raça equina Garrana (páginas 40-43)

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