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Estudo demográfico da raça equina Garrana

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Estudo demográfico da raça equina Garrana

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Ana Margarida Oliveira de Melo e Silva

Orientador: Professor Doutor António Mário Domingues Silvestre

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Estudo demográfico da raça equina Garrana

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Ana Margarida Oliveira de Melo e Silva

Orientador: Professor Doutor António Mário Domingues

Silvestre

Composição do júri:

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As doutrinas apresentadas são da exclusiva responsabilidade do autor e todos os trabalhos consultados e citados no texto constam na bibliografia incluída neste trabalho.

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I

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais Celeste Oliveira e Amadeu Melo e Silva pelo apoio ao longo de toda a minha vida académica, especialmente ao longo destes últimos cinco anos.

A toda a família por todos os incentivos e força durante esta fase final da dissertação.

À ACERG (Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana) pela disponibilidade demonstrada para a realização deste trabalho.

À Engenheira Maria Conceição Silva por todas as horas dedicadas ao meu trabalho em acompanhamento a criadores de raça Garrana, esclarecimentos e ensinamentos e, acima de tudo, motivação para a importância deste trabalho.

Ao Professor Doutor António Mário Domingues Silvestre pela orientação e pelo apoio prestado durante este último ano na elaboração desta dissertação.

A todos os professores da licenciatura e do mestrado.

À Sílvia Ferreira pela amizade e apoio incondicional demonstrados ao longo destes últimos cinco anos, por todas as partilhas e aprendizagens que ficarão para sempre marcadas. E um enorme obrigada pela força nesta fase final da dissertação.

À Raquel Rocha, Mariana Marciano Alves, Stephanie Coelho, Ana Marquez Filipe e Sofia Silva por toda a amizade, companheirismo, apoio e vivências durante os últimos anos. O constante apoio foi muito importante, especialmente nos últimos dois anos.

A todas as pessoas que foram passando pela minha vida ao longo do tempo que passei em Vila Real, e que de alguma forma afetaram a minha vida e a tornaram um pouco melhor. Muito obrigada a todos!

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III

Resumo

O Garrano é um equídeo autóctone português e é também considerado a raça equina portuguesa mais antiga. A sua baixa estatura (máximo 1,35m, e por isso considerado pónei) e a pelagem castanha são exigências para a inscrição no Livro Genealógico da raça, cuja gestão é feita pela Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (ACERG).

Neste estudo foi proposto fazer o estudo demográfico da raça equina Garrana e estimar a evolução da consanguinidade, para tal recorreu-se à base de dados do Registo Zootécnico/Livro Genealógico da raça. Utilizaram-se dados de 19141 indivíduos com data de nascimento conhecida, registados entre 1994 e 2014 pela ACERG. A análise foi efetuada pelos programas ENDOG v4.8 e JMP5.

Na genealogia da raça equina Garrana, dos 19141 animais considerados, existem 3786 sem ambos os progenitores conhecidos, 157 só com mãe conhecida, 233 só com pai conhecido e 14965 com ambos conhecidos (89,9%). O número de animais com ambos os progenitores conhecidos tem vindo a aumentar desde 1996.

O tamanho efetivo da população (Ne) corresponde ao inverso do dobro do incremento da consanguinidade. O número efetivo de animais foi variando ao longo dos anos, tendo-se atingido um máximo de 770 animais em 1996. O tamanho efetivo da raça de equinos Garrana acompanha a evolução da consanguinidade por ser uma consequência da mesma.

Houve um aumento da consanguinidade média dos animais nascidos de 1999 a 2005 e redução de 2005 a 2009, adotando a partir daí comportamento crescente. Dos animais considerados, 94,4% não são consanguíneos, sendo 5,6% consanguíneos (consanguinidade média de 18,6%). A consanguinidade média considerando todos os animais (19141) foi 1,05%.

Os valores de consanguinidade apresentados são elevados tendo em conta o tamanho da população, no entanto têm sido desenvolvidos pela ACERG programas com o objetivo de reduzir estes valores e evoluir no melhoramento genético.

Palavras-chave: Raça Garrana; equino autóctone; caracterização demográfica;

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V

Abstract

The Garrano is a Portuguese autochthonous horse breed and is also considered the oldest Portuguese horse breed. Its low height (maximum 1.35m, and therefore considered pony) and the brown coat are requirements for inclusion in the Studbook of the breed, whose management is undertaken by ACERG.

In this study the demographic study of the Garrano horse breed was proposed and estimate the evolution of inbreeding. For that was used the database of the Garrano’s Studbook. Were used data from 19141 animals with known date of birth, registered between 1994 and 2014 by ACERG. The analysis was performed by ENDOG v4.8 and JMP5 programs.

In the genealogy of the Garrano horse breed, of 19141 animals considered, there are 3786 without both parents known, only 157 known mother, only 233 known father and 14965 with both known (89.9%). The number of animals with both known parents has been increasing since 1996.

The effective population size (Ne) is the reverse double of the inbreeding increase. The actual number of animals has varied over the years, having reached a maximum of 770 animals in 1996. The effective size of the Garrano horse breed follows the inbreeding to be a consequence of it.

There was an increase in inbreeding average of animals born 1999 to 2005 and decreased from 2005 to 2009, adopting from there increasing behavior. Of animals considered, 94.4% are no inbreed animals, and 5.6% are inbreed animals (inbreeding average 18.6%). The inbreeding average considering all animals (19141) was 1.05%.

The inbreeding values given are high concerned the effective size of the population, however have been developed by ACERG programs with to reduce these values and enhancement in genetical progress.

Keywords: Garrano breed; autochthonous equine; demographic characterization;

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VII

Índice

I. Raça Autóctone Equina Garrana ... 1

1. História ... 1

2. Solar e Área de Dispersão ... 3

2.1.1. Área Geográfica ... 3 2.1.2. Condições Edafo-Climáticas ... 5 2.1.2.1. Morfologia ... 6 2.1.2.2. Hidrografia ... 6 2.1.2.3. Orografia ... 6 2.1.2.4. Clima ... 6 2.1.3. Recursos Florísticos ... 7

2.1.4. Contributo do Garrano para o Ecossistema ... 7

3. A Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (ACERG) ... 8

4. Padrão da Raça Autóctone Equina Garrana ... 10

5. Sistemas de Exploração ... 12

5.1. Sistema extensivo ou de pastoreio livre ... 12

5.2. Sistema semiextensivo ... 15

5.3. Sistema intensivo ou com estabulação ... 15

6. Estado da Raça/Perspetivas ... 16

6.1. Ameaças e Conservação ... 17

6.2. Estratégias de Preservação e Melhoramento da Raça ... 18

7. Valorização da Raça Equina Garrana ... 19

8. Caracterização Produtiva ... 20

8.1. Funcionalidades, aptidões e potencialidades ... 21

8.1.1. O trabalho ... 21

8.1.2. A produção de carne ... 21

8.1.3. A utilização desportiva e turística... 22

9. Caracterização Demográfica ... 24

10. Consanguinidade ... 26

11. Objetivo ... 30

12. Material e Métodos ... 30

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VIII

12.1.1. Parâmetros Demográficos ... 31

13. Resultados e Discussão ... 32

13.1. Estudo Demográfico ... 32

13.1.1. Evolução dos animais registados no Livro Genealógico ... 32

13.1.2. Preenchimento da Genealogia ... 33

13.1.3. Tamanho efetivo da população e consanguinidade ... 35

13.1.4. Evolução da consanguinidade ... 36

Considerações finais ... 41

(17)

IX

Índice de Figuras

Figura 1-Zona de criação (sistema extensivo), Parque Nacional da Peneda-Gerês ... 4

Figura 2 - Mapa do Solar e Área de dispersão da Raça Garrana ... 5

Figura 3- Logótipo ACERG ... 8

Figura 4-Padrão da raça Garrana ... 10

Figura 5 e 6-Manada de garranos / Animais no tronco de contenção ... 13

Figura 7-Colocação de microchip ... 14

Figura 8-Recolha de sangue ... 14

Figura 9-Colocção do número de ordem ... 14

Figura 10-Número de ordem ... 14

Figura 11-Garranos em provas de atrelagem ... 23

Figura 12 - Evolução do número de animais registados no Livro Genealógico da raça Garrana por ano de nascimento ... 33

Figura 13 - Variação do tamanho efetivo da raça de equinos Garrana por ano de nascimento ... 35

Figura 14 - Evolução da consanguinidade média por ano de nascimento ... 36

Figura 15 - Evolução do registo de animais não consanguíneos e consanguíneos por ano de nascimento ... 378

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XI

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Distribuição dos animais da base de dados de acordo com o código da raça ... 30 Tabela 2 – Percentagem de animais com ambos os progenitores conhecidos a partir do ano de nascimento 1996 ... 34 Tabela 3 - Consanguinidade média da raça equina Garrana ... 36

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XIII

Lista de Abreviaturas e Símbolos

ACERG – Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana AR – Average relatedness

CEREOPA – Centre d’Etudes et de Recherches pour l’Economie et l’Organisation des Productions Animales

F – Coeficiente de Consanguinidade fa – número efetivo de ancestrais fe – número efetivo de fundadores

IEADR – Instituto de estruturas agrárias e desenvolvimento IED – Investigação, experimentação e demonstração Kg – Quilograma

Km2 – Quilómetros quadrados

LG – Livro Genealógico m - metro

Ne – Tamanho efectivo da população em estudo

PAMAF – Programa de Apoio à Modernização Agrícola e Florestal PMA- Programa de Melhoramento Animal

RZ – Registo Zootécnico

SNC – Serviço Nacional Coudélico % - Percentagem

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Revisão bibliográfica

1

I.

Raça Autóctone Equina Garrana

1. História

De onde vieram os cavalos a que chamamos Garranos? Que segredos escondem quando nos desafiam do alto das serranias? A história da raça Garrana, uma das quatro raças de equinos autóctones de Portugal, é contada pelo homem ao cruzar-se com este nobre animal na aventura da civilização ao longo dos tempos, numa aliança de sucesso na caça e na guerra, no transporte e no trabalho, no desporto e no lazer (Portas e Mota Alves, 2011).

A evolução da civilização humana está intimamente ligada à relação homem-cavalo e atualmente o homem-cavalo é utilizado essencialmente para desporto, atividades de lazer e ainda em algumas tarefas agrícolas (Couto, 2014), atividades nas quais o Garrano era bastante utilizado.

Em termos evolutivos, D’Andrade em 1938 defende a presença da raça Garrana no nosso território desde o período Quaternário, com origem nos equinos refugiados na Península Ibérica durante a última Idade do Gelo, o que permite considera-lo uma relíquia da fauna do Paleolítico. As gravuras rupestres do Paleolítico superior (Côa, Mazouco, Franco-Cantábrico) parecem testemunhar a presença remota da raça, demonstrando o perfil reto ou côncavo, as extremidades curtas e a pelagem grossa que sugerem o Garrano dos dias de hoje, bem adaptado às regiões montanhosas, frias e húmidas do norte Peninsular e que foi sendo selecionado pelo meio natural. Esta seleção natural condicionou a sua aptidão e utilização, mantendo as suas características desde os tempos mais remotos até hoje (Leite, 2012).

Remontam aos romanos (Plínio, Marcial) as primeiras referências escritas sobre os pequenos cavalos celtas da Península. Foram descritos como Asturcones (atual Asturcon, das Astúrias), Gallaeci (atual Pura Raça Galega) e Tieldões (o Garrano). Eram considerados bons cavalos de montanha e utilizados como cavalos de tração e transporte, nas viagens e nos serviços de correio. Por ser pequeno e resistente, o Garrano terá incorporado os grupos de cavalos que os colonizadores levaram para o Novo Mundo, nomeadamente Brasil e México, onde teria dado origem ao cavalo Galiceño que exibe os mesmos traços de rusticidade e andamentos cómodos (Leite, 2012).

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Revisão bibliográfica

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O nome Garrano tem origem na palavra celta Garron ou gaélica Gearran que expressa a ideia de equino forte e resistente (Leite, et al., 2000). Segundo D’Andrade em 1938, “o comércio destes garrons ou garranos foi ativo desde os tempos pré-históricos e durante a Idade Média, desde a Irlanda e Inglaterra à Península e vice-versa”. Diz a lenda que D. Afonso Henriques terá conquistado Portugal montado num Garrano (Portas e Mota Alves, 2011).

A raça autóctone equina Garrana, para além da sua relevância a nível histórico e cultural, é um reservatório importante de variabilidade genética nacional, isto porque as raças autóctones fazem parte do património histórico e cultural nacional, um património único e inestimável (Couto, 2014).

Embora criado em liberdade, o Garrano é classificado taxonomicamente como cavalo doméstico: Espécie Equus caballus L. 1758 (Leite, 2012).

O Garrano é uma raça com origem em Portugal continental, mais concretamente nas serranias do norte do país. Talvez o facto de viver em liberdade tenha protegido esta raça de outras, libertando-a de cruzamentos que pudessem alterar para sempre o seu futuro (Portas et al., 2001).

A rusticidade e longevidade, associadas à energia, vivacidade e resistência, tornaram o Garrano a montada ideal para os almocreves no Minho durante a Idade Média e até meados do século XX. Não havia estalagem que não estivesse provida de argolas para a contenção dos Garranos. Correeiros e ferradores são ofícios que prosperaram na proximidade do Garrano, com presença habitual em feiras (semanais, quinzenais ou anuais) e festivais (Portas e Mota Alves, 2011).

A mecanização da agricultura, o aparecimento do automóvel e da motorizada contribuíram para o desinteresse por estes animais como auxiliares de lavoura tradicional. Votado ao abandono, o Garrano regressa à montanha onde faz apelo às suas raízes mais remotas. Ameaçado, sobrevive, e com a colaboração de criadores e técnicos o Estado reconhece nesta população animal criada em liberdade um valor singular e é criado o Registo Zootécnico/Livro Genealógico da Raça Garrana com o objetivo da sua preservação quantitativa e qualitativa (Portas e Mota Alves, 2011).

Ontem como hoje, o Garrano ergue-se como paradigma do cavalo que se adaptou ao meio ambiente e às necessidades do Homem, constituindo um património genético e natural único (Portas e Mota Alves, 2011). Ainda hoje podemos observar esta raça em liberdade, apesar de os exemplares serem poucos e a raça estar classificada

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Revisão bibliográfica

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como ameaçada (Portas et al., 2001) com grau de risco de extinção A pela portaria 55/2015 do Diário da República 1ª série de 27 de Novembro.

2. Solar e Área de Dispersão

“Em Portugal há Garranos em Trás-os-Montes, Minho e ao longo da costa atlântica do Douro, Beira Litoral e Estremadura, até à região de Odemira e Algarve. No centro de Portugal como na zona de Coimbra e da serra da Estrela, há grupos cruzados em que o tipo de Garrano se manifesta. Transportados pelos europeus, há núcleos de pequenos cavalos na América, nas Caraíbas, Brasil, (levados da Galiza) na serra Andina e na Argentina, onde vários tipos aparecem no núcleo Crioulo, formando o Garrano, provavelmente o substrato do grupo de perfil reto, e também os há, naturalmente no México” (D’Andrade, 1938).

De facto, em tempos idos o Garrano povoava uma extensão considerável do território nacional e além-fronteiras. Na época dos descobrimentos, partindo dos núcleos existentes na Península Ibérica, foram introduzidos cavalos no novo continente americano. Na história evolutiva de alguns cavalos de pequeno porte do México (Galiceño, Chilote) e de outros cavalos ferais da América, é referida a sua origem no Garrano (Anon, 2011).

2.1.1.

Área Geográfica

Para melhor caracterizar a área geográfica definem-se dentro da mesma duas zonas diferentes, a zona de criação e a zona de dispersão.

Define-se zona de criação como zona onde o efetivo de Garranos conserva as características mais típicas da raça e onde se encontram os maiores núcleos de criação de Garranos (Serôdio, 1992).

Atualmente, a zona de criação da raça Garrana compreende a região do Minho, situada na região Noroeste de Portugal, encontrando-se os garranos dispersos pelas províncias do Minho (concelhos de Amares, Arcos de Valdevez, Cabeceiras de Basto, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Valença, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila Nova de Cerveira e Vila Verde) e Trás-os-Montes (concelho de Montalegre), numa extensão de 1.577,13 km2. No Parque Nacional da Peneda-Gerês (Figura 1), 15 freguesias

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contribuem para o solar de dispersão da raça Garrana, num total de 696,89 km2 (96,8%

da área total do Parque) (Leite, 2012).

Figura 1-Zona de criação (sistema extensivo), Parque Nacional da Peneda-Gerês (fonte própria)

Dentro da zona de criação podemos ainda definir a existência de três núcleos de criação. Apesar dos animais presentes nestes núcleos terem características étnicas semelhantes e o mesmo sistema de criação, o sistema extensivo, encontram-se mais ou menos separados pela orografia do terreno. Um núcleo ocupa os maciços montanhosos da Peneda e Suajo e abrange os concelhos de Paredes de Coura, Arcos de Valdevez, Ponte de Lima, Monção e Ponte da Barca. Outro ocupa a Serra Amarela e Serra do Gerês, englobando os concelhos de Terras de Bouro, Amares e Vila Verde. Por último, há ainda um outro núcleo presente na região da Serra da Cabreira e Barroso e que abrange os concelhos de Vieira do Minho, Montalegre e Póvoa de Lanhoso (Serôdio, 1992).

A zona que definimos como zona de dispersão (Figura 2) estende-se por uma faixa litoral desde Viana do Castelo até aos limites do Porto, para o interior transmontano e Alto Douro, pelos concelhos de Amarante, Penafiel, Lousada, Felgueiras, Marco de Canaveses, Régua, Alijó, Murça, Sabrosa, Vila Real, Chaves, Valpaços e Mirandela. O efetivo existente nesta zona de dispersão é pouco homogéneo quanto ao tipo, em consequência de cruzamentos frequentes com outras raças para aumentar o tamanho ou melhorar outras características (Serôdio, 1992). O sistema de exploração é diferente do apresentado na zona de criação, por vezes, e consoante as instalações e terrenos

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Revisão bibliográfica

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de cada criador, estes animais encontram-se em regime estabulado, passando o dias em boxes ou baias onde são alimentados (os custos de manutenção aumentam) saindo apenas para desempenhar algumas tarefas, ou regime semiextensivo, em que os animais durante a noite estão estabulados e passam o dia em regime extensivo/pastoreio livre nos terrenos dos proprietários/criadores.

Existem também alguns criadores dispersos nas regiões centro e sul: núcleos em estabelecimentos universitários (Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa; Universidade de Évora), politécnicos (Escola Superior Agrária de Ponte de Lima), escolas profissionais (Escola Profissional Agrícola de Abrantes e Escola Profissional de Fermil de Basto) e escolas de equitação (Leite, 2012).

Figura 2 - Mapa do Solar e Área de dispersão da Raça Garrana (Ruralbit, 2015)

2.1.2.

Condições Edafo-Climáticas

As áreas por onde estão dispersos estes cavalos são de elevada e média altitude, muito acidentadas e associadas a um sem número de habitats. No verão, pela frescura que lhes proporciona, estes animais preferem o carvalhal com a sua diversidade de árvores, arbustos e plantas herbáceas que lhes servem de abrigo e

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Revisão bibliográfica

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também de alimento. Já no inverno, preferem os descampados e alimentam-se dos tojos, urzes e giestas. No outono, encontram-se em ambas as áreas, consumindo também frutos como o medronho (Portas et al., 2001).

2.1.2.1. Morfologia

A região do Minho, no noroeste de Portugal, compreende desde zonas de várzea de influência atlântica (de cotas mais baixas, até 400m), a zonas intermédias que fazem a transição das várzeas para a serra (cotas entre os 400 e 700m de altitude). Com a intervenção humana, as áreas destinadas à reflorestação são transformadas em zonas de cultivo, e também zonas de serra ou montanha com cotas acima dos 700m, nestas dominam prados naturais, zonas incultas e florestas onde se pratica a silvopastorícia (Silva, 2004).

2.1.2.2. Hidrografia

Relativamente aos recursos hídricos, a disponibilidade dos mesmos é grande, uma vez que esta região é delimitada por duas importantes bacias, a do Minho (a norte e que faz a separação da Galiza) e a do Douro (a sul). No entanto, esta região comporta ainda as bacias dos rios Cávado, Minho, Lima, Coura e Ave, bem como algumas barragens (Pisões, Venda-nova, Paradela, Salamonde, Vilarinho das Furnas, Caniçada, Ermal e Lindoso) (Silva, 2004).

2.1.2.3. Orografia

Na maior parte desta área, os solos são derivados de rochas eruptivas, essencialmente granitos. Estes solos são pouco férteis mas devido à intervenção humana, através da incorporação de matéria orgânica, arranjo dos terrenos e captação e distribuição de água, a fertilidade e produção destes terrenos aumentou (Silva, 2004).

2.1.2.4. Clima

O clima é um fator determinante para a definição da produtividade dos espaços agrícolas e para a qualidade final dos produtos.

No clima na zona de criação (Entre Douro e Minho) distinguem-se quatro subtipos climáticos: litoral oeste, fachada atlântica, marítimo de transição e diferenciado pela altitude. A latitude, a distância ao mar, a proximidade de cursos de água e a altitude

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distinguem, no Entre Douro e Minho, regiões climáticas tipificadas por: invernos moderados em toda a fachada atlântica, fresco na encosta atlântica das montanhas minhotas e, frio ou muito frio no interior, nos vales muito profundos e nas montanhas mais altas; Verões moderados junto à linha de costa, frequentemente afetada pelas nortadas e pelos nevoeiros de advecção matinais e fresco nos lugares a maior altitude das montanhas e colinas minhotas. Nalguns fundos de vale abrigados e bem expostos à radiação solar o Verão pode ser quente ou muito quente; a nebulosidade e a precipitação é persistente ao longo de todo o ano (Monteiro, 2005).

2.1.3. Recursos Florísticos

Os Garranos e o meio em que estão inseridos têm uma relação de interdependência. Devido ao reduzido valor comercial destes animais, os mesmos são sujeitos a sistemas de exploração em que os custos de produção sejam mínimos. Sendo assim, isto consegue-se essencialmente, com poucos gastos na alimentação devido ao custo simbólico dos baldios, que são o recurso que produz as unidades forrageiras mais baratas, e portanto que melhor permite o desenvolvimento deste sistema de criação (Silva, 2004).

A vegetação característica das zonas onde os Garranos pastoreiam e que são a base da sua alimentação são a urze, carqueja, tojo e giesta. Só os animais adaptados ao meio conseguem sobreviver de forma contínua no monte, fazendo um aproveitamento completo da vegetação que se produz ao longo de todo o ano e reduzindo, tanto o crescimento das espécies lenhosas como a quantidade de material morto, reduzindo o risco de combustão do coberto vegetal. Deste modo, a vegetação do monte permite a manutenção dos Garranos e estes, ao pastar e pisotear a vegetação, mantêm-na num estado rejuvenescido e produtivo, através dos rebentos que originam a sua continuação (Silva, 2004).

2.1.4. Contributo do Garrano para o Ecossistema

O pastoreio seletivo e diferencial segundo as épocas do ano origina manchas de vegetação de porte distinto, intercalando-se faixas de pasto herbáceo baixo com espécies arbustivas lenhosas. Cessando o pisoteio e corte por parte dos animais, as matas crescem continuamente (em diâmetro e altura) provocando um matagal cerrado ao fim de alguns anos. Na dieta dos Garranos que permanecem no campo, há uma alternância o longo do ano: na primavera e verão os animais estão bem alimentados e

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a sua dieta á satisfatória quantitativa e qualitativamente, já no outono e principalmente no inverno, há uma diminuição progressiva na qualidade das pastagens e o seu valor nutritivo diminui. Para estes animais, os montes que pastam são a garantia de sobrevivência da raça, e estes asseguram a conservação de um ecossistema de montanha que lhes é favorável (Silva, 2004).

O pastoreio contribui para que a floresta não seja um matagal imenso e impenetrável, reduzindo o risco de incêndio. No entanto, também deve ser controlado para que haja uma boa gestão dos recursos, aproveitando as pastagens naturais sem interferir com as zonas de floresta (Silva, 2004).

3.

A Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (ACERG)

A Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (ACERG) (Figura 3) foi fundada em 1988, como secção da Cooperativa Agrícola dos Agricultores de Vieira do Minho, por um grupo de técnicos e criadores de equinos desta raça, preocupados com a quase extinção da mesma, não reconhecida oficialmente na altura (Silva, 2004). A ACERG, em conjunto com o Serviço Nacional Coudélico (SNC), pertencente ao Ministério da Agricultura, definiu o padrão da raça Garrana que serviu de base à constituição do Registo Zootécnico e ao plano de conservação da raça. Em 1993 é então aprovado o Regulamento do Registo Zootécnico dos Equinos da Raça Garrana pelo SNC, assim como, a respetiva Direção Técnica, proposta pelo SNC e aprovada pelo Instituto de Estruturas Agrárias e Desenvolvimento Rural (IEADR), que titulava os Livros Genealógicos (Ribeiro, 2000).

Figura 3- Logótipo ACERG (ACERG, 2015)

A designação desta raça como raça autóctone foi tardia e só em janeiro de 1994 se deu início ao Registo Zootécnico e foram identificados os primeiros animais. Até então, a raça Garrana foi mantida pela vontade, costumes e carinho que determinados criadores sempre manifestaram para com estes animais, que os preferiam relativamente

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Revisão bibliográfica

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a outros animais mais bem conformados, com melhor aptidão e força de trabalho. Outro fator importante para a sua manutenção foi o isolamento das populações do norte do país, uma vez que a criação de cavalos desta raça contribuiu até aos dias de hoje para um completo equilíbrio nas serras de Portugal (Ribeiro, 2000).

A 11 de Outubro de 1995 a ACERG tornou-se uma associação autónoma com sede em Vieira do Minho, nas Casas de Serradela. Após esta data foram aprovados dois projetos, um de investigação, experimentação e demonstração (IED) e um de melhoramento animal (PMA) cuja ação foi a organização e divulgação (Portaria nº809D/94, 12 de setembro (anexo 1), revogada pela Portaria 199/98, 25 de março (anexo 2)). O principal objetivo destes planos foi a elaboração de um Registo Zootécnico de modo a abranger o maior número de animais com as características da raça de norte a sul do país (Ribeiro, 2000).

Em 1997 a ACERG criou um centro de recria na Serra da Cabreira, destinado a acolher as éguas na época próxima do parto e a proteger os poldros até à idade em que são capazes de se defenderem dos lobos, com o objetivo de preservar os garranos que vivem em liberdade na Serra da Cabreira (Ribeiro, 2000).

A ACERG tem como finalidade cobrir as necessidades dos associados e aderentes com vista ao melhoramento da raça Garrana, à sua preservação, ao Registo Zootécnico e consequente Livro Genealógico, à criação e comercialização de animais de raça Garrana e à promoção da raça no mercado interno/externo de equinos.

Assim, e no sentido de dar a conhecer a raça, a ACERG tem vindo a fomentar e apoiar a realização de concursos de modelo e andamentos e marcando presença em feiras de agricultura. A ACERG tenta ainda despertar nos criadores o gosto milenar pelas corridas de andadura (andamento que o cavalo executa balanceando-se e adiantando ao mesmo tempo os dois membros do mesmo lado, e neste caso, metendo tanto a perna que a pegada se adianta à pegada da mão, sendo simultâneas as pancadas de cada bípede lateral. Podem atingir velocidades entre 10 a 15 Km/h e percorrer distâncias diárias superiores a 60 Km (Ribeiro e Lima Reis, 2011)), organizando as mesmas, onde só concorrem animais registados no Livro Genealógico. Com estas iniciativas a associação tenta captar a confiança daqueles que se julgam há muito esquecidos nas serras do norte de Portugal (Ribeiro, 2000).

O futuro do Garrano passa pela divulgação para o meio exterior, através da informação e de provas dadas como fonte de riqueza natural e de desenvolvimento integrado. Deste modo, a ACERG tem vindo a desenvolver esforços no sentido de

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reintroduzir o Garrano no meio rural através do agroturismo e no meio urbano através da sua utilização na equitação, que pelas suas características de andamentos, docilidade e rusticidade, poderão substituir os póneis de origem estrangeira utilizados.

4. Padrão da Raça Autóctone Equina Garrana

Desde a antiguidade, descrito por vários autores, o Garrano não deve ser considerado apenas um cavalo pequeno, é um tipo equino bem caracterizado que se diferencia por caracteres somáticos cranianos e dentários, partilhados com outros póneis celtas e transmitidos a outras raças. É desde o tempo dos romanos conhecido como cavalo de sela. No Minho diz-se que o Garrano não vai à missa, esta peculiaridade é-lhe atribuída pela grande amplitude e facilidade de movimentos que em caminhos pedregosos e esburacados não o deixa tropeçar e assim torna-o um ótimo cavalo de sela em zonas de montanha e caminhos difíceis (Leite, 2012).

Segundo Ruy D’Andrade, são rijos, aturam longas jornadas e podem com muito peso. Pequenos cavalos de 1,20 m transportam cavaleiros e fardos de mais de 100 kg, sem sinal de fadiga, por longos caminhos de serra, fazendo frequentes jornadas de 50 e mais quilómetros (D’Andrade, 1938).

O padrão da raça equina autóctone Garrana (Figura 4) é definido no Livro Genealógico da Raça Garrana por: (ACERG, 2001)

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Denominação original: Tieldões

Tipo: Perfil reto, por vezes côncavo. Animais hipermétricos (peso cerca de 290Kg) e

mediolíneos, pernicurtos, mas de sólida constituição óssea.

Altura média: Medida ao garrote, com hipómetro, nos animais adultos e deve ser igual

ou inferior a 1,35m, sendo a altura recomendável 1,23m.

Pelagem: Castanha comum, por vezes escura. Eventualmente mais clara no ventre e

focinho. Presença reduzida de malhas. Topete farto. Crinas abundantes, tombando para ambos os lados. Cauda com borla de pelos encrespados na raiz.

Temperamento: Dócil, é um cavalo de fundo, resistente, sóbrio e fácil de ensinar. O

macho inteiro manifesta vivacidade, mas após o desbaste torna-se manso e tolerante no trabalho.

Andamentos: Geralmente fáceis, rápidos, de pequena amplitude, mas altos (saltados).

Nos caminhos de montanha são firmes a subir e a descer, especialmente cuidadosos com as pedras e os obstáculos. Facilmente ensinados em “andadura” e “passo travado”.

Aptidão: Sela, tiro ligeiro e carga a dorso.

Cabeça: Fina, mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo,

proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil reto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, para que a parte superior da fronte seja convexa de perfil; os olhos são redondos e expressivos. Narinas largas. Orelhas médias. As ganachas são fortes e musculosas.

Pescoço: Bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões. Garrote: Baixo e pouco destacado.

Dorso: Reto e curto. Peitoral: Amplo.

Costado: Costelas geralmente chatas e verticais.

Garupa: De ancas saídas, é forte, larga, tendente para o horizontal. Espádua: Vertical e curta.

Membros: Aprumados, curtos, mas grossos. Fortes, de quartelas direitas, vestidas de

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Exemplares pernaltas, de perfil convexo, com excesso de garra nas extremidades, pelagens estranhas ou particularidades (malhas) refletem cruzamentos com raças exóticas (Portas, 2000).

5. Sistemas de Exploração

O Garrano é um animal de baixo valor económico e, como tal, a sua criação só é viável num sistema de exploração de baixo custo. As características do sistema de criação do Garrano estão intimamente ligadas à região de criação da raça.

Estes animais podem ser encontrados em liberdade (sistema extensivo) ou estabulados (sistema intensivo). Os indivíduos etnicamente mais representativos da raça vivem socialmente, em manadas, num regime de liberdade quase total.

5.1. Sistema extensivo ou de pastoreio livre

Seguindo a caracterização utilizada na descrição da área geográfica, pode-se associar o sistema de exploração extensivo à “zona de criação”. Os animais que vivem em regime livre são assilvestrados, descendentes de outros animais que foram domesticados e posteriormente libertados, tendo readquirido, com sucesso, comportamentos sociais próprios da espécie (Caetano e Ferreira, 2003). Este sistema de exploração tem determinadas características que o definem perfeitamente.

No sistema de exploração extensivo, os Garranos são mantidos durante todo o ano em pastoreio livre, por serras, baldios, utilizando pastos naturais e arbóreos, matos e, deste modo, consomem uma grande variedade de alimentos especialmente na primavera (altura do ano em que os rebentos dos matos e as folhas das árvores são mais tenras) (Serôdio, 1992).

Os Garranos sempre pastorearam nas regiões montanhosas do Minho em eguadas que pastavam livres. Estas eguadas organizavam-se em haréns, em que um garanhão poderia ter até vinte éguas (Brito et al., 2011). Contudo, estes animais possuem proprietários que os reconhecem pelas várias marcas de identificação, desde as marcações a fogo, malhas brancas ou outras marcas postas pelo proprietário para facilitar a identificação dos animais.

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No sistrema extensivo, a reprodução é feita completamente em liberdade, e deste modo, com muito pouco controlo por parte do homem, uma vez que os animais apenas têm contacto com o homem uma vez por ano, na altura das concentrações para marcação dos poldros, que ocorre por volta do mês de outubro (quando os poldros têm seis a oito meses) (Serôdio, 1992). As referidas concentrações consistem na recolha dos animais em mangas de contenção (em vários pontos estratégicos de acordo com as zonas onde os Garranos mais permanecem) para posterior identificação. As manadas são detetadas pelos criadores (Figura 5) e outros ajudantes nos locais onde normalmente pernoitam, e são então conduzidas até às mangas de maneio que terminam num tronco de contenção (Figura 6).

Figura 5-Manada de garranos (fonte própria) Figura 6-Animais no tronco de contenção (fonte própria)

Já no tronco de contenção, os animais são identificados eletronicamente (Figura 7), com o número de ordem (Figuras 9 e 10) que lhes é atribuído para inscrição no Livro Genealógico de nascimentos e é feita recolha de sangue (Figura 8) para posterior análise de paternidade. São cortadas as crinas e são também desparasitados. É também neste processo que é feita a seleção dos animais e são separados os animais para venda (para carne ou para serem desbastados e posteriormente usados para trabalho) e que são levados para casa dos criadores para recria, dos que ficam no monte, normalmente no monte ficam mais fêmeas. Findas todas estas operações os animais são novamente libertados para o monte. Todos os anos, um elevado número de Garranos consegue escapar às concentrações, podendo passar anos sem entrar nas diversas mangas de maneio (Barcarena, 2012).

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Figura 7-Colocação de microchip (fonte própria) Figura 8-Recolha de sangue (fonte própria)

Figura 9-Colocção do número de ordem (fonte própria)

Figura 10-Número de ordem (fonte própria)

Este sistema tradicional de exploração dos Garranos talvez tenha sido a causa da preservação da raça ao longo dos tempos, uma vez que o facto de terem proprietários interessados em tirar rendimentos dos animais fez com que estes estivessem protegidos de lobos e ladrões (Barcarena, 2012).

Neste sistema de exploração não é feita suplementação alimentar nem existem abrigos artificiais, pelo que a seleção natural está sempre presente, pondo à prova a rusticidade destes animais que vem dos seus antepassados primitivos, em prejuízo do crescimento ou outras características produtivas. É de realçar a seleção que tem vindo a ser exercida pelos criadores através da escolha dos poldros que se destinam à substituição dos garanhões ou através da introdução de novos garanhões em determinadas zonas. A preferência dos criadores é no sentido de ter animais típicos da raça em vez de animais mais exóticos que possam ser mais bonitos, mas são sem dúvida menos eficazes nas suas funções de reprodutores e defensores da eguada (Serôdio, 1992).

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5.2. Sistema semiextensivo

O sistema de exploração semiextensivo aparece como sendo uma variante do sistema extensivo, em que por opção de alguns criadores, ou por necessidade de utilizar os animais em algumas atividades ou pequenos trabalhos agrícolas, se procede à recolha dos animais em “cortes” ou zonas mais abrigadas (“bouças” e “lameiros”) onde os animais podem usufruir de melhor alimento e abrigo durante o inverno. Nestes casos, os Garranos são suplementados com feno ou palha de milho, centeio, aveia ou cevada, com grão de cereal, farelo, batata, entre outras opções. Na primavera os Garranos são novamente soltos e deixados em liberdade no seu habitat natural (Serôdio, 1992).

5.3. Sistema intensivo ou com estabulação

Tal como no sistema de exploração extensivo, também podemos associar ao sistema de exploração intensivo ou com estabulação uma zona, neste caso, à “zona de dispersão”.

No sistema de exploração intensivo, os Garranos são criados completamente integrados em explorações agrícolas. Este sistema caracteriza-se por ter efetivos pequenos, geralmente utilizados em pequenos trabalhos agrícolas, para tiro ligeiro, carga a dorso ou como montada. Os Garranos são mantidos estabulados, por vezes com bovinos, que acompanham durante o dia em pastoreio, em pastagens semeadas ou lameiros. Os Garranos estabulados alimentam-se um pouco de tudo o que se produz na exploração em que se encontra, variando com a região. Normalmente alimentam-se de palha de cereais praganosos, palha de milho, fenos, farelos, batatas ou produtos hortícolas. No caso dos Garranos que se destinam a fins lúdicos, como corridas de passo travado, a alimentação é melhorada com grão de cereal, alimento composto comercial, ou ainda com as tradicionais “sopas de cavalo cansado”, feitas com grão ou broa de milho misturada com vinho e açúcar, normalmente fornecidas na véspera da corrida (Serôdio, 1992).

A estabulação tradicional deste sistema são as cortes, geralmente deficientes em condições higiossanitárias, arejamento, iluminação e drenagem (normalmente o pavimento é terra batida). A cama dos animais é acumulada permanentemente, apenas vai sendo acrescentada palha ou mato e depois a cama é retirada completamente algumas vezes por ano. A bebida é fornecida a balde ou em tanques fora do estábulo.

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Como consequência deste regime, aparecem animais com aprumos deficientes, notando-se melhores condições morfológicas nos animais que permanecem em locais abertos durante o dia (Serôdio, 1992).

Neste sistema de exploração, a reprodução é feita à mão, ou seja, como nos animais controlados. Utilizam-se garanhões variados, de diferentes proprietários, havendo sempre um pagamento em géneros ou dinheiro ao proprietário do garanhão. Devido à variedade da origem dos garanhões neste sistema, a população é bastante heterogénea. Efetuam-se frequentemente cruzamentos de Garranos com burros para obter muares, muito valorizados em algumas regiões (Serôdio, 1992).

A fertilidade e a produtividade não são muito elevadas, o que se pode justificar com a fraca alimentação durante a gestação e o aleitamento, o excesso de trabalho perinatal e as deficientes condições de higiene e maneio em geral. Excetuando algumas campanhas de vacinação obrigatória por causas endémicas, é raro os animais serem vacinados (Serôdio, 1992).

6. Estado da Raça/Perspetivas

Em 1870, no Recenseamento Geral dos Gados, Silvestre Bernardo Lima calculou em 65000 o total nacional de equinos com altura ao garrote abaixo de 1,48 m. Em 1940 o efetivo Garrano contava cerca de 40000 equinos, distribuídos pelo Norte e Centro do país. Desde então o efetivo e a área de dispersão reduziram-se drasticamente. Para o declínio quantitativo e qualitativo da população contribuíram um conjunto de fatores, quer extrínsecos (influências humanas diretas como a mecanização da agricultura, interações com outros organismos como predadores naturais e raças exóticas, influências ambientais aleatórias, entre outras), quer intrínsecos (influências aleatórias demográficas e genéticas) (Leite, 2012).

Em 1994, Portugal viu a raça Garrana ser classificada pela União Europeia como “ameaçada” (C.E.R.E.O.P.A. - Centre d’Etudes et de Recherches pour l’Economie et l’Organistion des Productions Animales), visto a população de fêmeas reprodutoras no país de origem ser inferior a 3000 cabeças. Em 2011 o efetivo era composto por 1526 animais (Leite, 2012). Atualmente são 5395 os animais registados vivos em criadores ativos (Ruralbit, 2015).

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Considera-se que a estabilidade qualitativa e quantitativa da raça depende dos trabalhos contínuos do Livro Genealógico, dos predadores (lobo) e, essencialmente, do estabelecimento de alternativas à sua tradicional utilização (Leite, 2012).

6.1. Ameaças e Conservação

A raça Garrana, considerada “ameaçada” em 1994 pela C.E.R.E.O.P.A., vive lado a lado com o seu principal predador, o lobo (Canis lupus), contudo a sua coexistência é possível. A predação pelo lobo pode, no entanto, ser vista como um fator de seleção natural exercido sobre os Garranos, e deste modo, os Garranos que vivem em comunidade com os lobos darão origem a descendentes mais aptos. Na verdade, em grupos coesos onde a liderança do grupo é exercida pela fêmea líder, o lobo representa uma ameaça reduzida (Caetano e Ferreira, 2003).

Os Garranos não são completamente indefesos perante o lobo, os indivíduos da manada formam um círculo com as cabeças voltadas para o interior (onde estão as crias) e os membros posteriores voltados para o exterior de modo a defenderem-se. Isto porque as alcateias devoram quase todos os poldros das manadas em liberdade, contribuindo para o envelhecimento da população (Caetano e Ferreira, 2003).

No Norte de Portugal, onde estão enraizados os Garranos pela sua utilidade turística e desportiva, tem-se vindo a observar um desinteresse significativo pela capacidade de trabalho e resistência destes animais, sendo atualmente encarados como animais explorados meramente com interesse económico, essencialmente centrado na obtenção de fundos comunitários disponíveis para a proteção das raças autóctones bem como na comercialização de carne para consumo (Caetano e Ferreira, 2003).

Uma grande ameaça à conservação da raça advém dos seus criadores, que com o objetivo de aumentar o tamanho e peso dos animais fazem cruzamentos com outras raças de equinos de maior porte, tornando-os mais rentáveis na venda para carne. Por questões de identificação, selecionam positivamente a ocorrência de manchas brancas e pelagens atípicas, características indesejáveis nesta raça.

A conservação de raças locais tem grande importância por diferentes razões. Razões económicas, uma vez que estas raças adaptadas ao seu meio natural sobrevivem com forragens grosseiras que não são aproveitadas por outros animais, contribuindo desta forma para a manutenção das pastagens de montanha, são também

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capazes de sobreviver em épocas de grande penúria alimentar, suportam bem os rigores do clima e resistem em zonas agrestes devido à sua resistência física, são boas mães e com um período reprodutivo grande (Silva, 2004). Por outro lado têm importância económica uma vez que exploram nichos não convencionais e que atraem a nível turístico com a sua existência, sendo marca de uma região (Couto, 2014). Razões genéticas, pois são essenciais na manutenção de um fundo genético variável, sobre o qual o homem possa atuar através de programas de melhoramento genético, podendo eventualmente criar novas raças. E por último, por razões sociológicas, a criação de raças autóctones é de vital importância para uma economia pastoril e favorece o equilíbrio demográfico em zonas isoladas, evitando o êxodo rural, também não devem ser esquecidos fatores de caráter ético e moral (pelo direito que qualquer raça tem de existir), estético, cultural e de investigação (Couto, 2014).

6.2. Estratégias de Preservação e Melhoramento da Raça

Preservar, melhorar e divulgar, são os pilares fundamentais para a qualificação da raça Garrana. A salvaguarda do património genético e cultural nos seus ecossistemas de montanha consegue-se através de projetos de desenvolvimento rural integrado, particularmente com base em estratégias ambientais e turísticas de elevada qualidade e diferenciadoras (Brito et al., 2011).

Neste sentido, um conjunto de entidades do foro académico, científico, técnico, de administração local e regional, bem como organizações e individualidades de reconhecido mérito, entenderam promover uma candidatura do Garrano a Património Nacional, que viria a ser coordenada pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

Esta candidatura visou contribuir para a manutenção de um recurso biológico insubstituível, integrando, num conceito holístico, perspetivas produtivas, genéticas, ambientais, sociais e culturais, evitando a tendência regressiva de uma raça autóctone e reforçando o orgulho e a identidade de uma região, de um povo e de uma nação. Segundo João Costa Ferreira (antigo diretor do SNC), “A salvaguarda do património genético que a população do Garrano constitui e é mais do que um imperativo nacional e/ou comunitário, é um imperativo civilizacional.” (Brito et al., 2011).

Foram então definidas algumas estratégias de preservação e melhoramento para a raça Garrana pelas quais se regia a candidatura a Património Nacional, entre as quais: estudo e caracterização da população Garrana e sua envolvência social, ambiental, cultural, desportiva e turística; promoção e divulgação da raça, para tal,

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constituindo uma marca, um museu virtual, promovendo as “Rotas do Garrano”, internacionalizando a Rede de Equinos do “Tronco Celta” e prosseguindo com o objetivo do reconhecimento do Garrano como Património; valorização da envolvência ambiental e social do Garrano, permitindo a sua manutenção e utilização de novas perspetivas funcionais para a raça; intervenção científica para produzir e divulgar trabalhos realizados ao longo do projeto de candidatura (Brito et al., 2011).

Para além das medidas referidas anteriormente, a ACERG elaborou alguns projetos no âmbito do Programa de Apoio à Modernização Agrícola e Florestal (PAMAF), um de investigação, experimentação e demonstração (IED) – Preservação e Melhoramento da Raça Garrana, Um Plano Nacional – que, sendo o primeiro, deu origem ao início dos trabalhos visando o estudo socioeconómico, estudo genético e valorização e demonstração. Outro no Plano de Melhoramento Animal (PMA) cuja ação foi a organização e divulgação, com o objetivo principal do funcionamento do Registo Zootécnico/Livro Genealógico, possibilitando a aquisição de serviços para a sua elaboração de modo a conseguir abranger o maior número de animais com características definidas no padrão da raça e toda a região que vai desde o Alto Minho até Trás-os-Montes e alguns criadores localizados mais a sul (Silva, 2004).

7. Valorização da Raça Equina Garrana

O desinteresse generalizado dos povos da Europa Ocidental para com os Garranos surgiu da sua contínua comparação com os cavalos. Ao comparar os Garranos com outras raças de cavalos, inconscientemente, pensa-se no valor material de uns e de outros, imposto geralmente por padrões estéticos e de funcionalidade. E, na verdade, o maior valor que se foi conferindo ao Garrano ao longo da história é a sua capacidade de sobrevivência em habitats isolados onde os ungulados domésticos não são capazes de sobreviver. Contudo, o verdadeiro valor dos Garranos foi-lhe concedido pelo feito de serem a única população selvagem de Equus ferus caballos existente no mundo (Barcarena, 2012).

A região de turismo do Alto Minho vem valorizando as enormes potencialidades que os Garranos têm para a economia da região, procurando implementar toda uma série de ações de promoção e divulgação do Garrano (concursos e exposições), recuperando os jogos tradicionais e corridas a cavalo, passeios a cavalo a zonas de interesse paisagístico e natural, fomentando novas modalidades com impacto no

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aumento da diversidade da animação turística local (horse-ball) e ainda a criação de centros hípicos através da recuperação de antigas casas florestais ou unidades de turismo em espaço rural (Sampaio, 2000).

A valorização da raça Garrana deve ir de encontro à demonstração e utilização das suas aptidões, funcionalidades e potencialidades, uma vez que esta será a via a partir da qual a raça conseguirá o reconhecimento merecido e necessário para ser valorizada.

8. Caracterização Produtiva

O maneio da maior parte do efetivo da raça Garrana é em regime de pastoreio livre (sistema extensivo), em que os animais pastoreiam todo o ano nos baldios e serras da sua zona de dispersão. Uma vez por ano os criadores juntam os animais por zonas para marcação dos poldros a fogo, provas morfo-funcionais dos adultos que vão entrar no Livro Genealógico (LG) ou Registo Zootécnico (RZ), retirar os animais que estão fora do padrão da raça para evitar cruzamentos indesejados, vender os animais com pouco interesse reprodutivo e fazer o controlo higio-sanitário (Leite, 2012).

A produtividade desta raça resume-se a uma parição anual com uma gestação de 11 meses (Leite, 2012). A época reprodutiva da população de Garranos ocorre preferencialmente entre março e julho e tem a duração de 3 a 7 meses, uma vez que podem ocorrer partos em agosto e setembro. Normalmente os partos ocorrem na área de maior atividade da população (Couto, 2014). Uma vez que a recria é feita num regime livre os animais estão sujeitos a vários fatores inerentes ao sistema de exploração como a predação, acidentes e condições climatéricas adversas, estes fatores impedem a obtenção de níveis produtivos elevados uma vez que mais de metade dos poldros são predados pelo lobo não chegando a atingir a idade adulta. Invernos rigorosos e secas prolongadas também são fatores de perda de produtividade, aliados ao aumento da temperatura que multiplicou o número de ectoparasitas provocando a morte de animais mais debilitados (Leite, 2012).

As fêmeas e machos que se destacam pelas suas excecionais qualidades destinam-se à recria, sendo utilizados para substituição ou aumento do efetivo. Os restantes animais são vendidos ao desmame (aproximadamente aos 6 meses) para outras explorações e, de forma cada vez mais residual, para produção de carne. Ultimamente têm tido sucesso desportivo (atrelagem, corridas, horseball, iniciação à

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equitação, etc.) e turístico (turismo de montanha e agro-turismo) (Leite, 2012), e é nestas aptidões e potencialidades que se pode basear a valorização da raça.

8.1. Funcionalidades, aptidões e potencialidades

Ao longo dos tempos, o homem tem utilizado o Garrano consoante a região de criação, deste modo, podemos analisar essa utilização sob três pontos distintos mas que se encontram interligados: o trabalho, a produção de carne e a utilização desportiva e turística.

8.1.1. O trabalho

Até à primeira metade do século XX, o Garrano foi um importante auxiliar nas atividades agrícolas, sendo utilizado como trator de alfaias agrícolas, carroças, carretas de minério e carregando a dorso as mais variadas cargas por caminhos inacessíveis onde dificilmente seria utilizado outro transporte, deste modo o Garrano prestou um serviço de valor inestimável às populações rurais do norte de Portugal. Com o desenvolvimento dos meios de transporte e com a mecanização da agricultura, a importância do Garrano diminuiu bastante, contudo, o seu emprego na agricultura nunca foi completamente desprezado pelos pequenos agricultores da sua região de origem (Serôdio, 1992).

Mais tarde, com o agravamento dos custos da mecanização agrícola, com o declive acentuado, parcelas de pequena dimensão e falta de bons caminhos rurais, a tração animal voltou a crescer. Por outro lado, o sistema de incentivos à atividade agrícola nas regiões mais desfavorecidas do interior montanhoso funcionou como um estímulo na produção animal em geral, neste caso concreto, resultou no aumento do efetivo de Garranos (Serôdio, 1992).

No que respeita à utilização do Garrano sob a forma de trabalho, esta volta a representar alguma importância nas pequenas explorações agrícolas da região de origem do Garrano devido às excecionais características de adaptação destes animais, bem como pelos seus reduzidos custos de manutenção.

8.1.2. A produção de carne

A produção de animais para abate é um importante complemento na criação de Garranos, destinando-se ao abate animais velhos e uma parte de jovens e adultos sem

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interesse para reprodução, esta é uma de forma de fazer melhoramento genético nesta raça, selecionando os animais deixados nos grupos para reprodutores. O número de animais destinados ao abate é de grande importância pois constitui grande parte da fonte de receita da criação de Garranos, os poldros são vendidos a intermediários que os negoceiam fora da região de criação, ficando com os melhores para recria e destinando grande parte ao abate (Serôdio, 1992).

O rendimento desta componente produtiva geralmente é baixo devido à baixa produtividade da criação, ao baixo rendimento das carcaças e ao baixo preço pago ao produtor em consequência da baixa procura deste produto em Portugal (Serôdio, 1992).

8.1.3. A utilização desportiva e turística

A utilização turística e desportiva tem algumas tradições na região de criação do Garrano sob a forma das tradicionais corridas de andadura ou passo travado que têm bastante popularidade apesar da rudimentar organização. Estas corridas realizam-se na altura das feiras e romarias um pouco por todo o norte do país. Nas várias feiras anuais destas regiões (bastante importantes para a comercialização de gado) as corridas manifestam maior afluência de participantes, apresentam um grau de organização superior e prémios aliciantes. Estas feiras são também os principais mercados de comercialização de Garranos (Couto, 2014).

Em termos turísticos, o Garrano tem uma utilização menos divulgada mas com um futuro bastante promissor, os passeios turísticos a cavalo. Estes passeios são praticados com intuitos comerciais nomeadamente no Parque Nacional da Peneda-Gerês e em algumas unidades de turismo rural, contudo não são utilizados exclusivamente equinos de raça Garrana. Esta atividade tem vindo a crescer e poderá ser a futura utilização principal do Garrano, desde que devidamente acompanhada pelos produtores e criadores com animais adequados a este objetivo (Serôdio, 1992).

Em termos de utilização desportiva o Garrano pode ser caracterizado como um animal por excelência para atrelagem e percursos equestres, contudo cada vez mais começam a ser abertas outras portas como a sua utilização em escolas de equitação, equitação terapêutica e vertentes mais desportivas como os saltos de obstáculos. Nos percursos equestres têm-se evidenciando devido à sua docilidade, temperamento calmo e facilidade de maneio, o que permite aos utilizadores menos experientes ter confiança e segurança para disfrutar do passeio.

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A constituição forte e rústica dos Garranos que lhes permitia levar cargas a dorso, puxar carros de cavalos e transportar pessoas, fez com que chegasse aos dias de hoje com excecional aptidão para a modalidade de atrelagem (Figura 11), devido à sua resistência e velocidade. Para além da atrelagem desportiva o Garrano pode também destacar-se na atrelagem de tradição (a dar os primeiros passos em Portugal) pois no Minho existem muitos solares e quintas com carros de cavalos antigos e que os podem utilizar para esta modalidade. A procura destes animais para desporto tem vindo a aumentar devido à sua participação em provas de atrelagem (Ribeiro e Lima Reis, 2011).

Figura 11-Garranos em provas de atrelagem (fonte própria)

Os Garranos destacam-se também nas corridas (de andadura e galope). Nas corridas de andadura, as suas qualidades e aptidões são conhecidas desde a antiguidade, apesar da concorrência dos trotadores que quase acabou com a participação dos Garranos. Os animais que fazem este andamento atingem preços muito elevados, pois no Minho todas as festas e romarias têm esta atração e ainda hoje estas corridas são muito disputadas originando grandes negócios com cavalos que se destaquem (Ribeiro e Lima Reis, 2011). Atualmente, apenas podem participar nestas corridas animais inscritos no LG, o que levou a um aumento do número de Garranos a participar nestas corridas, aumento para o qual também contribuíram os incentivos monetários à criação da raça (Couto, 2014).

No galope, apesar de não serem tão rápidos como os cavalos grandes, é empolgante observá-los nas disputas de corridas devido ao seu pequeno porte e à entrega incondicional (Ribeiro e Lima Reis, 2011).

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A utilização de Garranos em escolas de equitação baseia-se essencialmente na iniciação à equitação para os mais jovens. Estes animais têm-se revelado excelentes para a iniciação à equitação dos mais novos por vários fatores, a sua docilidade, a altura que facilita o maneio e dá confiança a quem inicia e o carácter de fácil aprendizagem (Couto, 2014). O Garrano pode substituir perfeitamente póneis de raça estrangeira utilizados normalmente em escolas de equitação (Serôdio, 1992).

Nos saltos de obstáculos a sua atuação ainda é muito reduzida, essencialmente pelo preconceito que existe em utilizar estes animais devido ao seu pequeno porte, no entanto demonstram habilidade para a modalidade (Ribeiro e Lima Reis, 2011), existindo animais a concorrer com bons resultados e dando provas da sua resistência, entrega e vontade de vencer (Couto, 2014).

A equitação terapêutica, que recentemente se tem difundido muito, será talvez a principal potencialidade a nível desportivo da raça Garrana. Devido à sua pequena estatura que facilita o maneio, conformação física, docilidade e resistência, estes animais estão em vantagem neste tipo de terapia perante outras raças (Couto, 2014).

Pode-se então concluir que o Garrano tem condições para figurar a par com outras raças, exprimindo o seu potencial hípico em diversas modalidades.

9.

Caracterização Demográfica

Nos últimos anos, têm sido publicados trabalhos com o objetivo de avaliar a caracterização demográfica e estudar a dinâmica, diversidade genética e evolução das populações de várias espécies de interesse pecuário (Vicente, 2015).

O conhecimento das características demográficas de uma população para além do conhecimento das características morfológicas e funcionais é muito importante (Vicente, 2015), uma vez que a análise demográfica de uma população permite descrever a sua estrutura, considerando-a como um grupo de indivíduos em permanente renovação, trata-se por isso, de uma metodologia importante de caracterização das populações já que descreve a sua variabilidade genética e respetiva evolução ao longo das gerações (Carolino et al., 2008). O estudo demográfico tem grande importância no que respeita a obter indicadores da estrutura dos grupos populacionais, da variabilidade genética e da dinâmica dos efetivos, a partir da informação genealógica disponível (Vicente et al., 2009). Para que se possa delinear

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corretamente uma estratégia com vista à preservação e manutenção da diversidade genética, bem como o melhoramento de uma raça ou população, é essencial a caracterização demográfica, devendo todos os programas de melhoramento serem iniciados com uma análise aprofundada da estrutura demográfica que afeta a população em estudo (Vicente, 2015). Através da análise da informação armazenada nos Livros Genealógicos das raças é possível aprofundar o conhecimento da história e estrutura genética das populações (Pacheco, 2015).

Os estudos demográficos dependem de dados como censos populacionais, estrutura etária e proporção entre sexos. Em estudos como estes é mais favorável usar métodos baseados na análise genealógica (Pacheco, 2015). A análise de genealogias é uma ferramenta fulcral para caracterizar populações (Carolino, 2006). Quando os estudos demográficos se baseiam na informação fornecida pela genealogia, existem desvantagens devido ao preenchimento incompleto da genealogia e a erros que possam ocorrer no preenchimento, no entanto, é uma ferramenta útil para o estudo estrutural de uma população, é simples de usar e mais eficiente em termos de custos (Pacheco, 2015).

Numa caracterização demográfica, o objetivo é determinar indicadores de variabilidade com base na informação genealógica disponível e identificar a dinâmica e evolução estrutural da raça em estudo (Carolino, 2006). A determinação dos diferentes parâmetros demográficos de uma população fornece informações importantes relativamente ao futuro de uma raça, no que respeita à sua conservação genética (Vicente, 2015). Alguns parâmetros demográficos que dependem da forma como é gerida a população têm grande impacto na variabilidade genética (Pacheco, 2015).

O risco de abandono é uma realidade que afeta muitas das raças autóctones portuguesas e por isso é essencial a criação de programas de conservação e melhoramento, por forma a evitar o desaparecimento de raças únicas. Em programas de conservação deverá ser assegurada a variabilidade genética intra-racial, ao mesmo tempo que se conserva a diversidade genética de um ponto de vista global (Gama et

al., 2004). A manutenção da diversidade genética intra-racial é um aspeto essencial no

âmbito da conservação dos recursos genéticos animais e de grande importância para qualquer programa de melhoramento eficaz (Carolino et al., 2008). Cabe às associações de criadores das diferentes raças desempenhar o papel fundamental de controlo sobre o LG de cada uma das raças para que se evite o aumento de consanguinidade e que se evite a perda de variabilidade genética (Vicente, 2015). O aumento da consanguinidade e a perda de variabilidade genética podem ser evitados pela

(50)

Revisão bibliográfica

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implementação de apoios que permitam a manutenção das raças, enquanto incentiva os criadores a investir nas raças autóctones (Gama et al., 2004).

A variabilidade intra-racial tem recebido menos atenção e como consequência, o aumento da consanguinidade atingiu níveis preocupantes para algumas raças por culpa de efetivos reduzidos, assim, é de grande importância manter registos da informação genealógica completa e fidedigna. Todas as raças autóctones em Portugal estão já inseridas em programas de melhoramento executados pelas associações de criadores responsáveis, sendo o principal objetivo desta ação a seleção para a eficiência produtiva, aumentando a competitividade em relação a raças não autóctones. Para além do referido, a importância das raças autóctones e a sua preservação contribuem para o desenvolvimento rural, através da fixação das populações em zonas rurais e conservação do meio ambiente onde estão inseridas, evitando o abandono de algumas áreas (Gama et al., 2004).

Para que se consiga a preservação e sustentabilidade dos recursos genéticos de qualquer raça é necessário manter um número mínimo de animais que, não só garantam a sobrevivência da raça, mas que também mantenham a sua variabilidade genética, pelo que é necessário ter em conta outros fatores para além do tamanho do núcleo reprodutor (Carolino, 2006).

Existem vários parâmetros genéticos que podem ser estudados a partir da análise dos LG das diferentes raças, no entanto, destacam-se os seguintes:

 Animais registados no LG e sua evolução;  Grau de preenchimento da genealogia;  Coeficiente de consanguinidade (F);  Número de gerações conhecidas;  Intervalo entre gerações;

 Tamanho efetivo da população em estudo (Ne);

 Número efetivo de fundadores (fe) e de ancestrais (fa);  Relação fe/fa (Pacheco, 2015).

10.

Consanguinidade

O conceito de consanguinidade tem ganho cada vez mais destaque na pecuária (Couto, 2014).

Imagem

Figura 1-Zona de criação (sistema extensivo), Parque Nacional da Peneda-Gerês (fonte própria)
Figura 2 - Mapa do Solar e Área de dispersão da Raça Garrana (Ruralbit, 2015)
Figura 3- Logótipo ACERG (ACERG, 2015)
Figura 4-Padrão da raça Garrana (ACERG, 2015)
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Referências

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