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Caracterização do polo de maior relevância epidemiológica para LT na Amazônia Legal, no período de 2007 a 2009, considerando o município de infecção

Tendo em vista a análise efetuada no item anterior, foi possível realizar a identificação do polo de LT para a realização de um exercício de sua caracterização. Os critérios foram baseados na elevada densidade de casos dentro de um circuito; pelo maior número de fluxos (representado por setas), tanto de residentes deslocando-se para outros municípios, quanto migrantes chegando ao município; e elevada média de casos no fluxo (setas mais largas).

Atendendo aos critérios acima expostos, foi identificado o polo de Paragominas. O polo pertence ao circuito da grande região de Tucuruí (circuito 4), composto por 52 municípios, distribuídos entre os estados do Pará e Maranhão. É o maior circuito da Região da Amazônia Legal em extensão (174709 km2), número de municípios (52) e também o com maior número de casos no período de 2007-2009 (5404).

O município de Paragominas foi criado em 1965 e está localizado no nordeste paraense (Fgura 17), com aproximadamente 20.000 km2 de área territorial. É formado por extensas florestas, campos, assentamentos homologados, terras indígenas e propriedades rurais cadastradas (Figura 18), sendo planejada a área urbana ainda à época de criação do município (MARTINO, 2012). O centro do município encontra-se muito próximo à região de floresta densa (Figura 19). O município possui uma posição geográfica estratégica, que confere vantagens ao escoamento da produção através da rodovia Belém-Brasília (BR-010), podendo alcançar o posto de Itaqui no Maranhão pela ferrovia de Carajás ou através da Hidrovia do Capim, o porto de Vila do Conde no Pará, além de conexões com as rodovias estaduais PA-125 e PA-256 (Prefeitura de Paragominas, s/d; SILVA, 2011).

Figura 17: Localização do município de Paragominas/PA

Fonte: Contruído a partir de dados do IBGE.

Figura 18: Assentamentos homologados, Terras indígenas e Propriedades rurais cadastradas, Paragominas, 2011

Figura 19: Vista aérea da área urbana de Paragominas

Fonte: MCI Maquetes e consultoria - http://mcipara.blogspot.com/p/cidades-do-estado-do-para.html

A seguir serão apresentadas informações que indicam importantes transformações nas características sociodemográficas e ambientais no município e no circuito:

Tabela 21: Indicadores populacionais, Paragominas e circuitos, 2000-2010

Fonte: Contruído a partir de dados do IBGE, censos de 2000 e 2010

Na Tabela 21 observa-se o crescimento populacional de 2000-2010 de Paragominas foi superior em relação ao seu circuito (Greg. de Tucuruí) e ao total de circuitos da Amazônia Legal. O crescimento populacional total, de homens e de mulheres acompanhou a tendência do circuito de Tucuruí, bem como para os demais circuitos de produção da LT na Amazônia Legal. A razão de sexos é praticamente de um homem para cada mulher para o município, acompanhando a tendência da região da Amazônia Legal como um todo. O

município apresenta a razão de 3,59 moradores de área urbana em relação à área rural. Já sua densidade populacional por área útil é menor do que em relação ao circuito de Tucuruí (5,19 e 12,20 hab./km2, respectivamente).

Segundo Santos (2011), a cidade vem recebendo significativa quantidade de pessoas em busca de oportunidades de emprego, impulsionada pela presença da mineradora VALE na cidade, que atua na extração de bauxita. Segundo Alves (2008):

Esta „mina iniciou sua fase de produção comercial em março de 2007, com capacidade de 5,4 milhões de toneladas por ano. O investimento para este nível de produção foi de US$ 352 milhões‟ com uma perspectiva de chegar à produção de „9,9 milhões de toneladas por ano, o que exigirá investimento adicional estimado de US$ 196 milhões.

Ainda pelo referido autor, esse grande investimento deve-se à demanda mundial por bauxita e alumina, que são etapas iniciais da produção do alumínio, sendo a China um dos grandes mercados consumidores.

Segundo dados do site do Ministério de Minas e Energia em 2009, o município foi responsável pela produção de 65,20% de Bauxita Metalúrgica para o estado do Pará, com 916.434.953 das 1.405.455.636 toneladas produzidas no estado (Ministério de Minas e Energia, 2010).

Segundo Pinheiro (s/d),o projeto de extração de minério explorado pela mineradora Valeencontrou grandes jazidas de bauxita e caulim (argila branca), utilizadas na fabricação de alumínio, louça, porcelana, construção civil, cerâmica, plásticos, borracha, tintas, papel e indústria farmacêutica. Segundo o autor, isto também contribuiu para o incentivo da agricultura no município, pois há nele terras propícias à agricultura de arroz, milho, feijão, mandioca, pimenta-do-reino, urucum, seringueiras, soja, algodão, café, hortaliças em geral, frutas tropicais, dentre outras, visando não deixar o município preso a uma só economia. Segundo o IBGE (2011), para o ano de 2009, Paragominas foi responsável pela produção de 14,93% de milho; 20,63% de soja, 14,63% de arroz e 17,35% de castanha de caju, no estado do Pará.

Destaca-se ainda que uma parte dos municípios de Paragominas (PA)-Tiracambú e Almeirim (PA) compõem um complexo de municípios com depósitos bauxita com características químicas de baixo teor de ferro, assim permitindo sua utilização na indústria

de refratários. Nessas cidades, foram abertas duas pequenas minas para o aproveitamento deste tipo de minério (SANTOS, 2002).

Tabela 22: Produção de carvão vegetal, madeira em tora e área desmatada, Paragominas e circuitos

Fonte: IBGE e PRODES

Além da extração de bauxita para a produção de alumínio, o município de Paragominas representa principalmente, 15,04% da produção de madeira em tora para o Circuito de Tucuruí. Apesar de ter havido um incremento de 17,56% na área desmatada entre os anos de 2000 e 2009, este aumento foi inferior se comparado ao circuito e aos demais circuitos da Amazônia Legal (Tabela 22).

O município está inserido em um dos principais polos madeireiros da Amazônia Legal, conforme Figura 20.

Figura 20: Polos de produção madeireira, 2009

Tabela 23: Produção de banana, borracha e área do estabelecimento agropecuário, Paragominas e circuitos, 2007-2009

Fonte: Contruído a partir de dados do IBGE

Em contrapartida, o município não apresenta grande importância na produção de banana e borracha (Tabela 22). Destaca-se que a quase totalidade na proporção da área de agropecuária é constituída por área maior que 500 ha., o que representa consolidação da produção agrícola em grande escala.

Já em relação aos indicadores utilizados no estudo, relativos à infraestrutura urbana, tem-se:

Tabela 24: Indicadores de infraestrutura urbana: energia elétrica, Paragominas e circuitos, 2000-2010

Fonte: Construído a partir de dados do IBGE.

Tabela 25: Indicadores de infraestrutura urbana: água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, Paragominas e circuitos, 2000-2010

As Tabelas 24 e 25 demonstram alguns indicadores de infraestrutura urbana para Paragominas, Circuito da Grade Região de Tucuruí e os circuitos da Amazônia Legal. Em relação ao incremento de domicílios, houve um expressivo aumento para o município de Paragominas (4,44), Circuito da Grande Região de Tucuruí (4,46) e dentro dos circuitos (4,16). Nstes indicadores, associados aos indicadores populacionais, percebe-se que está havendo real crescimento da região tanto em termos populacionais, quanto de ocupação do território. Apesar de quase totalidade dos domicílios de área urbana estar abastecido por energia elétrica, deve-se ressaltar que o dado do IBGE inclui “outras fontes de energia”, além da fornecida pela companhia distribuidora. Mesmo o município estando com um pouco mais de 50% de seus domicílios com abastecimento de água, deve-se destacar que, entre 2000 e 2010, houve um aumento de 65,94% no abastecimento de água. Em contrapartida, a proporção de domicílios com esgotamento (rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica) é de apenas 13,06%.

Todos estes indicadores apontam que a população e a economia crescem. Ocorrem investimentos econômicos, mesmo para o setor primário, embora sua estrutura urbana seja precária. Uma expressiva parcela da população urbana não tem acesso ao saneamento. Há um crescimento urbano e de infraestrutura instalada, mas ainda com baixa cobertura. Do ponto de vista econômico, estes indivíduos podem estar sendo atraídos para a região em busca de novas oportunidades. Ao mesmo tempo, a estrutura precária para fixação desta população no território, gera grande fluxo interno no município e de saída para municípios próximos, em busca de outras oportunidades.

Em relação aos dados da LT, realizando as análises por município de infecção, houve no município um total de 421 casos, no período de 2007 a 2009, destes, 119 (28,26%) eram migrantes. A maioria destes migrantes (34 casos) é residente de Ulianópolis, município vizinho e pertencente ao circuito. Além do fluxo Ulianópolis→Paragominas, outros 30 fluxos de diferentes municípios para o polo foram identificados, porém com menor número de casos (média de 2,77).

Analisando Paragominas como município de residência, foram identificados 402 casos de LT, destes 100 casos alóctones (24,87%). A maioria dos residentes de Paragominas se infectou em Ipixuna do Pará/PA (37 casos) e Centro Novo do

Maranhão/MA (35 casos), ambos pertencentes ao circuito. Outros 13 fluxos de saída foram identificados no município, com média de 2,15 casos alóctones.

A análise realizada por circuitos, a densidade média segundo o município de infecção para o circuito da grande região de Tucuruí foi de 10,31 casos/km2 e para o polo de Paragominas, de 7,07. A taxa de detecção foi de 110,77 e 154,52 casos/100.000 hab. para o circuito e o polo, respectivamente.

Figura 21: Kernel de densidade média de casos, mapeamento de fluxos, Grande Região de Tucuruí (PA/MA), 2007-2009

Fonte: SINAN/MS.

Figura 22: Kernel de densidade de casos, mapeamento de fluxos e mapa de pontos com média de casos autóctones, alóctones e migrantes do Polo de Paragominas/PA, 2007-2009

Fonte: SINAN/MS.

Como já foi dito, o polo de Paragominas foi identificado por ser um polo de fluxos, tanto de entrada quanto de saída de pessoas, como pode ser observado na Figura 21. O polo apresenta elevadas proporções tanto de casos alóctones, como de migrantes, com proporções de 19,89 e 22,84%, respectivamente (Gráfico 4). Observa-se, também, na Figura 22, que além de fluxos de entrada e saída no município, há casos autóctones, representados pelos pontos brancos no mapa.

Gráfico 4: Proporção de casos autóctones, alóctones e migrantes, Paragominas, 2007 a 2009.

Fonte: Construído a partir de dados do SINAN/MS

Na distribuição anual dos casos, segundo o município de infecção, observa-se que apesar da queda no número total de casos no período, o número de casos migrantes se mantém praticamente igual (Gráfico 5). Em 2007 e 2008, 23,33 e 25,85% dos casos, respectivamente, eram migrantes. Em 2009, esta proporção foi de 42,22%.

Gráfico 5: Número de casos segundo município de infecção, casos autóctones e migrantes, Paragominas/PA, 2007 a 2009

A seguir serão apresentados indicadores epidemiológicos dos casos de Paragominas, em relação ao seu circuito e aos demais circuitos da Amazônia Legal, segundo casos autóctones, alóctones e migrantes:

Tabela 26: Distribuição dos casos autóctones, migrantes e alóctones, segundo faixa etária, sexo, zona de moradia, Paragominas, região de Tucuruí, 2007-2009

Fonte: Construído a partir de dados do SINAN/MS

Na Tabela 26 destaca-se na tabela de casos autóctones que a proporção de casos em menores de 10 anos para o polo de Paragominas é bastante inferior em relação ao seu circuito e ao total de todos os outros circuitos. Já nos casos migrantes, dos 119 casos no período de 2007 a 2009, não houve registro de casos em pessoas dessa faixa de idade. A maior proporção de casos, para os três perfis, está na faixa de 21 a 50, destacando-se que a proporção no polo é maior que a do circuito ao qual é circunscrito e também a dos circuitos da região da Amazônia Legal. A proporção de casos em pessoas do sexo masculino é maior que a do sexo feminino, mas deve-se ressaltar que no perfil dos casos migrantes, quase totalidade dos casos (94%), é de homens. Para a zona de residência dos casos autóctones, destaca-se que a proporção de casos em zona urbana de Paragominas (62,58%) é significativamente superior a de seu circuito (37,74%) e aos demais da Amazônia Legal (37,49%).

Tabela 27: Distribuição dos casos autóctones, migrantes e alóctones, segundo escolaridade, 2007-2009

Fonte: Construído a partir de dados do SINAN/MS

Na Tabela 27, observa-se que a faixa de escolaridade concentra-se na faixa até sete anos de estudo, sendo maiores as proporções em nenhuma escolaridade e quatro a sete anos de estudo, o que indica que podem ser pessoas que, pela baixa escolaridade, trabalham em profissões que exigem menor qualificação. Porém, para o perfil de casos autóctones e alóctones, a proporção de casos com a escolaridade ignorada chegou a 48,4 e 63%, respectivamente, prejudicando as análises.

Tabela 28: Distribuição dos casos autóctones, migrantes e alóctones, segundo forma clínica, diagnóstico, desfecho, 2007-2009

Fonte: Construído a partir de dados do SINAN/MS

A Tabela 28 aponta que quase a totalidade dos casos, para os três grupos, foi de forma cutânea e de diagnóstico laboratorial. Mesmo com a variável desfecho tendo elevadas proporções de casos ignorados, com o mínimo 23,53% de ignorados (grupo dos migrantes), é percebido que a proporção de cura para os três perfis é bastante inferior ao do restante do circuito de Tucuruí e aos demais circuitos da região da Amazônia Legal.

Já a variável ocupação, sua análise foi inviabilizada neste estudo. A proporção de preenchimento da mesma foi inferior a 47,65% e mesmo nos que estavam preenchidos, 36,6% não correspondiam aos códigos da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). De acordo com o perfil epidemiológico (baixa proporção de em menores de 10 anos, zona de moradia majoritariamente urbana, o predomínio no sexo masculino e baixa escolaridade), possivelmente estes casos estão relacionados com o processo de trabalho, até mesmo para os casos autóctones.

Logo em Paragominas, mesmo com as limitações de um estudo utilizando dados secundários, percebe-se que os processos locais apontam para um desenvolvimento do ponto de vista econômico devido, principalmente, à sua localização geográfica que lhe confere vantagens para o escoamento da produção pela BR-010, e a inserção da companhia Vale do Rio Doce. Além do mais, altas proporções de áreas acima de 500 ha. e produções nas áreas mineral e agrícola podem ser considerados marcadores de locais atrativos de um contingente populacional, que por vezes utiliza mão de obra sazonal (algumas expondo os indivíduos ao risco de LT). Já em relação à LT, baixas proporções de casos em menores de 10 anos, elevadas para sexo masculino e, principalmente, maior proporção de casos em residentes em áreas urbanas, mesmo nos casos autóctones, reforçam a ideia de que estes casos estão relacionados a deslocamentos pendulares em busca de trabalho, atraindo pessoas de outros municípios, como também para quem reside no município, em deslocamentos intramunicipais. Em relação aos alóctones, a própria literatura aponta que as condições de vida local não apresentam condições com a fixação destas. Então, Paragominas tornou-se pelo atrator de pessoas em busca de oportunidades de trabalho devido à sua economia. Porém, suas precárias condições socioeconômicas, funcionam como fator para a não fixação desta população.

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