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Este estudo foi desenvolvido com universitários matriculados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esta é uma universidade pública, mantida por recursos do Governo Estadual. Possui três campi espalhados pelo interior do Estado de São Paulo, localizando-se o maior na cidade de Campinas e os outros situados em Limeira e Piracicaba.

A criação desta universidade, no final da década de 60, ocorreu em consonância com a política educacional do Estado, visando ao desenvolvimento de um contingente de pesquisadores e uma sólida estrutura de investigação científica e tecnológica que desencadeasse o desenvolvimento industrial da região, além de aumentar a base de consumo da população (Dias Sobrinho, 1995).

Atualmente, esta universidade possui 53 cursos de graduação no qual estão matriculados 12.476 alunos universitários. Caracteriza-se por ser uma instituição com forte

tradição em pesquisa, oferecendo 60 cursos em nível de mestrado e 51 de doutorado, buscando ao máximo unir oportunidades de ensino, pesquisa e extensão com reconhecimento nacional e internacional.14

Seus cursos de graduação têm horário de funcionamento tanto no período diurno como no noturno e encontram-se divididos em quatro grande Áreas de conhecimento: Artes, Ciências Biológicas e Profissões da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Humanas.

Os objetivos desta instituição são possibilitar aos seus alunos uma formação profissional e humanística, além de fornecer consciência crítica do país e da sociedade. Estes objetivos foram postos enfaticamente no momento de criação da universidade nas palavras do seu fundador, Zeferino Vaz:

(...) A universidade não pode dedicar-se apenas ao ensino profissional, à investigação científica e ao conhecimento da filosofia e da estética. No conjunto heterogêneo dos cursos que a compõem ela há de criar uma unidade espiritual através da cultura de orientação humanística, dirigindo a formação da personalidade de seus alunos no sentido de criar neles uma consciência nacional, assim como para enaltecimento dos valores morais que se oponham à crescente mecanização do espírito e ao utilitarismo frenético de nossos dias (Meneghel, 1994, p.149).

A proposta de integração de diversas Áreas do saber, preocupação básica de Zeferino Vaz, está representada até na própria estrutura arquitetônica circular, representação de seu logotipo.

Mesmo considerando as dificuldades na concretização dos objetivos educacionais propostos por esta instituição, ou seja, a integralização entre as Áreas do saber, a Unicamp se esforça num processo de construção e concretização de uma imagem de universidade dinâmica e jovem.

Fornece oportunidades de cursos de línguas em nove idiomas para alunos matriculados tanto nos cursos de graduação como de pós-graduação. Seu conjunto poliesportivo, situado na Faculdade de Educação Física, possibilita a prática de diversas atividades, desde jogos esportivos, até aulas de dança e escalada.

Com vistas a uma ampla formação a seus estudantes, possui acervos, galerias e museus, além de patrocinar diversas atividades culturais dentro do campus, como shows e eventos artísticos, muitas delas organizadas pelos alunos matriculados em cursos da Área de Artes, incluindo as manifestações de dança, cênicas e musicais.

Seu sistema de biblioteca é composto por uma biblioteca central além de outras 18 em faculdades e institutos distintos. Outra característica principal desta instituição é o Serviço de Apoio ao Estudante, também denominado por suas siglas de SAE. Este serviço teve início em 1975, disponibilizando bolsas de diversas naturezas para os estudantes: bolsa-trabalho, bolsa-alimentação, bolsa-emergência, além de atendimento jurídico, serviço social, orientação educacional, auxílio na busca de estágios e empregos e intercâmbio de estudantes com o exterior. É relevante destacar que no ano de 2001 foram oferecidos pelo SAE 1300 bolsas de auxílio ao estudante.

Freqüentar oficinas, palestras, seminários, participar de ações sociais são exemplo de atividades presentes na rotina do estudante, assim como desenvolver projetos de iniciação científica, participar a empresa-júnior das unidades e freqüentar monitorias. Durante o ano de 2001, houve, na instituição, 929 bolsista de iniciação científica e 350 estudantes que participaram do programa de apoio didático.

A Unicamp é uma universidade que se organiza visando ao oferecimento de ricas oportunidades acadêmicas e não acadêmicas a seus estudantes, incentivando-os a vivenciarem um ambiente universitário repleto de condições únicas de formação, tanto profissional como pessoal. Estes dados justificam a escolha da instituição enquanto locus do objeto de análise deste estudo.

Participantes

Participaram deste trabalho 16 estudantes matriculados nos cursos de graduação da Unicamp.

Devido à existência de diversos institutos, faculdades e departamentos nesta universidade, buscou-se, na seleção dos participantes, contemplar as quatro grandes Áreas de conhecimento desta instituição: Área de Artes, Ciências Biológicas e Profissões da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Humanas. Para isto, definiu-se o número de quatro estudantes para cada uma destas quatro Áreas.

Tabela 2 - Número de participantes por Área e curso freqüentado.

Cursos f

Música Violino 1

Artes Música Composição 1

Dança 1 Artes Cênicas 1 Lingüística 1 Ciências Pedagogia 1 Humanas Economia 1 Ciências Sociais 1 Ciências da Computação 2 Ciências Estatística 1 Exatas Arquitetura 1

Ciências Biológicas (Bacharelado) 1

Ciências Medicina 1

Biológicas Enfermagem 1

Ciências Biológicas (Licenciatura) 1

TOTAL 16

O interesse em buscar estudantes matriculados nas diversas Áreas de conhecimento estabelecidas pela instituição possibilitou que se realizasse a investigação com estudantes provenientes de cursos distintos ou ainda de cursos semelhantes mas com habilitações diferentes, como foi o caso dos participantes matriculados nos cursos de Ciências Biológicas (modalidades Licenciatura e Bacharelado) e Música (modalidades Composição e Violino).

É relevante ressaltar que todos os participantes eram voluntários, matriculados em cursos que funcionam no campus de Campinas e interessados em participar do estudo. A

presença de informantes que participavam do mesmo curso (Ciências da Computação) refere-se à disponibilidade dos mesmos em contribuir para este estudo.

Buscou-se, durante a seleção dos participantes, um equacionamento do período de funcionamentos do curso, totalizando dez participantes matriculados em cursos de período diurno e seis no período noturno. A tabela 3 apresenta maiores informações sobre os entrevistados.

Tabela 3 - Distribuição dos participantes por período de estudo e sexo e percentagem em relação do total de participantes.

Período Sexo

de estudo Masculino % Feminino % TOTAL

D 5 31,25 5 31,25 10

N 4 25 2 12,5 6

TOTAL 9 56,25 7 43,75 16

Segundo dados da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da

Unicamp15), no ano de 2002, do total de ingressantes, 56,4% eram do sexo masculino e

43,6% do sexo feminino. Os dados dos informantes deste estudo, ou seja, 56,25 % de homens e 43,75% de mulheres, coincidem com as informações disponíveis pela Comvest sobre a distribuição de homens e mulheres entre os estudantes.

A idade dos participantes variava entre 20 a 24 anos, sendo a média 22,31 com um desvio padrão de 1,0781. Os participantes deste estudo apresentam a faixa etária tradicional do estudantes de graduação desta instituição. Os dados dos ingressantes do ano de 2002 indicam que apenas 7,3% dos alunos têm idade superior a 23 anos.

Em função da natureza da informação desejada, foi imprescindível que o estudante, participante da pesquisa, tivesse uma vivência universitária de um período de no mínimo cinco semestres. Com este recorte, pretendeu-se interagir com universitários que já vivenciaram um tempo suficiente na graduação e tenham deparado com diversas possibilidades de realização de atividades no contexto universitário. Dos dezesseis

participantes, dez haviam concluído entre cinco e sete semestres, um participante já cursara nove semestres, os outros cinco estão na universidade há onze semestres.

Do total de participantes, três já possuíam experiências anteriores com graduação dentro da própria Unicamp. Os mesmos solicitaram reingresso ou transferência para outro curso dentro da mesma Área, sendo computados como semestres de experiência no ensino superior, tanto os semestres anteriormente cursados como os novos.

Outros três participantes tinham experiências anteriores de graduação em outras universidades. Estas experiências variaram de um semestre a dois anos de freqüência em outro curso e apenas uma estudante continua o mesmo curso iniciado na universidade anterior. Os demais mudaram tanto de curso como de Área de conhecimento, abandonando graduações na Área de Humanas e ingressando na Unicamp nos cursos relacionados à Área de Artes. Este período de experiência com graduação, por ter sido realizado em outra instituição não foi contabilizado no total de semestres freqüentados pelo estudante.

Finalmente, apenas quatro participantes cursam seu último ano de graduação. Os demais ainda permanecerão ao menos mais um ano na universidade.

Instrumentos

Realizaram-se entrevistas para a coleta dos dados necessários. Este instrumento ocupa um lugar privilegiado na pesquisa educacional, sendo uma das principais técnicas de trabalho dos estudos em ciências sociais (Lüdke e André, 1986). No decorrer da entrevista, o pesquisador pode aprofundar alguns pontos específicos, não podendo fazê-lo, por exemplo, ao utilizar um questionário impresso. As grandes vantagens na utilização da entrevista referem-se à possibilidade de obtenção imediata da informação desejada, tornando-se viável o aprofundamento de algumas temáticas, quando for pertinente (Lüdke e André, 1986).

A entrevista pressupõe um momento de interação entre o entrevistado e o pesquisador, sendo necessário o estabelecimento de um ambiente de influências recíprocas entre quem pergunta e quem responde (Lüdke e André, 1986). Logo, torna-se necessário o estabelecimento de condições favoráveis para a realização das entrevistas, por exemplo,

espaço físico adequado, garantias de sigilo, e interações positivas entre pesquisador e entrevistado.

Para o presente estudo, este instrumento mostrou-se como viável e optou-se pelo uso de entrevistas semi-estruturadas, embasadas em um roteiro16, divididos em duas etapas: 1-) Dados de identificação (sexo, idade, curso, período de estudo, experiência anterior com graduação);

2-) Dados referentes à experiência universitária, a partir da seqüência descrita abaixo: • Atividades que contribuíram para a formação;

• Identificação da natureza destas atividades (obrigatórias/não obrigatórias);

• Identificação das condições que possibilitaram a realização das atividades não obrigatórias;

• Mudanças em si mesmo(a), desde que ingressou no curso superior; • As origens destas mudanças;

• Importância atribuída às atividades obrigatórias e às atividades não obrigatórias.

Com o objetivo de verificar a adequação do instrumento aos objetivos propostos, foi realizado um estudo piloto. A questão inicial solicitava ao estudante o relato das atividades que considerara mais significativas para sua formação. Dentre as informações obtidas no estudo piloto, não houve referências às atividades obrigatórias. Isto sugeriu que a questão poderia estar direcionando o participante a só pensar nas experiências não obrigatórias, e com isto o estudante não estava refletindo sobre a totalidade de experiências presentes na sua formação. Optou-se, portanto, pela mudança na questão inicial, enfocando as atividades que contribuíram para a formação.

Os dados da entrevista foram audiogravados e integralmente transcritos. Durante a entrevista, o pesquisador também anotava pontos importantes obtidos a partir do relato do participante, os quais deveriam ser retomados nos momentos oportunos.