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RESULTADOS E DISCUSSÃO

2. A natureza das atividades não obrigatórias

2.8 Outras atividades

Durante a graduação, o estudante também desenvolveu algumas atividades que tinham um vínculo formal com a instituição mas apresentavam características particulares que não possibilitam sua classificação em nenhuma das categorias acima apresentadas.

A instituição oferece um órgão de serviços e de programas de auxílio gratuito aos alunos da universidade. Denominado de Serviço de Apoio ao Estudante e conhecido por suas siglas iniciais SAE, este órgão atua desde a concessão de bolsas de estudos à obtenção de estágios e empregos, orientação psicológica, educacional, jurídica e a viabilização de intercâmbio dos estudantes para universidades no exterior.

Dentre as diversas atividades de apoio ao estudante, enfatizou-se neste estudo a realização de psicoterapias fornecidas pelo SAE “[Terapia] ajudou bastante a uma série de

coisas. (...). Logo no começo [curso] eu fui procurar. Eu entrei no grupo. Não havia feito terapia antes” (A., Artes). A participação nos programas institucionais de apoio ao

estudante, realizando psicoterapias, remete às colocações de Bieschke e cols (1995) sobre o aumento da procura por este serviço, por razões acadêmicas ou pessoais.

A Faculdade de Educação Física oferece cursos de extensão aos alunos e funcionários, englobando tanto as atividades esportivas tradicionais: futebol, natação, voleibol, entre outros, como também algumas práticas não convencionais como danças, capoeira, escalada. Os esportes realizados durante a graduação também foram atividades destacadas por um estudante “Fiz as atividades da FEF [Faculdade de Educação Física]

Destaca-se, dos relatos individuais, que os estudantes realizaram várias atividades de natureza não obrigatória, não se restringindo apenas ao desenvolvimento de experiências curriculares obrigatórias durante sua vivência universitária. Assim, a ação destas atividades na formação dos universitários pôde ser constatada, de imediato, por sua marcante presença nos relatos, em especial se considerarmos que tais depoimentos foram realizados espontaneamente, não tendo havido menção a elas, por parte do pesquisador, como sendo objeto de interesse desta investigação.

Outro fato destacável foi que os estudantes relataram, como tendo contribuído para sua formação, várias atividades não obrigatórias, sem se restringir à participação em apenas uma atividade. Na diversidade de atividades realizadas pelos estudantes, foi possível constatar que as experiências de natureza não obrigatórias são partes integrantes das propostas curriculares, o que indica a importância dada a elas pela instituição, no processo de formação do estudante. Nas análises dos relatos, observou-se que os estudantes percebem o papel da universidade como responsável pela ocorrência destas experiências:

... isto não é obrigatório ... você faz porque você quer fazer ... porque você tem onde fazer. Claro que os recursos são precários, a gente tem que filmar, a filmadora não é daqui e a gente tem que fazer umas gambiarras, mas eu posso vir aqui e usar o estúdio. Então é um local que se eu der um jeito dá para eu fazer. É lógico que sempre pode ser melhor, mas se você quer fazer, o ambiente te proporciona uma coisa, tem muitas pessoas, tem muitas cabeças, desde professores (E., Artes).

Os estudantes constataram que dificilmente estas atividades conseguiriam ser concretizadas caso não houvesse a responsabilidade da instituição pelas mesmas, disponibilizando toda uma estrutura de apoio para que estas experiências pudessem estar acontecendo. A possibilidade de realizar as atividades não obrigatórias, como as de naturezas acadêmicas e as influências institucionais exemplificam a preocupação da universidade com novas propostas de formação, uma vez que exigiam a disponibilização de cursos de línguas, bibliotecas, Centro de memórias, laboratórios de informática, apresentações artísticas, professores, entre outros contextos.

Mais especificamente, observa-se que o conjunto de ações que possibilitam o

como também as atividades que colaboraram com uma maior convivência com os

professores, apontando a presença dos relacionamentos interpessoais no processo

educacional dos universitários. Estas informações são semelhantes às encontradas por Pachane (1998) e também confirmam dados presentes na literatura sobre a contribuição dos relacionamentos interpessoais para a formação universitária (Endo e Harpel, 1982; Terezini e cols, 1995; Terenzini, Pascarella e Blimling, 1996). A presença das relações interpessoais, enquanto experiências significativas para os estudantes, remete às colocações de Erikson (1954) citadas por Almeida e Ferreira (1999) segundo as quais, os indivíduos não crescem sem desafios e todo desafio deve ser sempre acompanhado por apoio. Provavelmente, tanto os pares como docentes desempenham um papel ímpar no apoio aos estudantes frente aos desafios apresentados pelo ensino superior. Os dados sinalizaram a importância do estudo das relações interpessoais no ensino superior como uma maneira de se compreender aspectos da formação do estudante.

As atividades de trabalho compõem outro conjunto de experiências não obrigatórias que, no presente estudo, foram apontadas como contribuindo para a formação do estudante. O trabalho, realizado tanto dentro como fora do campus, motivado pela busca de experiências profissionais ou necessidades financeiras, reafirmam achados de Pascarella e cols (1994) sobre a presença das atividades durante a graduação. Cabe à instituição pensar em atividades laborais que se aproximem da formação do estudante e, ao mesmo tempo, não prejudiquem sua formação inicial.

Por outro lado, observa-se que as experiências de liderança assim como as viagens não ocuparam um espaço amplo na formação do estudante.

Em síntese, as diversas experiências não obrigatórias realizadas pelos estudantes durante sua graduação traduzem atividades ligadas à sua Área de formação inicial e contribuem para ampliações nesta formação. É relevante ressaltar que a variedade de experiências disponibilizadas pela instituição já reflete a concretização de novas propostas de formação universitária, o que remete a uma maior compreensão sobre o papel das mesmas na graduação do estudante.