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RESULTADOS E DISCUSSÃO

3. Mudanças pessoais no universitário

3.1 Competência Interpessoal

Neste domínio, denominado competência interpessoal, estão agrupadas as categorias autopercepção, autonomia e autodirecionamento, autoconfiança e autovalorização, competência social e noção de propósito. Na sequência, cada conjunto de dados que compõem este domínio será melhor apresentado.

Autopercepção

Nos relatos dos participantes estão presentes mudanças na autopercepção, que se refere à imagem que têm de si, incluindo aspectos do seu valor, capacidade e crenças. Estes elementos compõem o autoconceito do indivíduo. Pode-se definir o autoconceito como o conjunto de atitudes que um indivíduo tem para consigo mesmo e se constitui por componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. Tem influência decisiva na maneira como cada um percebe os acontecimentos, os objetos e as outras pessoas em seu meio ambiente. Perceber-se como uma pessoa mais racional, aprendendo a pensar mais em si mesma, foi uma transformação na autopercepção, mais especificamente no conceito que tem de si mesma, que uma universitária apontou:

(...) antes eu era muito emotiva e agora eu passei a ser mais racional, não digo egoísta, é racional. Era uma pessoa mais calorosa, mas não é solidária mas eu não sabia falar não para as pessoas. Agora eu consigo ter um pouco mais de frieza, pensar um pouco mais em mim porque aqui eu sou sozinha. Eu aprendi a ser egoísta na medida certa (T., Artes).

Dentre as mudanças relacionadas ao autoconceito, um estudante enfatizou uma maior aceitação dos seus defeitos, conhecimentos dos seus limites e de suas qualidades como transformações possibilitadas pela sua participação em atividades não obrigatórias.

(...) eu percebo uma mudança muito drástica. O amadurecimento foi uma coisa. Amadurecimento seria uma maior aceitação dos meus defeitos, dos pontos críticos, interação social e também um aperfeiçoamento das minhas qualidades, uma consciência maior de que tive um ganho (G., C. Humanas).

A percepção sobre a diversidade de pensamentos presentes no contexto universitário “Você sabe que há um pensamento que a maioria tem aqui a respeito destas duas coisas

[religião e política]” contribuiu para que este estudante pensasse mais sobre suas crenças,

identificasse as divergências de pensamento e, conseqüentemente assumisse suas idéias políticas e religiosas:

E como eu penso o contrário nas duas, isto me ajudou a como vou dizer, a pensar mais sobre o que eu penso nestas duas coisas e assumir mais as duas. É uma coisa engraçada e ao contrário. Supondo que você goste do verde mas você nunca pense no verde. Aí vem alguém do seu lado que gosta tanto do azul e fica martelando azul na sua cabeça e você pensa: Puxa vida, eu tenho que ser mais verde. Afinal, eu sou verde. Aí você procure assumir mais o verde ainda que só você seja verde (A., Artes). Autonomia e autodirecionamento

Outras mudanças percebidas pelos estudantes se referem ao aprimoramento do senso de responsabilidade por sua própria vida e aprendizagem, alterações na maneira de tomar suas decisões, nas iniciativas de responsabilidade por sua própria vida e aprendizagem, e a passagem de um pensamento dependente para independente. Estas alterações são classificadas na categoria autonomia e autodirecionamento.

Uma maior liberdade e autonomia para decidir aspectos de sua própria vida, sendo suas escolhas permeadas por responsabilidade, foi uma mudança apontada por um estudante “eu sinto que tenho maior autonomia, posso decidir as coisas de forma melhor.

Pensar antes de fazer as coisas mas ao mesmo tempo ter um pouco mais de audácia para fazer as coisas” (K., C. Humanas). A percepção de que o estudante é um sujeito,

entendendo este como alguém que tenha capacidade, iniciativa e liberdade para realizar diversas ações foi uma transformação decorrente da participação em atividades não obrigatórias que se encontra destacada no trecho abaixo “A participação no Centro

Acadêmico transformou a minha visão de que eu só recebia as coisas, só ia onde as coisas estavam acontecendo. Aí fui ver que na verdade eu podia fazer as coisas acontecerem e isto mudou bastante” (T., C. Humanas).

A sensação de se ter tornado mais responsável, em especial na maneira de conduzir seu curso e seu futuro profissional também está manifestada no relato de uma estudante “Acho que fiquei um pouco mais responsável” (P., C. Biológicas). Buscar as informações necessárias para o desenvolvimento do curso, o que sinaliza as iniciativas e responsabilidades do estudante por sua própria vida, constituiu-se em alterações percebidas por um estudante:

Você fazer uma universidade pública é completamente diferente de você fazer uma universidade particular. A rotina e a vida universitária são bem diferentes. Por isto eu falo em amadurecimento (...) porque você tem que começar a correr atrás da informação, ou coisas burocráticas da universidade. (L., C. Biológicas).

Autoconfiança e autovalorização

Na descrição das mudanças pessoais observadas pelos universitários, como resultante da vivência de experiências não obrigatórias, constata-se a presença de alterações relacionadas à auto-estima, ao respeito por si mesmo e a um sentimento de segurança na realização de suas ações. Estas transformações estão classificadas na categoria autoconfiança e autovalorização.

A percepção de que algumas atividades não obrigatórias contribuíram para o desenvolvimento de um senso maior de segurança em si mesmo e foi uma mudança relatada “... ajuda você a se sentir mais seguro. Eu sou mais capaz” (L., C. Biológicas).

O sentimento de autoconfiança também foi ampliado, principalmente pelo reconhecimento e entusiasmo de professores e colegas, o que possibilitou ao estudante a realização de coisas que nunca havia imaginado ser capaz de executar, conforme destacado no excerto abaixo:

Eu não tinha noção sobre o que eu poderia fazer. Lá [Universidade

solidária] eu tive que assumir responsabilidades e eu vi que conseguiria,

que consegui me virar. Eu nunca tinha dado palestras, e o pessoal acabou encorajando (...) a equipe acabou mostrando que eu conseguia. Eu não tinha muita segurança, sozinha lá na frente, sabe, ser o foco das atenções. Aí eu vi que conseguia (P., C. Biológicas).

Competência Social

As transformações apontadas pelos estudantes nos aspectos referentes à capacidade de relacionamento com outras pessoas, mais especificamente, nas palavras de Kuh (1996, p. 66) à “capacidade de intimidade nos relacionamentos, de trabalho com outrem, trabalho

em equipe, liderança, relações sociais, auto-afirmação, flexibilidade, oratória, comunicação, paciência” encontram-se classificadas na categoria competência social.

A percepção de alterações nos relacionamentos interpessoais e o aprimoramento de algumas habilidades necessárias para o convívio social, como falar, questionar, foi enfatizada por um estudante “O estágio exigia uma certa interação com as pessoas que

trabalham lá. Tive que aprender a falar, questionar, uma série de coisas” (J., C. Exatas).

Outra transformação percebida como decorrente da participação em atividades não obrigatórias foi uma diminuição da timidez nos relacionamentos interpessoais “Hoje eu sou

menos tímido. Por exemplo, se viesse uma pessoa de fora, perguntar sobre uma entrevista eu acho que saía correndo. Era extremamente tímido. Aí fui melhorando um pouco” (L.,

Artes).

Um aprimoramento na capacidade de identificar e selecionar pessoas que tenham mais afinidades com ele “Mudanças nos relacionamentos: eu passei a identificar melhor

quem é amigo da gente quem não é, o que se pode esperar da pessoa A, B e C” (A., Artes)

e também refletir sobre o grau de intimidade possível com os outros “Aprendi também a

mais ou menos até que ponto posso deixar a pessoa A ou B saber da minha vida e das minhas coisas e até que ponto posso ter confiança nesta pessoa” (A., Artes), foram

mudanças destacadas no presente estudo.

Noção de propósito

Clareza nos objetivos de vida e consciência da atividade profissional que terá após a universidade foram mudanças apontadas pelos estudantes e que são classificadas na categoria noção de propósito.

Algumas atividades não obrigatórias contribuíram para que o estudante reafirmasse suas escolhas profissionais “Inicialmente eu tinha uma visão bem restrita da biologia. Mas

quando eu entrei eu me apaixonei, realmente me encontrei no curso” (L., C. Biológicas). A

definição de alguns objetivos e expectativas sobre a profissão constituiu-se em alterações presentes nos relatos “Aqui eu defini alguns porquês. Eu acredito que todo mundo tem que

escolher uma profissão que tenha prazer e que possa dar um retorno social e que possa ter um bom retorno de grana, suporte financeiro” (T., Artes).

O desenvolvimento da consciência sobre as atividades profissionais futuras que pretende desenvolver está enfatizado, no trecho abaixo, como uma transformação percebida:

Esta parte toda que eu estava falando, foi aí que eu até pretendo estar trabalhando com coisas relacionadas a esta área. Então surgiu o que pretendo fazer, surgiu daí. Um certo amadurecimento, de pensar algumas coisas a sério e de me propor a fazer coisas que vão ter um real impacto dentro da sociedade, comecei a ver uma possibilidade de trabalhar (T., C. Humanas).