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4. Estudo de caso: Ilha de Santa Maria – Açores

4.2 Caraterísticas Naturais da Insularidade dos Açores

Os Açores têm grande potencial de crescimento, no entanto, para que o DS seja assegurado, há necessidade de promover o envolvimento dos diversos agentes da sociedade açoriana, numa dimensão de sustentabilidade, que englobe a sociedade, o ambiente, a economia, as suas instituições, com acesso aos recursos e serviços, analisando o presente e perspetivando o futuro.

Desde a década 70 que a convenção de Ramsar, sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional, e a declaração de Estocolmo da Conferência das Nações Unidas, sobre a proteção de exemplos representativos da maioria dos ecossistemas existentes são referências fundamentais para os programas nacionais de conservação. De igual modo a Convenção Comércio e Detenção de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES)16, que define os mecanismos para regular a comercialização de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção, e a Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais (Convenção de Berna), têm como objetivo conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais (Portal do Governo dos Açores, 2015).

O Governo Regional dos Açores (GOV) acolheu as estratégias nesta área, estabelecendo inicialmente 15 Zonas de Proteção Especial (ZPE). Foram criadas duas diretivas, “Aves” e “Habitats”, sendo respetivamente a primeira destinada à conservação e gestão das populações de aves, e dos respetivos habitats, e a segunda direcionada à preservação dos habitats naturais, da flora e fauna vulneráveis. Ambas as diretivas visam

16Convenção CITES ou Convenção de Washington Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, concluída em Washington a 3 de março de 1973, Emendada em Bona a 22 junho de 1979, Ratificada pelo Decreto 50\80 de 23 junho Fonte: Decreto legislativo regional 15\2012\A Alínea x) do artigo 3.o Diário da República 1.a serie n.o 66 de 2 abril de 2012

44 proteger o estado de vivência selvagem das espécies terrestres e marinhas. Nos Açores foram identificadas 23 Zonas Especiais de Conservação (ZEC) e 2 Sítios de Interesse Comunitário (SIC). Estas zonas fazem parte da rede europeia de áreas ecológicas protegidas, denominada “Rede Natura 2000”, constituída por um conjunto de sítios com interesse ecológico, coerente e global no espaço da União Europeia (Portal do Governo dos Açores, 2015).

A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica, cujo objetivo é a conservação da diversidade biológica e ecológica dos Estados Membros da Comunidade Europeia, atendendo às exigências económicas, sociais e culturais das diferentes regiões que a constituem (Portal do Governo dos Açores, 2015). Como resultado da implementação da Rede Natura 2000, foi adotada uma Rede Regional de Áreas Protegidas. Esta Rede Regional veio colmatar um modelo assente em critérios de gestão que uniformizem a diversidade de designações das áreas classificadas como protegidas e concentrar as competências numa unidade territorial de ilha enquanto unidade base de gestão, o que justificou uma reformulação do regime jurídico da classificação, gestão e administração das Áreas Protegidas da Região (Lima, 2007). Apesar de não ter sido plenamente atingida a meta para 2010, alcançaram-se alguns resultados positivos e alguns sucessos, como o estabelecimento da maior rede mundial de áreas protegidas Natura 2000 (UE, 2011). Embora a classificação das áreas protegidas tenha sido a medida mais eficaz e ampla para a conservação da natureza e dos recursos naturais, ao longo da última década, o trabalho realizado por especialistas de uma grande variedade disciplinar, que vai da antropologia à história, arqueologia, ecologia e economia, levaram a uma compreensão muito mais sofisticada sobre a relação entre as pessoas e a natureza .

A Rede Regional de Áreas Protegidas da Região Autónoma dos Açores concretiza, na Região, a classificação adotada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) adaptando-a às particularidades geográficas, ambientais, culturais e político-administrativas do território do arquipélago dos Açores. Nesta rede estão contempladas as seguintes categorias (Portal do Governo dos Açores, 2015):

a) Reserva natural (Categoria I - IUCN); b) Monumento natural (Categoria III - IUCN);

c) Área protegida para a gestão de habitats ou espécies (Categoria IV – IUCN); d) Área de paisagem protegida (Categoria V - IUCN);

45 Apostar na conservação da diversidade genética e especifica de ambientes terrestres ou aquáticos em comunidades locais, tradicionais, ou outras populações naturais, detentoras de grande diversidade de recursos, realiza deste modo a procurada revitalização e reprodução das espécies permitindo desenvolver os seus processos evolutivos, na proteção e na manutenção da vida silvestre. Emerge a necessidade de criar condições para a conservação de espécies silvestres, vegetais e animais, de maneira a garantir maior segurança na conservação de espécies com sementes recalcitrantes, e dos polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais. Para que as políticas implementadas possam alcançar os resultados pretendidos, é fundamental gerar a mudança de comportamentos e desenvolver a natural e desejada responsabilidade ambiental (UE, 2012)17.

A inexistência de estratégias de conservação devidamente implementadas e integradoras de todos os valores da biodiversidade poderá levar a perdas irreversíveis do nosso património natural, da nossa identidade cultural e da potencialidade económica. Desta forma devemos acatar os planos estratégicos quer de âmbito Mundial quer Nacional e implementá-los localmente, de acordo com as características dos ecossistemas e

habitats de cada população existente e as estruturas biofísicas dos territórios que permitem assegurar a continuidade dos processos ecológicos entre as áreas nucleares e os seus territórios ultraperiféricos.

A dimensão geográfica económica, o isolamento, as condições geográficas e climatéricas dos espaços ultraperiféricos limitam, segundo o Centro de Recursos das Regiões Ultraperiféricas da União Europeia (CRUP), o desenvolvimento endógeno dos diferentes setores. É necessária uma preocupação com os recursos naturais e a sua renovação para que sejam recolocados na natureza ou se regenerarem através de processos naturais, a uma taxa equivalente ou maior do que aquela a que o consumo humano destas fontes é feito, encaminhando-nos para um DS e para a sustentabilidade dos recursos (Portal do Governo dos Açores, 2015).

No que se refere a espécies e habitats a Região Autónoma dos Açores (RAA), e considerando as condições climatéricas, geográficas e geológicas específicas, a Região apresenta uma grande variedade de biótopos, ecossistemas e paisagens que propiciam um elevado número de habitats e uma interessante diversidade de espécies, algumas delas endémicas (Borges et al., 2005).

17UE, 2011, Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020, (COM(2011)244), disponível em:

http://ec.europa.eu/environment/pubs/pdf/factsheets/biodiversity_2020/2020%20Biodiversity%20Factsheet_PT.pdf.

UE, 2012, 7º Programa de Ação em Matéria Ambiental: Viver bem, dentro das limitações do nosso planeta, COM(2012)710final- 20120337(COD), disponível em: http://ec.europa.eu/environment/news/efe/pdf/efe49/EFE-PT-49-130328.pdf

46 Atualmente o número total de espécies e subespécies terrestres está estimado em 6164, das quais, 452 são endémicas. Os animais são os mais diversos em endemismos, compreendendo cerca de 73% dos endemismos terrestres dos Açores. As plantas vasculares contam com 73 endemismos, os Fungi (e associações simbióticas incluindo os líquenes) com 34, e tanto as diatomáceas dulçaquícolas, como os briófitos incluem 7 espécies endémicas (Borges et al., 2005), algumas identificadas na tabela 3.

Tabela 3 – Lista de endémicas dos Açores

(Fonte: Portal biodiversidade Universidade dos Açores (Uac) e Martins et al, 2012).

A gestão sustentável dos recursos naturais implica a consideração de um conjunto complexo de aspetos sociais e económicos, sendo fundamental aferir padrões alternativos de utilização sustentável dos recursos e os respetivos resultados (Prazeres, 2012). Os Açores, pelas suas caraterísticas biogeográficas específicas, ecológicas únicas e pelo frágil equilíbrio que apresentam, tornam mais premente a necessidade de políticas e estratégias de conservação. Segundo Calado et al., (2014), estas devem estimular e coordenar, de acordo com as diretivas do Governo, as atividades relacionadas com a preservação e melhoria do meio natural, de proteção e valorização dos recursos naturais. Contudo, a conservação dos recursos naturais implica uma coordenação conjunta com o planeamento da criação do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão territorial,

Nome Comum Nome Cientifico Origem Ilhas onde existem S/nome comum Rostaria azorica

S.Hend

Endémica dos Açores Santa Maria

Sargoso bravo Festuca arundinacea Endémica dos Açores Santa Maria e São Miguel

s/ nome comum Euphorbia stygiana H.C.Watson. H.Schaefer

Endémica dos Açores Santa Maria

Salsa-burra Daucus carota L.ssp.azoricus Franco

Endémica dos Açores Todas

Polipódio Polypodium azoricum (Vas.)R. Fern

Endémica dos Açores Todas

S/nome comum Scabiosa nitens Roem & Schut.

Endémica dos Açores Todas exceto Graciosa s/ nome comum Spergularia azorica

(Kindb.) Lebel

Endémica dos Açores Todas

s/ nome comum Tolpis Azorica Endémica dos Açores Todas exceto a Graciosa Cabeceira, Figueiró, Figueira-brava, Malvaísco, Malvão-da rocha Pericallis malviflora (L’Hér) B.Nord. ssp. malviflora

Endémica dos Açores Todas exceto a Graciosa e Corvo

s/ nome comum Lotus azoricus P. W.Ball

Endémica dos Açores Todas exceto a Graciosa e Corvo, Terceira e Faial s/ nome comum Asplenium azoricum

(Milde)Lovis

Todas

s/ nome comum Aichrysor Villossum Nativa dos Açores Santa Maria s/ nome comum Tolpis Succulenta

(Dryand) Lowe

Endémica dos Açores e Madeira

47 desenvolvida na Lei de Bases de Ordenamento do Território e Urbanismos que define “o

quadro legal onde, no espaço nacional e regional, o sistema de planeamento e gestão territorial se desenvolve, com destaque para o quadro das políticas respetivas e dos instrumentos de gestão territorial que as concretizam” (Monteiro et al., 2008). O litoral

dos Açores estende-se ao longo de cerca de 900 km, o que relacionado com as condições fisiográficas e climáticas das próprias ilhas, permite compreender a importância para o arquipélago de políticas de gestão integrada para esse espaço de interface entre a terra e o mar (Monteiro et al., 2008).