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4. Estudo de caso: Ilha de Santa Maria – Açores

5.5 Discussão sobre a perceção dos Marienses sobre o DS e gestão dos recursos

5.5.1. Conceito de DS

Alguns dos objetivos do estudo efetuado foram aferir a perceção da população Mariense sobre diferentes conceitos relacionados com a gestão dos recursos naturais. Avaliaram-se os conhecimentos e práticas sobre sustentabilidade num contexto de ilhas pequenas, estabelecendo-se uma relação entre o nível de conhecimento e a perceção e identificaram-se lacunas, objetivando uma proposta orientadora, de integração de estratégias para sustentabilidade da Ilha de Santa Maria (SMA).

Contudo, para se criar uma estratégia, importa conhecer o grau de perceção desta população quanto à matéria em análise, e não podemos objetivar um DS se não conhecemos os pilares sobre os quais ele assenta. Ao efetuar uma análise às respostas recebidas dos inquiridos, aferimos que o conhecimento dos grupos em análise é “Insuficiente”. Embora não tenhamos a representatividade necessária da amostra para extrapolar para a população Mariense, julgamos que estes dados não vão ser muito diferentes, uma vez que não há grandes diferenças entre os três grupos de Marienses em análise.

Figura 102 - Perceção das 3 amostras sobre o conceito DS.

Necess idades Recurs os Geraçã o futura Desenv olvime nto social Desenv olvime nto econo mico Realiza ção human a Realiza ção cultura l Susten tibilida de Preser vação Ambie nte Total escola 28,571 14,286 64,286 35,714 28,571 35,714 ,000 28,571 ,000 35,714 Total idosos ,000 26,667 13,333 26,667 36,667 13,333 ,000 20,000 6,667 30,000 Total workshop 7,692 57,692 30,769 30,769 36,538 1,923 3,846 21,154 30,769 32,692 ,000 10,000 20,000 30,000 40,000 50,000 60,000 70,000 %

162 Dos resultados há a registar que apenas duas categorias são reconhecidas acima dos 50% e em amostras diferentes: o grupo do workshop associa os “recursos” ao DS, e 64,2% dos jovens identificam o indicador “gerações futuras”. Indicadores como “desenvolvimento, social, económico e realização humana”, foram identificados entre os 35,7% e 36,6% das amostras. Enquanto que a população sénior e do workshop associa o conceito ao “desenvolvimento económico”, os jovens relacionam esse conceito com o “desenvolvimento social e a realização humana”, indicador este que na amostra do

workshop é apenas identificado por 1,9% da amostra (Figura 102).

No que respeita à categoria “necessidades”, que no geral é normalmente associada ao DS, verifica-se que a população sénior não o identifica e que no público do workshop a identificação fica abaixo dos 10%. No entanto, na amostra dos jovens essa percentagem é de cerca de 28,5%. Embora seja uma percentagem mínima, esta é a amostra que identifica mais esta categoria. A categoria “ambiente”, considerada um indicador óbvio para o DS, registou uma identificação por parte das três amostras. Todavia esta percentagem variou entre os 30% e os 35,7% da amostra, sendo que metade não reconhece o ambiente como um indicador para o DS. A categoria “realização cultural”, praticamente não é referenciada por nenhuma das amostras, com apenas 3,8% na amostra do workshop.

Figura 103 - Perceção do global do conceito DS.

Quando se analisam os indicadores em termos de percentagem global de amostras, contata-se que nenhum indicador é referenciado acima dos 50% (Figura 103).

Dos resultados gerais, podemos concluir que não há perceção do conceito de DS. Embora todos os indicadores tenham sido identificados pelo menos por uma das amostras, os resultados assinalam que estes estão inseridos nas perceções da população, sendo

8,333 41,667 30,208 30,20835,417 10,417 2,083 21,875 18,750 32,292

163 todavia considerados “Insuficientes”, atendendo a que um conhecimento satisfatório, obriga a um reconhecimento de pelo menos metade dos indicadores, neste caso 5 indicadores.

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Figura 104 - Modelo para o DS para a ilha SMA, da autoria da investigadora

O DS da Ilha de Santa Maria vai para além do equilíbrio ecológico, social e económico (modelo da Figura 104), deve ter em conta a conjuntura política, os aspetos culturais, nunca descurando a satisfação das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades. Todavia, vivemos num paradigma do ecologicamente predatório relativamente à utilização dos recursos naturais. Tem que se encarar como um desafio a necessidade de procurar alternativas para que os recursos naturais não se esgotem, para o que se torna necessário entender o conceito e a realidade em que vivemos. O mundo industrializado consome em excesso, porque compreende o desenvolvimento principalmente em termos de consumo de materiais (Baker, 2006). Deste modo é imperioso orientar a população para uma estratégia de sustentabilidade e, segundo Costa

Sustentável Viável Equitativo Suportável

Ecológico

Social

Económico

Promover o emprego.

Criar novos mercados relacionados com a natureza.

Formar a população para novos desafios com a natureza e sua sustentabilidade

Criar incentivos a população local para investidores nesta área

Abrir a novos mercados, que valorizem os recursos endógenos. Apontar para a diferenciação de negócio pelas singularidades da ilha.

Vender os fosseis como complemento da praia e sol. Potenciar a natureza como desenvolvimento económico. Exemplo. Trilhos, BTT, mergulho, etc.

Apostar na imagem dos fosseis, na sua visitação contemplação. Promover os trilhos como RN únicos.

Promover as Baías, pelas suas culturas e paisagem. Aumento da monitorização, fiscalização e vigilância dos RN’s e da biodiversidade Mariense

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et al., (2006),45 o primeiro passo é o conhecimento da situação que configura o ponto de partida, procurando identificar os problemas, os constrangimentos e as oportunidades que fundamentarão as linhas de atuação a prosseguir para a construção do desafio na RAA e, neste caso específico, da Ilha de Santa Maria.

Embora exista uma panóplia de legislação que orienta as políticas de ambiente, visando a efetivação dos direitos ambientais, da promoção do desenvolvimento sustentável, suportada na gestão adequada do ambiente, em particular dos ecossistemas e dos recursos naturais (Lei nº 19/2014) - a população tem que estar desperta para a conciliação entre desenvolvimento, preservação, ambiente e melhoria da qualidade de vida.

É necessário implementar uma exploração não predatória dos recursos não renováveis e um novo conceito de desenvolvimento que transcenda o crescimento económico e que envolva governo, empresários e toda a comunidade. Há que promover a EA em todos os níveis e uma consciencialização pública para a preservação do ambiente, assegurando a satisfação das necessidades das gerações futuras.