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Caraterização da UCCP

No documento AA Relatório de Estágio (páginas 34-38)

3. ESTÁGIOS EFETUADOS

3.1. Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos

3.1.2. Caraterização da UCCP

A UCCP tem por missão dar resposta a pessoas com necessidades de Cuidados Continuados e Cuidados Paliativos. É sobre esta última área que incide a atenção e o foco deste estudo, pretendendo esta área da unidade dar apoio a “pessoas com doença crónica grave, avançada e incurável, bem como à sua família, proporcionando-lhes cuidados de saúde individualizados e humanizados, promotores de qualidade de vida e dignidade”, como consta no Guia de Acolhimento, sob a diretriz “tratar do doente, cuidar da pessoa: a excelência como missão”.

Os recursos existentes permitem dar resposta a cerca de 40 pessoas no âmbito de Cuidados Continuados ou Paliativos, em quartos singulares ou duplos. A estrutura física apresenta boas condições em questões de recursos materiais. Quanto aos recursos Humanos apresenta uma equipa multidisciplinar (como a abordagem de Cuidados Paliativos prevê), constituída por médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica, psicólogo, e com a colaboração de outras especialidades médicas ou de outro foro como a fisioterapia ou outros terapeutas. Verificou-se a efetividade da formação básica, pós graduada e de outras, nos vários elementos da equipa, nomeadamente nos médicos e enfermeiros, mas também alguma formação junto dos voluntários e do assistente espiritual que assiste a unidade, sendo visível a participação formal dos médicos e enfermeiros na formação de outros profissionais de saúde.

As pessoas recorrem a este serviço, por envio de outras especialidades, do hospital ou externos a este, por meio dos profissionais de saúde, ou por iniciativa própria das pessoas/famílias num primeiro momento ou após um contacto prévio com o serviço, existindo vários casos de reinternamento.

As principais razões de internamento prendem-se com o agravamento da situação de saúde da pessoa, requerendo o controlo e a estabilização sintomática, ou pela exaustão dos cuidadores. O horário das visitas ocorre por períodos alargados de 12 ou 10 horas, sendo possível mediante programação e as características físicas dos quartos a permanência destes durante o período da noite.

A saída/alta efetua-se por distintas causas, que vão desde o falecimento, o controlo sintomático ou o reequilíbrio dos cuidadores e consequente regresso ao domicílio, ou pela transferência para outras instituições, como lares ou para a Rede Nacional de Cuidados

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A utilização do Humor pelos Enfermeiros com a Pessoa com Doença Hemato-Oncológica

Continuados Integrados (RNCCI), com a qual o Hospital não tem um acordo ou protocolos pré-definidos. Ainda que as diversas hipóteses existentes sejam abordadas junto das pessoas, familiares ou cuidadores, cabe a estes o contacto com outros locais e a mobilização dos recursos disponíveis. Esta instituição não dispõe de serviço de Assistência Social, ainda que no período de contacto com este campo, se encontrasse uma estagiária da área na Unidade, o que permitiu uma aparente agilização de alguns recursos, como o encaminhamento para outras formas de suporte, quer domiciliárias, quer institucionais.

Do observado no local, a equipa interage entre si de forma multidisciplinar no quotidiano, com uma transparente troca de informação interprofissional, que se reflete na comunicação com as pessoas/famílias/cuidadores, existindo de forma consensual entre a equipa a programação atempada e individualizada, da estratégia a definir e a utilizar com as pessoas e familiares, perante cada caso.

Os registos efetuados informáticamente, ainda que com características específicas e reservados a cada profissional de saúde, são partilhados e visualizados por vários profissionais (enfermeiros, médicos e psicólogo), permitindo a observação e a troca facilitada de informações de distintas origens acerca da situação das pessoas. Os registos de enfermagem encontram-se sub-divididos em diversas áreas, pretendendo abranger de forma organizada a totalidade dos sistemas que constituem a pessoa. São abordados a respiração, a circulação/temperatura, a nutrição/digestão, o volume de líquidos, a eliminação, os tegumentos, a atividade motora, a sensação/repouso, a avaliação da pessoa, a reprodução/outras observações. Para cada pessoa é registada uma informação de base, impressa em suporte de papel que acompanha a transmissão de dados entre os vários enfermeiros, atualizada diáriamente e na qual se salientam atividades ou intervenções a desenvolver, chamadas de atenção para os profissionais, alterações recentes, entre outros. Neste registo em papel encontra-se exposta a informação pessoal básica, os antecedentes, o diagnóstico, o motivo de internamento, uma avaliação sumária da pessoa, o respeitante ao resultado das conferências familiares (com a pessoa ou família com o médico, enfermeiro ou psicólogo), o plano traçado para esta pessoa/família, a apreciação no que toca à respiração, circulação/temperatura, nutrição/digestão, sensação/reparação, eliminação, tegumentos/volume de líquidos, atividade motora, e ainda observações sobre exames/terapias e outros (Anexo A). No referido registo apresenta-se ainda um resumo dos resultados das escalas observadas pela equipa, nomeadamente a escala de Braden, quanto à avaliação do

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risco de úlceras de pressão; a escala de Barthel, respeitante ao nível de dependência; a escala de Morse no que toca à avaliação do risco de quedas e a escala de Karnofsky, quanto à capacidade funcional. São ainda registadas a Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton (ESAS – avaliação efetuada pela pessoa quanto a vários sintomas físicos e psicológicos) e a escala de Zarit reduzida, para avaliação da sobrecarga do cuidador (esta última inquirida e registada pelo psicólogo). Estas escalas fornecem informação essencial para obter um panorama geral e específico em relação à pessoa e seus cuidadores.

O conhecimento acerca da pessoa e as informações que o podem fundamentar, são alcançados de forma gradual e a sua obtenção agendada à medida que se vai efetuando a estabilização da situação, ocorrendo uma intervenção adequada às várias fases em que as pessoas se encontram, quer seja após o diagnóstico de uma doença incurável, na sequência de um tratamento que não obteve um efeito curativo, ou numa fase de término da vida.

Apesar de existir um enfermeiro orientador atribuído para este local de estágio, foi possível acompanhar distintos colegas na prestação de cuidados, possibilitando a observação de como as características pessoais influenciam a interação com as pessoas e famílias.

Verificou-se uma uniformização da linguagem utilizada pela equipa interdisciplinar, bem como uma intervenção terapêutica, farmacológica e não farmacológica, individualizada, mas consistente e padronizada com o que é perspetivado para os cuidados paliativos. Esta uniformização de linguagem permitiu observar uma operacionalização dos cuidados de forma interdisciplinar, com a articulação dos dados e das intervenções, nomeadamente em conferências familiares, em que se fazem pontos de situação, onde se aferem e se efetuam ensinos, ou com a pessoa onde se reafirma a sua estoicidade, onde se mantém a esperança realista, na consecução do plano terapêutico. Este é consolidado em reunião semanal pela equipa multidisciplinar, onde são trazidos a foco de atenção as pessoas/famílias que revelam necessidade de intervenção ou retificação do plano, existindo intervenção multidisciplinar na sua reconstrução.

De acordo com o documento europeu da Organização Mundial de Saúde (OMS) “The Solid Facts – Palliative Care”, medidas simples que incluem o alívio da dor, comunicação sensível e cuidados bem coordenados são eficazes no alívio de sintomas e do sofrimento, encontrando-se ainda descrito que a capacidade dos profissionais de saúde comunicarem eficazmente com as famílias e de as envolverem nas tomadas de decisão contribui para a satisfação na prestação dos cuidados em fim de vida (2004, pág 18).

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Foi observada na prática a utilização de medidas farmacológicas que compreendem as mencionadas pelo Programa Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) quanto ao acesso a terapêutica adequada, nomeadamente no uso de terapêutica opióide, entre outros, promovendo um controlo sintomático eficaz e racional.

A prestação de cuidados efetua-se à semelhança de outras organizações hospitalares, sob determinada tipologia para as questões quotidianas, de forma a se poder coordenar recursos, mas sob uma flexibilidade que oscila perante a personalização a cada pessoa/família, observando-se um esforço ativo para dar resposta às necessidades individuais destes, no respeito pelos seus valores e prioridades, para o que contribui o padrão de recursos materiais e humanos existente neste local.

O apoio psicológico é efetuado por todos os membros da equipa e sustentado pelo psicólogo, que partilha a informação com a restante equipa, ainda que aparentemente o trabalho desenvolvido não siga uma estruturação pré-definida. O respeito pelas crenças e atividades com estas relacionadas, sugerem capacidade para prestar apoio espiritual.

Face à minha prática de cuidados, constatei uma relação entre enfermeiro e pessoa, que permitia um conhecimento sobre caraterísticas físicas ou questões práticas relativas à pessoa e família e quanto à sua dinâmica, mas que não se aprofundavam. Tal pode ser originado por diversos fatores, como o curto período de internamento de algumas das pessoas, não permitindo uma maior proximidade, pelas características pessoais dos enfermeiros que constituem a equipa, pela dinâmica sob a qual esta se gere, ou por uma visão enviesada da minha parte.

Existiram dois aspectos que sobressaem face à minha realidade de cuidados – a comunicação planeada e assertiva com a pessoa e família e a multidisciplinariedade efetiva. Tendo em conta o futuro incerto das pessoas em algumas situações de saúde e a ansiedade e medos que estas geram, revela-se uma ação primordial o estabelecimento de uma comunicação franca, honesta e programada com a pessoa/família, como observado no contexto dos CP, mas que nem sempre ocorre noutras realidades de cuidados. A partilha de informação numa base diária entre os vários membros da equipa, e entre estes e a pessoa, também foi uma das diferenças que se destacou face à minha prática de cuidados.

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