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CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

No documento AA Relatório de Estágio (páginas 68-71)

Ao longo da pesquisa desenvolvida no estudo do humor e na sua relação com a saúde, com a Enfermagem e com a hemato-oncologia, emergiram algumas temáticas às quais parece pertinente dedicar alguma atenção, de forma a garantir a perspetiva ética do uso do Humor na prestação dos cuidados.

A utilização do humor pela Enfermagem, enquanto estratégia e como intervenção, não impede ou obstrói à partida a expressão dos sentimentos de sofrimento, ou outros que a pessoa com DHO possa ter. O processo do cuidar perspetivado por Watson inclui a expressão de sentimentos negativos e positivos, num formato criativo, na resolução de problemas e em busca da harmonia e do bem-estar da pessoa.

A utilização do humor na prática do cuidar, à semelhança de outras estratégias de ação, como a empatia, a relação de ajuda ou a escuta ativa, deve ser ponderada e adequada à pessoa e características, individuais, contextuais e situacionais, podendo inclusivamente ser incorporado nas estratégias atrás referidas.

Como refere Phaneauf: “o papel da enfermeira é complexo. Supõe numerosas intervenções técnicas e organizacionais, e para que as possa fazer, necessita antes de tudo, de conseguir estabelecer com a pessoa cuidada uma relação de confiança que, particularmente nas situações críticas, lhe permite criar com esta pessoa uma espécie de parceria, de conivência susceptível de se transformar em relação terapêutica. Sem esta aliança, enfermeira- pessoa cuidada, nada é possível” (2002, p. XXIX).

Existiram algumas especificidades que foram explicitadas aquando da partilha de informação junto dos enfermeiros da UTM e da Hematologia, de forma a que se utilize o humor de forma terapêutica, como o uso do humor com a pessoa e nunca contra esta. O uso do humor como superficializante ou desviante da comunicação acerca de temas relevantes para as pessoas também foi abordado. Poderia suceder que por um tema ser penoso para os profissionais, o humor fosse usado como uma defesa e não como arma terapêutica. A utilização do humor pela pessoa com DHO pode ser uma ponte de acesso a questões ou temas que precisam de ser abordados, pelo que é necessário que o enfermeiro tenha a sensibilidade

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A utilização do Humor pelos Enfermeiros com a Pessoa com Doença Hemato-Oncológica

apurada e o conhecimento necessário do Outro, para que a ele consiga aceder e trabalhá-lo, se adequado.

Na pesquisa elaborada acerca do humor emergiu frequentemente, face à presença de uma doença oncológica, a questão do “pensamento positivo”, corrente subjacente a atitudes e comportamentos, complexa e multifacetada, que se relaciona com temas como o otimismo, a esperança e a espiritualidade, como realçam McCreaddie et al (2010). As autoras citam ainda Petticrew quando salientam que não há prova de que os estilos de coping psicológico afetem a progressão da doença, dado evidenciado também por Schofield et al, (2004), que conclui que pessoas (com neoplasia pulmonar) com um maior nível de otimismo não apresentam uma sobrevivência aumentada.

McCreaddie et al (2007), afirmam que o pensamento positivo pode ser uma forma de repressão, na medida em que se espera uma atitude positiva perante uma situação como uma doença oncológica ou eventualmente deturpadora da visão da qualidade de vida e não em si da própria qualidade, encontrando-se ainda relacionada com conceitos como o do “bom doente”, ou até um formato social normativo, de abordar o cancro. Estas autoras expõem que os enfermeiros não devem ignorar que uma situação oncológica possa trazer resultados positivos (distinto do pensamento positivo), mas que é necessário ponderar todas as questões envolvidas.

Tendo presente todas estas observações reforça-se que a utilização do humor não foi usada ou implementada como linha orientadora para a pessoa com DHO de forma a transmitir um futuro positivo, que frequentemente não é, ou que um tratamento da sua doença implique ou possa ser influenciado pelo otimismo. No entanto, a forma como a pessoa visiona e perspetiva a sua realidade é determinante. Kuiper (2012) reuniu dados que evidenciam que o humor tem um importante papel na resiliência face ao stress e ao trauma, podendo contribuir para o aumento de experiências de vida positivas, levar a mais afetos positivos e bem-estar psicológico. O estudo de Crawford & Caltabiano, junto de pessoas saudáveis, indica que o sentido de humor pode ser fortalecido e refinado de modo a melhorar o bem-estar emocional (2011).

Apesar de mais pesquisa ser ainda necessária, são considerações que não podem deixar de estar presentes e que pela sua relevância foram consideradas como aspetos éticos que importava descrever.

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Há que explicitar que o presente projeto pretendeu explorar um contexto, no qual a gravidade das situações, remete para a proteção das pessoas nele presentes e perante a escassez de dados neste âmbito específico, pretendeu-se, como já referido anteriormente, observar a efetiva ocorrência e as condições que afetam o uso do humor, permitindo trazer algum esclarecimento. Para tal foi necessário estar em contacto com enfermeiros e com as pessoas com DHO, observando, mas também pedindo a opinião de alguns, permitindo a posterior e adequada intervenção.

O presente relatório fundamentou-se em evidência científica obtida através de pesquisa, o que permitiu a construção da RSL, cuja metodologia e resultados se encontram em anexo (Apêndice I). No entanto foram também obtidos contributos de outras fontes, de forma a ampliar conhecimentos, acedendo a material escrito como revisões narrativas de literatura, artigos de opinião ou estudos dentro deste âmbito efetuados por peritos.

“O desejo de rigor e a necessidade de descobrir”, como Bardin se refere à análise de conteúdo (2009, p. 31) estiveram subjacentes à idealização e concretização da análise efetuada no decorrer do presente relatório, mas um maior domínio nesta área desde a projeção e construção dos documentos que permitiram obter opiniões e observar interações, poderia ter trazido contributos de maior monta a este percurso.

Também toda a literatura estrangeira, incluindo as citações presentes no corpo do trabalho, foi traduzida livremente por mim, com recurso esporádico a suporte bibliográfico para esclarecimento, podendo no entanto existir traduções alternativas, ou interpretações que inconscientemente tenham sido influenciadas por uma perspetiva pessoal.

Há que realçar que apenas as pessoas com DHO com as quais já tinha contactado no decorrer da prestação de cuidados, foram abordadas e como já foi referido, apenas num sentido de averiguar a sua opinião, tendo solicitado a sua permissão verbal prévia para tal. Também aos profissionais foi préviamente solicitada a permissão de um contributo informal. Todas as identidades de todos os envolvidos foram alteradas. As letras que identificam cada uma das pessoas, não são representativas das suas iniciais e as idades são aproximadas, não permitindo qualquer tipo de identificação. Os dados inseridos nas opiniões e interações, apenas tiveram como objetivo contextualizar algumas características que poderiam ser relevantes.

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No documento AA Relatório de Estágio (páginas 68-71)

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