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Número de alunos de Classe de Conjunto do 7º 2ª

2.3. Prática de ensino supervisionada: ensino de Classe de Conjunto – Oficina de Experimentação Musical

2.3.1. Caraterização do projeto

O projeto Oficina de Experimentação Musical organizou-se para a recolha de dados do presente trabalho de investigação. Enquadrou-se na disciplina de Contrabaixo e objetivou desenvolver a criatividade dos alunos no contexto das aulas de contrabaixo, focando o desenvolvimento do pensamento divergente. Este tipo de pensamento enquadra-se no modelo de pensamento criativo em música de Webster e tem como principais funções gerar e reestruturar ideias.

Partindo de uma necessidade de trabalhar a criatividade e de cultivar um significado relacional dos alunos com a música, este projeto teve como fundamento a prática da improvisação e da composição numa dinâmica de grupo. Dentro deste âmbito foram utilizadas estratégias que visaram o desenvolvimento de competências como a fluência, a flexibilidade, a originalidade e a elaboração.

Ao longo do 2º período e parte do 3º período realizaram-se 14 sessões às sextas feiras, cada uma com cerca de 105 minutos, com os três alunos de 5º ano de contrabaixo, variando entre momentos de discussão e de prática ou exploração instrumental. Neste contexto de trio, introduziram-se e desenvolveram-se algumas noções de improvisação e composição: melodia e harmonia, ritmo e texturas; abrangendo igualmente aspetos como a notação convencional e exploração de música concreta. Ao longo do processo, os alunos geraram e transformaram várias ideias convergindo na composição de uma música que se enquadrou na temática do espetáculo final de ano da escola intitulado As Alterações Climáticas. A obra em questão é um trio para contrabaixos e denomina-se Peça sobre o Oceano, invocando a vida marinha. No 3º período fizeram-se várias micropeças de música concreta que se articularam com o trio composto anteriormente, dando origem a três versões distintas da Peça sobre o Oceano. Estas três versões intitularam-se de Carrocel dos animais marinhos, Oceano Musical e Panzerão destemido. O processo criativo fundamentou-se substancialmente na aplicação direta de estratégias e exercícios de provocação ao pensamento divergente, sob uma pedagogia de orientação scaffolding, assentando num ambiente seguro e propício a uma boa comunicação.

Metas e objetivos

• Estabelecer uma relação mais significativa dos alunos com a aprendizagem do instrumento;

• Colocar o trabalho sobre a criatividade ao mesmo nível do técnico- instrumental;

• Desenvolver competências como a fluência, a flexibilidade, a originalidade e a elaboração nos alunos;

• Alcançar algum nível de motivação intrínseca nos alunos em relação à música.

Metodologia de trabalho

As sessões foram planificadas de forma a integrarem inicialmente uma pequena abordagem às temáticas da criatividade, música, improvisação e composição, em que os alunos tiveram a possibilidade de oferecer a sua visão, que foi, entretanto, enriquecida por outras perspetivas e declarações de artistas e pedagogos apresentadas pela mestranda, recorrendo ao programa Powerpoint, cujos conteúdos incluíam música e vídeos exemplificativos.

Posteriormente, durante as sessões práticas, como provocação ao pensamento divergente, foram executados jogos de improvisação, imitação, pergunta-resposta, desenho de linhas que induziam movimentos sonoros, improvisação sobre um baixo contínuo, colocação de diversos significados na reestruturação de interpretações e variações, experimentação para o encadeamento dos temas, exploração de texturas e completar parte da composição com música concreta. As ideias que os alunos consideraram ter potencial foram registadas pelos mesmos numa pauta musical, de forma independente ou com o auxílio da mestranda. Algumas destas ideias foram aplicadas na construção da Peça sobre o Oceano.

O aluno B

Este aluno tem 11 anos de idade e é de nacionalidade brasileira. Mudou-se para Portugal juntamente com os pais poucos meses antes de iniciar o ano letivo.

As suas caraterísticas pessoais são marcadas pela extroversão, fácil comunicação, ânsia de atenção constante e elevado empenho e interesse.

Durante as sessões de Oficina de Experimentação Musical revelou um grande nível de envolvimento e pré-disposição para executar as atividades. Durante os momentos de improvisação, conseguiu “suspender o julgamento”, abstendo-se de avaliar criticamente as ideias numa fase de incubação, e posteriormente analisar e selecionar entre as ideias que foi gerando com o fim de anotar e aplicar mais tarde. Como aluno, pode dizer-se que tem facilidades a nível de execução instrumental, procurando sempre encontrar uma reprodução técnica e artística que o satisfaça. Durante este processo, dentro dos alunos deste trio, foi quem reagiu inicialmente com mais impulso aos desafios que iam sendo propostos, criando muitas vezes novas sugestões que mudavam o rumo da improvisação. De fato, revelou ser um aluno com muita energia e atitude positiva que acabou por ter um efeito contagiante na dinâmica do grupo. Esta

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postura manteve-se ao longo das sessões, declarando-se um fator determinante na recetividade e produtividade do grupo.

A aluna C

A aluna C tem 10 anos de idade, é portuguesa e tem raízes brasileiras.

As suas caraterísticas pessoais observadas em contexto de aula são marcadas por atitudes reflexivas perante diversos tipos de situações, comunicação clara e desenvolvimento do raciocínio de forma coerente; é divertida, interessada, aplicada, preocupada com os seus deveres na escola, tem tendência a bloquear quando se vê sob pressão ou tensão; inicialmente tinha uma inclinação para a desvalorização das suas ideias e capacidades. Desde que iniciaram os exercícios de “suspensão do julgamento”, tornou-se muito mais recetiva e expressiva quanto à manifestação das suas ideias e dita execução.

Durante o projeto Oficina de Experimentação Musical, a Aluna C foi claramente desenvolvendo algum nível de motivação intrínseca e sentido de autoeficácia. Inicialmente mostrava-se retraída e tinha dificuldades em executar as suas ideias, em parte porque lhe faltava alguma desenvoltura técnica e também porque não acreditava nas suas capacidades. Com alguns exercícios de comunicação e reforço positivo, esta questão foi mudando e rapidamente alcançou o nível técnico-expressivo dos colegas, apresentando mesmo ideias que superavam os conhecimentos obtidos nas aulas de formação musical e nas aulas de contrabaixo. Este processo alterou algo na perspetiva da aluna, ao ponto de ela tomar a iniciativa de praticar contrabaixo todos os dias, de segunda a sexta feira. O que obviamente teve consequências muito positivas na sua evolução.

O aluno D

O aluno D tem 11 anos de idade e é de nacionalidade portuguesa.

A nível de caraterísticas pessoais pode dizer-se que é um aluno sossegado, empenhado, empático, com um forte sentido de humor, recetivo, algo tímido, sendo, porém, um bom comunicador, constrói as ideias de forma clara e coerente, tem sentido crítico e busca constantemente fazer melhor do que fez antes. Deixa-se envolver nas atividades, manifesta as suas intenções, sabendo analisar a sua execução e criticar em busca de soluções e ferramentas. Tem uma ótima relação com o contrabaixo e inclui conscientemente uma base de aprendizagem sensorial, permitindo uma relação natural e saudável com o instrumento. Naturalmente a sua produção sonora foi melhorando, tendo conseguido dominar cada vez mais este parâmetro. Quando este

aluno está nervoso tem dificuldade em concentrar-se. Sendo baixo de estatura sofreu com os comentários e ações desagradáveis dos colegas fora do contexto da aula. Relacionado com isto, nota-se que há um conflito emocional com o aluno A, que se foi desenvolvendo ao longo do ano. Contudo, durantes estas sessões, aulas de instrumento ou estudo individual deixou-se bem claro que este tipo comportamentos e atitudes não eram bem-vindos.

Quanto ao seu desempenho no projeto Oficina de Experimentação Musical pode dizer-se que este aluno manteve sempre bons níveis de produtividade, dando sempre novas sugestões, tomando riscos mesmo face às limitações técnicas do seu nível. Além disso, mostrou sempre uma atitude amigável e de apoio mútuo, apesar de algumas divergências com o aluno A. Ao longo deste processo, notou-se que, em paralelo com as atividades das aulas de instrumento, o aluno buscou progressivamente uma relação significante e imaginativa com aquilo que é criado e executado, seja por si como pelos colegas.

Invariavelmente, pode dizer-se que o ambiente seguro, recetivo e de respeito mútuo que foi alimentado durante as aulas de contrabaixo e sessões deste projeto, juntamente com a dinâmica do grupo e a orientação da mestranda, permitiram que todos os alunos desenvolvessem noções de autoeficácia e refletissem sobre a sua expressividade individual.