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2. ª P ARTE – E XPERIÊNCIA EM J ARDIM DE I NFÂNCIA I NTRODUÇÃO

3.1. A PRESENTAÇÃO DO CONTEXTO EDUCATIVO : J ARDIM DE I NFÂNCIA

3.1.2. Caraterização da Sala de Atividades

A sala do JI da Guimarota encontrava-se no rés-do-chão. A mesma era bastante ampla, e possuía luminosidade e ventilação naturais, provenientes de cinco janelas viradas para o exterior. As janelas tinham estores, que possibilitavam escurecer a sala sempre que necessário, permitindo a visualização de filmes ou o conto de histórias recorrendo a diferentes técnicas. À entrada da sala encontravam-se alguns cabides, destinados à colocação de diferentes elementos pessoais de cada criança, sendo que estas demonstravam autonomia em aceder aos seus objetos pessoais, inclusive quando chegavam e iam embora, e ainda na hora do lanche. Nas paredes da sala encontravam-se cinco quadros destinados a vários fins.

Ao entrar na sala de atividades, na parede, do lado direito, existia um quadro de ardósia, com paus de giz acessíveis ao grupo de crianças. Por diversas vezes estas utilizaram-no para elaborar pequenos desenhos em momentos de brincadeira livre. Ao lado deste quadro existia um outro, destinado à exposição de projetos e trabalhos realizados pelas crianças, inclusive com o apoio dos seus familiares, possibilitando assim a participação destes nas atividades das crianças.

A sala encontrava-se disposta por forma a permitir a autonomia das crianças, podendo estas movimentarem-se livremente, aceder a diferentes materiais quando demonstravam

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interesse em elaborar um desenho ou jogar determinados jogos. A sala de atividades possuía espaços para momentos coletivos, mas também para a criança poder estar a sós consigo mesma.

Ao entrarmos na sala, na parede oposta à porta de entrada, é possível observar dois painéis, um destinado à exposição de trabalhos, e o outro intitulado “Parabéns”. Neste painel, existia um calendário mensal; um mapa de presenças (Fig.19); um quadro de tarefas; as regras da sala e um quadro do tempo. Como pude observar ao longo de toda a minha PES neste contexto, o referido painel tornava-se um desafio diário, levando o grupo a raciocinar sobre determinados assuntos da rotina.

A ação de assinalar o dia da semana bem como a marcação das presenças por exemplo desafiava as crianças a elaborar processos de contagem e identificação dos amigos, bem como, a associar as crianças aos respetivos símbolos, assinalando a presença/ falta. Todo o grupo acabava por se envolver nessa tarefa, sendo que as crianças mais velhas ajudavam frequentemente as mais novas, numa dinâmica de interação entre pares, promotora de vivências em comunidade.

No que respeita ao quadro de tarefas, este continha ações como a distribuição dos pacotes de leite pelas crianças (no momento do lanche); a marcação das presenças e ainda por exemplo assinalar o tempo que fazia nesse respetivo dia (pequenos cartões como imagens de chuva, sol, vento, etc). As crianças automaticamente assumiam a sua posição, e procediam à respetiva tarefa que lhes estava associada, demonstrando responsabilidade, sentindo-se competentes e valorizadas.

De seguida caraterizo brevemente as áreas presentes na sala de atividades, descrevendo assim as inúmeras possibilidades que esses espaços ofereciam ao grupo de crianças, nomeadamente desafios relacionados com os diferentes domínios do desenvolvimento, mas também no sentido da socialização entre pares; resolução de conflitos; partilha e respeito pelo espaço/materiais bem como pelos amigos.

Figura 19 - Calendário e mural de presenças.

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A “área da Mercearia do Sr. Joaquim”, constituída por uma bancada de madeira e três cadeiras, constituiu-se como o local onde as crianças recriaram algumas situações dramáticas nomeadamente, “festas de aniversário” ou “venda de alimentos” recorrendo a diversos objetos da área da casinha, criando-se assim espaço para o jogo simbólico, para o desenvolvimento linguístico e comunicativo.

A “área da Casinha” (Fig.20), repleta com diferentes objetos que por norma existem numa casa comum, por exemplo um ferro de engomar; pratos; tachos; frigideiras; chávenas e alimentos ambos de plástico; uma cama; um fogão, entre outros, tornou-se um espaço de convivência, que as crianças queriam frequentar repetidamente. O facto de possuir um espelho e um cabide, com diferentes fatos de carnaval e outros acessórios, tornava a área ainda mais aliciante para as crianças, sendo que estas constantemente pediam ajuda para vestir os diferentes fatos, mostrando-se divertidas e assumindo os papéis inerentes aos fatos que vestiam (por exemplo pintainho; bruxa; princesa; bailarina de flamenco; entre outros). Diariamente, enquanto observei as crianças a brincar, percebi a frequência com que estas escolhiam a área anteriormente referida. Maioritariamente do género feminino, mas também do género masculino, algumas das crianças acabavam por assumir diferentes papéis, o de mãe, filha, cozinheira, entre outros. Executando ações como cozinhar; fazer a cama; colocar a mesa (dispondo a toalha e alguns acessórios como pratos, tachos e alimentos de plástico) e convidando-me por vezes a participar em pequenos lanches que aconteciam na mesinha redonda, ou então explicavam o que estava a acontecer.

A “área dos Jogos” era composta por um tapete e uma estante, com gavetas, que continham puzzles e diversos jogos, bem como cartões com a fotografia de cada criança e o respetivo nome, escrito à mão e à máquina, colados na lateral da estante. Estes cartões eram habitualmente usados com o objetivo de auxiliar as crianças a escrever o seu nome nas tarefas que elaboravam, com o intuito de se identificarem. Aqui os diferentes jogos eram escolhidos pelas crianças normalmente por serem os seus preferidos. Uma ou duas Figura 20 - Objetos e acessórios da área da casinha.

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vezes as crianças tinham curiosidade em explorar jogos algo complexos para a sua idade. Tendo nós que explicar determinadas regras ou então jogar com elas, evitando assim a sensação de frustração.

A “área da Biblioteca” (Fig.21) era constituída por um armário que continha três caixas coloridas com diversos livros de diferentes formatos. Esta área apresentava-se composta por quatro cadeiras em madeira, almofadadas, que se destinavam a momentos de contacto e exploração com os livros, proporcionando assim conforto e bem-estar durante a observação. A escolha dos livros baseou-se frequentemente no interesse espontâneo das crianças, e pontualmente por serem os seus favoritos. Por diversas vezes algumas das crianças com seis anos simularam o conto de histórias sentando-se em grupo e relatando a história aos amigos, que se sentavam estrategicamente a pedido de quem “lia”. Pediam, inclusive, que observasse os livros com elas e também que contasse as histórias.

A “área da Tecnologia”, formada por um computador, uma impressora e duas colunas, revelou-se igualmente, estimulante para as crianças, pois através do computador as crianças praticavam jogos relacionados com diferentes áreas e inclusive por diversas vezes colocaram música e criaram coreografias, em grupo, na zona do tapete.

A “área do tapete” (Fig.22), composta por quatro almofadas, coloridas, de diferentes dimensões e ainda por um tapete colorido plastificado, era frequentemente o centro de toda a ação, as crianças auxiliavam-nos constantemente a dispor as almofadas no tapete, para organizar os momentos que estavam previstos. Esta área deu lugar a conversas importantes, momentos de partilha quer de situações ocorridas no interior da sala como no exterior, e também no ambiente familiar. A área do tapete foi ainda o local onde as crianças planificavam connosco as suas ideias e podiam ser valorizadas pela sua criatividade, conhecimento individual, amizade e respeito pelos colegas, entre outros.

Figura 21- Área da biblioteca.

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Toda a organização do espaço ao ser pensada por diferentes áreas possibilita ao educador e à criança a criação de ambientes de descoberta, de aprendizagem e de participação em diferentes áreas de desenvolvimento.

A organização por áreas permite à criança construir o seu próprio conhecimento através das interações que estabelece com o meio, os pares, os objetos e os restantes intervenientes educativos. Neste sentido as crianças

(…) transformam as suas ideias e interacções em sequências lógicas e intuitivas de pensamento e acção, por último, trabalham com diversos materiais para criar experiências e resultados significativos do ponto de vista pessoal e enquanto falam sobre as suas experiências, que descrevem com as suas próprias palavras (Hohmann e Weikart, 2011, p.22).

A organização do espaço deve ter como pressuposto que “Os espaços de educação pré- escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender” (Ministério da Educação, 1997, p.37).

Todo o espaço deve ser assim pensado com o intuito de ir ao encontro do desenvolvimento das crianças, podendo ser modificado de acordo com a evolução e os interesses do grupo, sendo que

A organização e a utilização do espaço são expressão das intenções educativas e da dinâmica do grupo, sendo indispensável que o educador se interrogue sobre a função e finalidades educativas dos materiais de modo a planear e fundamentar as razões dessa organização (Ibidem, p.37).

Deste modo, as crianças precisam de um espaço planeado e com uma oferta bastante diversificada de materiais, que possam manipular, explorar, permitindo-lhes resolver problemas através destes.