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2.2. I NTERAÇÃO COMO PILAR DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

2.2.4. O jogo simbólico

A criança através das suas brincadeiras cria e recria acontecimentos humanos que observa durante as suas interações quer com o meio físico, quer com o meio social. Na interação com a sua família e no contexto de creche, a criança tem oportunidade de pôr em prática a sua imaginação, improvisação e imitação, no sentido de interpretar o que observa. Wieder e Greenspan (2002, p.177) afirma que

No segundo e terceiros anos de vida as crianças aprendem através do jogo simbólico e de faz-de-conta. Todos os pais se apercebem do quanto o filho já aprendeu, quando o vêem a agir exactamente como eles. A princípio, o faz-de-conta envolve fazer de conta que aquilo é a realidade tal como a criança a experimenta. É a altura em que as crianças se mostram muito atarefadas a dar de comer e a tratar das suas bonecas ou a andarem de um lado para o outro nos seus carrinhos e camiões.

A criança tende então a raciocinar sobre a realidade, expressando sentimentos e emoções associados a esta, desenvolvendo assim o seu “mundo” interior e cheio de significado

(…) é através do «faz-de-conta» e do jogo simbólico que a criança veicula a sua compreensão sobre o modo como o mundo funciona. A princípio a criança imita a fingir as suas experiências na vida real, reflectindo o uso funcional dos objectos e os diferentes papéis por ela percepcionados. (…) Quanto mais elaborada a encenação, mais complexo é o pensamento e a capacidade da criança para organizar ideias, sentimentos e acções.

(Ibidem, p.186)

As crianças crescem e desenvolvem-se ao descobrir, experimentar, de forma autónoma e criativa a “arte” do faz-de-conta, estas reforçam ainda as suas imagens mentais e dão significado ao mundo que as rodeia, Dias (2005, p.131) afirma que o

jogo simbólico (…) permite a assimilação do real ao Eu. Sendo o jogo mais característico da criança, surge (…) com a evolução da função simbólica. Vivenciando o que pensam a um nível simbólico, as crianças, (…) fazem a ponte entre o real e o irreal, o imaginário e o concreto, a reflexão e a impulsividade. Pensar por imagens é a primeira actividade mental da criança, (…) necessária para a compreensão do real, para o desenvolvimento da fantasia e para a assimilação de papéis sociais (…) Ao projectar sobre os objetos os seus esquemas simbólicos, a criança imita as suas próprias acções e/ou as acções dos outros, imita as cenas reais da vida ou imagina personagens fictícias que lhe fazem companhia, libertando-se da acomodação e atingindo a assimilação do real.

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Neste sentido, o educador é fundamental no sentido em que deve observar, encorajar e ainda proporcionar materiais ricos em estímulos sensoriais, objetos familiares, organizar o espaço e o tempo de brincadeira. Gomes (2010, p.45) afirma que o “ (…) brincar através do jogo simbólico permite que a criança realize um processo de aprendizagem e identificação dos diferentes papéis sociais da sociedade em que se insere”. Ferreira (2010, p.12) por sua vez entende que “Quando brinca, a criança cria situações imaginárias em que se comporta como se agisse no mundo do adulto. Neste contexto, está em constante processo de construção de significados, procurando compreender o mundo a partir das suas representações”. Ao observar atentamente a criança o educador percebe quais as suas formas de brincar e como interpreta a realidade, esse conhecimento será benéfico para perceber o desenvolvimento da criança e ainda para adequar as estratégias.

2.3.METODOLOGIA

A necessidade de descobrir e explicar os fenómenos da natureza é algo que remonta às origens da humanidade. A ciência é vista como o “conhecimento sistemático dos fenómenos da natureza e das leis que o regem, obtido pela investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva” (Freixo, 2010, p. 76). Para a concretização de um trabalho de investigação importa ter em conta alguns conceitos essenciais inerentes a este tipo de processo. O trabalho de investigação é então marcado por um início e um fim, onde se obtêm dados e resultados que permitem responder àquilo que se quer estudar. Nas ciências, o método científico é aplicado na produção de conhecimentos, como procedimento e forma de atuar.

2.3.1. Método

Segundo Hegenberg (1976), citado por Freixo (2010, p.79) método é

(…) uma forma de seleccionar técnicas, forma de avaliar alternativas para a acção científica… Assim, enquanto as técnicas utilizadas por um cientista são fruto das suas decisões, o modo pelo qual tais decisões são tomadas depende das regras de decisão. Métodos são regras de escolha; técnicas são as próprias escolhas.

Existem dois tipos de métodos que suportam as etapas de uma investigação. Sendo assim existem investigações que exigem métodos quantitativos e outras que pelo seu caráter subjetivo exigem um método qualitativo. Para a realização deste projeto de investigação recorri ao método qualitativo. Gauthier (1987), citado por Lessar-Hébert, Goyette e Boutin (1990, p.47) afirma que “A tradição da investigação qualitativa, em ciências

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sociais, consiste essencialmente em estudar e interagir com as pessoas no seu terreno, através da sua linguagem, sem recorrer a um distanciamento que levaria ao emprego de formas simbólicas estranhas ao seu meio”.

A investigação de cariz qualitativo é vista segundo Bogdan e Biklen (1994, p.16) como “(…) um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características”, neste método o investigador privilegia acima de tudo“ (…) a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação”. A investigação qualitativa centra-se no ambiente natural, assume um caráter descritivo, interessa-se mais pelos processos e menos pelos produtos ou resultados finais, a recolha de dados não é feita com o objetivo de testar hipóteses, entre outros (Ibidem, 1994). Quanto a esta metodologia qualitativa de investigação, Wilson (1977), citado por Freixo (2010, p.146) determina alguns pressupostos essenciais, nomeadamente, que “ (…) os acontecimentos devem estudar-se em situações naturais, ou seja, integrados no terreno” e que“(…) os acontecimentos só podem compreender-se se compreendermos a percepção e a interpretação feitas pelas pessoas que nela participam”.