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2 ECONOMIA COMPARTILHADA E INFLUÊNCIA NOS TRANSPORTES

2.4 ECONOMIA COMPARTILHADA E OS TRANSPORTES

2.4.1 Evolução histórica dos sistemas compartilhados

2.4.1.2 Carro compartilhado

O carro compartilhado é definido como um veículo de utilização temporária, compartilhado entre vários usuários que é mantido, gerenciado e segurado por uma organização terceira, destinado a pequenas viagens (SHAHEEN et al., 2015). Shaheen et al. (2012) dizem que são automóveis alugados por um provedor que estão distribuídos por uma rede na cidade, com o benefício de ter uma mobilidade porta-porta por automóvel sem a necessidade da propriedade do carro. Le Vine et al. (2014) propõem a definição do carro compartilhado como um sistema no qual o usuário necessita passar por um processo de cadastro/qualificação, em que o cadastrado pode ser uma pessoa ou empresa, que aluga o carro para finalidade própria e é cobrado por tempo de uso ou por pacotes mensais e anuais.

Hoje, o carro compartilhado é composto por sistemas de TI e dispõem de veículos elétricos. Esse modo dispõe de modernos e progressivos conceitos sobre mobilidade, mas a origem desse modelo data de 1948 do programa “Sefage” que começou em Zurich, Suíça. Esse sistema operou até 1998 e foi pioneiro no conceito (SHAHEEN e COHEN, 2016). Os membros do Sefage eram motivados principalmente por questões econômicas, já que na época os automóveis eram muito caros. Então um indivíduo que não podia comprar um veículo, que era um artigo de luxo, aderia a um programa de compartilhamento (SHAHEEN e COHEN 2013). Em 1951 o engenheiro francês Jacques d’Welles previa futuros problemas com o excesso de carros nas ruas e propôs um modelo de pequenos carros elétricos em que a população poderia compartilhá-los para atender a suas demandas de deslocamentos (SHAHEEN, NELSON e HELEN, 2015). Este conceito é bastante similar ao que existe hoje.

Outros experimentos de carros compartilhados foram iniciados na Europa, porém falharam a exemplo do Procotip (França, 1971 a 1973), Witkar (Amsterdam, Holanda, 1974 a 1988), Green Cars (Gran Betanha, 1977 a 1984), Bilpoolen (Lund, Suécia, 1976 a 1979), Vivallabil (Orebro, Suécia, 1983 a 1998), e Bilkooperativ (Gothenburg, Suécia, 1985 a 1990) (SHAHEEN e COHEN 2013). As experiências mais bem-sucedidas de carros compartilhados começaram na Suécia e Alemanha nos anos 1987 e 1988 respectivamente. Em 1997, a organização suíça Mobility CarSharing Switzerland coloca o máximo esforço para espalhar o sistema em todo o país. Na Alemanha, a StattAuto Berlin lançou estudos acadêmicos comprovando a viabilidade do sistema. Desta forma, ambas as organizações são pioneiras nos

conceitos de carros compartilhados e grandes responsáveis por seu crescimento (SHAHEEN et al., 1998).

Entretanto, a maioria das organizações encontravam dificuldades de implementar um programa com deslocamentos maiores que fossem viáveis financeiramente. Seja devido ao investimento em marketing e tecnologia, seja devido ao grande número de carros necessários (SHAHEEN et al., 1998).

Nos Estados Unidos, programas experimentais foram lançados nos anos 1980, como o Mobility Enterprise que operou na Universidade de Purdue, Indiana de 1983 a 1986 e o Short- Term Auto Rental (STAR), que operou na cidade de San Francisco de 1983 a 1985 (COHEN e SHAHEEN, 2016). Porém, apenas em 1994, o primeiro programa profissional de carros compartilhados foi lançado na América do Norte, o programa Auto-Com lançado em Quebec Canadá (SHAHEEN et al., 2009). No entanto, os carros compartilhados só se tornaram populares com o desenvolvimento da tecnologia telemática, que foi incorporada ao programa CarSharing Portland em 1998 (SHAHEEN, SPERLING e WAGNER, 1999). Esse programa trouxe como inovação, o desenvolvimento de um sistema de reserva pelo celular, proporcionando o uso diário do serviço. De 1998 a 2002 os sistemas de carros compartilhados ainda eram baseados no sistema de viagens de bairros, em que o usuário estacionava o carro em lugares designados no seu próprio bairro (ibid).

A partir de 2007, o sistema é tratado de maneira mais comercial, e começa a ser visto como uma alternativa sustentável para a mobilidade urbana. Em 2008, a cidade de San Francisco requereu a qualificação de um operador governamental para maximizar a eficiência da mobilidade e minimizar os custos de combustível e emissões de CO2. Nessa época os GPS são

instalados nos veículos a fim de ajudar operadores e usuários a localizar os veículos. Os membros do Zipcar que possuíam um iPhone poderiam utilizar um aplicativo para verificar veículos disponíveis em tempo real (SHAHEEN e COHEN, 2013). Em outubro de 2008, é lançado, na Alemanha, o primeiro programa de carro compartilhado chamado free-floating, que consiste em um carro compartilhado que pode ser pego e deixado em qualquer lugar dentro da área de operação, não necessitando de estações ou lugares de estacionamentos pré-determinados (SHAHEEN, CHAN e MICHEAUX, 2015).

O uso desse modo de transporte vem se mostrando crescente ao longo dos últimos anos e é esperado que esse crescimento continue, em parte, devido a inovações tecnológicas, GPS,

smartphones, pagamento online (TRANSPORTATION RESEARCH BOARD, 2016), em parte devido à mudança de hábitos da população, que vem mostrando sinais de que a posse do carro não é mais economicamente favorável (LLER et al., 2015; TRANSPORTATION RESEARCH BOARD, 2016; ZIPCAR, 2014).

Segundo Ferreroc et al. (2018) um serviço de carro compartilhado pode ser provido de três maneiras:

a) Two-way (baseado em estações): Os carros disponíveis estão em estações cuja localização é definida pelo provedor do serviço ou pela administração local de transportes. A viagem deve começar e ser finalizada no mesmo local.

b) One-way (baseado em estações): Tem o mesmo conceito que o anterior, porém neste caso a estação onde finaliza a viagem pode ser diferente da que começou.

c) Livre: Os carros são estacionados livremente em locais públicos dentro da área de operação do sistema e a viagem pode começar e terminar em qualquer local.

Segundo Shaheen e Cohen (2016) em 2014, sistemas de carro compartilhado estavam operando em 33 países, nos cinco continentes e em 1.531 cidades, com 4.8 milhões de membros. Segundo Le Vine et al. (2014), as características principais dos usuários desse serviço são: adultos com bom nível de educação, de idades entre 25 a 45 anos, solteiros, que vivem em bairros de classe média alta em ambientes urbanos e usuários de carros particulares (utilizam mais transporte público, caminham ou usam a bicicleta). Burkhardt e Millard-Ball (2006) apuram que viver no centro da cidade, ser homem e ter alto nível de educação aumenta a probabilidade de adotar o carro compartilhado como solução de transporte. Sendo assim, pode-se verificar que o perfil do usuário de carro compartilhado normalmente é veiculado a pessoas solteiras, jovens, com bom nível de educação e que vivem em áreas urbanas. Isso pode ocorrer devido ao acesso a plataformas online.

Este serviço tem a finalidade de substituir a propriedade do carro, promovendo o transporte porta-porta em condições análogas ao carro particular. Isso pode resultar em uma considerável economia monetária e benefícios ambientais. Shaheen et al. (2012) dizem que entre os principais benefícios sociais do carro compartilhado estão a redução da propriedade do carro, redução da distância de utilização dos automóveis / distâncias de viagens e emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.

Em 2008, pesquisa feita por Martin e Shaheen (2011) verificou que entre os usuários que tinham carro, a propriedade deste diminuiu cerca de 50% com a participação de serviço de carro compartilhado na América do Norte. Martin, Shaheen e Lidicker (2010) indicam que o uso deste serviço retira entre 9 a 13 veículos particulares das ruas em relação a um carro compartilhado também na América do Norte. Cervero (2007) diz que o uso do carro compartilhado leva a redução de veículo por quilometro viajado (VKV) e reduz a propriedade do carro. Cerca de 27% de VKV caiu com a instalação de programas de carros compartilhados na Holanda (NIJLAND, MEERKERK, 2017). Sioui et al. (2012) comparam lares similares em diferentes bairros e verificaram que bairros que participam do sistema de carro compartilhado usam o carro particular 3,7 menos vezes que outros bairros, em Montreal, Canadá.