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2 ECONOMIA COMPARTILHADA E INFLUÊNCIA NOS TRANSPORTES

2.4 ECONOMIA COMPARTILHADA E OS TRANSPORTES

2.4.1 Evolução histórica dos sistemas compartilhados

2.4.1.3 Ridesouching

O ridesourcing permite que usuários solicitem um serviço de taxi por meio de um aplicativo de smartphone que comunica a localização dos passageiros e a localização dos motoristas próximos em tempo real. Após o motorista aceitar a corrida, o passageiro pode verificar a estimativa do tempo de viagem em tempo real e sua localização e o pagamento é realizado por meio de cartão de crédito (RAYLE et al., 2016). Shaheen et al. (2015) definem essa categoria como o uso do smartphone para conectar motoristas com passageiros. Estes serviços tiveram um crescimento espetacular nos últimos anos devido a sua eficiência, transparência no sistema de preços e confiança na plataforma (RAYLE et al., 2016).

O ridesourcing surgiu das recentes inovações tecnológicas que proporcionaram a conexão entre motoristas e passageiros através de smartphones. O serviço de contratar viagens de A para B que utiliza como meio de transporte o carro particular não é novo. Os serviços de taxi vêm atuando no mercado há décadas, porém estes serviços são regulados pelo estado e seu acesso se dava diretamente nas ruas, por meio dos pontos de taxi, ou por telefone. Diferente do táxi, os motoristas do ridesourcing podem ser qualquer indivíduo que possua um carro e que esteja cadastrado no aplicativo que conecta os passageiros com os motoristas, com quase nenhuma barreira de entrada (UBER, 2020).

Este tipo de serviço surgiu em 2010 com o intuito de proporcionar um serviço de táxi de luxo que era requerido por aplicativo, substituindo os antigos modos de acessar o serviço (SHAHEEN e COHEN 2016). O serviço tinha como público alvo, empresários e pessoas mais

abastadas, porém logo foi popularizado e hoje está em mais de 600 cidades em 63 países, com 3 milhões de motoristas parceiros e 75 milhões de usuários no mundo (UBER, 2020).

Esta maneira disruptiva de acessar este tipo de serviço trouxe discussões na sociedade sobre sua regulação. Emergiu a incerteza sobre como classificar o serviço, se seria um serviço de taxi ou um serviço de carona. O primeiro Estado a regulamentar o serviço foi a Califórnia em 2012, que classificou o serviço como transportation network company ou TNC que é descrito como: serviço sob demanda que usa motoristas particulares com veículos particulares e facilita o contato entre passageiros e motoristas através de uma plataforma on-line (SHAHEEN e COHEN 2016). Esses serviços também foram batizados como ridesourcing e ride-hailing (RAYLE et al., 2016).

Em reação a esse fenômeno, as companhias de táxi também desenvolveram aplicativos para que o usuário pudesse acessar seus veículos, além disso, proporcionaram o pré-pagamento das corridas por meio de cartão de crédito, localização do veículo por meio de GPS, informação de tempo de viagem. Tornando o serviço muito semelhante ao do ridesourcing, porém com motoristas profissionais e cadastrados no órgão regulamentador (RAYLE et al., 2016). Este tipo de serviço é chamado de E-hailing.

Este novo modo de transporte trouxe grande competição ao mercado dos táxis. A principal diferença, entre este e aquele, é o uso dinâmico dos preços baseados na oferta e na demanda (SHAHEEN et al., 2015). Além disso, nas plataformas, qualquer indivíduo que possua um carro e licença para dirigir pode oferecer o serviço, diminuindo as barreiras de entrada e proporcionando grande competição. Esse sistema oferece grandes vantagens ao serviço de táxi tradicional, como mais segurança e confiabilidade do trajeto, já que a rota é definida por GPS, porém a falta de profissionalismo dos motoristas são fatores que muitos usuários consideram como ponto negativo (SHAHEEN et al., 2015).

Dentre as características desse serviço pode-se perceber que é um serviço centrado no usuário, que de maneira eficiente e através de algoritmos equilibra a oferta e a demanda durante o dia; reduz significativamente os custos de acesso ao serviço, uma vez que o usuário não necessita ligar ou buscar por serviço de táxi na rua; traz mais confiabilidade, já que o sistema fornece a informação do tempo de espera e tempo de viagem com certa precisão (EDELMAN e GERADIN, 2016).

Por outro lado, Anderson (2014) observou que o ridesourching trouxe mais carros e agravou os congestionamentos nos centros. Pessoas que vivem fora de São Francisco passaram a usar o sistema para ir ao trabalho no centro, o que os taxis não são autorizados a fazer devido à regulação. No entanto, outros autores como Nie (2017) e Bialik, Fischer-Baum; Mehta (2015), encontraram que o impacto no congestionamento não é tão alto e não influencia a mobilidade urbana de maneira significativa.

Rayle et al. (2016) encontrou que ridesourching pode não afetar a propriedade do carro e Anderson (2014) verificou que este serviço pode até estimular a propriedade do carro privado, já que alguns motoristas podem usar o serviço para subsidiar o seu custo.

Em síntese, este capítulo discorre sobre o surgimento da economia compartilhada e seu transbordamento sobre os transportes. Percebe-se que a economia compartilhada provem de um movimento que busca otimizar os recursos econômicos, sociais e ambientais, assim como a utilidade dos bens. Entre os principais benefícios podem-se citar empoderando da oferta, diminuição da barreira de entrada nos mercados, descentralização da economia, e ampliação de acesso a bens e empregos aos mais pobres.

Porém, a configuração do mercado e as práticas atuais podem não se aproximar desses conceitos. Uma vez que, como bem colocado por Belk (2014), o pseudo-compartilhamento difere do real compartilhamento, pois esta relação é motivada por dinheiro, motivos egoísticos, expectativas de reciprocidade e falta de senso de comunidade. Além disso, argumenta-se que a economia compartilhada, na prática, pode estar tomando o rumo de uma nova forma de neoliberalismo, favorecendo a precarização do trabalho, centralização econômica e maior consumo dos recursos naturais. Martinez (2016) argumenta que a direção da economia compartilhada depende das organizações que gerem este setor para se aproximar da sustentabilidade.

Essas questões transbordam para o setor de transportes, que tem como agentes principais dos modos compartilhados, o carro compartilhado, a bicicleta compartilhada e o ridesourcing. Apesar desses tipos de acesso a mobilidade serem antigos, sua popularização só pôde ocorrer com o desenvolvimento tecnológico, e o impacto desses transportes no meio urbano ainda é incerto. Sendo assim, os modelos de negócios desse tipo de mobilidade são novos, e que apesar de em seus conceitos apresentarem tendência à sustentabilidade, na prática podem ir, em partes, na direção oposta.