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Cartórios de Registros de Imóveis dos municípios pesquisados O Cartório de Registro de Imóveis também é a organização

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

2.2 CARACTERÍSTICAS DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS NO TERRITÓRIO MEIO OESTE CONTESTADO

2.4.7 Cartórios de Registros de Imóveis dos municípios pesquisados O Cartório de Registro de Imóveis também é a organização

responsável pela regularização fundiária de imóveis rurais e, como seu próprio nome revela, atua no registro dos imóveis. Nem todos os

municípios pesquisados apresentam essa organização e muitas são abrangidas por suas circunscrições. O Cartório de Ipuaçu, por exemplo, abrange ações de contratos de arrendamento, procurações, reconhecimento de firma, nascimentos e óbitos configurando-se como um Cartório de Registro Civil e Tabelionato de Notas, todavia o registro da escritura pública do imóvel ocorre somente na comarca de Abelardo Luz. Segundo Brachet (2013) existe uma diferenciação entre estes tipos de cartórios, enquanto o primeiro apresenta a figura do notário ou tabelião e tem a função de redigir atos e contratos que garantam a segurança pública dos envolvidos através da formalização da escritura pública, os Cartórios de Registro de Imóveis dispõem de registradores ou oficiais de registro, com competências para a prática dos atos relacionados aos registros públicos, efetuando o registro das escrituras lavradas nos tabelionatos.

O Cartório de Registro de Imóveis de Abelardo Luz tem sua circunscrição também em Ouro Verde e Ipuaçu e os processos referentes aos imóveis rurais cabem a este órgão competente. Segundo os dois técnicos entrevistados, o cartório considera como regularização a titulação do imóvel, seja por posse ou compra.

O título cabe para fazer financiamento, alienar, dispor do imóvel como proprietário. A regularização está prevista na lei 11.977 que trata de regularização fundiária urbana e pode ser aplicada na questão rural. Na questão rural, temos que partir da lei 4.504 que é o Estatuto da Terra e legislações posteriores, que regulam o uso da terra (Técnico do Cartório de Registro de Imóveis de Abelardo Luz, 2014).

Para os entrevistados, o usucapião apresenta-se como um importante instrumento de regularização fundiária em zonas rurais.

Esse processo é em juízo, precisa comprovar a posse mansa e pacífica de 15 anos, tem vários tipos de usucapião, esse procedimento é junto ao advogado. Precisa comprovar que ele ocupa a área. É uma questão jurídica mesma lá no judiciário. O cartório tem a função de registrar, porque o registro dá o direito de propriedade, quem não registra não é dono [...]. Os agricultores precisam ter conscientização e ter conhecimento dos direitos deles e o buscarem junto aos sindicatos. O direito é sagrado, a concretização dele que é preciso que ele formalize. O caminho seria o sindicato fazer essa orientação porque o benefício da isenção a maioria

tem, mas eles precisam se agilizar e alguém tem que fazer o trabalho. Falta informações, divulgar mais e os poderes públicos, municipais, estaduais e os próprios órgãos deveriam conscientizar mais o agricultor, orientar e facilitar que eles busquem a regularização. A SAR estava fazendo e o sindicato poderia ter no âmbito dos associados dele, um departamento jurídico para aplicar esses casos (Técnico do Cartório de Registro de Imóveis de Abelardo Luz, 2014).

Nesse sentido, apresentando a posse ou os documentos, cabe ao agricultor a obrigatoriedade do cadastramento do imóvel no INCRA, mesmo para os posseiros que não detém o título de propriedade. Os entrevistados também afirmam que caberia ao Estado fazer a regularização fundiária de imóveis até quatro módulos, mas que o governo não dispõe de recursos financeiros e de decisões políticas para a ação. Para os técnicos do cartório, o processo fundiário precisa ser incrementado com a maior atuação do agricultor e dos órgãos que os representam.

Em relação ao Cartório de Registro de Imóveis de Passos Maia, a comarca foi criada em 1967, e realizava as escrituras e as enviava para a comarca de Joaçaba para seu registro. No ano de 1969, houve a criação da comarca em Ponte Serrada que passou a registrar os imóveis do município e também os de Passos Maia e de Vargeão.

A função do cartório é servir como uma peneira para ver se os casos solicitados estão regulares ou irregulares e condizentes com a lei. Muitos títulos não têm como registrar e tem que devolver, porque tem que olhar desde o INCRA, Número do Imóvel na Receita Federal do Brasil (NIRF), CCIR, todas as negativas apresentadas, qualificação, CPF e RG, principalmente a área com a matrícula ou tem que fazer o processo de retificação que antigamente era tudo feito judicialmente e hoje é feito administrativamente e envolve uma série de pesquisa (Técnica do Cartório de Registro de Imóveis de Ponte Serrada que abrange Passos Maia, 2014).

Para essa técnica, a regularização fundiária se dá por meio da ação legal do usucapião. Assim, cabe ao agricultor provar de forma mansa e pacífica o tempo de uso da terra. Para tanto, são ouvidas testemunhas e

consultados os confrontantes da terra a ser legalizada para identificar se não existem litígios. Ainda será realizado a elaboração de uma planta e memorial descritivo, os quais serão levados para requerimento do usucapião. Só então, o juiz determinará o título, que será registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Entretanto, ressalta-se que os entraves desse processo fundiário esbarram na ausência de informações pelos agricultores e da burocracia das ações no cartório. Quanto à fração mínima de parcelamento para regularização de um estabelecimento agropecuário junto ao cartório, a entrevistada relata que esse procedimento é necessário.

Para escriturar precisa estar com ao menos 30.000 metros quadrados, senão será irregular. A determinação do INCRA é o mínimo 30.000 metros para um agricultor poder sobreviver, menos disso só pode para fazer uma anexação à outra área que você já é confrontante. Não sei em casos menores que esse tamanho, como o INCRA vai regularizar (Técnica do Cartório de Registro de Imóveis de Ponte Serrada que abrange Passos Maia, 2014).

Após esta caracterização das organizações do Território de análise, no próximo tópico apresentam-se as conclusões do capítulo, considerando os principais pontos discutidos pela pesquisa.

2.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO

A partir da pesquisa empírica realizada no MOC, foi possível identificar a presença de um público potencial para ações de regularização fundiária nas zonas rurais. A caracterização desse público e de suas condições históricas, sociais e econômicas através da micro-história permite afirmar que a herança dos movimentos históricos ocorridos na região, com destaque para a Guerra do Contestado e da forma como se deu o povoamento do Território com a presença de imigrantes de origem europeia, explicam a persistência de agricultores desprovidos do título de propriedade. A figura do agricultor ocupante e/ou posseiro, que é, na maioria dos casos, de origem cabocla, de idade avançada e que não detém condições financeiras para a regularização de suas posses ainda é recorrente. A falta de mão de obra nas zonas rurais, marcada pela saída de jovens para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida, também caracteriza a região onde esta pesquisa foi realizada. Os acordos de arrendamentos e de parcerias nas zonas rurais representam

parte das estratégias para o acesso a políticas públicas pelos agricultores que não apresentam seus estabelecimentos regularizados. A incipiente participação comunitária e, portanto, a fragilidade social dos agricultores familiares, aliada às diferenças sociais entre caboclos e os de origem europeia refletem, de certa forma, na atual situação vivenciada por esta categoria de agricultores.

A origem dos estabelecimentos agropecuários com problemas de regularização está associada à aquisição de terras de antigas serrarias e de propriedades de criação de animais. Evidencia-se, também, a presença de unidades obtidas via posse, herança e compra. Apresentam como particularidades a configuração de estabelecimentos categorizados como minifúndios, nos quais para a realidade do Território, a produção está basicamente voltada para o autoconsumo, devido a seu tamanho reduzido, baixas condições produtivas, de renda e de investimentos. Esse conjunto de fatores inviabiliza o acesso às políticas públicas e os benefícios proporcionados pelas mesmas.

O acesso limitado aos serviços básicos ainda é recorrente nas zonas rurais e no que cabe à regularização fundiária dos estabelecimentos agropecuários, os agricultores o veem como um processo caro, burocrático e demorado. Os beneficiários de programas governamentais salientam a importância da diminuição de custos no processo de contratação de advogados para a ação de usucapião. Entretanto, consideram a ação de fundamental importância para a permanência nas zonas rurais, e evidenciam a necessidade de aumento na quantidade de beneficiários com direito a participar dos programas. Os casos de lotes com tamanho inferior a três hectares e que não podem, por força da lei, serem contemplados pela política de regularização fundiária de zonas rurais acometem um número significativo de agricultores pesquisados e, dessa forma, necessitam ser melhor analisados pelos órgãos de regularização. A pesquisa mostra que estes agricultores são os maiores afetados pela insuficiência e fragilidade do processo fundiário instalado nesse Território. A proposição de políticas públicas de regularização fundiária necessariamente deve levar em consideração a diversidade de situações fundiárias, para que efetivamente o poder público, juntamente com a sociedade civil, disponham de condições reais de modificação desses cenários fundiários descritos.

As organizações que fomentam ações fundiárias no MOC são dificilmente identificadas pelos agricultores, visto que nos diferentes municípios pesquisados foi possível identificar uma diversidade de organizações que promovem tais iniciativas, dentre os quais os Cartórios de Registros de Imóveis, Institutos Estaduais de Terra ou Secretarias de

Agricultura como é o caso catarinense, INCRA e também os órgãos municipais ligados ao Estado e à sociedade civil. Muitas das organizações pesquisadas no Território não possuem suas ações priorizadas no fomento de políticas públicas de regularização fundiária, mas as consideram como de fundamental importância para a manutenção dos agricultores no campo. Salientam que a titulação das terras, apesar de ser um processo burocrático, caro e que demanda tempo, apresenta forte demanda de ações pelos agricultores no Território.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa buscou caracterizar o perfil socioeconômico das famílias de agricultores ocupantes e passíveis de regularização fundiária, bem como de seus estabelecimentos agropecuários. Para tanto, procurou- se entender as ações passadas e em curso conduzidas por organizações estaduais e locais no Território Meio Oeste Contestado. Partindo desse objetivo central, foi possível perceber que a política de regularização fundiária para zonas rurais tem uma demanda potencialmente significativa e representa uma ação estratégica para a melhoria das condições de vida dos agricultores.

Para a realidade do Território, a demanda por uma política de regularização é composta por famílias de agricultores de origem cabocla e de ascendência europeia, que apresentam baixas condições econômicas para arcar com os custos de uma ação desse caráter. No que cabe aos estabelecimentos agropecuários, estes também refletem as condições socioeconômicas das categorias de agricultores analisadas. De forma geral, são estabelecimentos pequenos, sem titularidade da terra, que apresentam produções basicamente voltadas para o autoconsumo e que se encontram localizados em áreas com condições menos favorecidas para a produção agropecuária, ou não passam de pequenos lotes para moradia. São agricultores que também possuem baixo acesso aos serviços básicos de educação e raramente às políticas de crédito rural, com destaque para o Pronaf e o programa Minha Casa, Minha Vida.

Através da pesquisa também foi possível resgatar a trajetória histórica dos agricultores familiares, priorizando a origem da problemática fundiária no Território. Assim, evidenciou-se que muitas das atuais situações fundiárias dos agricultores estão relacionadas aos processos históricos do direito de propriedade no Brasil, considerando os mecanismos de uso e de posse da terra e também do registro e cadastro fundiário. Os movimentos históricos da Guerra do Contestado e da colonização por imigrantes de origem europeia na região Meio Oeste Contestado contribuíram com a persistência de agricultores com problemas fundiários nessa localidade, em especial no que tange a ausência da titularidade de propriedade.

A reconstrução do processo histórico da formulação da política de regularização fundiária foi outro tema contemplado por esta pesquisa. As políticas públicas federais e estaduais de regularização, ainda que estratégicas para a realidade agricultores nas zonas rurais, apresentam-se problemáticas em relação à continuidade de suas ações, a seu planejamento organizacional, e aos recursos técnicos que mobilizam para

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