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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

1.5 HISTÓRICO FUNDIÁRIO DE SANTA CATARINA

O estado catarinense localiza-se na região Sul do país e compreende uma área de 95.736,165 km², representando 16,60% da área total dos três estados que configuram a região (SANTA CATARINA, 2013). Possui como fronteiras o Paraná ao norte, o Oceano Atlântico ao leste, o estado do Rio Grande do Sul ao sul e a República Argentina ao oeste.

A sua população, no ano de 2014, estava estimada em 6.727.148 habitantes, dos quais, aproximadamente, 84% residiam em áreas urbanas (IBGE, 2014). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no ano de 2010, correspondia a 0,774 (IBGE, 2010), posicionando-se entre os estados federados com os melhores níveis de desenvolvimento humano. Em relação à situação fundiária, apresenta um índice de Gini de 0,682 (IBGE, 2006) e caracteriza-se por um processo de colonização que contribuiu com a formação de estabelecimentos agropecuários baseados em pequena propriedade familiar, como pode ser observado na Tabela 5. Dados mostram que prioritariamente os estratos de área de menores dimensões representados por até 10 hectares configuram grande parte da malha fundiária catarinense. Contudo, quando se observa o estrato de 1000 hectares ou mais, é notória a alta concentração de terra, apesar da existência de uma agricultura familiar de origem europeia com forte inserção nos mercados.

Tabela 5: Número, área e área média de estabelecimentos agropecuários em

Santa Catarina por estrato de área, em 2006. Estrato de área (ha*) N° de estabelecimentos % Área % Área média (ha) %

(mil) (mil ha)

Menos de 10 69.390 35,8 334,2 5,5 4,8 0,1 De 10 a menos de 20 56.411 29,1 787,2 13,0 14 0,4 De 20 a menos de 50 45.310 23,4 1.339,40 22,2 29,6 0,8 De 50 a menos de 100 10.723 5,5 715,7 11,8 66,7 1,8 De 100 a menos de 200 4.124 2,1 553,6 9,2 134,2 3,7 De 200 a menos de 500 2.389 1,2 726,6 12,0 304,2 8,4 De 500 a menos de 1000 743 0,4 501,9 8,3 675,4 18,6 1000 a mais 451 0,2 1.081,50 17,9 2.398,0 0 66,1 Outros (sem área ou declaração) 4.122 2,1 0 0 0 0 Total 193.663 100 6040,1 100 3626,9 100

Fonte: IBGE (2006) e Gomes (2013).

* A unidade de medida “ha” refere-se à hectare e corresponde a 10.000 m². Para compreender-se melhor o processo de regularização fundiária de Santa Catarina é necessário conhecer o histórico da política no estado e os desafios desse processo ao longo do tempo. As informações abaixo são referentes ao Manual Operativo do Programa Santa Catarina Rural, organizado pela SAR, que serviu de suporte para uma negociação entre o Governo do Estado de Santa Catarina e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) no ano de 2012 (PROGRAMA SANTA CATARINA RURAL, 2012).

Em 1901, no Governo de Felipe Schmidt, criou-se a Secretaria Geral dos Negócios do Estado, que se subdividia em duas diretorias: Diretoria do Interior, da Justiça, Instituição Pública, Viação, Tesouro do Estado e Diretoria de Terras e Obras Públicas. Assim, com o objetivo de vender terras públicas e legitimar documentos de posse, foi desmembrada dessa última diretoria uma diretoria que passaria a se ocupar dos Serviços

de Terras e Colonização. Somente em 1952, por meio da Lei nº 786, se criou a Secretaria dos Negócios da Agricultura, abrindo caminho para ações de modernização da agricultura e implantação do serviço público de extensão rural pelo Estado.

Em 1975, com a expansão do setor agropecuário, foi instituída a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, Lei nº 5.089, com diversos órgãos. Dentre esses, um era voltado às questões de reforma agrária: o Instituto de Reforma Agrária de Santa Catarina (IRASC). Esse Instituto teve vida curta e já em 1977 foi extinto. Em seu lugar constituiu- se a Coordenação de Legitimação e Cadastramento de Terras Devolutas (COLECATE), vinculada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento. No ano de 1988, concebeu-se a Coordenação de Terras e Reforma Agrária (COTERRA); em 1991, a Diretoria de Assuntos Fundiários; em 1998 a Gerência de Assuntos Fundiários (GEASF), presente até os dias atuais; e no ano de 2010, a Diretoria da Agricultura Familiar e da Pesca ligada à Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca, que agrega a GEASF.

Atualmente, a GEASF é o órgão encarregado de desenvolver políticas fundiárias no estado e tem como incumbência fazer o levantamento de campo de assuntos fundiários relevantes, como a organização da documentação e seu encaminhamento ao INCRA que, por sua vez, faz a certificação27 das plantas topográficas quando há necessidade. A certificação dos imóveis rurais é liberada para os casos que apresentam área menor de 500 hectares e nas quais há uma decisão judicial do título, a exemplo das sentenças de usucapião. Contudo, para áreas superiores a 500 hectares o georreferenciamento e certificação do INCRA são exigidos.

Como se pode observar, o Órgão Estadual da Terra do estado de Santa Catarina foi extinto e o tema de regularização fundiária no estado nunca ganhou evidência na estrutura do governo estadual. Atualmente, o quadro técnico da gerência é formado basicamente por três gerentes que atuam na assessoria jurídica da GEASF, sendo um relacionado à parceria INCRA/SAR e dois à execução do Programa SC Rural, além de um diretor da gerência. Hoje, esse órgão deveria ser o responsável, juntamente com a SRA/MDA, por executar o Programa de Cadastro de Terras e Regularização Fundiária nos municípios alvo de regularização

27 Segundo o INCRA (2015), a certificação de um imóvel rural corresponde à elaboração de uma planta georreferenciada deste imóvel, acompanhada da declaração de todos os seus confrontantes, concordando com os limites levantados e com o caminhamento percorrido pelo agrimensor credenciado, durante os serviços de georreferenciamento do imóvel rural.

fundiária no estado. Até o momento, Santa Catarina está situada entre os estados federados que não firmaram convênio com o MDA/SRA. O PCTRF não tem incidência no estado, apesar de ter havido esforços no ano de 2013 por parte do governo federal para se iniciar projetos pilotos no estado. Segundo informações da SAR (2013), não há previsão de que esse programa venha a se iniciar em Santa Catarina. O assessor jurídico da SAR, que trata do convênio de regularização fundiária no estado entre SAR e INCRA, relatou, em 2014, que até o final daquele ano não tinha conhecimento sobre a implementação do programa a partir de um acordo entre a Secretaria da Agricultura do Estado e a Secretaria de Reordenamento Agrário:

O projeto [entre SAR e SRA] não sei como está. Esse projeto precisa ser implantado de forma permanente, para que a regularização aconteça para os comandos de direito, no caso a União e o Estado (Assessoria jurídica da SAR, 2014).

Atualmente, a SAR coordena o Programa SC Rural, que tem por objetivo principal o aumento da competitividade da agricultura familiar no mercado. No entanto, a regularização fundiária figura entre os objetivos específicos desse programa que representa a principal forma de ação do governo do estado no meio rural catarinense desde meados dos anos 1980, época em que o Programa era denominado de “Microbacias”. As ações governamentais de regularização nas zonas rurais catarinenses serão apresentadas a seguir, com destaque para as ações do INCRA SC com legitimações de posses e do MPSC e sua atuação, seguido da parceria entre o INCRA e a SAR ocorrida no início de 2001 e do atual Programa SC Rural.

1.6 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM SANTA CATARINA

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