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CAPÍTULO III – Análise dos dados

3.1 Quais as concepções de leitura presentes em documentos orientadores da formação de professores de E/LE?

3.1.2. a Carta ao Professor

As OCEM volume 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias é um documento organizado pela Secretaria de Educação Básica e publicado em 2006.

Na Carta ao Professor encontra-se o objetivo do documento (BRASIL, 2006, p. 5): ―contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente‖.

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Explicita que as OCEM são um ―instrumento de apoio à reflexão do professor a ser utilizado em favor do aprendizado‖ (OCEM, 2006, p. 7) e que possa servir como ―estímulo à revisão de práticas pedagógicas, em busca da melhoria do ensino‖ (OCEM, 2006, p. 7).

Nesta carta, a Secretaria de Educação Básica (SEB) e o Ministério da Educação (MEC) enfatizam a educação pública de qualidade como meio de acesso democrático às oportunidades que se apresentam a um sujeito. Na busca por essa qualidade, a SEB e o MEC planejam e realizam ações, como por exemplo, o Plano Nacional do Livro do Ensino Médio, o qual possibilita ao professor o acesso a livros que possam servir como ―apoio ao trabalho científico e pedagógico do docente em sala de aula‖. Outras ações que a SEB e o MEC pretendem realizar são o rompimento da dualidade entre educação profissional e educação de Ensino Médio e as diversas parcerias entre a Secretaria de Educação e Institutos de Educação Superior que buscam a Formação Inicial e Continuada dos profissionais da educação: Pró-licenciatura, Pro- Uni e Universidade Aberta do Brasil. O desafio do Ensino Médio é uma formação que prepare o jovem para viver em uma sociedade complexa que exige do indivíduo a capacidade de aprender continuamente.

3.1.2.b Apresentação

Na Apresentação, organizada pela ―Diretoria do Departamento de Políticas de Ensino Médio‖, encontramos um resumo da história deste documento. A proposta das OCEM surgiu em 2004 como resultado de debates entre gestores de Secretarias Estaduais de Educação e pesquisadores de Universidades sobre questões referentes ao ensino. Aponta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996) como um divisor na construção da identidade do Ensino Médio. A partir da promulgação dessa Lei, a fase final da Educação Básica tem passado por um processo de reformulação, reorientação e reorganização de sua finalidade. O Ensino Médio passou a ser considerado como uma etapa que deve possibilitar ao educando o seu desenvolvimento como ser humano, prepará-lo para o mundo do trabalho e dar-lhe condições de ser responsável por continuar aprendendo sempre.

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Para isso, o currículo deve ser repensado: ter uma base nacional comum, mas ser complementado com uma parte diversificada que traga para o estudo aquilo que é próprio do contexto social e cultural de onde a escola esteja inserida. O currículo também deve ser pensado de forma a superar a visão de disciplinas estanques, visando uma maior integração de conhecimentos. A proposta pedagógica deve ser elaborada e executada pelos próprios estabelecimentos de ensino e com a participação dos docentes.

Pensar o conhecimento em seu valor histórico e social e buscar novas formas de produção de conhecimento é papel da escola. O currículo deve ter isso em seu bojo. ―O currículo é a expressão dinâmica do conceito que a escola e o sistema de ensino têm sobre o desenvolvimento dos seus alunos e que se propõe a realizar com e para eles‖ e ―O Projeto Pedagógico e o Currículo da Escola devem ser objetos de ampla discussão para que suas propostas se aproximem sempre mais do currículo real que se efetiva no interior da escola e de cada sala de aula‖ (BRASIL, 2006, p.9).

Segundo Santos (2006), a forma como se inserem as disciplinas em um currículo representa a opção pedagógica da instituição escolar. A maneira como se concebe e aplica as disciplinas pode colaborar para que o estudante construa e produza conhecimentos de forma fragmentária e estanque ou natural e significativa.

Outro dado a ser considerado nesta apresentação é questionado por Rodrigues (2010). A autora, ao analisar a LDBEN nº 9394/1996 ressalta o vínculo estabelecido nesta lei entre ―educação e trabalho‖ (2010, p. 100) e, consequentemente, ―aluno a cliente‖ 46 (2010, p. 101). Ela afirma (2010, p. 101) que:

Esta identificação educação=trabalho=economia, ensino=mercado, não passará incólume pela questão da oferta de línguas estrangeiras nas escolas brasileiras: o aumento de anos de seu estudo obrigatório parece ter sido a solução encontrada na LDB de 1996 para resolver os problemas do fracasso/insucesso de seu ensino nesse contexto, [...]; neste sentido, além do nível Médio, as línguas estrangeiras passaram a ser obrigatórias também nos quatro últimos anos do Ensino Fundamental.

Pensar os caminhos que o ensino de línguas estrangeiras percorreu no Brasil e ainda percorre, principalmente a língua espanhola, significa pensar, segundo Rodrigues (2010), o tipo de saber que é socialmente valorizado e a quantidade desse saber que se deve adquirir.

Não podemos ignorar que a baixa carga horária de aulas de línguas estrangeiras e o lugar/espaço onde são posicionadas refletem conflitos de concepções de

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ensino, de aprendizagem e mesmo do papel das línguas estrangeiras no ensino regular. Esse fato nos faz antecipar um pouco do tópico c.2 ―O papel educacional do ensino de línguas estrangeiras na escola‖, no qual, como veremos, se mantém o discurso de que o ensino de línguas estrangeiras no ensino regular está vinculado ao conceito de cidadania e que sua função é contribuir para que o indivíduo possa ampliar sua visão de mundo e de linguagem, descobrindo que existem pessoas e culturas diferentes com diversidade de modos de expressão e de valores.

Parece-nos que coexistem discursos diferentes em um único documento: o Ensino Médio vincula-se à preparação ao mundo do trabalho, ao crescimento pessoal, humano e às condições para continuar crescendo com autonomia. Romper a dualidade entre educação profissional e educação do Ensino Médio – citada na Carta ao Professor – parece ser um desafio pedagógico e epistemológico. Pedagógico no sentido de como as disciplinas são organizadas ―nos processos de ensino e aprendizagem‖, e epistemológico no sentido de ―como o conhecimento é produzido‖ (SANTOS, 2006, p.140). A compreensão e conscientização sobre o significado e a força prática desses discursos no cotidiano escolar podem colaborar para que os educadores encontrem caminhos necessários para transformar a realidade escolar de hoje.

A seguir, estão descritos e analisados os capítulos Conhecimentos de Línguas Estrangeiras e Conhecimentos de Espanhol.