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→ Esquizofrenia e transtornos delirantes :

CAPÍTULO 7 Estudo da violência

8.4 CASAMENTO E SEPARAÇÃO

Utiliza-se o termo “separação” para indicar todos os processos de rompimentos de vínculo familiar.

Muitas pessoas buscam o Poder Judiciário na esperança de que o poder decisório do juiz resolva seus  problemas emocionais. É a busca da resolutividade, sem enfrentamento do real conteúdo emocional, o que levaria à

independência das partes e as reais possibilidade de crescimento pessoal frente à situação, contudo, com assunção da responsabilidade.

 Nas relações de continuidade, é especialmente produtivo e desejável que os conflitos sejam levados à Mediação, alternativa, não adversial de solução, e explicitados junto ao mediador, um terceiro que orienta e facilita a  busca de soluções pelos envolvidos.

8.4.1 Casamento

A união advinda do casamento pode estar eivada de interesses pessoais, conscientes ou não. Os direitos e deveres não internalizados satisfatoriamente pelas partes, além das implicações emocionais e práticas, podem resultar  em situações altamente prejudiciais, como violência doméstica.

Vale ressaltar valiosos tópicos concernentes ao tema, extraídos do CCB:  NOTA DO TRANSCRITOR: Ao decorrer do capítulo, o autor somente se limitou a reproduzir as disposições do CCB sobre as causas de invalidade do casamento.

8.5.1 União Estável

Os modelos de família se multiplicaram. O CCB trata da união estável no art. 1.723.

A guarda dos filhos e o exercício do poder familiar devem respeitar, neste caso, o mesmo disciplinamento concernente ao casamento formal.

8.4.3 Dissolução e rompimento do vínculo familiar

A separação implica em fim da conjugabilidade e não da parentalidade. Essa conjugabilidade há muito pode ter  sido perdida, ainda que não formalmente reconhecida. Há casos em que homem e mulher continuam a viver sob o mesmo teto, porém, cada um dedicando-se às próprias atividades, sem compartilhar sentimentos, decisões e ações.

 Não existe divórcio que seja bom para os filhos. Ele pode somente ser ruim ou menos ruim. A separação é vista como uma traição à ideia de que os pais viverão eternamente juntos.

 Nos processos de separação, juízes, promotores e advogados ficam especialmente em evidência nas relações formadas no processo, uma vez que as partes, outrora compartilhando da intimidade, agora “conversam” através do  processo e de seus representantes legais.

O litigante que se sente prejudicado com a decisão (um conveniente mecanismo psicológico de defesa) passa a atribuir a seus representantes a perda “na batalha jurídica”. O mesmo acontece em relação ao juiz (que é considerado um “mau juiz” porque não soube ver seu ponto de vista).

À decisão dos pais relativamente à separação, segue-se outra decisão importante: como contar aos filhos? É essencial que saibam, porque isso se traduz em respeito à dignidade de cada um deles. Em geral, seja qual for  a idade, já existe por parte dos filhos uma percepção acerca do relacionamento dos pais, de seus conflitos e dificuldades. A comunicação deve ser feita com cautela, a fim de que o filho não se sinta culpado do térmi no da relação conjugal.

É melhor que a notícia seja dada por ambos os pais. A experimentação de uma triangulação é sempre desejável, uma vez que pai e mãe necessitam comunicar seus sentimentos, evitando que aquele que noticia seja o único responsável ou que aproveite o momento para desqualificar o outro, facilitando o aparecimento de alienação parental.

 Na separação, observam-se diversas figuras a se intercambiar ao longo do processo; algumas vêm de modo manifesto, outras, em atitudes e comportamentos que deixam implícitos os reais interesses das partes.

O cônjuge manipulador é aquele que irá articular os fatos e a própria audiência de modo a atrair para si as atenções que deseja.

Aparece o vitimizado, o que, em termos de relações de gênero, evidencia-se que sobremaneira nas questões relativas à violência doméstica.

O cônjuge dependente economicamente muitas vezes poderá ceder em aspectos fundamentais imaginando que com isto poderá garantir a manutenção de suas necessidades básicas. Há também aquele dependente afetivo que cede a uma separação consensual imaginando, assim, ganhar as atenções do parceiro e a possibilidade de reatar a convivência apenas suportada, mas não compartilhada plenamente.

O papel do advogado deixa de ser somente o de buscar uma solução jurídica para o conflito, ou, em separações litigiosas, defender a posição e o interesse da parte que o contratou, para compreender, naquela situação específica, as viscitudes próprias do momento e das condições que cada parte apresenta em relação às decisões que devem ser  tomadas, em especial, quanto aos filhos do casal.

 No âmbito das perícias, muitos casais são resistentes em suportar perícias e avaliações a respeito da guarda e visitação dos filhos, uma vez que a esse procedimento, ainda que necessário, acarreta certa demora na solução do litígio. A perícia faz papel de um possivelmente incômodo espelho, capaz de colocar à luz o que se oculta no psiquismo.

8.4.4 Filhos: disputa de guarda e regulamentação de visitas

A decisão judicial deve ser precedida de um trabalho interdisciplinar que conjugue aspectos jurídicos e  psicossociais, para bem subsidiar a decisão que venha a ser tomada.

As questões envolvendo o poder de um cônjuge sobre o outro, ou a disputa de poder entre ambos, podem evidenciar-se de maneira perversa na guarda dos filhos.

Muszkat (2005 – Guia prático de mediação de conflito em famílias e organizações ) afirma que é impossível compreender a manejar conflitos sem um exame mais rigoroso da correlação de poderes presentes na dinâmica das relações entre as partes litigantes. E, baseada nas ideias foucaultianas, a autora desenvolve as seguintes considerações:

 O poder nunca é exterior ao sujeito... ele se exerce a partir das relações que são desiguais;

 Reconhecendo a interioridade, ele é posto em ação por intermédio de uma força comunicacional

(verbal ou não verbal) que define a relação;

 O poder é relacional, é coconstruído (esta escrito assim no livro, acho que o autor quis dizer:

construído conjuntamente) e deve sempre ser reconhecido pela outra parte;

 O poder é interdependente, surge da dependência mútua de recursos; se uma das partes tiver poder 

absoluto sobre a outra, não haverá conflito;

 A dependência de recursos pode ser concreta, simbólica, idealizada ou fantasiada e necessita de

constante reconhecimento... o efeito do poder por meio do consentimento é muito mais eficaz do que o obtido pela força;

 O poder gera uma força oposta, ao determinar a conduta do dominado, uma inevitável força contrária,

uma resistência;

 O discurso do poder se reforça pela repetição, tornando-o tanto mais forte quando menos puder ser 

questionado.

Pela abrangência do art. 227 da CRFB/88, fica demonstrado que, em separação, o cuidado do legislador, do operador do direito e de possíveis peritos e assistentes técnicos envolvidos deve guiar-se pela proteção de todos os envolvidos na disputa judicial, especialmente crianças e adolescentes.

 Na vida da criança há referências de continum de corpo, afetividade e social. Se, quando o casal se separa, a criança pode permanecer no espaço em que os pais tinham sido unidos, o trabalho do divórcio ocorre de maneira muito melhor para a criança, esta somente pode fazer o trabalho efetivo de compreender o divórcio, se é muito pequena, quando permanece no mesmo espaço, na mesma escola, mantendo vínculos que representam referenciais para ela. Até os 4 anos existe uma necessidade dominante da presença da mãe. Isto toma especial relevância quando se trata de bebês em fase de amamentação.

Vale ainda referenciar alguns ensinamentos:

 Durante os primeiros meses da vida, o bebê aprende a discriminar uma certa figura, usualmente na

mãe... depois de seis meses de idade, aproximadamente, o bebê mostra suas preferências de modo inconfundível;

 Durante a segunda metade do primeiro ano de vida, e a totalidade do segundo e terceiro, a criança está

intimamente ligada à sua figura materna, o que significa que fica contente com sua presença e aflita com sua ausência;

 Após o terceiro anos, o comportamento de ligação é suscitado um pouco menos prontamente do que

Tais ensinamentos devem sempre ser analisados à luz da realidade atual, uma vez que os novos arranjos familiares e a inserção da mulher no mercado de trabalho, são os pais que exercem um papel primordial de cuidado intrafamiliares.

De modo similar, é necessário analisar individualmente a possibilidade de manter irmãos com o mesmo cônjuge ou de colocá-los separadamente com o pai e mãe. O ideal é que todos os filhos possam, indiscriminadamente,  partilhar da companhia, afeto, cuidados e atenção de pai e mãe. As consequências da carência paterna são tão graves

quanto as da maternas.

O papel de ambos é fundamental, trazendo e consolidando, por meio da convivência, referenciais e valores que formam o arcabouço da personalidade dos filhos.

 No período de 6 aos 12 meses o papel do pai é importantíssimo. A carência deixa um déficit. O pai continua tendo muita importância em toda a vida do filho, especialmente nas conexões deste com o mundo externo.

A guarda alternada implica em uma alternância de moradia pelo menor. É criticada pela possibilidade de dificuldade de adaptação, não apenas ao lar físico, mas também às relações parentais e sociais. Pode acarretar em falta de referências de um lar, valores, e prejudicar a construção de hábitos estáveis, principalmente no caso de crianças  pequenas, que necessitam de um continuumespacial.

Já a guarda compartilhada evita prejuízos à criança, à descontinuidade do lar. Além disso, pai e mãe assumem responsabilidade nos direitos e deveres em relação aos filhos, sendo sempre desejável a conciliação nos casos que envolvem pais e filhos.

A lei 12.398/2011 é um importante instrumento na prevenção à formação do menor possibilitando aos avós o exercício da visitação, já reclamada em muitas ações judiciais.

8.4.5 Alienação parental

Crianças, em geral, possuem significativa habilidade para comparar detalhes dos comportamentos e das falas e identificar paradoxos; para lidar com eles, desenvolvem mecanismos de defesa; isso, entretanto, não evita danos ao aparelho psíquico, que se refletirão, mais tarde, em dificuldades na adolescência e na vida adulta.

Comportamentos ambivalentes e ansiosos prejudicam o desenvolvimento das crianças, já desde bebês, quando são mais sensíveis e estão mais atentos aos significados de expressões faciais, tons de voz e gestos do que os adultos. Assim, um casal pode, facilmente, transmitir aos filhos, ainda que de tenra idade, a “guerra” existente entre eles, e continuar a reproduzi-la mesmo após a separação.

Segundo Richard Gardner, psiquiatra, a alienação parental consistente em programar uma criança para que odeie um de seus genitores sem justificativa, por influência do outro genitor com q uem a criança mantém um vínculo de dependência afetiva e estabelece um pacto de lealdade inconsciente.

As consequências para a criança, em geral, indicam sintomas como depressão, incapacidade de adaptar-se aos ambientes sociais, transtornos de identidade e de imagem, desespero, tendência de isolamento, comportamento hostil, falta de organização e, em algumas vezes, abuso de drogas e álcool e suicídio. Quando adulta, incluirão sentimentos incontroláveis de culpa, por se achar culpada de uma grande injustiça para com o genitor alienado.

O profissional da psicologia, ao realizar uma perícia ou atuar na mediação, assim como o operador do direito, deve ter claro esses aspectos, nem sempre manifestos, uma vez que na disputa pela guarda dos filhos podem estar  latentes características que levem à alienação parental. Buscar o equilíbrio entre as partes contribui para minimizar essa  possibilidade.

Alguns pais e mães transferem para a relação do filho do casal com o outro cônjuge seus próprios medos e frustações, mágoas e adversidades. Raros os pais que conseguem comunicar ao filho a situação de do modo mais límpido e imparcial. Na guarda de filhos e regulamentação de visitas, as decisões devem ser criteriosas o suficiente para amenizar possíveis danos, já fatalmente implicados no processo de separação.

A busca e apreensão de filho requer muita parcimônia, cuidados e critérios em sua determinação,  principalmente quando a criança não se encontra em situação de risco. Trata-se de medida agressiva (em sentido amplo, não se evidenciando em violência física, mas imprimindo fortes contornos de violência simbólica) com sensíveis consequências para todos os envolvidos, mais marcadamente para as crianças, que percebem na força pública, na figura do policial, o extremo conflito a que chegaram seus pais.

A interface entre a psicologia e o direito nas varas de família, que na compreensão e leitura que o magistrado faz do processo, quer nas perícias psicológicas, fica evidente quando a busca da solução judicial perpassa pela representação simbólica que o rompimento da relação conjugal traz para as partes.

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