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CASAMENTO, MATERNIDADE E DIVÓRCIO

No documento javerwilsonvolpini (páginas 181-194)

4 O PROJETO LITERÁRIO DE DÉLIA E A CRÍTICA FEMINISTA

4.2 CASAMENTO, MATERNIDADE E DIVÓRCIO

Por muito tempo, o casamento foi um “negócio”, não só porque envolvia duas pessoas, mas porque se tratava de um mecanismo presidido pelos pais. Certa angústia os perseguia quando a filha atingia a idade de se casar, ocasião em que era bom ter uma rede de relações, para, então, descobrir um candidato aceitável. Em missas e festas, as mães inspecionavam os candidatos com o olhar, analisando as cifras das fortunas familiares. Um vocabulário próprio às estratégias matrimoniais era colocado em ação: aliança, fortuna, salvar as aparências, nome. Havia grande preocupação com o que se dissesse sobre a futura união, por isso toda a parentela se mobilizava para achar o animal raro: tios, tias, sobrinhos, padres, amigos, além das casamenteiras, que faziam convergir para os pais informações o mais precisas possível. Porém, perigo: algumas jovens tinham “caprichos”. Nesse caso, o problema passava a ser outro: evitar que ela “caísse”, que cometesse uma “falta”. Perder a virgindade antes do casamento era grave, mas engravidar, pior ainda: era gravíssimo. Tudo girava em torno do dote e da “fama” da moça (DEL PRIORE, 2014, p. 44-45).

Esta observação da historiadora Del Priore resume de forma bastante didática o que representava o casamento na sociedade patriarcal do Brasil do século XIX. Essa união era, antes de tudo, um arranjo econômico social e político. Por meio do casamento, famílias multiplicavam suas fortunas, adquiriam status e reafirmavam o poder e a influência que exerciam na sociedade. Nesse “negócio”, as mulheres “significavam um capital simbólico importante, embora a autoridade familiar se mantivesse em mãos masculinas, do pai ou do marido” (D’INCAO, 2015, p. 229). Simbólico, exatamente porque o feminino não tinha expressão de poder; mas importante, porque da mulher provinha toda a imagem positiva da família e do sucesso do casamento, desempenhando suas funções de esposa, mãe e gestora do lar.

Como observamos anteriormente, a educação da mulher estava centrada na sua preparação para o casamento, ensinada para uma atuação de maior relevância na esfera pública do que na privada. Menos importava a satisfação individual dos protagonistas dessas uniões. Um casal feliz e próspero era o ideal que deveria ser externado para a sociedade, ainda que esta imagem fosse contrária à realidade. Dessa forma, as máscaras sociais adquirem relevância na sociedade do século XIX e será uma das grandes temáticas que também pontuamos na obra de Délia. Diferente da educação para a mulher, que surge de forma menos evidente no projeto literário da escritora, a questão do casamento é abordada mais intensamente por ela em toda a sua obra, representando essas máscaras sociais. Podemos afirmar que os seus romances descortinam a instituição do casamento e apresentam, na contramão do cânone literário do

século XIX, a verdadeira face do matrimônio, de um outro ângulo, pelo olhar e pela experiência das mulheres, corroborando novamente com o modelo ginocrítico proposto por Showalter (1994).

Por meio das heroínas construídas por Délia o leitor tem acesso, de forma bem urdida, a uma denúncia da posição de inferioridade da mulher na sociedade patriarcal, podendo conhecer a intimidade das alcovas para além da representação social. A construção de narrativas que transitam entre os universos públicos e privados nas relações sociais vivenciadas por meio do casamento possibilitam uma compreensão do que era a realidade, no foro íntimo, e do que era apresentado socialmente, no foro privado. Eis aí a grande ferramenta de Délia para externar sua crítica ao casamento e como as mulheres foram adestradas para o ofício dessa representação. Nesse viés, a escritora incorpora em sua narrativa literária inúmeras situações vivenciadas nos bastidores das uniões nessa sociedade, tanto na intimidade do lar como na vida pública dos salões, denunciando a exposição dessas mulheres às mais diversas ambições, seja de cunho econômico, político ou social.

As personagens femininas de Délia apresentam uma fragilidade sentimental, bem característica da formação burguesa oferecida às mulheres no século XIX. Mesmo que a maioria delas tivesse o privilégio de escolher os seus parceiros, podemos perceber que elas se surpreenderam, tardiamente, em uniões movidas por algum tipo de interesse: fosse pelo dote ou por seus atributos físicos de beleza. O amor devotado aos maridos e a sua dedicação ao casamento não impediram que elas fossem vítimas de traições, de violência doméstica e, principalmente, do controle social a que estavam submetidas. Para muitas delas, restou apenas a resignação, amparadas pela conformação cristã de seu lugar na sociedade. Muitas de suas personagens resignou-se no exercício da maternidade.

A maternidade representava para a mulher uma extensão do casamento. Eles ocorriam, entre outros objetivos já citados, para se ter filhos legítimos, constituir família e dar continuidade à descendência. Era muito valorizado que o primogênito do casal fosse um filho homem. Isso fazia parte da cultura masculina de prosseguimento do nome familiar, visto que era do homem que vinha o nome da família. As filhas mulheres estavam em segundo plano e a elas estava fadado todo o compromisso com a moral da família. Deveriam ser educadas de acordo com a moral cristã e manter-se castas até o casamento. “Esse ideal feminino implicava o recato e o pudor, a busca constante de uma perfeição moral, a aceitação de sacrifícios, a ação educadora dos filhos e filhas” (LOURO, 2015, p. 447). O cuidado com as meninas criava uma rede de conexão entre o sexo feminino, no que podemos inferir que o exercício da maternidade era considerado um legado da mulher, embora totalmente regido pelo controle social.

O conceito de maternidade extrapola o entendimento apenas do ser mãe e se confunde com outras funções muito ligadas à formação dos filhos. Enquanto as meninas recebiam uma educação de cerceamento e limitações, a educação dos meninos era totalmente diferenciada e a eles eram garantidos muitos privilégios. Essa era a estrutura da família e o papel da esposa e mãe no exercício da maternidade. Estava sob o seu sucesso ainda, nesse apostolado, a garantia de uma maior mobilidade social que era mais uma das funções do casamento.

Nos romances de Délia, a maternidade assume papel de grande importância, inclusive em narrativas de romances em que suas heroínas não tiveram filhos. Essa ausência da maternidade por escolha da própria personagem parece sugerir mais um desejo de ruptura que podemos observar nos diversos perfis femininos construídos por Délia. Em sua obra, a maternidade é representada em todos os seus aspectos, desde a maternidade biológica, quanto a maternidade do coração. Observamos que essa temática corrobora com a importância que ela ocupava na sociedade patriarcal. Ao desenvolver vários perfis maternos, a escritora possibilita ao leitor uma análise da atuação feminina em consonância com os valores da época, porém sob a perspectiva de outros olhares. Haja vista, a defesa de Délia inclusive pela escolha da mulher em não ter filhos, possibilitando outras atuações femininas. Vale ressaltar que essa pauta feminista é extremamente contemporânea, mas já suscitada na literatura brasileira de autoria feminina do século XIX.

Além do casamento e da maternidade, ainda encontramos na obra de Délia uma sugestão ao rompimento dessas uniões, por meio do divórcio. Algumas de suas personagens desejaram a separação, mas não tiveram a coragem necessária para o julgamento social e resignaram-se. Outras, porém, assumiram essa postura de vanguarda e, provavelmente, chocando a recepção desses romances, apresentaram uma atuação feminina mais forte, capaz de enfrentar o cerceamento moral e social, abrindo novos caminhos para suas vidas. A decisão pelo divórcio representava a última arma da mulher em busca de sua felicidade, expressando uma atitude de ruptura totalmente em desacordo com os preceitos da família patriarcal e amplamente rechaçada pela Igreja Católica.

Embora o termo divórcio possa parecer mais contemporâneo, ele foi praticado no Brasil desde o período colonial até o final do Império. Importante ressaltar que o matrimônio, até o início da década de 1890, estava sob a prescrição religiosa que regulava também as demais questões econômicas e sociais dos casamentos, como os bens, a constituição da família e a união de corpos. O casamento civil no Brasil foi regulamentado somente em 24 de janeiro de 1890, por meio do decreto n. 181, promulgado pelo Marechal Deodoro, no início da República recém-proclamada. A partir de então, as dissoluções dos casamentos também passam para a

jurisdição do Estado, embora a influência cristã exerceu durante todo o século XX uma forte oposição ao divórcio.

A respeito desse decreto de 1890, e contando também com a regulamentação do divórcio, observamos que as jornalistas também se manifestaram, corroborando com mais essa pauta do movimento em defesa dos direitos da mulher que circularam pelos periódicos durante o século XIX. No jornal A Familia (1890), Josephina Álvares de Azevedo deixou registrada suas observações acerca do tema:

Na sociedade moderna, o divórcio é uma consequência fatal do ato legal, em virtude do qual dois entes de sexo diverso se ligam para a união conjugal até o dia em que por mútuo acordo as partes deixam de coexistir na plenitude de íntima solidariedade da família constituída. [...] Muitos fatos não se reproduziriam na sociedade, se o divórcio não manifestasse a ação da vontade, sujeitando a mulher ou a uma condição lamentável e crítica de abandono, ou à mais desoladora das escravidões! O homem deixaria de ser o responsável pela desonra da mulher que ele não pode repudiar porque a iníqua lei não o desobriga do contrato eterno; mas a mulher não sofreria também, com tanta frequência e resignação os assaltos à sua dignidade e ao seu amor próprio, se não fosse a mesma lei que a obriga a ser a eterna companheira do homem que desprezou o lar e esqueceu o amor da família. Seria mais senhora do seu destino a mulher donzela que pudesse repudiar o marido que os pais lhe impuseram sem consultar a sua afeição, do que aquela que muitas vezes para não desobedecer tem de sacrificar a existência inteira a um capricho da autoridade paterna que despreza os votos de um coração de moça para só consultar o seu calculado egoísmo. Providencial como lei, o divórcio será em todo caso sumamente benéfico como estímulo (AZEVEDO, 1890, p. 2).

Como vimos na atuação das mulheres nas Províncias do Sul durante o século XIX, os pedidos de divórcio e a anulação dos casamentos já era uma realidade naquela época, partindo, majoritariamente, do desejo da mulher, movidos sempre por situações insustentáveis de adultério, maus tratos, dilapidação do patrimônio, abandono do lar, entre os mais citados. A condição de superioridade masculina propiciava ao homem resolver suas ofensas no casamento de outras maneiras. A iniciativa para o divórcio, entretanto, era evitada ao máximo, pois consistia em processos longos, caros e de muita exposição social, principalmente para as mulheres. Isso corroborava com a cultura de resignação a que elas foram ensinadas.

“As mulheres do século XIX são feitas de rupturas e permanências. As rupturas empurram-nas para a frente e as ajudam a expandir todas as possibilidades, a se fortalecer e a conquistar. As permanências, por outro lado, apontam fragilidades” (DEL PRIORE, 2014, p. 7). Esta confirmação entre a tradição e a ruptura também estão presentes no projeto literário de Délia e já vimos pontuando essa questão em nossa pesquisa. Ao desenvolver personagens representantes dessas duas possibilidades de atuação, a escritora transita entre o contexto do

real e o contexto do ideal nas narrativas de vida de suas heroínas, com personagens que reproduzem a ideologia patriarcal do período, submetendo-se ao destino social reservado a elas. Algumas delas resignam por uma vida inteira, buscando alento na maternidade. Outras rompem parcialmente com este modelo e substituem a tediosa experiência do casamento pela instrução. Há, ainda, algumas que rompem significativamente com suas realidades, assumindo a autoria de suas vidas a partir da separação. No entanto, apesar de suas particularidades, todas essas personagens apresentam uma atuação que suscita uma reflexão sobre o papel da mulher naquela sociedade em que foram criadas e recebidas pelo público. Para isso, na obra de Délia, agrupamos a temática do casamento, da maternidade e do divórcio em uma mesma abordagem de análise, embora as três nem sempre sejam percebidas, respectivamente, em todos os romances analisados.

Nessa abordagem proposta, pontuamos novamente a força das máscaras sociais e como elas foram usadas para justificar as diversas situações de sofrimento e degradação que as mulheres estavam submetidas em seus casamentos. Ressaltamos, ainda, que a obra de Délia oferece um minucioso estudo dessa representação feminina, proporcionando diversos perfis de atuação para as suas heroínas evidenciando para a crítica literária um projeto que traz à tona as experiências da mulher narradas por uma escritora. Em nossa análise, vamos nos ater novamente às narrativas mais centradas em suas protagonistas, mas lembrando que existem histórias secundárias em seus romances que reforçam as nossas reflexões.

Madalena teve a sorte de eleger seu esposo, mas como todas as demais moças de classe abastada de sua época, ela não tinha a preparação adequada que lhe proporcionasse a experiência de vida necessária para tal escolha. Casou-se apaixonada, porém, aos poucos, foi sentindo a distância do esposo que retornava ao vício dos jogos e das distrações sociais. O amor foi se desfazendo até que para ela aquela união já não trazia mais felicidade. Sua atuação, porém, era de representação na movimentada vida social, onde mascarava seus dissabores no casamento pela posição de esposa devotada e feliz.

No espaço público Madalena foi vítima da maledicência social, enredada em algumas intrigas tramadas pelo Visconde de Presle, um aristocrata que se apaixonou por ela. Vencendo essas demandas com a sua cultivada dignidade, ela continuou resignada em sua virtude cristã. Ainda jovem e bela e muitas vezes desacompanhada do marido nas rodas sociais, viu-se cortejada por muitos homens, mas seguiu firme em sua posição de manter as aparências para a sociedade. Ficando viúva, conheceu o amor do Conde Paulo d’Orcey, mas novamente optou por não vivenciar esse sentimento, corroborando com os valores morais da mulher do século XIX.

A maternidade foi a grande salvação de Madalena, ainda que tivera acesso a ela não pelas vias biológicas. Perdoando no leito de morte aquele que tramara contra a sua dignidade, assumiu o compromisso de cuidar da menina Laura, adotando-a e criando-a com todo o esmero que se dedica a uma filha. Ofereceu a ela uma educação diferenciada, cumprindo o papel reservado às mulheres na instrução das filhas, cultivando em Laura os mesmos sentimentos que a orientaram a vida inteira. A experiência da maternidade ofereceu a Madalena o exercício intenso dos mais puros valores cristãos, praticando a caridade. Dedicou sua vida à Laura, abdicando de sua vida pessoal.

A construção de Madalena corrobora com o pensamento da época do qual compartilhava outras escritoras. Julia Lopes de Almeida, em 1889, publicou no periódico A Família a sua concepção de maternidade:

Ser mãe é: renunciar a todos os prazeres mundanos, aos requintes do luxo e da elegância, aos espetáculos em que se ri ou em que se chora, mas em que o espírito se deleita e se abre avidamente, com a sofreguidão dos sequiosos; é deixar de aparecer nos bailes, de valsar, de ir a piqueniques sem temer o sol, o vento, a chuva, uma independência feliz; é passar as noites em um cuidado incessante, em sonos curtos, leves como o pensamento sempre preso à mesma criaturinha rósea, pequena, macia, que lhe magoa os braços, que a enfraquece, que a enche de susto, de trabalhos e de prevenções, mas que a faz abençoar a ignota providência de a ter feito mulher para ser mãe! (ALMEIDA, 1889, p. 5).

Essa concepção de maternidade também é a que encontramos em Madalena. Com esta personagem Délia abre sua obra apresentando a realidade da mulher de classe alta, que mesmo com uma origem abastada, construída financeiramente independente, escolheu seguir o destino em consonância com a educação religiosa que havia norteado a sua formação. A atuação feminina de Madalena estava em consonância com o papel esperado das mulheres de seu círculo social, oferecendo ao leitor um panorama muito próximo da realidade vivenciada por essas mulheres e as escolhas que elas faziam, revogando o seu direito à felicidade.

A personagem Deia sempre foi apaixonada pelo primo Jorge a quem se entregou às escondidas e faziam planos de se casar, porém, vítima de uma intriga da madrasta que também estava interessada no rapaz teve seu desejo interrompido pelo pai que a obrigou a um casamento de conveniência com um rapaz de posses. Relutando, inicialmente, a esse acordo nupcial, Deia contava com o amparo do primo e estava disposta a lutar por seu amor. Não imaginava, porém, que Jorge já estava comprado por seu pai e enfeitiçado pela madrasta, abandonando a namorada à própria sorte. Diante das ameaças paternas de afastá-la da irmã Julieta, único ente querido que possuía, Deia resignou-se ao destino e casou-se com Maurício. Nessa narrativa, Délia apresenta

como ocorriam os casamentos arranjados. Mesmo contra a vontade, as moças se submetiam a essas uniões que pudessem lhes proporcionar segurança financeira. As que não tinham dote e eram agraciadas com uma proposta de um homem abastado, eram consideradas privilegiadas.

Deia casou-se com Maurício, mas na noite de núpcias narrou a ele toda a sua história do envolvimento com o primo e o casamento forçado por imposição do pai, pedindo ao marido que a deixasse partir. Ela poderia se sustentar trabalhando e viveria longe dali. Maurício propôs- lhe manterem uma vida de aparências para a sociedade, porém viveriam com separação de corpos, cada um em seu quarto, respeitando os sentimentos da esposa.

Nesse romance, Délia inverte os papéis de gênero e desenvolve uma narrativa no plano do desejo. As máscaras sociais de um casamento de conveniência, sem amor, resultando em vidas separadas na mesma casa era uma realidade da sua classe social, mas tal atitude partir do homem, contrariava essa realidade. Os homens, após o casamento, viam a mulher como um objeto sob seu poder e exigiam o cumprimento dos deveres de esposa na cama. Esse tipo de personagem masculina dotada de sensibilidade, responsável pela redenção de suas heroínas marcará toda a obra de Délia, conforme já relatamos na apresentação de seus romances e Maurício representa o marido ideal. Apaixonado pela esposa, respeita seus sentimentos e vai cativando-a, aos poucos, até que ela também se percebe vítima do mesmo sentimento.

A cena do casamento de Deia oferece uma oportunidade para Délia tecer uma crítica importante sobre esse sacramento na visão da Igreja Católica, exercendo verdadeira encenação em nome da família e dos bons costumes, conforme observarmos no trecho do romance a seguir:

Lembrou-se o padre de fazer uma prédica, louvando a grandeza do matrimônio, seus doces deveres e suas incalculáveis compensações. Linguagem vulgar, assunto abstruso, tíbia convicção: Causava sono e tédio aos náufragos do dito sacramento, embalava as ilusões das meninas casadoiras, servia de zombaria aos rapazes saturados de can-cans e obrigava alguns chefes de família à uma atitude ridiculamente hipócrita. No dizer do bom padre, o casamento era a síntese da bem-aventurança! (BORMANN, 2011, p. 44).

Em uma relação de aparências, Deia teve uma vida bastante resignada, buscou alento nos livros como forma de suplantar sua sorte. Seu maior tormento foi o orgulho que a impedia de declarar a Maurício que também o amava, deixando essa declaração para o momento de sua morte. Ambos estavam na mesma casa, em quartos ligados por uma porta que nunca se abriu, vivendo um amor platônico que, assim como o de Madalena, também ficou para se consumar na eternidade.

Na narrativa de vida da irmã de Deia, Julieta, observamos um enredo bem diferente, com outros dissabores enfrentados pelas mulheres nas relações do casamento patriarcal. Ela se casa por amor, com um homem escolhido em acordo com a família, mas se surpreende em uma

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