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Caso de estudo 2 tiróide e alimentação

A FA estabelece parceria com a ADTI, tentando periodicamente responder a perguntas de utentes, médicos ou outros profissionais de saúde. Por isso, a pedido do DT, realizei uma pesquisa sobre a importância da alimentação como auxiliar da medicação para a melhoria e manutenção das disfunções tiróideas. Este trabalho e este interesse na associação entre alimentação e disfunções da tiróide provém da grande percentagem de pessoas que possuem disfunções da tiróide, sejam elas autoimunes, ou não, como hipotiroidismo ou hipertiroidismo. Aquando do meu estágio apercebi-me da grande procura aos medicamentos para a tiróide e resolvi procurar informação associando a farmacoterapia à alimentação.

Revisão Bibliográfica

Segundo a WHO, na década de 90 cerca de um bilião de indivíduos no mundo ingeria quantidade insuficiente iodo, especialmente em África e na Ásia, que são zonas particularmente afetadas. A deficiência de iodo, devido à sua importância na síntese das hormonas da tiróide, promove o aparecimento e desenvolvimento de desordens e patologias: alterações cardíacas e respiratórias, disfunções no crescimento e desenvolvimento físico e cognitivo, diminuição da fertilidade, bócio, hipotiroidismo, e em alguns casos, e demência. Para colmatar este défice de iodo, associado à medicação em caso de patologia, promove-se um rearranjo da alimentação, aumentando assim o consumo de iodo e equilibrando os seus níveis no organismo.50,51,53,54,55

desde a década de 90 que surgem estratégias a fim de colmatar os défices de iodo. A título de exemplo, na África central, a áua de consumo começou a ser iodada a fim de se tornar mais fácil o reforço de iodo para as populações. Estudos demonstram que estratégias neste âmbito fazem diminuir o risco de doenças por défice de iodo nas populações em questão56.

Iodo e as Hormonas tiroideas

A primeira vez que se associou o iodo às funções da glândula da tiróide foi em 1896, por Baumann. A partir daí muitos estudos foram feitos para aferir a sua efetiva atividade. O iodo é, de facto, um componente essencial na produção das hormonas da tiróide. Este, após ingestão, é facilmente absorvido (>90%) no estômago e no duodeno. Uma parte deste iodo é fixada pela tiróide, entrando pelos capilares e passando para as células foliculares, ficando armazenado no lúmen do folículo. As células foliculares sintetizam tiroglobulina, glicoproteína essencial para a produção das hormonas tiróideas. Ao haver a oxidação do iodo pela tiróide peroxidase, ocorre a ligação deste com a tirosina da tiroglobulina, originando formas mono (MIT) e diiodotirosina (DIT). Por fim estas combinam-se originando as hormonas tiróideas, T3 (iodotironina) e T4 (tiroxina) (ref). Após a sua síntese, entram na corrente sanguínea alcançando os tecidos

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vivos, como algas marinhas, vertebrados e alguns invertebrados tem também capacidade de fixar e armazenar iodo. Estas hormonas atuam em recetores específicos existentes em vários tecidos alvo: glândula pituitária, fígado, rins, coração, cérebro, entre outros. É por esta razão que havendo desregulação tiróidea, muitos órgãos são afetados, surgindo portanto uma grande quantidade e variabilidade de patologias e sintomas. Ao nível da glândula pituitária, por exemplo, estas hormonas vão regular a síntese da hormona do crescimento por exacerbação da transcrição do gene. No fígado, vão regular o metabolismo dos hidratos de carbono e a lipogénese. No coração, condicionam a produção de miosina, controlando assim a contração cardíaca e o uptake de cálcio. No cérebro, regulam o desenvolvimento e diferenciação das células cerebrais, daí que défice de hormonas especialmente durante a gestação possa promover aparecimento de demência e de cretinismo, onde ocorre retardação mental irreversível combinada com hipotiroidismo e síndrome neurológica53,54.

Défice de iodo – incidência no mundo

Apenas alguns países, como por exemplo a Suíça, alguns países escandinavos, Austrália, EUA e Canadá foram completamente “iodo- suficientes” antes de 1990. Desde então muitos foram os esforços feitos para que este número aumentasse, havendo um plano estruturado por uma coligação informal entre o International Council for Control of Iodine Deficiency

Figura 2 – pormenor do interior do folículo, produção de hormonas tiróideas. [50]

Tabela 1 – proporção de défice de iodo na população, por zona geográfica, no geral e em crianças dos 6 aos 12 anos. [51]

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2 bilhões de pessoas têm uma ingestão insuficiente de iodo, incluindo um terço de todas as crianças em idade escolar. A tabela 1 mostra a proporção de população, no geral e em particular em crianças dos 6 aos 12 anos, por zona geográfica com défice de iodo.

Na tabela demonstra-se que a Europa é o local com maior deficiência de iodo: entre 50 a 100 milhões de pessoas encontram-se em risco de desenvolver desordens por défice de iodo57.

Estratégias estão já a ser estudadas: como a utilização de formulas de leite em pó enriquecidas com iodo55.

Défice de iodo e seus efeitos

O nosso organismo contém 15-20 mg de iodo, sendo que destes cerca de 70-80% estão na tiróide. Em situações de deficiência crónica de iodo, a quantidade existente na tiróide pode alcançar valores de 20 µg. Em áreas deficientes em iodo, um adulto consome cerca de 60µg de iodo por dia51,53,54. (Tabela 2).

Sendo que as hormonas da tiróide têm actividade em muitos orgãos alvo, o seu défice promove muitas situações de patologia. Uma das situações mais graves advém de défice de iodo durante a gravidez, podendo

desencadear bócio, disfunção autoimune da tiróide ou afetar o desenvolvimento físico e psicomotor do recém

nascido53,54. Estudos recentes

demonstram que pessoas com défices moderados a graves de iodo podem apresentar uma redução de QI de 12,5 a 13,5 pontos, em comparação com indivíduos com níveis de iodo normais51.

Alimentos e suplementos proibidos

A deficiência de iodo por advir do bócio endémico mas também de substâncias provenientes da dieta

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Tabela 2 – quantidades recomendadas de iodo/por dia, por faixa etária ou grupo populacional [51]

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interferirem com a captação do iodo59,63. Alimentos como mandioca, feijão, batata doce estão

proibidos porque contêm compostos cianogénicos62 que se metabolizam em tiocianato que inibe

o transporte de iodo. Vegetais crucíferos, como brócolos, couve-flor, repolho, entre outros, devem evitar-se também porque contêm glucosinolatos que competem com a captação de iodo na tiróide62. Plantas do género Brassica (mostarda, nabo, entre outros) estão também

desaconselhadas porque contêm tionamida que bloqueia a iodonação. Por fim, substâncias excitantes e/ou ricas em açucares refinados, como café, álcool, chá, refrigerantes, chocolate, devem evitar-se para que não haja agravamento de sintomas promovidos pela desregulação da tiróide. Quanto à soja60,61 e às isoflavonas de soja, estão também proibidos, visto que os flavonóides vão afetar a atividade da tiróide peroxidase e os fitoestrogénios (das isoflavonas) vão diminuir a ação periférica das hormonas tiróideas levando ao aumento da predisposição de hipotiroidismo e bócio.

Para além dos alimentos goitrogénicos, a deficiência em alguns micronutrientes (ferro, selénio, vitamina A, zinco, magnésio, entre outros) promove também alterações no metabolismo da tiróide. Quanto ao ferro52, em caso de anemia por deficiência em ferro, este diminui a

concentração plasmática de T3e T4 tal como a conversão periférica de T4 a T3. Alguns estudos mostram ainda que pode aumentar a circulação de TSH. Quanto ao selénio52,64, este associa-se a

proteínas denominadas selenoproteinas. A selenocisteína, por exemplo, é componente de duas enzimas essenciais na função tiroidea: a iodotironina desiodinase, que atua na conversão de T4 a T3, e a glutationa peroxidase (GPX) que protege o organismo contra a acumulação de H2O2 produzido durante a produção das hormonas. Por fim, a vit.A52 afecta o metabolismo tiroideo,

tendo efeito sobre a TSH produzida pela glândula pituitária. Na tiróide, a deficiência causa

Alimentos e suplementos aconselhados

Tendo em conta as deficiências alimentares referidas anteriormente, todos os alimentos que promovam a síntese das hormonas tiróideas, que colmatem a deficiência nos micronutrientes, e/ou que sejam adjuvantes na sintomatologia das patologias tiroideas, são aconselhados. Duas das grandes intervenções feitas a nível internacional é a intervenção do sal iodado na alimentação e o enriquecimento da água e do solo com iodo e/ou selénio56, isto porque, de uma

forma ou outra, toda a população mundial tem acesso. Alimentos ricos em iodo, carotenóides, cálcio, minerais e selénio são preferenciais.

IODO MICRONUTRIENTES SELÉNIO CAROTENÓIDES

Peixe agua salgada Óleo de peixe

Marisco Algas gema de ovo

Sementes de chia Quinoa real Sementes de abóbora

Sementes girassol

Carnes vermelhas Cenoura abóbora

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clorella e chia, aconselha-se Selenium ACE extra, Bioactivo selénio, Betacaroteno, Magnésio, Zinco, Potássio e iodo.

Estratégia de intervenção

Relativamente à alimentação e suplementação, realizei um trabalho sobre os cuidados a ter com a alimentação nos doentes com disfunção na tiróide. Em cooperação com o Dr. Alexandre, no dia do Hipotiroidismo, distribuímos um folheto onde constavam todos os alimentos e suplementos recomendados e os proibidos. (ver anexo 5). Como sempre o objetivo do folheto seria informar a população, especialmente os utentes de disfunções tiróideas, sobre quais os alimentos e suplementos alimentares permitidos e os proibidos ou a evitar. Tal como aconteceu na Homeopatia, na Farmácia Aliança a forma mais usada para informar a população é o folheto. Mais uma vez foi essa a estratégia de intervenção, tendo havido também uma alusão ao tema na pagina de Facebook da FA.

Conclusão/Discussão

Para além de termos conseguido dar algumas informações sobre este tema conseguimos também chamar a atenção dos nossos utentes para a importância de uma alimentação cuidada, equilibrada e funcional. Especialmente utentes com patologia tiróidea foram-se mostrando muito interessados sobre o assunto, pedindo ajuda e conselhos sobre como melhorar a sua saúde tratando da alimentação. Na minha opinião foi uma boa intervenção no seio da comunidade, especialmente porque a FA é muito desenvolvida e preocupada com alimentação dietética, super-alimentos e suplementos de fitoterapia.

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