• Nenhum resultado encontrado

Caso estudo 3 – envelhecimento ativo

Os utentes da FA, como já referi anteriormente, são em grande número idosos, sendo essencial saber como falar com eles e como os tratar da melhor forma. Alguns destes são pessoas com formação e com muita curiosidade em aprender como envelhecer bem. Assim, a pedido da CGD e do seu pessoal, em cooperação com uma estagiária, realizei um trabalho sobre o processo de envelhecimento, em que consiste, e formas de conseguir fazê-lo de uma forma ativa. Por fim, em Abril, apresentámos uma palestra com todos os dados recolhidos a fim de ajudar os nossos utentes a envelhecer com qualidade de vida. Perante as proporções que o envelhecimento populacional está a atingir, o principal desafio que se impõe hoje às sociedades consiste em permitir que as pessoas não só morram o mais tardiamente possível, como também disfrutem de uma velhice com qualidade de vida.

Revisão Bibliográfica

O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade e também um dos nossos grandes desafios. Ao entrarmos no século XXI, o envelhecimento global causará um aumento das demandas sociais e econômicas em todo o mundo. No entanto, as pessoas da 3ª idade são, geralmente, ignoradas como recurso quando, na verdade, constituem recurso importante para a estrutura das nossas sociedades75. Segundo a OMS, idoso é todo o indivíduo

com idade igual ou superior a 60 anos. Durante o processo de envelhecimento, os idosos passam por um processo de senescência – “processo contínuo e irreversível [que] traz consigo a diminuição física, mental e social”69 podendo em alguns casos levar mesmo à senilidade, onde a

“degenerescência se associa a doenças crónicas, síndromes típicos da velhice e à desorganização biológica que pode acometer os idosos”69. Assim, “se quisermos que o envelhecimento seja uma

experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança. A Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de conquista dessa visão”75. Este é, segundo a OMS (2002) um “processo de otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, no sentido de aumentar a qualidade de vida durante o envelhecimento”. Existe uma grande variabilidade de fatores que determinam o envelhecimento ativo, como fatores sociais, pessoais, comportamentais, ambientais, económicos, de saúde e sociais. Assim, muitos são os fatores que podem ser modelados para se viver melhor. Para além destes surge ainda um essencial: estilo de vida e alimentação/suplementação.

“No contexto das consequências e desafios que a maior longevidade acarreta, a Organização Mundial da Saúde adotou, no final dos anos 90 (século XX), o paradigma “Envelhecimento Ativo”, entendido como processo de cidadania plena, em que se otimizam oportunidades de

37

Figura 4 – progressão do envelhecimento populacional, por ano. Verifica- se que anualmente o numero de idosos aumenta, tendo tendência a continuar a aumentar. [71]

envelhecendo”68. Neste sentido, o envelhecimento ativo exige uma abordagem multidimensional

e constitui um desafio para toda a pessoa e para a sociedade. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários74.

Assim, as pessoas mais velhas teriam que estar integrados como membros ativos na sociedade onde vivem. A forma como se envelhece depende da forma como se prepara a velhice. Durante toda a vida deve adotar-se comportamentos benéficos pois estes irão refletir-se na fase final da vida. Sem saúde é mais difícil participar e a falta de participação, envolvimento e reconhecimento social prejudicam a saúde e favorecem a depressão, o isolamento e a doença. Tem que haver modulação do estilo de vida, quer ao nível biológico, intelectual e emocional. A promoção da saúde – através da atividade física regular, de uma atividade mental estimulante, de uma alimentação mais rica em fruta, legumes, fibras e peixe, com pouco sal e pouco açúcar, sem abuso de bebidas alcoólicas ou outras substâncias nocivas e sem tabaco –, a par de uma vida afetiva e de relações sociais equilibradas, fraternas, caridosas e satisfatórias, e de uma adequada gestão do stresse, fazem ganhar anos à vida e qualidade de vida para os anos que se ganham.

Idosos em Portugal

Segundo o Instituto Nacional de estatística70,71, o abrandamento do crescimento populacional no nosso país mantém-se, assim como a tendência para o envelhecimento demográfico (como resultado do declínio da fecundidade e do aumento da longevidade). Segundo a mesma fonte, a população residente em Portugal

tenderá a diminuir até 2060, passando de 10,5 milhões, em 2012, para 8,6 milhões, em 2060. (projeções realizadas pelo INE). Para além do declínio populacional, esperam-se alterações da estrutura etária da população, resultando num continuado e forte envelhecimento demográfico, como já ocorreu até aqui. Assim, entre 2012 e

2060, o índice de envelhecimento aumenta de 131 para 307 idosos por cada 100 jovens. Portugal, de acordo com os Censos 2011, apresenta um quadro de envelhecimento demográfico bastante acentuado, com uma população idosa (pessoas com 65 e mais anos) de 19,15%, uma

38

nascença de 79,2 anos. Prevê-se que, em 2050, haja 35,72% de pessoas com ≥65 anos e 14,4% de crianças e jovens, apontando a longevidade para os 81 anos. Dados publicados pela United Nations, Word Population Ageing, 1950-2050 –Economic and Social Affairs, 2001 apontam, ainda, para a existência, em Portugal, de 300 pessoas com 100 ou mais anos, prevendo-se que em 2025 esse número ascenda aos 1.800 e, em 2050, atinja 6.400 pessoas.

O processo de envelhecimento

O envelhecimento saudável, como já referi anteriormente, implica manutenção da funcionalidade fisiológica, da autonomia das atividades e do grau de independência do indivíduo. Por outro lado, estas dependem das doenças físicas e/ou mentais, da associação de duas ou mais patologias e/ou de pequenas dificuldades funcionais. Tendo em conta estes fatores, um idoso pode ser física e psicologicamente ativo ou não. Quando o individuo se permite viver no isolamento, em plena solidão e/ou em estado depressivo, por medo do envelhecimento ou do que dele advém, torna-se um individuo isolado, incapaz de se relacionar com os seus iguais e de viver em sociedade. Se por outro lado, o idoso promover a sua saúde e a dos que o rodeia, continuar a praticar as suas atividades diárias e procurar passar tempo de qualidade com a sua família e amigos, vai ser um idoso pró-ativo.

A “meia-idade” surge assim como uma etapa de preparação para o processo de envelhecimento. Aqui, os indivíduos têm de começar a preparar a sua vida para conseguirem envelhecer com qualidade. Assim, o envelhecimento ativo baseia-se numa intervenção multidisciplinar, com rearranjos nos planos biológico, psicológico e social. No plano biológico, a chave é evitar as doenças que habitualmente surgem com a idade: diabetes, dislipidémia, doenças cardíacas, osteoporose, hipertensão arterial, depressão ou demência. Aconselha-se assim a que o idoso promova um estilo de vida saudável, com exercício físico regular para combater a osteoporose o excesso de peso e a perda de massa muscular, alimentação adequada, níveis de açúcar, colesterol e tensão normais e diminuir o stress.

Recomenda-se assim aos idosos a vigiar a HTA, as doenças cardíacas e o colesterol; não comer em excesso, com consumo limitado de sal; a comer frutos, vegetais e cereais integrais, complementando a alimentação com a suplementação adequada às necessidades de cada um. A prática de exercício físico regular e cumprimento das consultas e exames de rotina é essencial.

Envelhecimento celular – processo fisiológico

O processo de envelhecimento advém do stress oxidativo ao nível celular. Durante o metabolismo celular, o organismo produz radicais livres que podem ser ou não danosos para o próprio organismo. A maioria dos radicais livres provém do próprio metabolismo celular, outros são gerados devido à exposição do corpo a agentes externos como fumo, poluição,

39

substancias químicas muito reativas que podem danificar todo o tipo de molécula, inclusive o DNA, ao qual se pode ligar e formar adutos, levando à morte celular.

A oxidação e dano oxidativo têm sido sugeridos na etiologia de diversas doenças, incluindo o cancro e a doença cardiovascular, ou até no processo de envelhecimento, cutâneo, cerebral e/ou cardiovascular. Vários estudos têm demonstrado que o corpo humano pode colmatar o stress oxidativo utilizando substâncias antioxidantes exógenas, presentes na alimentação ou até em suplementos alimentares76,77.

Antioxidantes - Alimentos e suplementos como fontes de antioxidantes

Os antioxidantes são a principal arma de combate contra os radicais livres: podem impedir a formação dos radicais ou impedir o seu ataque, evitando o aparecimento de lesões nas células, podendo ainda reparar as lesões causadas previamente pelos radicais. Os antioxidantes mais referidos na literatura são a vitamina C, E e A (carotenóides), flavonóides, tocoferóis e ácidos fenólicos72,73,78.

Quanto à vitamina E, sendo lipofílica, é um dos melhores antioxidantes para proteção das membranas celulares. Protege as gorduras da oxidação, incluindo as presentes nas lipoproteínas de baixa densidade (LDL)72,78. Esta está presente em grãos e sementes oleaginosas, como

gérmen de trigo, sementes de girassol, frutos secos e em alguns tipos de peixe. A vitamina C, presente nas frutas cítricas, é solúvel em água, atuando no interior das células. Atua muitas vezes sinergicamente com a vitamina E72. A Vitamina A, o β- caroteno e os carotenóides em

geral surgem na literatura como os melhores sequestradores de radicais de oxigénio72. Estes

compostos surgem em alimentos como mamão, cenoura, abóbora, manga e em vegetais de folha escura, como espinafres, couves, chicória ou agrião. Os Flavonóides80, como o ácido cafeico,

ácido gálico, elágico, quercetina, entre outros. Estes existem no vinho tinto, nos frutos vermelhos, em chá e café. Existem em grandes quantidades na maçã, nas uvas, morangos81 e

nozes. Estes podem inibir a peroxidação lipídica e inativar os radicais livres. Por fim, os ácidos fenólicos81 surgem como

sequestradores de radicais e, alguns vezes, como quelantes de metais, agindo tanto na etapa de iniciação como na propagação do processo oxidativo. Surgem em

40

controlo do envelhecimento cardiovascular e cerebral. Quanto ao primeiro, as gorduras, como os ómegas 3, 6 e ácido linolénico, são fulcrais no combate às patologias cardiovasculares. Estes diminuem o mau colesterol, previnem eventos trombóticos, previnem a aterosclerose81 e

controlam a hipertensão. Os ácidos gordos ómega 3 e 6, respetivamente, estão presentes em peixes gordos de água fria83,84 (salmão, cavala, atum, bacalhau) e em óleos vegetais (azeite,

nozes), e em sementes de soja, no óleo de sementes de abóbora. A suplementação de ómega 3 (DHA) tem também efeito sobre o envelhecimento cerebral, visto que melhora a comunicação entre as células nervosas. No que ao envelhecimento cerebral diz respeito, aconselha-se a suplementação com lecitina de soja, ginkgo biloba, fosfatidilserina e coenzima Q10.

Lecitina de soja – Ajuda a combater o envelhecimento celular prematuro, melhorando a memoria e as capacidades cognitivas. Ajuda em alguns casos de fadiga mental. A lecitina, ou fosfatidilcolina, é um fosfolípido presente na estrutura das membranas celulares e das células cerebrais. É um percursor da acetilcolina. Assim, ao suplementar com lecitina, estamos a estimular a produção de Ach, melhorando a comunicação entre as células neuronais85.

Fosfatidilserina88 – tal como a fosfatidilcolina, é um fosfolipido que existe em elevadas

concentrações no cérebro, aspecto que diminui com a idade. É também um precursor da Ach. Permite ainda as células cebebrais metabolizarem a glucose e estimula a produção de dopamina. É, pois, importante no processo de aprendizagem, em necessidades de estímulo da memória e em estados depressivos.

Ginkgo biloba74 –Trata toda a isquemia, cerebral ou periférica, porque melhora o fluxo

sanguíneo. Usada para tratamento de microvarizes, úlceras varicosas, cansaço das pernas, artrite dos membros inferiores. Usada em casos de vertigem, por baixo aporte de oxigénio ou relativo a desordens no sistema vestibular e auditivo. Dados clínicos e experimentais mostram a eficácia deste extrato no tratamento de zumbidos, vertigens, tonturas e outros sintomas de desordens vestibulococleares. Tratamento nos processos vasculares degenerativos. Não indicado para utentes com anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários na farmacoterapia.

Coenzima Q1085,86 – é um antioxidante endógeno, sendo uma enzima essencial na

metabolização da glucose para síntese de ATP. A concentração de coenzima Q10 diminui com a idade, o que leva a fadiga física e mental. Ao suplementar com coenzima Q10 estamos a colmatar o défice normal da idade, aumentando assim a energia do utente.

Importa referir que a suplementação tem que ser sempre muito estudada e planeada, a fim de não surgirem incompatibilidades com a medicação crónica do utente em questão e/ou algumas intolerâncias. Só assim conseguimos promover a adesão à terapêutica e fidelizar os utentes.

41

Estratégia de intervenção

O processo de envelhecimento é algo inevitável, lento, previsível, geneticamente programado. É um processo cronológico que ocorre progressivamente e pode ser determinado por factores internos e externos, como poluentes, tabaco, ma alimentação ou até radiações. Assim, a única forma de o contrariar é sabendo como e quando actuar. Antioxidantes para contrabalançar com os radicais livres, boa alimentação e exercício físico, controlo de patologias crónicas, entre outras, são estratégias para se conseguir viver mais e melhor.

Desta forma, e para ensinar a população a construir uma boa velhice, em cooperação com uma colega estagiária, fizemos em Abril uma ação de formação (ver anexo 6) sobre “Envelhecimento ativo” para o pessoal do CGD. Com a ajuda da Drª Sónia, realizámos um palestra onde explicávamos o processo de envelhecimento e indicávamos estratégias para o contrariar. Esta foi realizada num local cedido pelo banco e era destinada a todo o pessoal do CDG, em especial na faixa etária dos 45-65 anos. A mais-valia deste trabalho foi estar muito bem explícito todos os suplementos/produtos necessários para contrariar o envelhecimento ou pelo menos colmatá- lo.

Ao dar-se a conhecer à população os riscos que correm nestas idades, o que fazer para colmatar o processo de envelhecimento e como modelar as suas vidas a fim de minorar os efeitos do envelhecimento, conseguimos não só ajudar a população mas também apelar à importância de uma boa alimentação e estilo de vida adequado e à aquisição de suplementos alimentares. Mais uma vez estes suplementos não são vendidos indiscriminadamente, fazendo o farmacêutico uma analise multidisciplinar de toda a situação, patológica ou não, do utente.

Conclusão/Discussão

Tendo em linha de conta o contínuo envelhecimento da população e o interesse que as pessoas têm de envelhecer bem e cada vez com mais qualidade de vida, era imperativo dar a conhecer estratégias para o fazer. Assim, a meu ver, esta palestra foi uma ótima estratégia de intervenção, especialmente para o grupo a quem foi direcionada, empregados bancários, ainda no activo e com todo o interesse em aprender como colmatar o processo natural de envelhecimento. Envelhecer não tem que significar perda de atividade, isolamento e solidão. Envelhecer é cada vez mais a possibilidade que a vida dá de ser apreciada com toda a sabedoria que os anos vividos trazem. Assim, foi gratificante, explicar e ajudar estes nossos utentes, a viver mais e melhor.

Documentos relacionados