• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 2. ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS PLÁSTICOS

2.6. O CASO PARTICULAR DA BORRACHA

Os elastómeros, ou borrachas, são classes de materiais que, como os metais, as fibras, as madeiras, os plásticos ou o vidro são imprescindíveis à tecnologia moderna [111]. As borrachas são polímeros reticuláveis (vulcanizáveis) [120]. A vulcanização é um processo de reticulação pelo qual a estrutura química da borracha, matéria-prima, é alterada [120]. Borracha é um polímero elastómero «que pode ser modificado para um estado no qual é essencialmente insolúvel, se bem que susceptível de aumentar de volume num solvente em ebulição, tal como o benzeno, a metiletilcetona e o etanol-tolueno azeotrópico, e que, no seu estado modificado, não pode ser reprocessado para uma forma permanente por aplicação de calor e pressão moderadas [111].

Conforme o International Rubber Study Group (IRSG), a produção de borracha alcançou cerca de 21 milhões de toneladas na Europa no ano 2005. O IRSG apresentou um aumento de 1,6% de produção de borracha em comparação com ano anterior. Dos 21 milhões de toneladas, aproximadamente 8,8 milhões referem-se à produção de borracha natural e 12 milhões à de borracha sintética. O Rubber Industry Report no relatório de maio/junho de 2006 aponta uma produção de 4,4 milhões de toneladas de borracha natural e 6,2 milhões de toneladas de borracha sintética nos dois primeiros trimestres de 2006 [121].

Com o aumento da produção de borracha, a necessidade da reutilização de borrachas vulcanizadas cresce. Os principais produtores de resíduos de borracha são as lojas de pneus e vulcanizadoras. Com o aumento de venda e utilização de veículos todos dias, aumenta também produção de pneus, e consequentemente os problemas de reciclagem. Os pneus têm uma baixa taxa de degradação, nunca inferior a 150 anos. Para diminuir a acumulação de resíduos de pneus, alguns países seguem a política de pneus descartáveis [121].

Em 2002, uma comissão formada por estados membros da União Europeia, divulgou uma proposta que incluía a implementação da recolha selectiva de pneus descartados, de modo a atingir 100% da produção e estabelecer estratégias de prevenção, que possibilitassem a redução de 5% da produção destes resíduos de borracha originária dos pneus. A recauchutagem deveria atingir 25% dos pneus usados e a sua valorização alcançar os 65%, ficando proibida a deposição destes em aterros [122]. Em 2003, implementou-se a proibição da deposição de pneus inteiros em aterros e a partir de 2006, qualquer forma de depósito de pneus ficaria proibida nos países da União Europeia [122].

A reciclagem de borracha não é um assunto recente. As primeiras tecnologias foram abandonadas devido ao elevado custo do processo e aos elevados níveis de poluição. Hoje já existem tecnologias com baixos custos de processamento e ausência de resíduos poluidores.

A reciclagem de pneus envolve um ciclo que compreende a recolha, o transporte, a trituração e a separação de seus componentes (borracha, aço e lona), transformando sucatas em matérias-primas que serão depois direccionadas ao mercado.

Obtém-se borracha pulverizada ou granulada que vai ter diversas aplicações: utilização em misturas asfálticas, em revestimentos de chão e pistas de desporto, fabrico de tapetes para os automóveis, adesivos entre outros.

Quanto menor for a granulometria, maior o custo envolvido. Esse custo pode inviabilizar o desenvolvimento de alguns potenciais mercados. Neste ponto, é fundamental a parceria entre universidades e empresas, procurando-se analisar as oportunidades de mercado e o desenvolvimento de tecnologias adaptadas que permitam a utilização da borracha reciclada em diversos aplicações [123].

Figura 57- Destino final de pneus [122].

Os pneus descartados podem ser reciclados ou reutilizados para diversos fins. Nas linhas seguintes, são apresentadas várias opções:

na engenharia civil

O uso de carcaças de pneus na engenharia civil envolve diversas soluções criativas, em aplicações bastante diversificadas, tais como, barreiras em acostamentos de estradas, elemento de construção em parques e jardins-infantis, quebra-mar, obstáculos para trânsito e, até mesmo, recifes artificiais para criação de peixes [123].

na regeneração da borracha

O processo de regeneração de borracha envolve a separação da borracha vulcanizada dos restantes componentes e a sua digestão com vapor e produtos químicos, tais como, álcalis, mercaptanas e óleos minerais. O produto desta digestão é refinado em moinhos até á obtenção de uma manta uniforme, ou extrudado para obtenção de material granulado [123]. A moagem do pneu em partículas finas permite o uso directo do resíduo de borracha em aplicações similares às da borracha regenerada.

na produção de energia

O calor gerado por um pneu equivale ao do óleo combustível. Os pneus podem ser queimados em fornos já projectados para optimizar a queima. Em fábricas de cimento, a queima já é uma realidade em alguns países [123].

no asfalto modificado com borracha

O asfalto envolve a borracha em pedaços ou em pó. Mesmo com custo elevado, a adição de pneus no pavimento aumenta a vida útil da estrada para o dobro, porque a borracha confere ao pavimento maiores propriedades de elasticidade com as mudanças de temperatura [123].

Em Portugal o Decreto-Lei n.º 111/2001, de 6 de Abril, posteriormente alterado pelo Decreto-Lei n.º 43/2004, de 2 de Março, veio estabelecer os princípios e as normas aplicáveis à gestão de pneus e pneus usados [124].

Este diploma estipula uma hierarquia na gestão dos pneus usados, conferindo prioridade à prevenção da produção, seguida da recauchutagem e reciclagem destes resíduos. Estabelece ainda a proibição da combustão, sem recuperação energética, bem como da deposição em aterro, em conformidade com o disposto no artigo 5.º da Directiva 1999/31/CE, do Conselho, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterro [124]. As metas estabelecidas para 2007 foram a recolha de pneus usados numa proporção de, pelo menos, 95% dos pneus usados anualmente, a recauchutagem de pneus usados numa proporção de, pelo menos, 30% dos pneus usados anualmente, a valorização da totalidade dos pneus recolhidos e não recauchutados, dos quais pelo menos 65% deverão ser reciclados [124]. A reciclagem de pneus usados presume a introdução desses produtos na produção de novos materiais, substitutos dos que recorrem à utilização de recursos naturais [124].

Hoje o desenvolvimento do mercado de materiais com produtos reciclados de pneus usados deve ser estimulado pelo aumento das taxas de reciclagem e a actualização das metas previstas na legislação vigor [125].

A reciclagem de borracha é um negócio pouco explorado até o momento mas que pode trazer diversos benefícios, tanto para o empreendedor, como para a sociedade de um modo em geral

2.7. CONTAMINANTES, ADITIVOS E OUTRAS IMPUREZAS