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CAPÍTULO 4 – O CAMPO, OS PROTAGONISTAS E OS SÚDITOS

4.2 Pernambuco na telinha do Jornal Nacional

4.2.3 Categoria 3: celebridades

Segundo Gomis (1991), as presenças eloquentes são uma peculiaridade do jornalismo que produz geralmente muito comentário. São de fácil recurso para quem quer transmitir uma mensagem, aumentar o seu efeito ou amortizá-lo. Para o autor, as “aparições”, que chamamos aqui de celebridades, seriam presenças eloquentes e geralmente públicas de personagens conhecidas que têm algo a dizer. O autor explica:

São aparições as declarações, discursos, conferências, respostas ocasionais, frases intencionadas e outras formas de opinião. O que alguém diz como reposta ou para provocá-la. Uma só pessoa basta para deixar nas imagens sensíveis dos meios de comunicação um rastro de sua aparição e o registro de suas palavras, mas é preciso que a pessoas sejam conhecidas (GOMIS, 1991, p.126, tradução nossa).

Podemos afirmar que as pessoas conhecidas ou os “famosos”, sejam eles políticos, músicos, atores, cantores ou jogadores de futebol têm, cada vez mais no mundo atual, lugar reservado nas páginas dos jornais, revistas e telejornais.

Chamamos aqui, “os famosso” de “celebridades” e nos arriscamos a dizer que eles se tornaram os novos “herois” da sociedade contemporânea. Vale destacar, que a palavra “celebridade”, de origem latina, celebritate, segundo dicionário da língua portuguessa, quer dizer: 1. Qualidade do que é célebre. 2. Grande fama. 3. Pessoa célebre. 4. Coisa célebre. 5. Notoriedade. Segundo Herschmann e Pereira (2003) os famosos e suas aparições não poduzem apenas distrações, eles prestam uma espécie de serviço psicológico à uma sociedade fragmentada:

Repleta de relatos que incorporam elementos do mais simples cotidiano e de narrativas biográficas, especialmente aquelas que fazem referência a trajetória de ídolos e celebridades, a mídia contemporânea mobiliza fortemente seu público, produzindo reações bastante diferenciadas (2003, p. 23).

Relacionando essa assertiva com as palavras de Featherstone (apud HERSCHMANN & PEREIRA, 2003, p. 38), citamos:

[...] estaríamos acompanhando hoje a emergência de heróis híbridos, contraditórios, anti-heróis, femininos e fortes, mas capazes, na mídia, de produzir uma identidade nacional que se cofunde nesse universo de celebridades. Ou seja, concorrem, na mídia, vários tipos de trajetórias de vida pública que ora investimos afetiva e simbolicamente e ora observamos com curiosidade e até com certa indiferença.

Segundo os autores, as celebridas são muito mais construídas a partir de uma produção midiática do que celebridades que alcançam o estrelato por sua “genialidade” ou talento. O culto à celebridade no Brasil e os motivos de sua ascenção na mídia renderia interessantes investigações, mas não é esse o foco desta pesquisa.

Quando identificamos a categoria celebridades, na nossa dissertação, a nossa intenção é a de identificar como elas são ancoradas e objetivadas no telejornal.

Segundo Wolf (2005), as regras de seleção dos acontecimentos do sistema de comunicação de massas apresentam características tanto dos sintomas do sucesso pessoal e de seu prestígio, como dos sintomas do exercício do poder e sua representação: “O exercício do poder político, econômico, judicial etc, é objeto de especial atenção por parte da mídia” (2005, p. 154).

Então, nos arriscamos afirmar que o tema será sempre recorrente nas edições do Jornal Nacional, seja em matérias produzidas especificamente em Pernambuco ou não. As “celebridades” ou os ditos “ilustres” serão sempre, em sua maioria, representantes da política, da economia, do meio artisto nacional e internacional. As suas aparições em eventos políticos, em festas ou eventos públicos renderão, na maioria das vezes, pautas de grande interesse jornalístico.

FIGURA 15

Lula visita Nordeste

Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/12/lula-visita-nordeste-e-fala-sobre- transposicao-do-rio-sao-francisco.html>. Acesso em: 21 de Outubro de 2011. Ex-Presidente Lula em visita obras

da transposição do Rio São Francisco em PE .

Matéria de Delis Ortis

Reportagem exibida no dia 14/12/10 Tempo: 3min: 28seg.

Texto

O EIXO LESTE COMEÇA EM FLORESTA E TERÁ 287 KM ATÉ MONTEIRO, NA PARAÍBA. A PREVISÃO É DE

LEVAR ÁGUA A 391 MUNICÍPIOS DE

PERNAMBUCO, PARAÍBA, RIO GRANDE DO NORTE E CEARÁ.

CRITICADA POR ARTISTAS, ÍNDIOS,

AMBIENTALISTAS E ATÉ RELIGIOSOS, COMO O BISPO LUIZ FLÁVIO CAPPIO, QUE FEZ DUAS GREVES DE FOME PARA TENTAR IMPEDIR A OBRA.

MAS LULA INSISTIU NA TRANSPOSIÇÃO QUE, SEGUNDO ELE, VAI RESGATAR O NORDESTE. ELEITA A PRINCIPAL OBRA DO PROGRAMA DE

ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC), A

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO JÁ RECEBEU INVESTIMENTOS DE R$ 3,5 BILHÕES. MESMO INCOMPLETA LULA TEM ORGULHO DELA. UM SONHO DE IMPERADOR, QUE UM OPERÁRIO COMEÇOU A REALIZAR.

Através dessas ancoragens e objetivações, destacadas em negrito, a repórter constrói uma representação social da visita do ex-presidente Lula, mostrando como a Região Nordeste é emblemática para a história política do presidente. O texto destaca que, mesmo “faltando 17 dias para deixar o cargo”, o dirigente máximo da nação brasileira, viaja para consolidar uma das maiores obras de seu governo: “eleita a principal obra do Programa de Aceleração de Crescimento – PAC, a transposição das águas do Rio São Francisco, que vai levar água a 391 municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará”. A estratégia do texto, mesmo destacando que muitos segmentos da população são contrários à transposição, cria uma imagem poderosa e imbatível do presidente como salvador da “pátria”: “Lula insistiu na transposição que, segundo ele, vai resgatar o Nordeste”.

A objetivação, processo que também gera representações sociais, reforça a intenção do texto de transformá-lo num grande herói: “Um sonho de imperador que um operário começou a realizar”.

FIGURA 16

Lula se despede do cargo em Pernambuco

Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/12/lula-aproveita-ultimas-viagens- como-presidente-para-se-despedir-do-cargo.html>. Acesso em: 18 de Outubro de 2011.

Matéria de Juliano Mosquera

Reportagem exibida no dia 31/12/2010 Tempo: 4min: 31seg.

Texto

O ACENO NA SAÍDA DO PALÁCIO DO PLANALTO NA TARDE DESTA SEXTA-FEIRA (31) FOI MAIS UM GESTO DE DESPEDIDA DO PRESIDENTE.

NAS ÚLTIMAS TRÊS SEMANAS, LULA FEZ DE CADA CERIMÔNIA UM MOMENTO PARA DIZER ADEUS AO CARGO QUE OCUPOU DURANTE OITO ANOS. PERCORREU O PAÍS PARA ESTAR EM EVENTOS E FESTAS. CONCENTROU GRANDE PARTE DAS VIAGENS NO NORDESTE.

EM UMA SOLENIDADE NO RECIFE, BRINCOU SOBRE A DIFICULDADE DE DEIXAR A PRESIDÊNCIA. “VOCÊS PERCEBEM QUE EU ESTOU DE FAIXA. EU ESTOU DE FAIXA AQUI. COMO EU VOU ENTREGAR A MINHA FAIXA DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA NO PRÓXIMO SÁBADO PARA A COMPANHEIRA DILMA, EU VOU APROVEITAR E DORMIR COM ESTA DAQUI, PARA NÃO ESQUECER A FAIXA DE PERNAMBUCO”, DECLAROU.

LULA SE EMOCIONOU MUITAS VEZES. EM UMA DELAS, DISSE QUE ENFRENTOU PRECONCEITOS, NAS TRÊS VEZES EM QUE FOI DERROTADO PARA A PRESIDÊNCIA

A segunda reportagem evidencia como a representação social foi construída buscando destacar um caráter evidente do presidente como uma “celebridade”: “Aproveitou para se despedir dos brasileiros, foram momentos de alguma descontração e também de muita emoção”.

O repórter procura ancorar a despedida do presidente, conferindo à solenidade um tom de espetáculo e descontração: “Em uma solenidade no Recife, brincou sobre a dificuldade de deixar a presidência”. Se referindo à faixa de presidente Lula discursou: “Como eu vou entregar a minha faixa de Presidente da República no próximo sábado para companheira Dilma, eu vou aproveitar e dormir com esta daqui, para não esquecer a faixa de Pernambuco”. No texto do repórter, o passado também foi lembrado: “[...] Lula se emocionou muitas vezes. Disse que enfrentou preconceitos”. Recurso utilizado no processo de ancoragem, como diz Moscovici (2009): “É necessário, para dar-lhes uma feição familiar, pôr em funcionamento os dois mecanismos de um processo de pensamento baseado na memória e em conclusões passadas” (2009, p.60).

FIGURA 17

Dilma Rousseff assina convênios para beneficiar Pernambuco

Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/t/edicoes/v/dilma-rousseff-assina-convenios- para-beneficiar-o-estado-de-pernambuco/1508949/>. Acesso em: 20 de Outubro de 2011.

Nota coberta

A nota coberta foi exibida no dia 13/05/2011 Tempo: 17seg.

Texto cabeça

A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF ASSINOU HOJE CONVÊNIO PARA BENEFICIAR O ESTADO DE PERNAMBUCO.

Texto

COM O GOVERNADOR EDUARDO CAMPOS, DILMA ACERTOU A CONSTRUÇÃO DE DUAS BARRAGENS PARA EVITAR INUNDAÇÕES. AS OBRAS QUE DEVEM COMEÇAR EM AGOSTO VÃO CUSTAR 65 MILHÕES DE REAIS DIVIDIDOS ENTRE O GOVERNO FEDERAL E O ESTADUAL.

Nas três reportagens, a representação social das personagens de maior prestígio político do país é ancorada e objetivada de forma afetiva, emotiva, familiar e até heróica. A relação que transparece é de certa dependência econômica e até de “parentesco”, como a herança deixada de pai para filho. As representações sociais da política em Pernambuco são permeadas por uma espécie de apadrinhamento, tanto do ex-presidente Lula, como a atual

presidenta Dilma, o que acaba resultando numa relação, até certo ponto, de proximidade e “promiscuidade política”. A análise das temáticas levantadas confirma como a representação social da política em Pernambuco, muitas vezes é baseada numa relação de compadrio, gerando, até certo ponto, questionamentos de competência, e provocando suspeitas de privilégios, muito mais do que de merecimento.