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4.3 Análise de conteúdo da editoria de cultura da franquia de Zero Hora: do impresso à

4.3.3 Análise de conteúdo: passo a passo

4.3.3.4 Categoria 3: Elementos não-previstos

Esse tópico é dedicado a descrição dos elementos não previstos. Os quais não foram elencados previamente, mas foram selecionados no decorrer da análise com base na sua recorrência ou por apresentarem aspectos que se mostraram relevantes.

Percebeu-se que, na edição de 12/04/1997, predominam as entrevistas, sendo que

quatro, dos sete conteúdos veiculados na publicação, são desse gênero. Os demais conteúdos dessa edição são dois textos opinativos, uma coluna com notas informativas sobre a programação cultural e meia página dedicada às novidades da literatura.

Já na edição de 07/04/2007, predominam os textos com características do jornalismo literário100. Nessa edição, a reportagem “Viajantes de norte a sul”, em destaque na capa, ocupa as quatro páginas centrais do caderno. Além disso, nessa edição, há duas entrevistas, uma matéria e um artigo de opinião. A matéria “Infinita paciência” também apresenta características do jornalismo literário. O texto não apresenta lide e utiliza um personagem, que

99 ESTADÃO online. Whattsapp chega a 120 milhões de usuários no Brasil. Disponível em:

<https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,whatsapp-chega-a-120-milhoes-de-usuarios-no- brasil,70001817647> Acesso em: 13 mar. 2019.

100 Pena (2007) caracteriza o jornalismo literário como: “significa potencializar os recursos do jornalismo,

ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide', evitar os definidores primários' e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos”.

é morador de Porto Alegre, para conduzir o tema, que aborda a aparente passividade do brasileiro diante dos problemas sociais do país.

Outro elemento não previsto que se destacou na análise é a ausência da publicidade nos edições dos jornais impressos de 1967, 1981, 1997 E 2007? e a sua presença marcante nos cadernos de 2019. Somente a partir da edição de 1997, pode-se ver a indicação de espaços para anúncios nos cadernos. Nas edições de 12/04/1997, de 07/04/2007 e de 18/01/2019 foram encontrados um anúncio em cada edição. Já na edição de 19/01/2019, foram encontrados três anúncios. A figura que segue mostra o espaço destinado a publicidade nos cadernos de cultura de 1997, 2007 e 2019.

Figura 44 - Imagem A: Caderno Cultura de 12/04/1997, p. 7. Imagem B: Caderno Cultura de 07/04/2007, p.5. Imagem C: Segundo Caderno de 18/01/2019, p. 5.

Fonte: Imagem A: Zero Hora, 12 de abril de 1997. Imagem B: Zero Hora, 07 de abril de 2007. Imagem C: Zero Hora, 18 de abril de 2019.

Como é possível ver na figura 44, o espaço destinado à publicidade nas edições de 2007 e 2019 é maior que o indicado na edição de 1997. Verificou-se, também, que todos os anúncios publicitários presentes nos cadernos de cultura observados eram relacionados ao tema. Já os publicados nas edições de 2019 se referem à programação cultural de Porto Alegre e da região metropolitana.

A partir da observação realizada, foi possível obter indícios de como o jornalismo cultural se transformou através dos tempos em Zero Hora, em dois sentidos: composição dos

conteúdos e na forma de distribuição. Em décadas anteriores, percebeu-se que o jornalismo cultural de Zero Hora voltava-se a abordagens além dos produtos culturais. Destacavam-se temas ligados à sociologia, à filosofia, à religião e à própria cultura em um sentido mais amplo. Entende-se que tal abordagem se dava, também, devido ao jornal possuir cadernos distintos para cada segmento, como cultura, variedades, televisão. Atualmente, essas editorias ocupam os mesmos cadernos, possuindo espaço limitado. Entende-se, também, que, como diz Ballerini (2015), as circunstâncias da vida cotidiana mudaram e as pessoas procuram cada vez mais informações que possam suprir suas demandas de maneira breve e objetiva. Com a diminuição do espaço no jornal impresso, ocorreu a reunião dos cadernos de cultura e variedades em um único caderno: o Segundo Caderno, que busca abranger público o mais variado possível.

A partir da análise, foi possível perceber aspectos sobre como o jornalismo cultural de Zero Hora vem se transformando em elemento que integra múltiplos objetos culturais da indústria criativa, a partir da distribuição multiplataforma da franquia GaúchaZH. Entende-se que, quando o jornalismo cultural de Zero Hora passa a ter representações noutras plataformas, além do jornal impresso, que é a sua mídia matriz, ele amplia sua abrangência. É o que foi visto até aqui, com relação à variação dos tipos de conteúdos e complementos destes nas múltiplas plataformas utilizadas hoje por Zero Hora para a distribuição de materiais de jornalismo cultural, entre outros.

Se antes, no jornal impresso, Zero Hora tinha determinado padrão de atuação nos espaços de jornalismo cultural, hoje, tais modelos vêm se alterando, mesclando o tradicional com as possibilidades diferenciadas das mídias digitais. Logo, o jornalismo cultural de Zero Hora impressa é diferente, atualmente, em múltiplas plataformas. Acredita-se que a análise de conteúdo mostra elementos que demonstram o pensamento estratégico dos jornalistas de Zero Hora e de GaúchaZH nesse sentido. A franquia gera, assim, múltiplos objetos culturais de jornalismo, que integram a indústria criativa e permitem variações dos tipos de conteúdos disponibilizados através da editoria de jornalismo cultural de Zero Hora. O jornal Zero Hora, quando era só impresso, tinha certas características como elemento da indústria criativa. Nos dias atuais, integrando a franquia de GaúchaZH, tem seus limites alargados.

Partindo da ideia expressa no capitulo 1 desta dissertação, de que o jornalismo é uma atividade criada a partir do capital intelectual do jornalista, que produz os conteúdos a partir de um processo criativo, entende-se que pode ter ocorrido uma transformação nesse processo na redação multiplataforma de Zero Hora. É preciso observar que os processos produtivos do jornalista envolvem, além da técnica jornalística (etapas de seleção, apuração e checagem dos

fatos), a capacidade intelectual do profissional, sua percepção sobre os temas, sua habilidade de interpretação e a sua capacidade de transformar as informações em produtos jornalísticos. Logo, a distribuição de seus produtos em múltiplas plataformas pode complexificar esse processo, pois as referências de produção já não se limitam a apenas um produto da indústria criativa. A distribuição multiplataforma gera essa possibilidade, devido ao fato de que, no momento em que os produtos jornalísticos são distribuídos em diferentes suportes e mídias, que possuem diferentes particularidades e recursos, as características desses produtos também mudam. Dessa forma, os jornalistas precisam cada vez mais se valer da sua capacidade criativa e possuir uma gama maior de conhecimentos sobre as plataformas para as quais produzem conteúdos. Especificamente no jornalismo cultural, como constatado nesta análise, atualmente, os profissionais precisam contar com um escopo mais amplo de informações sobre uma variedade maior de assuntos culturais.

Quanto à forma de distribuição, que envolve também o fator social, percebe-se a mudança de uma para várias plataformas. O jornalismo cultural que antes era veiculado apenas nas páginas do jornal impresso, com suas limitações de espaço e recursos, agora encontra uma gama de possibilidades nas plataformas digitais e mídias sociais digitais. Nesta análise, pode-se constatar as estratégias que a franquia de Zero Hora vem adotando na distribuição multiplataforma do jornalismo cultural. São exemplos a inserção de conteúdos de variedades de outras plataformas em quase metade dos conteúdos veiculados no site, bem como a presença marcante do shovelware. Além disso, destacam-se os poucos casos do repurposing. Tais características demonstram que o jornalismo cultural de ZH parece, ainda, estar se adaptando às possibilidades e recursos que as plataformas digitais oferecem, mas já demonstra indícios da tendência que pretende seguir.