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2.1 Cultura da Convergência

2.1.1 Franquias transmidiáticas

Segundo Jenkins (2008), a cultura da convergência também proporcionou o surgimento de franquias transmidiáticas. Essas franquias se formam quando produtos de mídia se desenvolvem através de múltiplas plataformas para contar uma história. O autor destaca que, a partir desse tipo de estratégia, pode se desenvolver a narrativa transmidiática.

Uma história transmidiática se desenrola através de múltiplos suportes midiáticos, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal da narrativa transmidiática, cada meio faz o que faz de melhor [...] Cada acesso à franquia deve ser autônomo [...] Cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como um todo. (JENKINS, 2008, p. 135)

Tais franquias comportam as narrativas transmidiáticas, ou seja, histórias que se desenvolvem por meio de múltiplas plataformas, sendo que cada parte é autônoma, mas fundamental na composição final. Atualmente, cada vez mais, as franquias transmidiáticas

estão presentes no dia a dia das pessoas, principalmente no setor de entretenimento. Jenkins (2001, p. 141) destaca Matrix, que surgiu a partir do longa-metragem homônimo e se desenvolveu em múltiplas plataformas. Segundo o autor, a franquia exigiu muito do seu público, pela profundidade da história e o desenvolvimento de produtos em diferentes plataformas. Jenkins (2008) entende que, devido à complexidade da história, uma única plataforma não seria suficiente para o seu desdobramento, do mesmo modo que os produtores da franquia souberam se valer de estratégias de forma a engajar o público em tal experiência.

Outros exemplos de franquias transmidiáticas de entretenimento que se tornaram mundialmente conhecidas são as franquias decorrentes de histórias em quadrinhos, como Vingadores e X-Men; as decorrentes de livros como Harry Potter; e até mesmo as provenientes de jogos digitais e animes, como Assassins Creed e Dragon Ball Z, respectivamente. Essas franquias vêm expandindo cada vez mais as suas representações e estratégias em múltiplas plataformas, por meio de filmes, jogos digitais, animes, peças de teatro, marcas, conteúdos produzidos inteiramente por fãs, parques temáticos, etc.

Devido à realidade da cultura da convergência, que transforma as formas como o público processa a notícia e o entretenimento (JENKINS, 2008), as franquias também vêm sendo desenvolvidas no jornalismo. Segundo Zago e Belochio (2014, p. 6), “as franquias são possíveis no jornalismo a partir de movimentos de criação de perfis e/ou produtos distintos para diferentes espaços midiáticos. Cada um tem papel específico na cadeia de distribuição multiplataforma da marca”. Elas podem ocorrer a partir de um meio tradicional, como o jornal impresso, que passa a desenvolver estratégias em outras plataformas.

As franquias jornalísticas se formam no jornalismo a partir de uma organização que foi constituída e desenvolvida com marca específica e que, com o tempo, cria representações desta marca. Ela passa a ser utilizada em outros espaços, seguindo os seus princípios organizacionais, mas variando os públicos que são atingidos. Isso através da geração de novos componentes a partir da empresa e da marca que originaram o negócio (ZAGO; BELOCHIO, 2014).

Como exemplo desse tipo de estrátégia jornalística, pode-se citar o caso da franquia GaúchaZH. As manifestações que deram origem a ela começaram com jornal gaúcho Zero Hora (ZH), o qual teve a sua primeira edição impressa em maio de 1964. Nos anos 1970, o periódico passou a ser coordenado pela Rede Brasil Sul (RBS), a qual já administrava, na época, a TV e a Rádio Gaúcha (BELOCHIO, 2014). A partir de 1997, o jornal passsou a investir em estratégias digitais, começando pela implantação de sua página na rede. Mais recentemente, a empresa lançou manifestações digitais em mídias móveis, como os

aplicativos para sistema IOS e Android, o ZH tablet e as manifestações nas mídias sociais Facebook, Twitter, Instagram e no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp. Já em setembro de 201722, foi lançado o site GaúchaZH, decorrente da fusão das páginas da Rádio Gaúcha e Jornal Zero Hora.

A formação de franquias no jornalismo ocorre, normalmente, em contextos de convergência jornalística, assunto abordado na próxima seção.

2.2 Convergência jornalística

Numa realidade que tem a comunicação em redes digitais, através da conexão à internet (CASTELLS, 2003) como elemento de ligação, e no qual, hoje, segundo Jenkins (2008), a sociedade encontra-se sob as lógicas da cultura da convergência, surgem também manifestações de “subconvergência” (BARBOSA, 2009), que se desenvolvem a partir de práticas específicas. A convergência jornalística é uma delas. Conhecida, também, como integração de redações ou redações multimídia, conforme Barbosa (2009, p.38), constitui um processo em “evolução contínua”, sujeito a gradações. Dessa forma, assim como ocorre na convergência midiática, embora o fator tecnológico seja primordial nos processos que envolvem a convergência jornalística, ele não é o elemento determinante para o seu desenvolvimento.

A convergência jornalística é um processo que envolve mudanças organizacionais que impactam na forma de organização das rotinas de produção de certos veículos jornalísticos. Isso à medida que implicam em alterações nas formas de produção a partir da integração de equipes de meios diferentes, que seguem princípios próprios. O processo possui características específicas, como destaca Barbosa (2009):

[...] a integração entre meios distintos; a produção de conteúdos dentro de um ciclo contínuo 24/7; a reorganização das redações; jornalistas que são plataform-agnostic, isto é, capazes de tratar a notícia de forma correta, seja para distribuir no impresso, na web, nas plataformas móveis, etc.; a introdução de novas funções, além de habilidades multitarefas para os jornalistas; a comunidade/audiência ativa atuando segundo o modelo Pro-Am (profissionais em parceira com amadores), o emprego efetivo da interatividade, do hipertexto e da hipermídia para a criação de narrativas jornalísticas originais. (BARBOSA, 2009, p. 38)

22 INTEGRAÇÃO de Gaúcha e ZH foi o grande destaque de 2017 para ambos os veículos. Revista digital

Coletiva.net. Disponível em: < https://www.coletiva.net/jornalismo-/integracao-de-gaucha-e-zh-foi-o-grande-