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4.1 Observação exploratória de franquias jornalísticas

4.1.1 Folha de São Paulo

4.1.1.1 Ilustrada digital

A seção de cultura do webjornal da Folha de S. Paulo recebe o mesmo nome do impresso. Nela, são veículadas matérias que abordam as artes plásticas, música, entretenimento, cinema e tv, séries, livros, artes cênicas, moda e gastronomia e o Guia Folha, além de espaço destinado aos textos opinativos, na seção blogs. Também são criadas abas especiais, destacando eventos, como a destinada a reunir conteúdos sobre a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP). A versão digital da Ilustrada reúne conteúdos do Guia Folha, F5 e editoria de moda, como mostra a próxima figura.

Figura 2 - Página inicial da Ilustrada no site da Folha de S. Paulo.

Na figura 2 é possível perceber caracterísicas que diferenciam a plataforma digital da impressa da Ilustrada. Na seção do webjornal estão reunidos os conteúdos de diversas editorias, como o Guia Folha, que na versão impressa é publicada em separado no caderno Acontece. Além disso, a plataforma digital oferece a possíbilidade de navegação por temas, através dos links no topo da página. Outro recurso visível é a apresentação das principais

matérias através de fotografias com chamadas, que aparecem em slides que deslizam ao clicar nas setas laterais.

Durante os três dias de observação, constatou-se que quase a totalidade das matérias veiculadas no site pela manhã são transposições do jornal impresso. Contudo, estas são complementadas com conteúdos multimídia. A primeira evidência de que ocorre uma ampliação é a utilização de conteúdos multimídia, ou seja, conteúdos que utilizam mais de uma mídia, como a união de imagem, texto e som, é possível apenas em plataformas digitais, sendo inviável no jornal impresso. Dessa forma, isso se configura como uma mudança nas estratégias de produção do jornalismo cultural. Além de ampliar a quantidade de conteúdos disponibilizados, permite o aprofundamento dos temas e a interatividade, no caso de conteúdos que apresentam tal recurso.

Há também matérias que são veículadas apenas na web. Tais matérias abordam temas diversos, contudo percebe-se a predominância de temas ligados ao entretenimento, como filmes e séries. Muitas vezes, as matérias são acompanhadas de conteúdos multimídia externos à franquia, isto é, que não são produzidos pela sua equipe de jornalistas, como trailers compartilhados a partir do YouTube e galerias de fotos (Figura 3). Vale destacar que os trailers são como a propaganda dos produtos, entende-se tal produção não configura-se como jornalística, devido ao seus conteúdos e a serem produzidas externamente à equipe editorial do veículo.

Tais recursos são viáveis apenas nas plataformas digitais, de modo que entende-se que essas possibilidades interferem na forma como as pautas são planejadas, produzidas e veículadas. Acredita-se que esse tipo de possibilidade também amplia a capacidade de tecnologia do imaginário do jornalismo cultural, antes limitado as páginas do impresso, com espaço e recursos reduzidos. Com a ampliação de opções de conteúdos e do espaço dessa editoria, é possível atingir públicos diversos e complementar os textos com elementos que mudam os tipos de conteúdos, misturam linguagens, mudam interfaces e expandem as possibilidades de experiências dos públicos com o jornalismo cultural. Permitem ir além do estilo clássico, de publicações estáticas e resumidas.

A grande maioria dos conteúdos observados recebe, no webjornal, hiperlinks e galerias de fotos. Alguns também são complementados com playlists, vídeos do YouTube, como trailers ou outros conteúdos. É o caso da matéria “Mallu Magalhães flerta com sintetizadores para não acordar a filha57”, que traz duas playlists do Spotfy com músicas da cantora, as quais podem ser reproduzidas na própria página da notícia.

57 GREGÓRIO, Rafael. Malu Magalhães flerta com sintetizadores para não acordar a filha. In Folha de S. Paulo

[online]. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/mallu-magalhaes-flerta-com- sintetizadores-para-nao-acordar-a-filha.shtml> Acesso em: 03 ago. 2018.

Figura 3 - Matéria veiculada apenas no site no dia 2 de agosto de 2018.

Fonte – Screenshot da seção Ilustrada, no site da Folha de São Paulo. (Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/segunda-temporada-da-handmaids-tale-sera-exibida-em- setembro-no-brasil.shtml>. Acesso em: 02/08/2018)

Embora a versão impressa não traga referências ao site, percebeu-se que as matérias veiculadas no periódico são complementadas no site com links e conteúdos exclusivos, como fotos, vídeos e informações extra. Isso mostra que na plataforma digital há uma ampliação das matérias do impresso, já que com os recursos disponíveis é possível complementar as informações. Foi possível observar que a gama temática trabalhada pela Ilustrada é variada. O jornal dá o mesmo destaque a assuntos relacionados à arte e ao entretenimento. Já o webjornal privilegia, além desses assuntos, o entretenimento e a programação de tv e de plataformas de streaming, como a Netflix.

No site, há, ainda, as abas especiais dedicadas a eventos esporádicos, como a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP) e matérias especiais. Na seção destinada à FLIP, encontra-se conteúdos sobre a programação do evento, destaques, matérias especiais, dicas de localização, críticas literárias e crônicas. É possível verificar, no webjornal, o especial “Música muito popular brasileira58”. Ele foi veículado em dezembro de 2017, no jornal impresso, em um caderno com oito páginas, e permanece fixado na página inicial da Ilustrada digital.

O especial “Música muito popular brasileira” investigou as preferências dos brasileiros, identificando quais artistas e gêneros são mais populares e em quais lugares do Brasil. Segundo o site (FOLHA, 2017), a Folha realiza essa investigação com base em entrevistas, estudos e, principalmente, dados do YouTube, “plataforma digital mais usada para ouvir música no país e no mundo” (FOLHA, 2017). A pesquisa fez uma análise de 134 bilhões de execuções no YouTube, de 2014 a 2017. A partir disso, foi traçar a geografia dos fãs de artistas nacionais e estrangeiros pelo território nacional. Segundo o site, “o retrato se propõe como um convite a se afastar das bolhas sociais e descobrir o que faz os ouvidos dos brasileiros” (2017). Percebeu-se, nas matérias publicadas no webjornal, o acréscimo de conteúdos produzidos por terceiros e compartilhados através de canais como o YouTube. Entende-se que tais conteúdos não se caracterizam como jornalísticos, sendo mais compatíveis com o entretenimento.

Como já exposto, no impresso, pode-se ver as mesmas matérias do site e imagens de alguns infográficos. Além da série de matérias, encontram-se, na referida página, diversos conteúdos multimídia, como galerias de fotos, entrevistas em vídeo, infográficos animados e interativos. Em um dos infográficos, os leitores podem selecionar um artista, verificar em quais regiões do país ele é mais popular e, ainda, assistir ao vídeo (incorporado do YouTube)

58 FOLHA de S. Paulo. Disponível em: <http://arte.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/musica-muito-popular-

de uma apresentação sua. Em destaque, na figura 4, as caixas de seleção que possibilitam escolher sobre qual artista o leitor deseja visualizar as informações.

Figura 4 - Infográfico interativo na Ilustrada digital.

Fonte – Screenshot da seção Ilustrada, do site Folha de São Paulo.

O exemplo da figura 4 mostra mais um elemento da seção de cultura do webjornal que mistura notícia com outros tipos de conteúdos, como os infográficos animados e interativos. Neles os interagentes podem escolher as opções que desejam e ter acesso às informações que procuram. Esses recursos conferem mais possíbilidades ao público, como a de acessar apenas os conteúdos que desejam, bem como possibilitam a organização das informações jornalísticas de forma dinâmica e organizada. Entende-se que tais recursos podem interferir na expectativa que os públicos possuem sobre o jornalismo cultural, moldando seu imaginário sobre ele e ampliando a capacidade de tecnologia do imaginário do jornalismo cultural. Acredita-se que o público deixa de perceber o jornalismo cultural como estático e limitado, já que tais recursos ampliam as suas possibilidades.

Embora não tenham sido encontradas referências no jornal impresso que direcionem o leitor para o acesso aos infográficos interativos, foi encontrado um pequeno ícone convidando o leitor a assistir, na web, a entrevista com a cantora Marília Mendonça, conteúdo

complementar da matéria “Aos 22 anos, Marília Mendoça vira a artista mais ouvida do país”59. O ícone pode ser observado na figura 5.

Figura 5 - Capa da Folha de S. Paulo, 15 de dezembro de 2017 (Imagem A). Referência ao vídeo com a entrevista da cantora (Imagem B).

Fonte – IMAGEM A: Capa Folha de S. Paulo [versão digitalizada] (15/12/2017). IMAGEM B: Screenshot do especial “Música muito popular brasileira” no jornal impresso” (p. 6-7, 15/12/17).

No site o leitor pode acessar a entrevista em vídeo com a cantora, referenciada no impresso, o que pode ser conferido na figura 6, abaixo. Além de outros conteúdos como infográficos, galerias de fotos e vídeos com os clipes dos maiores sucessos da artista.

Figura 6 - Entrevista em vídeo na matéria “Música muito popular brasileira”, o qual o impresso do dia 15 de dezembro faz referência.

Fonte – Screenshot do especial “Música muito popular brasileira”.

59 AZEVEDO, Vitória. Aos 22, Marília Mendonça vira a artista mais ouvida do país. Folha de São Paulo: São

Paulo, 2017. Disponível em: <http://arte.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/musica-muito-popular- brasileira/feminejo/> Acesso em: 03 ago. 2018.

Através das estratégias utilizadas por essa série de matérias, pode-se observar a utilização de algumas características do jornalismo cultural da Folha de S. Paulo. Percebeu-se que geralmente não são realizadas remissões no jornal impresso a conteúdos da web, contudo é preciso salientar que tal elemento foi encontrado no referido caderno. Este é marcado pela presença da infografia e pelo compartilhamento de conteúdos de entretenimento de outras plataformas mesclados com conteúdos jornalísticos. Infere-se que isso representa uma estratégia de produção noticiosa híbrida, e que vem sendo recentemente utilizada na produção de conteúdos de jornalismo cultural em plataformas digitais.