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Os fatores contributivos e as alternativas formam uma categoria única, ela tenta apresentar, a partir do discurso das docentes, como elas percebem os fatores contributivos para a violência na escola e o que vem sendo feito como alternativa à presença da violência no ambiente escolar. Após as inferências dos dados pertinentes a essa categoria, encontram-se dois núcleos de sentido que se direcionam aos fatores contributivos para a violência e quatro núcleos de sentido para as alternativas direcionadas à redução da violência.

No que diz respeito aos fatores contributivos para a manifestação de violência no ambiente escolar, tem-se dois núcleos de sentido o primeiro é o contexto familiar. Pelos resultados encontrados, é notório que as professoras veem os pais ou a família como principais responsáveis pela agressividade e pelos comportamentos violentos das crianças no ambiente escolar. Observa-se que todas as entrevistadas fazem constantes referências à violência como algo que se inicia no ambiente familiar.

Na minha opinião o que eu sinto é que a criança quando ela chega na escola ela já vem trazendo tudo isso ai, ela vem trazendo de casa, então, o que chega e diz tia eu não almocei, ai isso pra mim, já é um choque, por que como é que uma criança sai de casa sem almoçar? Qual é o rendimento que essa criança vai ter, sem tá alimentada? (P1)

Talvez a falta de orientação primeiramente dos pais, porque a partir do momento que os pais colocam uma criança no mundo eles já tem que dá uma noção de vivencia, de não violência, de moralidade, de experiência e tudo, eu vejo que muitos pais não conversam com os filhos, não tem pulso também e muitos deles esperam que a gente faça esse papel também ai sobrecarrega [..]. (P2)

[...] a violência já vem desde a base, então se não trabalhar bem a base, vai virando só a bola de neve, aqui é só estresse, estresse, principalmente quem é substituta. Na minha opinião isso ai vem tudim lá do berço, é lá da família, porque pra eles já é normal né vê no ambiente familiar vê pai e mãe se agredindo e tudo, dentro de casa a mãe não põe limite, não ensina né ai sai de lá vai pra onde? Leva pra sala de aula, reflete na sala de aula, por mais que você trabalhe aqui na escola o respeito e tudo, mas eles no ambiente deles eles num vive isso ai, se a criança não viver, ela escuta aqui e sai ali, porque não tem significado, a referencia dela é a família. (P3)

Paredes, Saul e Bianchi (2006) em sua pesquisa sobre representações sociais de violência descritas pelos professores de Cuiabá, afirmam que “o desamparo e suas consequenciais apresentam-se descritos pelos professores sob a perspectiva de que os adolescentes sem a atenção dos familiares poderiam manifestar comportamentos violentos e envolver-se com drogas” (p.196). Essa lógica discursiva dialoga com os discursos das professoras, quando elas afirmam que a violência que se manifesta no ambiente escolar seja no recreio, seja na sala de aula - vem do contexto da família e se dá pela ausência de uma educação e um maior cuidado com os filhos.

É interessante notar que os resultados demonstrados pelas professoras entrevistadas no qual aponta as relações familiares como responsável pelos comportamentos tidos como violentos, dialoga com os resultados obtidos do por Tognetta et al (2010, p.51), onde “[...] 62,28% das repostas dadas pelos professores, [...] atribuem às relações familiares os comportamentos inadequados de seus alunos.” Ornellas e Radel (2010) consideram que em meio às diversas mazelas sociais existentes nessa sociedade contemporânea, é pertinente questionarmos o papel da família em relação ao fenômeno de violência do aluno na escola, pois, segunda elas,

É no seio da família que se esperava que a criança aprendesse a conviver com as diferenças de idade, gênero, sexo, etnia e outras. Assim, ela estaria sendo educada e preparada para conviver em grupo de forma colaborativa, cooperativa e construísse atitudes de tolerância e respeito aos limites de si e do outro. A convivência entre integrantes da família deveria oportunizar o valor da construção democrática, escuta ao desejo do outro e da fala que cada um expressa no seu cotidiano familiar. (ORNELLAS; RADEL, 2010, p.44)

Há como segundo núcleo de sentido referente aos fatores contributivos para a violência a vulnerabilidade social, percebemos que a fome, a pobreza e a carência de afetividade, enquanto fator de vulnerabilidade social, foram apontadas pela maioria das entrevistadas,

[...] então, muitas delas vem aqui e diz tia eu posso repeti a merenda que eu to com fome né, fome é uma violência simbólica pra gente e física pra criança,[...] (P2) [...] eu vejo que muitos deles vem com essas ideias na cabeça, por conta da do local que vive, do ambiente, por exemplo essa senhora que tava aqui que ambiente que ele tem prazeroso pros filhos? Nenhum, é um cubículo que ela mora, 7 filhos, eu quero dizer que uma mãe dessa com um monte de filhos desse, dorme numa cama, que uma vez eu sentei o J. e ele me disse que dorme 4 meninos numa cama, num colchão que ele disse que não era uma cama era uma colchão no chão ai moram nesse cubículo, que não tem banheiro, não tem um sanear na casa dele e parece que um fogão a lenha, eles vem pura fumaça para escola, a fumaça que essas crianças inalam, por que eles viam tão fididos gente!!! (P1)

É visível que as condições desfavoráveis nas quais as crianças se encontram imersas preocupam as docentes, favorecendo a associação que elas fazem dessa realidade com a presença dos comportamentos violentos no cotidiano da escola. Para Alves-Mozzotti (1994, p.60)

Entre os desafios com que os professores são confrontados em sua prática docente, destacam-se a educação das classes desfavorecidas e o papel da escola na ruptura do ciclo da pobreza. O chamado fracasso escolar das crianças pobres é hoje a preocupação dominante no campo da educação.

Há quatro núcleos de sentidos para as alternativas que visam amenizar o fenômeno da violência no ambiente escolar. O primeiro se refere a “conversar ou levar para a coordenação”,

[...] quando eles brigam você chama os dois ali pra conversar. (P1)

[...] mas eu notei que diminuiu mais a questão da violência eles estão me ouvindo mais né, por exemplo os meninos que butei pra suspender ele baixou mais a bola né, porque as vezes tem que ter essa punição também, não só conversa tem que ter a intervenção também, eu digo olha se você não fizer isso vou ter que fazer assim, vai perder o recreio, ou vai ter que fazer uma cópia assim, [...] (P2)

Pra melhorar, o que eu vejo fazendo é trazer pra cá pra coordenação, porque a responsabilidade maior com isso fica em cima da gente, o máximo que eles fazem é trazer pra cá pra fazer cópia, às vezes conversa, as vezes volta pra sala pra pedir desculpa ao colega, por intermédio da coordenação. (P3)

Vê-se que, ao tomar nota do discurso das professoras, que o que vem sendo feito para a amenização do fenômeno da violência são conversas com as crianças ou o direcionamento delas à coordenação, algumas vezes são suspensos, colocados para fazer cópia, ou vão até a sala de aula perdi desculpa a “vítima”. Estes posicionamentos, para as docentes, são tidos

como punitivos, além de considerarem que não refletem em resultados positivos. Quanto às ações de repressão ou tentativas de amenização das ações de violência, Tigre (2009) argumenta que a escola,

[...] não deve assumir a postura de apenas reprimir a violência que acontece dentro de seus muros, deve preocupar-se também com o que acorre do lado de fora. Todavia, essa iniciativa não pode se dar de forma isolada: deve fazer parte de um programa mais amplo de combate à violência que precisa ser desencadeado e envolver vários segmentos sociais. (p.67)

Para Silva (2012, p.98) “[...] nenhum meio educativo é suficientemente eficaz a ponto de garantir que todas as pessoas submetidas a ele agirão, quando adultas, de determinada maneira”. Tognetta at al (2010, p.74) nos afirma que

Torna-se importante ressaltar que na maioria das vezes, quando o aluno é colocado para fora da sala de aula não há nenhuma aprendizagem, pois não há relação entre o ato cometido e a ação/punição. Quando a exclusão não está diretamente ligada ao ato que precisa ser corrigido e quando ainda o tempo destinado a tal exclusão é determinado pelo professor o que se tem é a ausência da reflexão relacionada ao estabelecimento das regras e a ausência da autorregulação, [...]. No momento em que o professor exclui um aluno da sala de aula, este “soluciona” o problema de imediato, mas esta solução pode ser caracterizada como utópica, já que em outro momento o aluno continuará a desrespeitar as regras, pois não houve uma discussão dobre o ato cometido e, concomitantemente, não houve a tomada de consciência do aluno sobre a regra desrespeitada bem como, sobre as consequências dos seus atos.

Dessa forma, deve-se considerar que a coordenação e as docentes entrevistadas, não apresentaram medidas ou alternativas para a redução dos casos de violência; as ações apresentadas no discurso são apenas paliativas e momentâneas.

Temos o núcleo de sentido projeto, no qual uma professora aponta a existência de um projeto que se mostra eficaz e a segunda professora não menciona a existências do projeto em questão.

[...] nós temos um projeto muito bom que fala sobre a solidariedade, a amizade, o cuidar, os valores, o cuidar do outro, ter autonomia de você ir lá e tomar a frente, então é um projeto muito bonito, ele não pode ser divulgado por que é uma norma que é dado pelas pessoas que ampliam.[...] (P1)

[...] a escola não tem material e nem projeto disponíveis pra nos ajudar né, a gente vai muito na coragem mesmo e na boa vontade né e no dia a dia mesmo, é mais a insegurança e a gente fica assim de mãos atada. (P2)

[...] de solução mesmo não tem nenhuma e pra melhorar os comportamento dos alunos nesse momento eu não consigo vislumbrar nada. (P3)

A existência de um projeto mencionado pela (P1) é desenvolvido apenas em sua sala de aula, dessa forma não é estendido para as demais salas de aula, nem é mediado pela diretoria e pela coordenação da escola, de modo a poder ser desenvolvido e executado pelo

corpo escolar. Por esse motivo a (P2) afirma que não existe um projeto efetivo na escola que vise à amenização ou redução da violência na escola em que ela trabalha. Sobre o núcleo de sentido trabalhar o respeito,

Primeiro eu converso muito com eles, sabe eu sempre repito as mesmas coisas, olha é questão de respeitar o próximo, respeitar os outros, respeitar os professores da escola, os pais e as mães também, porque de qualquer maneira é por mais defeito que a mãe tenha, é o pai é a mãe né, procurar qualquer conflito que tenha procurar a gente porque a gente também tá aqui pra ajudar além de ensinar né. (P2)

[...] por mais que você trabalhe aqui na escola o respeito e tudo, mas eles no ambiente deles eles num vive isso ai, se a criança não viver, ela escuta aqui e sai ali, porque não tem significado, a referencia dele é a família. (P3)

Esse posicionamento foi demonstrado por mais de uma professora. Elas argumentaram que utilizam o discurso do repeito, dos valores morais, para que as crianças evitem ações de cunho violento na escola. Na pesquisa realizada por Tognetta at al (2010, p.58-59), os resultados da pesquisa demonstraram que as ações apontadas pelos professores entrevistados foram que 58,14% deles resolvem os conflitos ensinando a moral, o respeito, ou seja, por meio “[...] da transmissão de regras, limites entre outros como intervenções indiretas a tais comportamentos e ainda utilizando-se de castigos e recompensas.”

Tem-se o último núcleo de sentido no qual se percebe o professor tudo/figura materna. Nesse caso, as docentes deixam emergir em seus discursos uma demanda adicional ao papel do educador, demonstrando que muitas vezes espera-se do docente que ele realize ações que culturalmente é papel da família.

[...] professor tem que ser babá, mãe, tem que ser tudo sabe, olha tem criança que precisa de um abraço e você conhece, você vai lá abraça e ela fica tão feliz, ela diz minha mãe não me dá nenhum beijo. (P1)

[...] eu vejo que muitos pais não conversam com os filhos, não tem pulso também e muitos deles esperam que a gente faça esse papel também ai sobrecarrega porque além da gente ensinar eles querem que a gente faça esse papel que é deles, que deve começar por eles, nós somos a extensão, mas esse papel de educar tem que começar em casa, esse é o meu ponto de vista assim, o pai e a mãe deve começar a dá a educação pro filho em casa e não esperar só do professor né, porque realmente sobre carrega né. (P2)

Assim, é que a cada ano que passa eu tenho observado que cada vez mas está mais difícil né, ser professor por que você vem com a intenção de ensinar e além de ensinar você também tem que educar esses meninos que vive constantemente conflitos entre eles. [...] a questão de que o professor não é mais só professor tem que ser tudo e a relações de conflito. É a fala de todos nós. (P3)

É inegável as contradições diante da formação e do que a profissão exige, nos dias atuais, vem contribuindo para o descontentamento de muito profissionais que atuam na

educação. Corrobora-se com as afirmações de Costa (1999, p.161-162 apud PAREDES; SAUL; BIANCHI 2006, p.199) quando nos afirma que:

As instituições educativas sempre foram pensadas como instâncias formadoras, onde os papéis eram bastante definidos. A escola é o lugar da competência, da ordem, da disciplina; não do conflito, não da resistência, não da contradição. Os professores são formados para lhe dar com a obediência, a aceitação não com rebeldia, o confronto ou a violência.

Guimarães (1996), porém, afirma algo pertinente quanto a postura da escola, vejamos:

A instituição escolar não pode ser vista apenas como reprodutora das experiências de opressão, de violência, de conflitos, advindas do plano macroestrutural. É importantes argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também reproduzem sua própria violência e sua própria indisciplina. (GUIMARÃES, 1996, p.7, apud ABRAMOVAY; RUA, 2002a, p.88)

É perceptível que os papéis da escola e do professor vêm perdendo forma, demonstrando uma reconfiguração.

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