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Algumas pesquisas encontradas sobre o tema violência na escola, utilizam a Teoria das Representações Sociais. Dessa forma, são apresentados brevemente os resultados de quatro pesquisas realizadas no Brasil, que contemplaram o tema violência na escola e que revelam resultados consideravelmente relevantes.

A primeira pesquisa é de Maria das Graças do Espírito Santo Tigre, publicada pela Editora UEPG no ano de 2009, cujo o tema é “Violência nas Escolas: reflexão e análise”, o

objetivo da pesquisa foi compreender o que os agentes envolvidos com o cotidiano escolar entendem por violência na escola e o que é feito para enfrentá-la, considerando suas diversas manifestações. A coleta de dados da pesquisa foi realizada em quatro escolas estaduais da cidade de Ponta Grossa (PR), os instrumentos utilizados foram análise documental, observação participante e entrevistas semiestruturadas.

Os sujeitos da pesquisa foram professores, equipe técnico-pedagógica, funcionários e pais de alunos, além de conselheiros tutelares e policiais que fazem parte da Patrulha Escolar. Dentre os resultados obtidos na pesquisa a autora nos informa que de modo geral foi percebido que ocorrem múltiplas violências tidas como “menores”, podendo citar, o desrespeito; as ofensas; brincadeiras agressivas; pequenas agressões físicas; ameaças e intimidações.

Quanto o questionamento do que é feito para enfrentar a violência na escola, obteve um posicionamento que legitima a estrutura familiar ou os próprios alunos como responsáveis pelos comportamentos agressivos, isentando a escola, a formação docente o que permite perceber que a solução depende do esforço individual de cada aluno e de cada família.

Esses foram os resultados apresentados de forma sucinta sobre a pesquisa de Tigre (2009) e que contempla o tema violência na escola. Os dados em questão são bastante reveladores quanto aos tipos de violência que ocorrem no ambiente escolar, além dos apontamentos em relação ao que é feito para amenizar as ocorrências de violências.

As professoras Maria de Lourdes Soares Ornellas e Daniela Chaves Radel (2010) coordenaram uma pesquisa intitulada “Violência na escola: grito e silêncio”, financiada pela Fundação Amparo à Pesquisa (Fipesb), contou com 214 sujeitos, dentre eles: 102 alunos, 45 professores, 21 pais, 25 funcionários (técnicos, gestores entre outros) e 25 pessoas da comunidade de quatro escolas públicas estaduais da cidade de Salvador – Bahia.

A pesquisa utilizou como instrumentos de coleta de dados, questionários, grupo focal e desenho. Para a análise dos dados foram utilizados duas correntes teóricas: a teoria das Representações Sociais, desenvolvida por Serge Moscovici em 1978 e a teoria da Psicanálise apoiando-se em Sigmund Freud, além de fazer uso do método de Análise do Discurso para interpretação dos dados coletados. Entre os resultados encontrados, destaca-se a análise das respostas dos questionários aplicados em alunos e em professores.

Quanto à análise das respostas dos alunos escritas nos questionários, houve um recorte do questionário aplicado em 102 alunos de quatro escolas. Serão apresentados de forma sucinta, os resultados de cinco gráficos concernentes às questões principais, a saber: percepção de violência; quem a violência afeta, violências praticadas; fatores que estimulam a violência e o que sente quando presencia violência. (ORNELLAS; RADEL, 2010, p.85-89). 1. Percepção de violência:

“Observa-se que a maioria desses entende que a violência é uma forma de agressão física, fato que nossa cultura é propagandeado, levando-se em conta que a violência, e também a ameaça, assedio sexual e homicídio são considerados atos violentos”.

2. Quem a violência afeta:

“Estes reponderam que a maioria absoluta encontrava-se entre alunos, uma parcela ínfima de professores também foi apontada, bem como entre professores e alunos, restando num percentual não significativo entre direção x aluno e funcionário x aluno”.

3. Violência praticada na escola:

O “(...) gráfico retrata a violência praticada na escola cujo percentual maior de respostas está concentrado em agressões físicas, seguidas de verbais e de ameaças. As menores incidências são de morte, seguidas de rejeição e estupro”.

4. Fatores que estimulam a violência:

“[...] observa-se que a falta de policiamento na escola é um fator preponderante, [...]. O consumo de drogas foi uma resposta expressiva entre os sujeitos, [...]. É interessante notar que uma parcela significativa expressou que falta na escola punição para atos agressivos”.

5. O que o sujeito sente quando presencia violência:

“[...] os sujeitos responderam, em maior percentual, que sentem medo e mostram-se nervosos. [...]. Em seguida, veio a revolta e a raiva, dois afetos desprazerosos, pelos quais os sujeitos encontram-se afetados, [...]”.

No que diz respeito às análises das respostas dos professores escritas no questionário, foi feito um recorte dos questionários aplicados em 45 professores de quatro escolas. Serão apresentados de forma sucinta os resultados de cinco gráficos concernentes às questões

principais, a saber: percepção de violência; entre quem acontece atos violentos, atos violentos praticados; fatores que estimulam a violência e o que o sujeito sente quando presencia atos violentos. (ORNELLAS; RADEL, 2010, p. 89-93).

1. Percepção de violência:

“A maior parte dos professores relacionam o significante violência à agressão física, igualmente aos alunos, seguida de violência simbólica. Esta é representada através da palavra humilhação, [...]”.

2. Entre quem acontece atos violentos:

“Os sujeitos responderam que a violência é afetada de maneira mais intensa entre alunos, entre professores e alunos, entre professores e funcionários”.

3. Atos violentos cometidos na escola:

“Os sujeitos da pesquisa verbalizaram que os palavrões ganham uma grande força nas relações interpessoais, seguidos de chutes, socos, ameaças e roubos”.

4. Fatores que estimulam a violência:

“[...], os sujeitos, em grande medida, disseram que são eles: desestrutura familiar, consumo de drogas, as gangues, pouco policiamento e a localização da escola”.

5. O que o sujeito sente quando presencia atos violentos:

“O sujeitos colocaram seus afetos nessa questão, denunciam e inscrevem o medo, o nervosismo, a raiva e alguns dizem que não se importam”.

Não serão contemplados nessa sucinta abordagem dos resultados da pesquisa em questão os dados advindos do grupo focal e dos desenhos.

Tognetta et al (2010) lançou a “Série Desconstruindo a Violência na Escola: os meus alunos, os seus e os nossos alunos bagunceiros) com publicação dos volumes 1, 2 e 3. O volume 1 intitulado Um panorama geral da violência na escola... e o que faz para combatê- la, consiste em uma pesquisa sobre o tema violência na escola pautada na Teoria da Moral

defendida por Jean Piaget e Ives de La Taille. O objetivo da pesquisa era buscar respostas para alguns questionamentos, como a visão dos professores sobre os problemas de relacionamento interpessoal na escola, quais as dificuldades cotidianas e quais sansões

atribuídas ao alunos. Para tanto foram feitas quatro questões e as respostas foram organizadas em categorias e subcategorias. A perguntas direcionadas para os docentes foram:

1. “Quais as dificuldades que você encontra no seu relacionamento com as crianças?”. Os resultados obtidos informam que 10,17 % dos docentes apontaram ausência de dificuldades; 48,31% aborrecimentos, indisciplina e agressividade; 12,71% relação entre família e escola; 12,71% falta de interesse e 16,10% dificuldades associadas á metodologia e ou preocupação do professor em se fazer entender. A amostra contou com 118 respostas.

O que nos chama atenção nesses resultados é que 48,31% dos docentes apontam os aborrecimentos, a indisciplina e a agressividade com as principais dificuldades encontradas no relacionamento com as crianças, o que reforça a perspectiva de que os conflitos relacionados à violência na escola são elementos presentes no cotidiano da escola e possuem influencia negativa na prática pedagógica dos docentes.

2. “Quais são os comportamentos que você considera indisciplinados ou inadequados de seus alunos?”. Os resultados foram 4,32% ausência de comportamentos inadequados; 56,12% dificuldades em seguir regras convencionais, limites e desobediência à autoridade; 32,37% dificuldades em seguir regras morais; 2,16% comportamentos depredatórios; 2,88 % falta de interesse e 2,16% outras dificuldades do cotidiano escolar. A amostra contou com 139 respostas.

Aqui se pode perceber que 56,12% dos docentes apontam as dificuldades em seguir as regras convencionais, limites e desobediências como comportamentos relacionados à indisciplina. Veja-se dessa forma, que a indisciplina é elementos que caminha junto a presença da violência, Tigre (2009) considera que a linha que separa indisciplina e violência considerando o ambientes escola é significativamente tênue.

3. “A que você atribui esses comportamentos inadequados de seus alunos?”. Os resultados foram 5,26% ausência de dificuldades; 6,14% parte do processo de desenvolvimento da criança/adolescente; 62,28% problemas advindos das relações familiares; 16,67% influência da mídia e da sociedade; 4,39% apontou a metodologia utilizada; 1,75% defasagem na aprendizagem e 3,51% a falta de compromissos com os estudos. A amostra contou com 114 respostas.

Quanto às justificativas para os comportamentos ditos como inadequados, a maioria dos docentes apontam que 62,28% problemas advindos das relações familiares. Esse tipo de

argumento é muito presente nas representações sociais de docentes quando tentam justificar os problemas existentes no ambiente escolar, seja relacionado à aprendizagem, a violência entre outros. Pereira (2009) considera que os docentes não se esforçam em assumir sua parcela de culpa ou de colaborador para a mudança.

4. “Quais ações você utiliza para corrigir esses comportamentos inadequados. Por que?”. Os resultados foram 10,85% respostas evasivas ou nenhuma ação mencionada; 11,63% resolvem os conflitos construindo valores na interação com a criança e ou adolescente; 58,14 resolve conflitos “ensinado a moral; 12,40% parceria escola-familia levando o problemas às famílias; 4,65% encaminhamento á direção e 2,33% ignora as atitudes das crianças e/ou adolescentes. A amostra contou com 129 respostas.

Existe aqui alguns apontamentos sobre as ações dos docentes, descritas como forma de resolver os problemas direcionados para os comportamentos ditos inadequados: 58,14% revolvem conflitos “ensinando a moral”. No entanto, questiona-se se, de fato, é possível ensinar a moral na escola e se esses ensinamentos da moral são eficazes, porque as pesquisas em questão ainda demonstram que os conflitos estão presentes de forma significativa no ambiente escolar?

Estes foram os resultados apresentados para as respostas feitas aos docentes participantes da pesquisa, porém, o livro também nos traz as perspectivas dos alunos. Estes reponderam também a quatro questões e os resultados foram expostos no livro aqui em questão.

Alexandre da Silva de Paula, Sérgio Kodato e Francielle Xavier Dias publicaram em uma revista científica Estudos Interdisciplinares em Psicologia (2013), os resultados da pesquisa “Representações Sociais da Violência em Professores da Escola Pública”. A referida pesquisa de abordagem qualitativa foi realizada em uma escola publica localizada em uma região periférica de uma cidade situada no interior de São Paulo.

O referencial teórico e de análise utilizado na pesquisa foi a Teria das Representações Sociais e teve como objetivo investigar as concepções e as significações de violência nas escolas, produzidas pelos professores do Ensino Médio e Ensino Fundamental. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados foram entrevistas semidirigidas em profundidade, aplicadas com oito participantes escolhidos pelo critério de disponibilidade e variabilidade do conjunto. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente foram organizadas em categorias temáticas, seguindo o critério do método de análise de conteúdo.

Os resultados obtidos em linhas gerais demonstraram que “as interpretações e justificativas para os episódios de violência baseiam-se em concepções pré-científicas e constituem um discurso desprovido de autocrítica, caracterizado pela impotência e por um sentido fatalista de futuro, dificultando o enfrentamento e a prevenção.” (PAULA; KODATO; DIAS 2013, p.240). Há ainda como contribuição de Paula, Kodato e Dias (2013), nas quais segundo eles as construções das representações de violência se direcionam para uma visão que aponta que “a violência nas escolas é geralmente interpretada como decorrente da falta de ética e cidadania dos alunos, associada a uma representação do grupo familiar como incapaz e insuficiente” (p.242).

A apresentação dos resultados de quatro pesquisas busca demonstrar, mesmo que de forma sucinta o que vem produzindo sobre o tema violência na escola, além de nos revelar o quanto o fenômeno da violência possui relevância.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

Fez-se uso do método de Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2011), para tratamento dos dados obtido a partir das entrevistas semiestruturadas, obtendo dessa forma as representações sociais de violência na escola descrita pelos professores. A (TRS) na afirmação de Farr (1993 apud SÁ, 1998, p.80) “não privilegia nenhum método de pesquisa em especial”. Dessa forma, Sá (1998) nos explica que

A rigor, é difícil especificar quais são os métodos mais bem autorizados por cada uma das diferentes perspectivas complementares à grande teoria. Se quiséssemos insistir em uma apresentação esquemática e simplificada da questão, diríamos o seguinte: à perspectiva de Jodelet correspondem os métodos ditos qualitativos; à perspectiva de Doise, os tratamentos estatísticos correlacionais; à de Abric, o método experimental. Mas, embora essas preferências possam ser originalmente verdadeiras, observa-se hoje uma importante interpretação entre elas (p. 80).

No entanto, “a prática articulada mais comum de pesquisa - quase um ‘romeu e Julieta’ das representações sociais – combina a coleta de dados através de entrevistas individuais com a técnica para tratamento conhecida como ‘análise de conteúdo’”.(SÁ, 1998, p.86), proposta por Bardin (2011). Considerando a afirmação de Sá (1998) afirma-se que serão apresentadas as representações previstas no discurso dos sujeitos, fazendo uso do método de Análise de Conteúdo (AC). Bardin (2011, p.44) conceitua AC como,

Um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

Moraes (1999, p.8), nos apresenta o seu ponto de vista conceitual da (AC) como sendo

Como método de investigação, a análise de conteúdo compreende procedimentos especiais para o processamento de dados científicos. É uma ferramenta, um guia prático para a ação, sempre renovada em função dos problemas cada vez mais diversificados que se propõe a investigar. Pode-se considerá-la como um único instrumento, mas marcado por uma grande variedade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto, qual seja a comunicação.

A análise de conteúdo (AC) permite enquanto método realizar uma abordagem quantitativa e qualitativa: “Na abordagem qualitativa é a presença ou ausência de uma característica do conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomada em consideração.” (BARDIN, 2011, p.27). As fases de uma AC

na perspectiva de Bardin (2011) possui a seguinte divisão: i) pré-análise; ii) exploração do material; iv) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

O tipo de análise que se utilizou na pesquisa consiste na análise temática, que para Bardin (2011, p.135) “[...] consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.”. A análise temática se deu pelo processo de categorização que consiste em

[...] uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto de diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos [...] sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos. O critério de categorização pode ser semântico, [...], sintático, [...], léxico [...] e expressivo [...]. (BARDIN, 2011, p.147)

Apresentar-se-ão a seguir os dados com as inferências e interpretações obtidas. Inicialmente os dados serão demonstrados considerando três categorias temáticas definidas previamente no âmbito da formulação dos objetivos da pesquisa, são elas: Representações sociais de violência na escola; Fatores e as alternativas para a redução da violência na escola e os Tipos de violências. No final da apresentação dos dados referente à categoria temática, teremos a inferência e interpretação dos dados.

Utilizar-se-á P1, P2 e P3 para nos referirmos à professora 1, à professora 2 e à professora 3, respectivamente. Dessa forma, a identidade das entrevistadas será preservada. A pesquisa foi realizada apenas com professoras, todas com idade entre trinta e cinquenta anos, formadas em Pedagogia. Uma delas com especialização em Inclusão e Psicopedagogia. São professoras do ensino fundamental anos iniciais.

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