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Categoria 3 Preparação pedagógica dos professores

No documento Download/Open (páginas 100-103)

5.1 A expressão dos entrevistados

5.1.3 Categoria 3 Preparação pedagógica dos professores

Tivemos como propósito coletar informações sobre a formação acadêmica dos entrevistados e verificar se ocorre algum tipo de preparação para lecionar na Fundação Casa e, inclusive, se consideram necessária uma formação específica. Em relação à formação inicial, todos têm curso superior e um deles tem especialização.

Questionamos sobre o Projeto Político-Pedagógico, buscando informações sobre a Resolução Conjunta SE-SJDC nº1, de 10-1-2017, que delibera sobre o ensino nos Centros Socioeducativos, pautado no Projeto Explorando o Currículo, específico para a escolarização em instituições de internação provisória. Esse projeto contempla os mesmos conteúdos da escola regular com a diferença de que na Fundação Casa o sistema é seriado, com duas series ao mesmo tempo, na mesma sala de aula. Agrupam-se estudantes do sexto e sétimo ano e do oitavo e nono ano do ensino fundamental II e primeiro e segundo ano do ensino médio.

Ao serem questionados sobre o Projeto Político Pedagógico, disseram que não tiveram acesso. Um dos entrevistados justifica pelo fato de haver restrições na instituição e por ser um documento mais voltado aos aspectos administrativos. Ao ser

confrontado com o fato de ser um Projeto Político Pedagógico e que, portanto, não pode se restringir aos aspectos administrativos, não soube responder.

Tal depoimento revela uma concepção de ensino, que pode ser de tendência mais transmissiva e controladora, uma vez que a elaboração de um Projeto Político- Pedagógico significa um trabalho coletivo em uma perspectiva democrática, o que parece distante da realidade da instituição.

O Projeto Político-Pedagógico é o eixo norteador de todo trabalho escolar e, portanto, da formação docente. Sua elaboração coletiva poderia resultar em uma prática mais integrada no ambiente escolar, gerindo diagnósticos dos problemas e apontando possíveis soluções e reflexões sobre a educação voltada para os menores infratores.

O Projeto da escola depende da ousadia dos seus agentes e de cada escola em assumir-se partindo de sua própria realidade, de seu cotidiano e seu tempo- espaço, propondo ações que melhor qualifiquem o trabalho pedagógico. Projetar significa lançar-se para frente, antever um futuro diferente do presente. Projeto pressupõe uma ação intencionada com um sentido definido, explícito, sobre o que se quer inovar.

No dizer de Gadotti (1993), cada escola possui sua própria realidade, não existindo duas escolas iguais, daí a importância da elaboração de um projeto específico para cada escola. No entendimento de Gadotti (1993) a noção de projeto implica em:

• tempo político: define a oportunidade política de um determinado projeto;

• tempo institucional: cada escola encontra-se num determinado tempo de sua história. O projeto que pode ser inovador para uma escola pode não ser para outra;

• tempo escolar: o calendário da escola, o período no qual o projeto é elaborado, é também decisivo para seu sucesso; • tempo para amadurecer as idéias: só os projetos burocráticos são impostos e, por isso, revelam-se ineficientes a médio prazo. Há um tempo para sedimentar idéias. Um projeto precisa ser discutido e isso leva tempo. (GADOTTI, 1993, p 78).

Fica explicito a importância de se formular e se orientar pelo PPP, mas podemos observar pelas respostas dos entrevistados, que nenhum deles conhece ou se utilizam do PPP. Não há formação contínua dos docentes em articulação com o PPP.

Essa realidade traz prejuízos para o processo de ensino e aprendizagem como também para o processo integrador e ressocializador, isso porque não são oferecidas atividades de acordo com a realidade dos alunos em privação de liberdade, dificultando também o trabalho do professor, por não poder discutir sobre o trabalho pedagógico, especialmente no que tange ao processo de reinserção social dos adolescentes.

As reuniões pedagógicas, embora semanais, não têm esse propósito. Nem todas são realizadas dentro da instituição “alguns professores cumprem na Fundação e outros na escola sede” (professor 3 – entrevista).

Em conversa com professores e coordenador pedagógico por ocasião da visita, mencionaram que pouco se fala sobre os problemas pedagógicos, as discussões são baseadas no comportamento e nos delitos praticados pelos adolescentes, porém sem a preocupação de mudança de realidade, apenas pela curiosidade.

Eram passadas informações sobre mudanças de regras na unidade, as vezes nem tinham o que falar e só cumpríamos o horário, eles não se importavam muito com ATPC (Atividade de Trabalho Pedagógico Coletivo) (Professor 1 entrevista).

Não há uma formação ou orientação pedagógica específica para quem irá ministrar aulas na Fundação Casa.

De acordo com o documento Orientador Conjunto SEE/CGEB (SÃO PAULO, 2017), os professores que irão ministrar aulas na Fundação Casa devem passar por um processo seletivo que inclui análise do currículo e entrevistas, porém segundo os entrevistados, isso não ocorreu com eles, apenas realizaram a inscrição e assim que convocados passaram apenas por um processo de orientação de comportamento

dentro das unidades da instituição, como a roupa adequada, a dinâmica de entrada e revista tanto corporal quanto dos materiais a serem utilizados nas aulas.

Falam das vestimentas, principalmente para as mulheres, porque é um prédio de internação para meninos que lá fora já tem vida sexual e dentro da casa ficam muito fragilizados no sentido da carência familiar e da namorada, então precisa ter esse cuidado com as roupas, não pode usar roupa transparente, apertadas demais, com decote. Orientam também sobre o que podemos falar ou não, como por exemplo, trazer notícias, recados de familiares, porque já aconteceu de professor ser vizinho do adolescente, então precisa tomar cuidado com essas coisas. Avisam que apesar de ser uma sala de aula tem normas diferenciadas, não permitir que os meninos fiquem de muita brincadeira, se acontecer avisar imediatamente os agentes, avisam também para termos muitos cuidados com os materiais que entramos nas salas, pois qualquer coisa pode virar uma arma, uma ferramenta para fazer tatuagem, já aconteceu de um interno tirar a lamina do apontador e a professora não perceber, olha que apontador fica no bolso do professor, eles usam precisam devolver, o menino aproveitou uma distração da professora tirou a lamina e devolveu sem ela perceber que a lamina não estava lá, acho que essas são as principais orientações, e depois somos avaliados em cada bimestre, e quem não se encaixa no perfil precisa sair e substituem o professor.

O foco, portanto, é no comportamento do professor e não no trabalho pedagógico.

Se houver necessidade de contratar professores, o pré-requisito é que o candidato esteja formado ou em processo de formação e que tenha disponibilidade de horário. Isso ocorre devido à falta de professores na rede Estadual, problemática que afeta todo o sistema, não só a Fundação Casa.

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